sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

ORAÇÃO DE ANO NOVO


Por tudo o que fiz e deixei de fazer,
Pelas noites de sono perdidas,
Pelas lagrimas derramadas,
Por todos os sorrisos dados,
Pelos amigos feitos e esquecidos no caminho,
Pelos amigos que me acompanham,
Pela bondade semeada,
Pela generosidade que me foi dedicada,
Por todo o trabalho bem feito,
Pelas oportunidades perdidas,
Pelas vitórias conquistadas,
Pelas derrotas sofridas,
Pelos filhos,
Pelo pai e pela mãe e pela irmã,
Por todos aqueles que amei,
Por todos aqueles que deixei de amar,
Por voce e por mim...


... louvo a Deus agradecendo!


Deus abençoe a tudo e a todos,


E que o novo ano nos encontre com saúde e felizes!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

CRÔNICA ESTRANHA DE NATAL


... e, então é natal na cadeia.

O dia chegou como todos os outros, trancado demais, enfiado entre poderosas grades de ferro, confinado dentro de diminutas celas cerradas a poderosas portas de aço, e os cadeados separando mil sonhos da musa liberdade.

Mas, quando os homens saíram das celas, algo neles vinha diferente, havia uma leveza no agir e no falar que contrastava com a rudeza presente em seus semblantes nos dias comuns.

Uma parte deles encheram os balões à força dos pulmões, outros, amarraram-nos todos juntos, colorindo o lugar em vermelho e branco, presentes infantis foram depositados em um canto, e, noutro canto, mais escondido, ficaram a ferocidade, a capoeira, os palavrões, os pensamentos nefastos e patifes, a criminalidade... Sobrou o natal, somente, o natal e sua força positiva que muda tudo o que toca.

... e, quando as crianças chegaram, vieram com elas os primeiros gritos, esparramou-se pelo solário os abraços e os beijos todos que não foram dados durante o ano, nos malditos dias comuns...

... e, daí a pouco, uma criança pequenina tropeçou e foi ao chão duro de concreto do solário, chorou, e o pai, um homicida frio e insensível com quatro mortes nas costas, correu para o filho, socorreu-o, abraçou-0, beijou-o, como faz qualquer pai...

... e, dentro de uma cela qualquer, uma mulher abriu o tuppleware e serviu a comida especial feita com carinho para o marido, um latrocida e a filhinha nascida quando ele já estava preso – almoçaram juntos, os três, na cama feita de concreto, no único e pequeno espaço que, naquele lugar, pode-se chamar de deles...

... e, uma mãe rezou com fé por um filho traficante, enquanto este escutou, escutou, ao menos escutou, algo que nunca fez nos dias comuns...

De repente, a sirene vociferou lembrando ao natal que é hora de partir...

... e, o natal foi embora, e, com ele, as crianças, as mães, as esposas, e este dia tão especial que transforma criminosos em pessoas comuns...

... e, quando tudo terminou, quando o natal tornou-se somente uma lembrança na mente e na retina de todos eles, os dias comuns voltaram e, com eles, todas as patifarias...

domingo, 19 de dezembro de 2010

À QUEM BUSCA POEMAS...

Se tu procuras em mim um homem que seja
ambicioso, peço-te, afaste-te de mim!
Porque não sou assim... não sou assim...
Não vejo a vida pelo orifício desta cornucópia
Enxergando lucros e vantagens financeiras
Em toda a parte que deita o olhar.
Meus olhos se voltam para outra direção
Onde o sol brilha gratuito,
Meus ouvidos desconhecem o tilintar das moedas,
Sabe de cor o canto dos pássaros e dos aedos
Que vivem cantando odes no meio dos caminhos.
Tenho uma ganância domesticada por
Uma encantada fada que pousou sua delicada
Mão sobre o meu ombro e disse-me:


- Viverás pela poesia... pela poesia...


Sou isso e nada mais!
Sou canto, sou prosa, sou rima, sou verso e
Sou o inverso da própria rima, sou poesia.
Procuro um sorriso ao me levantar
E com um Graças a Deus me deito,
Sou esquecido de moedas,
E por elas não acendo velas.
A terra recebe meus passos
E nada sei sobre propriedade disso e daquilo,
Tudo de terra que será realmente meu
Serão os sete palmos na derradeira hora,
Quando os meus sonhos se levantarem todos
E alçarem vôo abandonando-me à própria sorte!
Isso! Isso eu tenho demais: sonhos!
E tenho também alguns poemas que ainda são meus
Pois que não os deixei nel mezzo del cammin
Pois, assim que os depositar nas diferentes estações
E forem eles colhidos como flores do campo,
Não serão mais meus,
Serão de todo o povo que os querem e os sentem.
Não procuro riquezas materiais para mim,
Não possuo a matéria nem mecanismos para isso,
E não me interessa.
Toda a riqueza que almejo é a de dias,
A de fé no Criador,
E a certeza de que sempre
Quando o sol me abençoar com um beijo nos lábios
De seu primeiro raio ousado e fujão,
A poesia nasça em mim,
Plena e fresca feito fruta colhida no pé,
Para que possa viver através dela,
Para que possa viver por ela.


Entendi que a vida na verdade,
Vai muito além do ajuntar,
Quero saber compartilhar!
Que fique assim, definitivamente!
Procures em mim poesia e,
Se tiveres este olhar verdadeiramente em ti
Saberá apreciar a vida em seu lirismo,
Saberá amar sem medidas...
Pois que quando se ama,
Não se procura medidas e tamanhos,
Procura-se poemas em versos e na vida,
E um novo jeito de recitá-los, todos os dias!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A PROFESSORA E AS CRIANÇAS

Professora Marinete chegou cedo em minha casa.
Trazia o mesmo olhar de sempre que expressa bondade e compreensão e apresentou uma série de textos (o olhar dela brilhou!) dos seus pequenos alunos.
Em sua voz transpareceu toda sua dedicação, toda a sua alegria em ver o trabalho de seus petizes aprendizes ali em minha mão. E, seu discurso veio como um forte alazão que carregava em suas costas todo o amor pela profissão, pelas crianças, por ensinar, por poder despejar amizade e afeto ao seu redor, entendi rapidamente que não eram textos que ela me entregava, eram pedaços vivos de seu amor pelas crianças, pelas letras, pela educação.
Não tive dúvidas desde o primeiro momento que minha responsabilidade se agigantava. Não pelo aspecto de tecer observações sobre textos, para quem os lê em profusão feito eu e tem idéias (desprezando o mérito delas) isso se torna tarefa fácil.
A questão era que eu recebia algo muito valioso, Professora Marinete me entregava um tesouro, e, desta forma eu recebi, e desta forma me atirei sobre os textos entregando a mesma alegria que ela, a mesma dedicação.
Não importa qual será o resultado de minha apreciação, sei disso desde agora, quando ainda repouso na alvorada dos trabalhos e o crepúsculo desta tarefa é um sonho de amante. Esta missão se tornou demais valiosa para mim, Professora Marinete não me outorgou responsabilidades, ela me ofertou parcela de sua felicidade, bendita seja.
Independente do que eu leia ou diga, o maior tesouro não está nos textos das crianças, que pode ser de um Balzac, Machado de Assis, quiçá um Drummond ou Neruda, isto soa irrelevante, agora, diante do bem maior que enxergo  através da pele suave de minha sensibilidade.
O que há de mais belo é o amor que se vê em tudo isso, da Professora Marinete para com as crianças, das crianças para com a Professora Marinete. E, quando a gente ama de verdade uma pessoa, a gente dá para ela dedicação, compreensão, sacrifício, busca sempre aquilo que se acredita que seja o melhor para quem se ama.
Eu me senti lisonjeado e agradecido por ter sido o escolhido para esta missão e tentei me espelhar na Professora Marinete em sua execução.
Enchi-me de amor, de carinho, de apego ao que importa e desapego ao que é vão e comecei a leitura e, nessa hora, percebi em mim que meus olhos brilhavam, que meu coração se enchia de amor e que olhava para os textos das crianças como se fosse um pai, como se fosse um anjo abençoando cada um deles – fiquei tão feliz, de algum jeito, de alguma forma me aproximei da Professora Marinete e fiquei parecido com ela e isso me fez mais feliz.
Todos eles já são vencedores, quem ama sempre é vencedor, independente do que o mundo acredite e aceite. A beleza dos textos pode ser enganosa, a beleza de modo geral pode ser uma viciada armadilha que adoramos cair, mas, o amor não, ele é verdadeiro e jamais engana.
Os textos e as crianças serão sempre lindos, para mim, para a Professora Marinete e para todos aqueles que as amam de verdade – o amor descarta armadilhas, falsidades e coisas do gênero; o amor mostra somente a beleza, do jeito que ela é, sem falsas aparências e conceitos mundanos.
Copiemos todos o exemplo que nos é dado neste instante pela Professora Marinete e pelas crianças.
Alunos, amem seus professores!
Professores, amem seus alunos!
E todos nós nos amemos uns aos outros!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A CANADENSE E O BRASILEIRO 2

Este texto nasceu de uma idéia de MELANIE BROWN e, portanto, a ela eu o dedico.

Tudo o que se segue é um exercício de imaginação, pois não tenho como saber de que cores foi pintada a tela da vida da pequena canadense depois de meu encontro com ela, mas meus anseios todos por ela são puros e bons. Talvez, medito, nossa vida seja apenas um exercício fértil de imaginação. Talvez estejamos todos em um canto qualquer de outra dimensão sonhando com o que somos aqui e nada aconteça de verdade, a nós são oferecidas todas as perguntas e negadas as respostas, devemos provar que as merecemos para conhecê-las.
A canadense deixou em mim a sensação de que toda sua odisséia pessoal nada mais fosse que senão uma busca por respostas e que no início de tudo, ela sempre soube que elas (as respostas) nunca estiveram no Canadá, nem nas dezenas de caronas que tomou pelo caminho, nem ali comigo e nem, provavelmente, com a amiga no Paraná. Ficou-me a sensação que sua odisséia era sua busca pessoal pelo merecimento, pois somente empunhando esse cálice sagrado poderia sorver todas as respostas.
A verdade é que nunca a vi como mulher, e isso me impede de imaginar para ela um final que nos soe como razoável dentro do que conhecemos como realidade: namorado, filhos, uma casinha de cercas brancas nas montanhas, enfim... enfim...
Enxerguei-a como uma metáfora de todos nós, sua busca é a nossa busca; sua mochila pesada, nossa carga; suas caronas e seus passos em direção ao horizonte, as formas que encontramos para seguir em frente; e eu, sou apenas um lampejo de consciência que tenta ensinar o caminho; e, sua piscadela de olhos, uma epifania, uma poesia que feito flores foi colhida à margem do caminho.
Teria sido mais fácil tê-la visto como mulher, seria mais fácil lhe desejar coisas boas, mas o que seria felicidade para ela? Até porque sinto que coisas definitivas não encaixam no modelo que construí dela dentro de mim, estes espíritos nômades não se adéquam no modelo de felicidade que a maioria das pessoas tem para si, esta gente é livre em plena acepção da palavra e nada os pode ancorar, amarrar ou deter, eles precisam seguir em frente... sempre...
Dia desses mudei o rumo de meus pensamentos em relação a ela e pensei que a pequena foi um anjo que aterrissou em meu caminho, sua grande mochila, na verdade, escondia um par de asas poderosas. Esteve ali para me mostrar que cansaços e frustrações fazem parte, mas a vida reconhece somente aqueles que se reinventam todos os dias na busca do merecimento. Neste novo pensamento, ela não buscava, e sim distribuía.
Volto meus olhos para mim e sobre todos vocês, vejo mochilas em nossas costas e estamos na estrada tentando fazer por merecer as respostas...
... e, em algum lugar, a pequena canadense questiona um alguém qualquer sobre um destino e ouve atentamente a resposta. Não diz nada, dá uma piscadela com ambos os olhos como se com esse gesto abençoasse a pessoa e parte, caminhando sempre em frente.

Pego minha mochila, prendo-a em minhas costas e sigo meu caminho, antes, dou uma piscadela d’olhos para todos vocês, meus amores!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DOIS...

 ELA:







Quero que saibas que é teu meu primeiro pensamento do dia, assim como és a ultima lembrança ao meu adormecer...










 ELE:


Amor, saibas que meu dia existe apenas entre teu primeiro pensamento e tua ultima lembrança, depois disto, somente o vazio das horas mortas....

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A POESIA EM TEU CORPO


Eu sei tudo sobre você, tudo...
Sei do que gostas e amas,
Sei de seus sonhos,
E todos os teus desgostos
Tenho-os anotado em minha
Caderneta de cabeceira.
Se seus olhos brilham
Sei para onde este brilho vai,
Ele é a luz que ilumina a
Minha felicidade.
Teu suspiro de desejo
E do tesão saciado
É o mais delicioso ar que respiro.
Acordar contigo, pela manhã,
Ouvir teu “Bom dia, amor!”
É a mais deliciosa das poesias,
Assim como tua nudez
É a mais delicada das visões.
Eu amo você, amo e amo!
Simples e absolutamente assim.
Sem meios termos,
Sem rasuras,
Sem edições ou artes finais.
Amor pronto e acabado.
Quando te olho
Enxergo-te além,
Transcende ao seu próprio você.
Eu vejo a poesia que
Habita teu corpo,
Teu jeito de ser,
Tua feminilidade
Sempre tão linda e mágica.
Não peço nada mais, nada mais!
Tenho você e tu me completas.
Sou feliz contornando
Cada curva de teu corpo,
Recitando toda a poesia
Que emana de tua feminilidade.


E, por isso, dizes que sou poeta,
Conto-te um segredo:


Não sou!


Minha poesia escapa toda ela
De teu corpo
Nas noites e nas manhãs
Que fazemos amor!
Não sou poeta, minha linda!
Sou apenas o leitor
Da poesia que sai toda ela,
Toda ela,
Deste teu corpo maravilhoso!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A GRANDE NOVIDADE DA VIDA

Por algum tempo, estive entretido com coisas menores, gastando tempo e energia com tolices.

Pode parecer cruel falar assim com tons de decreto, relegar algo que um dia foi minha área de interesse para um plano escondido e esquecível.

Oh, mas por obséquio não chamem a isso de ingratidão, isto é crescimento, sou o que sou pelo que fui um dia, lá atrás, quando me impressionava facilmente com pequenas coisas e as grandes pareciam-me distantes demais – ou, simplesmente, não chamavam a atenção de minha vigilância entretida com futilidades.

E o tempo passa, e se tu és sábio e receptivo deixará que a vida atue sobre você e aprendas com ela. Assim, quando menos perceberes, deixarás de lado a lagarta que fostes e viverás como uma bela borboleta – como já foi dito, agora e antes, a vida e o viver devem ser feitos para a evolução.

Hoje quero é joeirar sorrisos, aprender como oferecê-los, cultivá-los em grandes acres e semeá-los no cotidiano. Dias semeados com sorrisos é garantia de colheita farta de felicidade. Se eles estão nos momentos maiores ou menores, não importa, irei colhê-los como se fossem flores do campo.

Por algum tempo, estive entretido com coisas menores, mas isso durou apenas algum tempo... pequeno talvez, tempo suficiente para mostrar que as pequenas veredas da vida se percorridas com astúcia nos ensinará a valorizar as grandes caminhadas.

... E, se foram melhores ou piores, não importa, devo sacrificar esta meritocracia num altar de sabedoria sob o totem da nobreza, e o que restar desse ritual que sangrará a forma como enxergo a vida e seus momentos vivê-los-ei a todos com a intensidade do último, como se fossem o último...

... E se não forem os últimos, o próximo instante será saboroso como se fosse inédito – eis o grande momento da vida, percebem... o AGORA!!!!!!!!!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A PRIMEIRA VEZ QUE VI SEU ROSTO...

Calem-se!
Encerrem todos os compromissos e
Avisem o outono que ele está destituído,
Posto que a primavera nasceu em minha vida.
Sonhos! Acabaram-se todos eles
Fulminados pela certeza de que até agora
Nada estava certo,
O errado repousa no melhor espaço
De meus jardins.
Cessem imediatamente suas gargalhadas
O som delas me soa profano
E quero o silêncio para brindar esta noite
E este momento com o sagrado.
Relógios! Atentem para meu comando
E epigrafem esta hora,
A eternidade quando enxergada pela
Consciência do universo verá
Sublinhado este momento.
Que ninguém mais morra, por alguns instantes!
Até a morte pare sua ceifa!
Que os canhões do mundo sejam silenciados
E as únicas explosões que se ouçam
Seja a salva de três tiros
Comemorando a violência domesticada.
De repente! O mundo se fez melhor,
Tudo se fez melhor,
E vejo com nitidez o que era turvo,
Encho de certezas o desconhecido.
Eu sempre acreditara que conhecera a beleza,
Tive mesmo a arrogância de imaginar que
A poesia sempre me fora uma amiga!
Mas as vi, ambas, pela primeira vez... Hoje... Agora!
Nesta noite, tudo mudou, vi a verdade,
Num relance mágico soube de meu futuro
Soube que tudo em mim era mentira
Soube que tudo em mim me preparará
Para este momento nesta noite...
Nesta noite...
Que foi a primeira noite que vi seu rosto!!!


(*) OBSERVAÇÃO:

A moldura não tem ilustração. Ao verem-na assim, por gentileza, coloquem o rosto que quiserem se este for o sentimento e o desejo que brotar em vossos corações. Eu coloco o rosto de cada uma de vos, amigos e amigos, que seja esta primeira vez, ainda que abstratamente, que vejo seus rostos...


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A CANADENSE E O BRASILEIRO

Ela chegou vindo do nada, surgiu em um carro qualquer e apeou tirando uma mochila que era maior que ela própria.
Eu chegava, depois de um plantão muito cansativo e tudo o que queria era chegar em minha casa e descansar nos braços de Morpheu. Desejava uma carona, o ônibus que fazia a linha, a vassoura do Harry Potter, qualquer coisa que me levasse embora...

Estávamos ambos num trevo que se abria para muitas frentes, para muitos destinos. Conseguíamos vislumbrar lá longe o Ergástulo erguido arrogante e seus grandes e poderosos muros brancos eretos, as torres vigilantes da grande fortaleza que encerra todas as possibilidades, o castelo que enclausura sonhos.

À nossa volta, uma natureza empobrecida pela mão do homem, algumas vacas pastoreavam preguiçosas no sol quente da manhã de outono.

Ela era mulher e estava cruzando a América querendo chegar na casa de uma amiga no Paraná e pretendia fazer todo esse trajeto andando e de carona. Corajosa a pequena canadense!

Fez-me uma pergunta de como isso seria possível, qual seria o melhor caminho e a respondi do melhor jeito que pude. Ela ouviu atentamente, como se ouvisse uma oração, como se sua vida dependesse daquilo. Depois, com o mesmo fervor que me deu atenção, desligou-se, piscou ambos os olhos para mim, como se dissesse “fique bem” e partiu, a grande mochila nas costas cobrindo seu valente corpo, sem maiores considerações, sem grandes despedidas, focada em seu objetivo.

Vi-a caminhando, sempre em frente, obstinada, decidida, destemida, olhando para o horizonte como se ele lhe fosse um velho conhecido; como se as estradas lhe estendessem as mãos e a convidasse para uma dança; como se o desconhecido lhe fosse um pai que mesmo que a largasse numa situação difícil estava sempre por perto para que, na hora “H”, socorresse-lhe.

Voltou-se de repente, ouviu um carro e fez o gesto característico de quem pede carona, o motorista freou, encostou, conversaram brevemente, a pequena Atlas colocou seu mundo no banco de trás do carro e pulou para dentro dando um ultimo sorriso, para mim, para todo o universo que ficava para trás – essa titã foi concebida para sempre ir à frente, o atrás lhe era estranho.

Eu fiquei lá, por mais alguns instantes, sentindo-me um centenário carvalho com suas poderosas raízes fincadas no chão, sem poder me mover.

Comemorei ter-lhe conhecido, exaltei a sua partida, rezei pela sua chegada sã e salva no seu destino, mas, de antemão sabia que isso era válido... e desnecessário. Soube desde o início que aquela pequena mulher canadense era uma sobrevivente das estradas, da vida e ela sempre chegaria aonde quisesse chegar.

E, quando parti, acreditei que de alguma forma estamos todos ligados neste pequeno planeta, feliz, por minha história ter se cruzado com a dela. Não dormi naquela manhã... nem naquela tarde... fiquei sonhando grandes viagens com enormes mochilas às costas....

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O VIOLEIRO


Eih, seu violeiro!
Vamos arranhe esse violão
E tire dele...
Uma bela canção!
Que fale de amor,
Das glórias desse sentimento,
Dessa emoção.
Solte de seus dedos mágicos
Uma balada romântica,
Faça-nos a todos viajar,
Através de tua inspiração.
Que encanto que possuis, violeiro!
Quanta magia em tua canção!
Ela toca as pessoas,
Veja só nossos olhos,
Você nos pegou pelo coração.


Eih, seu violeiro!
Vamos arranhe esse violão,
E tire dele
Uma bela canção...


... Que fale de amor!
... Que fale de paixão!


Vamos seu violeiro!
Arranhe esse violão....



Ilustração: Quadro de Pablo Picasso

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

BENDITOS SEJAM OS INOCENTES!


A criança entrou conduzida pela mãe.
Sorriam ambas, despretensiosas da vida, libertas das preocupações mundanas que a vida sobrecarrega as pessoas.
A petiz era a mais atenta, esperta para o caminho que seguia, vislumbrando tudo que para ela tinha o sabor de novidade. Seus olhos brilhavam, refletiam a luz do coraçãozinho encantado, e falava e falava e a tudo o que dizia emprestava seu encantamento e admiração:



“Mãe, olha aquilo...”
“Que bonito isso!”
“Que lugar lindo!”



A mãe sorria, não incentivava, não desaprovava, deixava a criança seguir seu rumo, ás vezes, o melhor que pode fazer uma mãe ao seu filho é deixá-lo ser criança.
Elas passaram por ele e a ele sorriram.
Seguiam conversando e ambas foram engolidas pela boca da grande quimera.
Observando, de onde estava ele pode escutar a gargalhada da pequena divertindo-se com alguma coisa. Sorriu, sozinho, estimulado pelo riso infantil.
Olhou para todo o complexo e buscou a beleza que a criança via, tinha nesse olhar uma carga de boa vontade, tinha no coração uma semente de esperança, tudo contribuindo para que essa beleza se mostrasse para ele em todo o seu esplendor.
Não a viu... Sentiu vergonha por isso!
Olhou para o céu azul, lindo e rezou consigo mesmo e com o Criador de todas as coisas.



“Benditos sejam todos os inocentes que mesmo dentro da cadeia enxergam a beleza!”



Nessa hora, pousou num canto do grande muro da penitenciária um pássaro e trinou uma bela canção.



Regozijou-se! Ele viu a beleza...



... e soube que, para ele, nem tudo estava perdido...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

TODOS OS SEGREDOS QUE A MADRUGADA CONTA...


Madrugada...
Porque chegas sorrateira e dedicas-me estes segredos todos?
Preferia não sabê-los,
Pois que a ignorância me seria uma benção,
Ao contrário dessa ciência que me amaldiçoa!
Contas-me... Contas-me... então...
Que vistes o corpo dela nu sobre lençóis brancos de cetim,
Sobre uma cama de espinhos visto que se debatia,
Fustigada pela insônia, esta feiticeira.
Contas-me que ela sussurrou ais de desejos
Aos seus ouvidos atentos e todos os delírios despejados
Eram somente meus!
Vistes minha face no olhar dela?
Contas-me que escutou sua voz brotando nos doces
Lábios dela e que ela lambia meu nome
Recolhendo o mel de cada letra que sussurrava!
Digas que vistes seus seios balançarem livres,
Tremendo de desejo e que suas mãos vestiam
Luvas de fantasia que mentiam para seus generosos
Volumes que eram minhas as mãos...
Minhas as mãos que os tocavam...
Contas-me que vistes todas as curvas do corpo dela
Serem abraçadas pelo lençol de cetim,
Doce ilusão que era a minha pele e meu calor
Que a confortavam!


Madrugada...
Porque contas-me tudo isso,
Se não podes levar meu toque, meu carinho,
Meu beijo, meu abraço, meu corpo,
Para ela, ela a quem amo e me dedico?
És fria, madrugada, és fria...
Faça então que ela saiba, oh madrugada,
Assim como contastes estes segredos a mim,
Conta-lhe que todo o homem que há em mim
Deseja e ama toda a mulher que há nela!
Madrugada... parta, vá! Parta!!!
Eu já a sinto perto....
... e vou fazer amor com ela...
... com ela...
... do mesmo jeito que ela...
... do mesmo jeito que ela...

sábado, 30 de outubro de 2010

LÍBELO AO REBANHO


Ficaram eles todos, pelos cantos, escondidos,
Amuados, inertes, esquecidos de tudo e de todos,
Compromissados somente com seus interesses
Que, na grande verdade, não eram nenhum!
Covardes, eis o que são!
Vosso sentimento é o de rebanho,
São como gado que pastoreia a sol aberto,
Satisfeitos como porcos de barriga cheia,
Confortáveis como repteis ao banho de sol.
Oh! Gente inútil e miserável,
Sua pequenez somente não é menor
Que sua pouca ambição pela qualidade e excelência.
Cuspo em vossas faces!
Chuto vossa complacência, vossa inércia,
Vosso ócio fétido,
Vossa preguiça endógena e desleal.
Rezo para não ser jamais como vós.
Não quero residir em vossas ilhas de sossego,
Sempre estéreis, desérticas,
Cheias de teia de aranha e a poeira de vossa pasmaceira.
Nunca serão importantes de verdade,
O sucesso e o aplauso sempre lhes serão estranhos.
Vossa utilidade sempre estará na quantidade,
No fazer número, em encher a platéia
Para que outros brilhem.
São, oh rebanho, como gado para abatedouro!
Quero estar com os outros!
Os explosivos, os agitados, os desequilibrados,
Os estressados, os nervosos, os malucos,
Assim chamados por vós!
As vitórias são destes!
As conquistas são destes!
A liderança será sempre destes!
São estes poucos que
Fazem a vida acontecer e
O destino do coletivo e do rebanho
(que são vós!)
Será definido por eles.
À vós, oh rebanho!
Caberá seguir os desequilibrados,
Estes notáveis malucos que tem a coragem
De fazer as coisas acontecerem.
Vossa ousadia natimorta, oh rebanho,
Sempre lhe impedirá de ser algo mais
Do que nascestes para ser,
Agora e sempre...


Nada!!!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

AO NOVO DIA QUE NASCE!



Acordem meninas, acordem!
Eis que o alvorecer depôs
A coruja caçadora
Que parou de piar lá fora...
Agora!
O novo soberano é a cotovia,
(A mesma que encantou Shakeaspeare!)
É ela, que anuncia o novo dia!




Acordem meninas, acordem!
São finitos todos os sonhos
Que se construíram na madrugada,
Apresenta-se o grande começo
De toda a realidade medonha
Que ao nosso querer é estranha...




Retirem de seus corações a poesia,
Estampem em seus belos rostos
Os mais belos sorrisos,
Afaguem estes cabelos soltos e
Saiam para as avenidas
Saudando o novo dia com aleluias!
A vida recomeça meninas,
Em todo o seu esplendor!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SOBRE O SILÊNCIO... E O SOM


Meu amor, quero o silêncio por alguns instantes...



Quero essa tranquilidade para sorver a paixão em pequenos cálices. Teu amor, minha querida, bebê-lo-ei em goles mínimos ainda que minha sede de ti seja corrosiva, teu amor me ensinou a controlar esta fera, teu amor me dedicou o equilíbrio.



Quero o silêncio, meu amor, para que tenha o sossego exato, a calma necessária para estimular minha sensibilidade e buscar você aonde você melhor vive em mim – em todas as coisas que me cercam, que me interessam!



Quero o silêncio, meu amor, quero o silêncio...
... para perceber nas rosas do jardim, seu cheiro!
... para sentir sua pele na derme da seda mais preciosa.
... para maravilhar-me com seu sorriso no primeiro raio de dia que escapa do sol.
... para ouvir sua música no canto dos pássaros.
... para ler sua poesia na natureza.
... para escutar seu sangue correndo em suas veias, caudaloso, no vislumbre da cascata de águas cristalinas.



Quero o silêncio, meu amor, quero o silêncio...
... para percebê-la ao meu redor, em mim mesmo e em tudo que pouse meus olhos ávidos de você.
... para calar meu corpo que vibra, grita, chora saudades e desejos de você. Pelo silêncio calarei meus instintos mais selvagens e abrirei uma porta para que possa vê-la pelos olhos de meu sentimento.



Venhas, meu amor, venhas então com a ganância de querer amar sem medidas, sem controles, sem folgas, sem tempo no tempo, porque encontrarás em mim um homem pronto para você – sou fera, sua fera domesticada.



E, nesta hora suprema, não quero mais o silêncio, quero nosso amor sendo feito ao som de milhares de beijos e abraços.



Que o silêncio faça sua parte, em sua ausência, mas, contigo presente... Meu amor, com tua linda e mágica presença que me venha todo o furor e os sons intensos do caos da paixão...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

DOIS...


De noite, ele deixou-se levar...




Não me perguntes o que é maior nesta madrugada....
Se as saudades ou os desejos de voce....
Não saberia responder....




Ela, distante e atenta, respondeu:




Nada é maior que meus sentimentos por voce...
Nada pode ser maior!
Porque deles nascem as saudades e os desejos!
Envio-lhe todos os meus beijos numa suave brisa!




E, onde ele estava, fechou os olhos
E sentiu a brisa que vinha de longe... de longe...
E, recebeu os beijos, todos eles, um a um, nos seus lábios sedentos...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

POEMA ORIGINAL


De tudo o que vem de ti
Eu já sei quase tudo,
E o que não sei,
Suspeito e estou receptivo
Para aprender e conhecer.
Não tens mais saída, meu amor!
Sou tua benção,
E sou todas as maldições.
Sei o que pensas
Quando dás o primeiro sorriso,
Sei exatamente onde tocar
Para arrancar de teu corpo
O arrepio mais prolongado,
Meu beijo... Meu beijo...
Deixa teu peito ofegante
E aprecio toda a música
Que vem das notas do seu
Coração descompassado.
Teu olhar perdido
Querendo encontrar a razão
Em meio as minhas carícias mais
Delicadas e atrevidas,
Sei que pede socorro
Sei que deseja mais... mais...
Isso me encanta... me dá forças...
Eu te conheço, meu amor,
Sei de todos os seus sonhos,
Sei o que deseja
E como deseja,
E entrego todos os seus prazeres
Embrulhados neste pacote
Másculo e apaixonado.
Sou homem, meu amor,
Teu homem, e sabes disso,
E gostas disso!
Sabes que comigo nunca haverá
Retornos e saídas de emergência.
A queda em mim é para sempre,
Sou um poço sem fundo.
Sou intensidade,
Sou como sangue quente nas veias,
Sou o brilho no olhar da fera que mata,
Sou sempre como o último gozo.
Não conheço a mediocridade,
Sou feito do mesmo barro
Que moldou Adão
E te fiz da minha costela.
És a minha Eva...
Minha!!!
Num paraíso todo particular,
Onde a serpente
Assiste de camarote, domesticada.


Não tens mais saída, meu amor!
Se correres deste amor,
Ele te alcança.
Se ficares, ele te abraça tão forte
Que esqueces de ser você...
Benção e maldição, lembra-se?
Apaixonei-me por ti,
E te dou tudo o que tenho
E tudo o que tenho não é pouco
Porque tudo o que sou,
Tudo o que possuo,
Tudo o que desejo,
Tem sua origem em você,


Minha deliciosa Eva!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O BAÚ DE MEMÓRIAS IMPRESTÁVEIS


Foi um impulso estranho e repentino que nasceu no primeiro segundo e concretizou-se no átimo de tempo seguinte, sem fermentações, sem receios, sem purgatórios, sem nada. No estalar dos dedos, no piscar dos olhos, no vão de uma inspirada e uma expirada de ar quente esse desejo intrometeu-se em minha vida e realizou-se, parto natural.
Sei e somente sei que abri o velho baú de memórias e atirei para fora toda a imundície, tudo o que não prestava, todos os farrapos com que se vestiam meus pensamentos que nasceram para ser nobres. Mas boas intenções somente não bastam! Os pensamentos precisam ter sangue azul, maledicências e futilidades são andrajos que condenam para uma existência estúpida e pobre todos os pensamentos que pretendem ser sublimes – oh! Nobreza, qualidade rara e esquecida!
Quanta quinquilharia e cretinice se ajuntou.... Incrível a capacidade humana de guardar o que não precisa ser guardado, de conservar o imprestável, de crer que tecidos pervertidos emprestarão novas faces para os pensamentos no amanhã.
Joguei as velhas roupas de ressentimentos, os cintos iracundos, um velho roupão tecido com uma raiva muito antiga, alguns lenços de maledicência e um belo paletó de futilidades, molhei toda esta pilha mórbida com um perfume cuja essência era extraída do mais rico dos óleos da vaidade e pronto, uma belíssima fogueira, cheirosa é verdade, mas negra como a treva.
Lavei o baú, limpei-o com decência e o purifiquei com generosidade e bondade, ele ficou lá, em seu canto, feliz, pronto para guardar novas descobertas e experiências.

... De repente...
... De repente...

Quando mal tinha começado a viver, surpreendo-me!
O baú está cheio novamente...

Mesmo com algumas limpezas no velho baú de memórias inúteis, aprendi que sua assepsia é importante, mas, a mais fundamental das limpezas se faz no coração...
Recomecei a limpeza, desta vez sabendo que caminho seguir! Quero ser bom novamente e este pensamento, definitivamente, me faz nobre!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

CRUNCH... A NOITE... CRUNCH...


Enfiado dentro da noite, quando todos os sonhos jaziam adormecidos fui assaltado pela insônia revolvendo minha consciência com uma grande colher de pau. Levantei-me, olhei o relógio e o olho do tempo sorriu-me zombeteiramente, quase 4 horas, a madrugada estendia seu esquálido corpo e engalfinhou-me num abraço azedo.

Peguei um pacote de bolachas de chocolate, já que era para ficar acordado que o fosse com algum prazer valioso, não estava em meus planos fitar a cara horrenda dessa megera insônia madrugada adentro.

Fui para um canto qualquer desse mundo tentar colocar no lugar certo todos os pensamentos revolvidos intempestivamente pela bruxa. Mordiscava a bolacha escura e, para algum anjo desatento, acreditaria que eu mordia a própria carne da noite...

Crunch... noite... Crunch... noite...

Ah! Que bela és tu, noite!
Olhei para a tua face negra e seu olho fixou-se em mim.
Já fomos amantes, noite, fervorosos amantes, lá atrás, quando o vigor da mocidade corria pelas minhas veias, oxigenando desejos, plantando sonhos, e quando saia para as ruas para dançar contigo pelas curvas da madrugada trajando um velho All Star e a calça branca LEE, comia um lanche na velha esquina da Brasil com a Vargas sentado num banquinho de madeira onde, antes de mim, tantos outros enamorados ousaram estar, desafiando a sorte para estar próximo a ti.

Sei que tu me escolhias noite... Sei que tu me desejavas... Porque ninguém te conquista de verdade, tu é que escolhes teus amantes, minha querida!

E ninguém sentia teu corpo como eu o sentia, eu te entendia em tua essência e tua essência bebericava em pequenos goles até atingir um singular estado de embriaguez lírica. Nesse momento, tu se deitavas para mim mansamente e tranqüila, abria tuas pernas num gesto suave e amoroso e me recebia de braços abertos convidando-me para o amor e o fazer amor.

E eu ia até tu, como discípulo e como beato, como homem e como macho, era um poeta que deitava-se com você joeirando sonhos, pescando palavras para costurá-las em versos e recitá-los todos aos cochichos com minha boca encostada aos teus ouvidos mais atentos, oh formosa musa!

Crunch... noite... Crunch... Noite....

Sorrio ao olhar para teu grande olho e ver o contraste do perfil da insônia contra ele, essa feiticeira estúpida, que foge gritando maldições para os quatro cantos, esta vez não fostes voce megera... não fostes voce... desta vez, linda vez, foi a noite que me tomou em seus braços...

Levanto-me, jogo a roupa para um lado e caminho nu ao teu encontro noite, recitando antigas e novas poesias... receba-me noite, agora como antes... como antes... agora, como antes...


Ilustração: Autoria Francisco Gonçalves (Recolhida a esmo na net)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

SONETO DO CORAÇÃO ARDILOSO

Me escondo atrás de paredes irreais,
Belas cortinas penduro em janelas virtuais.
Todo o Solar emoldurado com belos vitrais,
Cortinas na sala, brinquedos nos quintais.

 
Ah! Doce fantasia que criei para me animar,
O coração é um órgão difícil de explicar.
Tanto te amei, não lhe tinha, não me querias,
Agora me queres, te tenho, não te amo mais!

 
Crio então estas diversas ilusões sensuais,
Vivo este amor que me entristece demais,
Um amor de mentira, engodo, hipocrisia salaz.

 
Coração, Solar enganoso, por quem me tomais?
Às mentiras de amor me obrigais, me enviais?
Será que amá-la de novo, jamais serei capaz?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

SONHOS DE UMA NOITE DE OUTONO

Hoje, acordei fardado de tristeza, calcei o mais lustroso dos coturnos de desilusão, coloquei no bolso o distintivo e o brasão da tropa “Onde está meu futuro?” e saí para a rua, para a ronda ostensiva no meu espírito irrequieto.



Num bairro da periferia, numa vila de reputação duvidosa, encontrei esperança fumando um cigarro de “engana que eu gosto” e dei batida, mandei-a para a parede, “Geral, malandragem!”



Enquanto a trancava no baú do camburão, a esperança olhou-me dentro dos olhos e apaixonei-me por ela à primeira vista. Vestia-se como uma vagabunda, mas, entende-se lá porque, enxerguei seu coração...



Modulei pelo rádio e puxei sua capivara, uma ficha mais branca que bundinha de nenen. Vejam só como é a vida, fui dar um saculejo na vila desilusão e encontrei esperança, ainda que a cara fosse toda pintada de pilantragem a ficha limpa não negava sua inocência.



Tirei-a do baú, coloquei-a sentada no banco da frente da viatura desespero e levei esperança para o centro de minha vida, um apartamento pequeno e confortável no edifício coração.



Casei-me com ela, dei a ela um teto e ela, no primeiro ano, deu-me um filho a quem chamamos Possibilidade.



Hoje, vivo bem, vivo feliz, tenho Esperança e tenho possibilidade.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PEQUENO DISCURSO SOBRE A PAIXÃO

Eu acredito mesmo é na paixão!
Não consigo me desvencilhar dela, de não pensar nela, de não desejá-la com todo o poder de meu corpo.
A paixão me dá forças, me eleva, me distingue.
Com ela sou diferente, sou melhor, faço melhor.

De que me adianta ter toda a técnica do mundo, ser o mais inteligente, o mais cerebral, ser um “expert” em isso e aquilo e tudo o mais, mas, não ter paixão vai me tornar parecido com tantos outros que existem em todos os lugares. Ases existem em toda a parte, apaixonados não. Eles são raros, são poucos, são gente extinta, são loucos e são tolos aos olhos do mundo, e são tão belos, tão encantadores, tão necessários... Isso! Os apaixonados são necessários!

Para mim nada é pouco e pequeno demais, porque sou apaixonado, pela paixão não conheço a mediocridade.

Eu faço pelo prazer de fazer bem feito, a paixão é meu combustível ela que me impulsiona para a perfeição, para a busca incansável pela excelência em todas as suas formas. Gosto de ser bom, não para mim, não para você, ou para quem quer que seja, gosto de ser bom porque sou apaixonado. Ser bom, portanto, não está em mim, está na minha paixão.

A paixão é a luz de meu espírito, e esse é o brilho que me interessa. Ela me conduz para o prazer de realizar, de construir, de diferenciar, de edificar, sem compromissos com recompensas ou outras coisas quaisquer.
Quem espera recompensas, frustra-se.
Eu jamais me frustro, sou apaixonado, faço porque quero fazê-lo e fazê-lo já me recompensa.
Eu acredito mesmo é na paixão!
Enquanto ela estiver comigo, serei eu próprio!
No dia que ela me abandonar, terei esquecido de mim mesmo e serei apenas mais um... Mais um... E já são tantos...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ORAÇÃO Nº 01

Senhor!
Abra-me agora todas as portas do entendimento,
Que eu diga o que precisa ser dito!
Que eu ensine o que precisa ser ensinado!
Que eu aprenda o que precisa ser aprendido!
Que eu não seja mais, nem menos,
Que tenha a medida certa em todas as coisas,
Para todas as coisas,
E que a sabedoria seja a luz de todos os olhos,
Aqui e lá fora!
Ao final, que não seja eu o glorificado,
Pois nada sei e nada sou,
Pois nada tenho e nada ganho
Que não provenha de ti, meu Pai!
Esqueçamos o homem que sou
E desviemos nossa atenção e contemplação
Para a obra, pois ela e toda ela,
É feita para glorificar o meu amor a Ti!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DOIS...

Na madrugada,
Por uma fresta da realidade,
Ele mandou-lhe o recado,
(Que foi mais que um recado),
Foi um suspiro de amor:


Já é noite, minha querida...
... E que demônio é este que me devora?
Saudades, teu nome demônio, é saudades....




Na alvorada,
Enquanto a realidade ainda adormecia,
Ele recebeu a sugestão de amor,
Que veio... veio... voando...
E pousou em seu coração:




Mas olha amor, vê...
Já é dia...
Põe de novo o coração na janela,
À espera,
Assim como eu ponho o meu,
Porque um pequeno gesto teu
(como este),
Ilumina a vida
E o demônio da saudade,
Fica pequeno,
Diante da certeza
Do amor que te dedico.




E a lagrima apaixonada de um,
Caiu na mesma sincronia do outro.
Mesmo tão longe,
O amor os trouxeram perto,
E fizeram amor assim...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

PEQUENA RECEITA PARA O IMPROVISO NO AMOR

Ele fez tudo o que julgou certo,
Tudo o que lhe foi ensinado no inicio dos tempos,
Quando nos peitos dos homens ainda batia
Um coração romântico e sensível.
Ele comprou o buque mais perfeito,
Escolheu uma caixa de bombons belíssima,
Vestiu seu melhor traje,
Tomou um banho demorado e perfumou-se
Como se a vida não lhe fosse dar outra chance.
Antes um pouco, durante o dia,
No meio da confusão do escritório,
Leu poesia durante todo o tempo,
As pessoas falavam de dólar e de mercados,
Ele sonhando Neruda, Pessoa e Quintana.
Levou uma cantada da musa da repartição,
Fechou os olhos, o coração e tudo o mais
Para sua investida,
(A serpente oferecendo a maçã no paraíso... Remake...)
Agradeceu dando uma de desentendido,
O coração apaixonado de um homem é
O que pode haver de mais fiel.
Agora, a noite lhe sorria com uma lua belíssima,
Comprou um vinho de uma safra interessante,
Encomendou uma comida que julgou adequada,
Acomodou tudo tranquilamente no carro
E foi para o apartamento dela.
Apertou a campainha...
(Como ela ainda não ouvirá seu coração?)
Ela surgiu, shorts e camiseta,
Ruborizou-se com a surpresa
Que a colhia desprotegida de protocolos
E de uma roupa mais apropriada.
Ele colocou suavemente um dedo em seus lábios,
Sugerindo para nada dizer,
Preparou a mesa com a comida,
O vinho foi para um balde com gelo,
O buque para um vaso com água,
Os bombons para um recanto seguro.
Ela quis se arrumar,
Ele não deixou.
“Voce está do jeito que sempre deve estar...”


Fizeram amor antes mesmo do jantar!

domingo, 5 de setembro de 2010

A SENHORA E A ARMADURA

à Mamãe, amada!

Ela acorda logo após o ultimo pio de coruja, imediatamente antes do primeiro cucuritar do galo cujo mister é anunciar para os quatro cantos o novo dia que nasce.



Levantou-se determinada, sem delongas, tendo em mente toda a agenda do exaustivo dia já sincronizada na consciência. Colocou uma vasilha com água no fogo, foi ao banheiro e lavou-se demoradamente, higiene para ela nunca foi um exagero. Saiu, a água já fervia, colocou o açúcar, o pó de café, coou e o cheiro forte da bebida acariciou seus instintos – sorriu, o café é mesmo fundamental.



Encheu uma xícara e tomou ali mesmo, de pé, olhando a noite agonizante pela janela da cozinha, foi neste instante que o galo anunciou oficialmente o novo dia.



Ela foi para o quarto e escolheu sua roupa, sempre limpa e cheirosa, simples e elegante. Vestida, preparou a mesa para um lauto café da manhã para os que acordariam mais tarde: frutas, bolinhos, biscoitos, torradas, café, frios, margarina, tudo bem cuidado, tudo carinhosamente preparado.



Foi para a velha estante e pegou a Bíblia Sagrada que ficava aberta em todo o tempo no ponto nobre da casa, um livro que se percebia facilmente que era muito lido; tomou-o com lágrimas nos olhos e o leu novamente com a mesma fé ardorosa da primeira vez, abençoando a si e a todos os seus. Ao terminar a leitura, era como se houvesse colocado uma armadura e estava pronta para todas as árduas batalhas do dia.



Foi ao primeiro quarto e viu as crianças, os netos, atirou-lhes silenciosamente um beijo em suas faces; no segundo quarto, o filho e, ao seu lado, o livro que com ele adormeceu na noite anterior, beijou-o com a ponta dos dedos, abençoou-o, virou-se, abriu a velha porta de madeira da sala e saiu para a rua e a amarga rotina, feliz e decidida. Desapareceu na escuridão assim que deu os primeiros passos, a noite ainda resistia lá fora...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

TODAS AS RESPOSTAS QUE PROCURAS...

Não acredites em nada do que eles todos dizem...
É loucura.
Suas palavras são profanas e a verdade lhes é estranha.
Não acredite nos sinais, nos sinais à sua volta e no
Que eles sugerem.
É loucura idem.
Os sinais são os filhos primogênitos das contingências e
refletem sua educação árida de amor. Eles
conhecem apenas a sua realidade e por sua realidade vivem, desprezando outros desejos e outros fatos.


E não precisas de nada mais para me conhecer...
Porque já me procurastes na noite mais densa
Tendo como lanterna teu desejo,
Como norte minha excitação por você.
Porque já caminhastes sobre meu corpo branco
Que se deitava para você nas negras e nuas carnes da noite.
Deves se lembrar da minha altivez masculina contrastando com a serenidade que resplandecia em minha face.


Não precisas de nada mais para me conhecer...
Seus beijos, meus lábios e meu corpo já conhecem o sabor.
O toque suave de seus dedos já escorregou por
Todas as curvas de meu corpo teso de paixão.
Que respostas procuras, meu amor, que ainda não a tens?


Tens todas elas, as respostas, encravadas como setas
Em seu coração sensível.
Não fui eu quem lhe fez amor,
Quem tirou de seu âmago feminino o mais doce dos ais?
Conheço teus cheiros, teus gostos, teus sonhos,
E teu sorriso não foi sempre meu melhor amigo?
Que respostas procuras, amor?
Tens todas elas em teu coração...


Não tens???

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DEVANEIO...


Ao J.



Um devaneio bizarro!

Foi a isso que chamou seu pensamento de amor, um amor que aconteceu lá atrás quando os dias ainda se vestiam de romance para ele.

A grande verdade é que ele a quis por um momento, a desejou tão intensamente como se pode querer um grande amor. Ela lhe fez amor diferente, devasso, sem regras, sem manual, sem etiquetas, cada novo momento servindo de novidade para outro instante. Ele despejou-se em sua cama como a água que escorre garganta abaixo aplacando a sede – ela saciou-lhe a sede, sendo o copo e a própria água.

Por um momento, um fugaz momento, ele disse não...

Não aos seus valores, aos seus princípios, para a razão que o acusava em todo o instante. Sua consciência ele trancafiou numa sala escura de seus desejos mais ocultos, sufocou seus gritos, virou-lhe as costas oferecendo a indiferença em generosas porções.

Mas o correto é vara verde, enverga e não quebra.

Num instante em que a selvageria desse amor lhe deu paz, a consciência conseguiu fugir e se fez ouvir.

Uma balança instalou-se em sua decisão – de um lado, o corpo e o coração, do outro, a consciência e a razão; de um lado o sexo e o amor enlouquecido, do outro, as perspectivas todas que, em coral, cantavam as tragédias de uma paixão aleijada de futuro dos pés a cabeça.

Largou-a!

Não sem sofrimento largou-a!
Ele seguiu sua vida sem grandes assaltos e arroubos, sempre tendo a normalidade como leal companheira.

Ela seguiu sua vida, meteu-se em várias confusões amorosas e envolveu-se com um sujeito canalha que transformou sua vida toda num inferno – a própria vida dele, explica-se, também se mudou para o tártaro.

Um devaneio bizarro, pensou, afastando de lado esse pensamento de amor. Suspirou aliviado, acalmou o coração e deu um beijo em sua consciência sempre atalaia. Por vezes, mais importante que um coração que saiba amar intensamente e sem juízo é ter um que saiba dialogar com a razão.


Ilustração: Paulomadeira.net, colhida no ótimo sítio de fotografias www.olhares.com

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ADEUS AOS HERÓIS!

Eu quis ser herói!
Derramei meu sangue, sofri, chorei,
Dilapidei minha fé e minha vontade.
Dissequei todos os meus valores e ideais
Diante de um altar de tolos.
Errei o caminho...
Não se fazem mais heróis com sangue!
Os heróis de hoje se constroem com palavras!
Tudo bem...
Eu me adapto...
Sou melhor com as palavras do que com as espadas!
Se eles não querem heroísmos
Não farei de mim próprio um mártir!
Não quero mais heroísmos...


Parafraseando os poetas:


(... E ambos já se foram...)


“Os heróis morrem de overdose...
(de tolice...)
E os bons partem antes...”


Esqueçamos os heroísmos... Isso virou besteira!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A CASCA

... e tinha os lábios de Nastassja Kinski emoldurado por um rosto de Marlene Dietrich. As feições eram belas e firmes, femininas e sensuais, chamavam a atenção masculina pelas sugestões selvagens que emanavam dela, a mulher era uma força da natureza e tudo nela voltava-se para um norte lascivo de sugestões mais que concupiscentes.



O ambiente era muito preguiçoso dentro da noite, a madrugada ceifava os cansaços do dia dos passageiros do ônibus com um instrumento bem afiado e, sua entrada, numa estação qualquer, para os que estavam atentos quebrou a rotina sonolenta dentro do veículo. Primeiro, chegou o seu cheiro de fêmea em ebulição, um perfume instigante que ouriçou as narinas e todos os feromônios do lugar, depois, veio seu rosto e seu corpo e todos os olhos machos dançaram sob o luar por sobre aquela geografia espetacular de relevos e curvas. Ela, por sua vez, desconsiderou quaisquer observações e, decidida, sentou-se no seu lugar da mesma forma como uma rainha se acomodaria em seu trono, tinha toda a empáfia de uma majestade apenas faltava-lhe a coroa.



Em seu posto, correu os olhos pelo ambiente, por cima, investigando sem curiosidade a tudo com aquele ar de superioridade. Nela, diversos olhares tatuavam-se sensibilizados com sua beleza singular. Ela ignorava, transformava todo esse evento em algo pequeno, como se tudo o mais ficasse pequeno diante de sua oponente presença.



E nela, talvez seja essa a grande verdade – tão grande quanto sua beleza selvagem e livre era sua arrogância, sua prepotência, seu ar ególatra que a fazia acreditar sempre que era o sol e, o mundo ao seu redor, astros que orbitavam em torno de si.



Não olhava ninguém, nem cumprimentava.
Não dizia boa noite, nem pedia licenças.
Não agradecia, não respeitava fronteiras fossem elas reais ou imaginárias.



Para ela, sua beleza física já era o bastante e, somente isso, nada mais que isso, já era o suficiente para agradar os outros. Seu combustível era unicamente seus desejos; seus limites, a satisfação destes. Boas maneiras e gentilezas era uma roupa que vestia eventualmente, um caminho pouco pisado e somente utilizado para garantir seus interesses.



Olhei-a novamente, desta vez sob o filtro da verdade e vi sua verdadeira face, horrenda. Sua beleza de princesa transmutou-se e a fera que habitava nela mostrou-se por inteiro. Fechei os olhos rendendo-me aos encantos de Morpheu, esquecendo-me de belas e de feras, sabendo intuitivamente que uma premissa cravara-se feito seta em minha consciência – a beleza pela beleza é pouco, o que torna uma pessoa especial e linda é todo o contexto, aliando o físico privilegiado a uma gama de qualidades espirituais e de comportamento.



A bela e anônima garota que entrou numa estação no meio do caminho e, sumiu por outra esquecida no trajeto, foi uma das mais belas mulheres que vi na vida, mas, era somente uma casca de beleza, exuberante sem dúvida, mas somente uma casca...




Foto: colhida na internet

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O REECONTRO

... E quando a médica entrou no quarto e viu o novo paciente que havia chegado na emergência, assustou-se como raramente houvera se espantado antes, era o seu melhor amigo e que há tempos não se viam...

Deixou-se levar... levar... e em sua mente surgiu em flashbacks antigas e belas histórias que havia vivido com seu amigo mais que querido: os abraços fraternos; os beijos carinhosos; as confidências mútuas; os sonhos planejados; as conquistas de um e de outro; as lágrimas que enxugaram em suas faces, de alegria e de tristeza; as gargalhadas que escaparam nas tardes de trabalho; a torcida e o apoio inquestionável que ele lhe deu para chegar aonde agora estava; o dia em que se despediram e juraram amizade eterna.

Ela olhou o amigo, estava todo quebrado... Meu Deus! Pensou consigo próprio, todo quebrado!

Começara um exame mais detalhado quando percebeu que ele havia recobrado os sentidos e a olhava intensamente, a reconhecendo, era um milagre, pensou, ele estar consciente... Ele estar vivo!

Ele tentou sorrir, ela percebeu, mas ele... Ele não conseguia... Todo o seu corpo não respondia aos seus estímulos.

Ele fez uma sugestão qualquer a convidando para aproximar-se dele.

Ela debruçou sobre ele quase encostando seu ouvido à boca do amigo morimbundo.

- E.... Erh.... Erhhhh...
- Não fale, meu amor.... não fale. Ela clamou desesperada.

... E tudo o que ainda restava nele, ele concentrou naquela tentativa desesperada de lhe falar, retirava dos lábios uma série de sons estranhos que ela entendeu como um “te amo”, duas palavras que escaparam tingidas de vermelho. Ele lutava para viver...

Quando ela afastou a face e buscou-lhe os olhos viu que ele já não dominava mais nada em seu corpo e sua vontade apressada de abraçá-la não conseguia ser satisfeita. Ela deixou cair uma lagrima quente que se misturou a dele, já fria, ambas se tornaram uma única e escarlate escorregou pela face machucada do amigo.

Quando ela o abraçou manchando o branco do seu jaleco com o rubro líquido, ele já estava morto, e isto ela já o sabia... Mas não era mais seu corpo que abraçava, era uma lembrança e uma saudade...