quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Sobre bolos, metades e inteiros

Fizestes um bolo para mim...
Quanta alegria... quanta alegria...
Mas meu amor, meu precioso amor,
Um bolo é pouco demais para
Eu te agradecer.
Te agradecer pelo bolo?
Eu te agradeço pela vida
Que me destes e me dá.
Te agradeço por ter me ensinado tua fé.
Te agradeço por ter compartilhado
Um bocadinho da tua imensa sabedoria.
Te agradeço por ser sempre vigilante,
E me mostrar os abismos que o
Inimigo sempre está a preparar.
Agradeço por acordar contigo,
E por adormecer do teu lado.
Agradeço por seres um pedaço de mim,
E eu ser um pedaço de ti,
Assim, de pedaço em pedaço,
Formamos um inteiro.

Agradeço por isso tudo, meu amor,
E agradeço também pelo bolo...
Feliz aniversário para a minha metade,
Que junto da tua,

Forma o que somos como nós!

OS “NOVINHOS”


Quando chegaram já eram esperados.
A cadeia estava superlotada e os plantões carentes de servidores, duas variáveis perfeitas para criar uma equação de descalabro prisional.
Não prestemos atenção nestes aspectos, cadeia cheia e pouco servidor é rotina, reprise constante da velha estória do cobertor curto.
O fato é que os “novinhos” chegaram trazendo um alento, gente nova diminui a pressão e o estresse do trabalho sobrecarregado em velhas costas já sofridas pelos anos no sistema. Vinham eles paramentados em fardas negras como a madrugada da cadeia, belos coturnos nos pés, calças e cintos táticos, camisetas apertadas e um brilho entusiástico no olhar.
Todos prestaram atenção na farda e nos materiais de segurança que portavam, preferi me deter no olhar deles, isso me encantou. Vivemos tempos que se exige mais comprometimento com a missão diária do que equipamentos táticos.
Não havia neles medo ou receio do lugar ou da massa carcerária – as engrenagens de suas atitudes e coragem eram movidas com o potente combustível do entusiasmo com pitadas generosas de aditivo de iniciativa.
Incorporaram-se aos plantões com humildade, de forma natural, como sempre deve ser, começaram a construir com muito trabalho e dedicação uma aura de respeito em torno deles.
Para eles, honra e amizade eram totens que se erguiam juntos, reverenciados ambos pelos seus colegas mais antigos de plantão.
Soube, entretanto, que não ficariam, seriam transferidos para a capital onde ficariam mais próximos de seus lares, vieram no interior apenas passar um verão, não conheceriam o inverno da grande cadeia.
Saí de férias logo após a chegada deles, quando retornei, trinta dias mais tarde, eles já tinham ido de encontro as suas novas responsabilidades. Nos pavilhões, nas áreas de segurança, na muralha, em toda a parte onde os agentes penitenciários pisavam ficou alguma coisa deles, uma poça de um azeite finíssimo chamado saudades.
Tem gente que passa uma vida inteira ao nosso lado e tudo o que conseguem construir no relacionamento conosco não consegue preencher de saudades um único final de semana.
Há pessoas que, com pouco tempo, ganham de tal forma nosso respeito, confiança e simpatia que quando partem, deixam em nós um sentimento sempre urgente de constante nostalgia. Essas pessoas são extraordinárias.

Em meus pensamentos, abençoei cada um deles e desejei para eles uma sincera felicidade cristã, depois, caí para dentro da quimera, a rotina já me convidava para dentro de suas águas com seu canto de sereia.