Quando chegaram já eram
esperados.
A cadeia estava
superlotada e os plantões carentes de servidores, duas variáveis perfeitas para
criar uma equação de descalabro prisional.
Não prestemos atenção
nestes aspectos, cadeia cheia e pouco servidor é rotina, reprise constante da
velha estória do cobertor curto.
O fato é que os “novinhos”
chegaram trazendo um alento, gente nova diminui a pressão e o estresse do
trabalho sobrecarregado em velhas costas já sofridas pelos anos no sistema.
Vinham eles paramentados em fardas negras como a madrugada da cadeia, belos
coturnos nos pés, calças e cintos táticos, camisetas apertadas e um brilho
entusiástico no olhar.
Todos prestaram atenção na
farda e nos materiais de segurança que portavam, preferi me deter no olhar
deles, isso me encantou. Vivemos tempos que se exige mais comprometimento com a
missão diária do que equipamentos táticos.
Não havia neles medo ou
receio do lugar ou da massa carcerária – as engrenagens de suas atitudes e
coragem eram movidas com o potente combustível do entusiasmo com pitadas
generosas de aditivo de iniciativa.
Incorporaram-se aos
plantões com humildade, de forma natural, como sempre deve ser, começaram a
construir com muito trabalho e dedicação uma aura de respeito em torno deles.
Para eles, honra e amizade
eram totens que se erguiam juntos, reverenciados ambos pelos seus colegas mais
antigos de plantão.
Soube, entretanto, que não
ficariam, seriam transferidos para a capital onde ficariam mais próximos de
seus lares, vieram no interior apenas passar um verão, não conheceriam o
inverno da grande cadeia.
Saí de férias logo após a
chegada deles, quando retornei, trinta dias mais tarde, eles já tinham ido de
encontro as suas novas responsabilidades. Nos pavilhões, nas áreas de segurança,
na muralha, em toda a parte onde os agentes penitenciários pisavam ficou alguma
coisa deles, uma poça de um azeite finíssimo chamado saudades.
Tem gente que passa uma
vida inteira ao nosso lado e tudo o que conseguem construir no relacionamento conosco
não consegue preencher de saudades um único final de semana.
Há pessoas que, com pouco
tempo, ganham de tal forma nosso respeito, confiança e simpatia que quando
partem, deixam em nós um sentimento sempre urgente de constante nostalgia.
Essas pessoas são extraordinárias.
Em meus pensamentos,
abençoei cada um deles e desejei para eles uma sincera felicidade cristã,
depois, caí para dentro da quimera, a rotina já me convidava para dentro de
suas águas com seu canto de sereia.