segunda-feira, 11 de julho de 2022

 


À SUA BENÇÃO, MAMÃE!

 

A pequena senhora já carregada de janeiros adentrou o raio com enorme expectativa, era nítido isso em todo o seu corpo.

Do meio da turba que estava dentro do pavilhão, um corpo sobressaiu algo agitado e foi de encontro a senhora que entrava.

Pararam frente ao outro.

Olharam-se fixamente.

Corações batendo forte como se tambores soassem em meio a balbúrdia do pavilhão.

Ele estendeu sua mão magra para ela – pediu a benção.

Ela estendeu sua mão magra para ele – deu-lhe a benção.

Tudo isso durou um instante mas foi acompanhada por dezenas de olhares bisbilhoteiros, ele nunca havia recebido visita antes, a massa carcerária estava curiosa.

Muitos dos que ali estavam nunca haviam testemunhado aquela cena antes – um filho pedir a benção a uma mãe – muitos sequer conheciam o que era benção, muitos sequer conheciam o que era mãe, assim, tudo era estranho e tinha gosto de primeira vez, um gosto ácido para não dizer azedo.

Alguém que já havia visto a cena e realizado o ato, sentiu na boca um gosto de saudades – lembrou-se da mãe que já partira e segurou com força uma lágrima que brotou do seio dessa lembrança e queria jorrar feito cascata ali em meio a bandidagem. Corações duros evitam emoções...

Outro, ficou com vontade de ser abençoado, porque se deixou levar por caminhos que sugeriam materialismos e futilidades.

Mas a velha mãe estava esquecida de todas essas coisas, toda a sua atenção se voltava para o filho bandido.

Simplesmente o abençoou, com todas as forças de seu corpo e sua alma, abençoou-o como se o fizesse a um santo, como se fosse a última coisa que iria realizar, como se a benção fosse regenerar o filho ladrão, como se ela pudesse tira-los dali e lança-los em voo para um lugar que fosse somente deles. Mãe é sempre mãe, mesmo aquelas que são mães de bandidos.

A verdade é que ela entregou tudo naquela benção, seu entusiasmo, sua energia, principalmente sua fé. Uma fé que a fazia sonhar que pela benção ela conseguiria transformar as ideias e os apetites do filho, consequentemente, sua vida e sua realidade, porque há muito tempo atrás ela havia entendido que sem Deus, no filho nada se regeneraria.

Ela entregou tudo naquela benção porque para ela e somente para ela, naquele lugar e em toda a parte, não era um ladrão que ela abençoava era seu filho.

E um abraço os uniram em frente a turba emocionada.