quinta-feira, 15 de março de 2012

O NOVO CAMINHO


À minha frente ergue-se novo caminho
A relva é verde e fresca,
E fresco é o orvalho que molha meus pés nus.
Brotou uma bela flor em meu jardim
E ela me segue mundo afora,
Confortando-me com seu perfume e beleza.
Alguém fala de angústias e de passado.
Não é para mim.
Meus cestos enchem-se de possibilidades e esperanças.
Sim, tenho os pés descalços
E minhas roupas não têm o brilho da seda,
Minha nudez é bela e isso me contenta.
Não preciso comer toda a macieira
Se somente uma me alimenta.
Não perco mais tempo com futilidades,
E o que não se pode mudar acabado está.
A única coisa que ajunto
São os sonhos que colho pelo caminho,
E sigo tendo como lanterna as estrelas
E meu teto é todo o azul do céu.
Se chove, me banho.
Se faz sol, me aqueço.
Nas manhãs acordo com uma oração,
E com oração me deito.
Em todo o resto do dia procuro poesias
Como se a ouro procurasse.
Não busco nem ofereço oferendas,
Em meu novo caminho não existem reis
E a liberdade é o estandarte que
Empunho firmemente na caminhada.
Esqueci-me das multidões alvoroçadas e entorpecidas,
Entretenho-me com alguns poucos fiéis
Beatos que ainda acreditam que pode
Haver amizade e honradez neste mundo.
Apanho meu alaúde
E minha canção se suspende no ar
Suspensa por um fio invisível
O mesmo fio que sustenta todas as coisas.
Escutem no murmúrio da brisa
E no lamento dos finais das tardes,
A verdade que escorre feito mel das
Palavras que canto.
O dia resiste e resiste, mas sucumbe à noite,
Porque é o que tem de acontecer.
O natural sempre prevalece
E não existem vontades mais poderosas
Que as verdades da vida.
Meu antigo caminho se foi.
Perdeu-se na velha e poeirenta estrada
E teias de aranhas cobriram sua passagem para mim.
Sem retorno.
O natural sempre prevalece.
Não existe nada mais forte que a verdade da vida.
Meu novo caminho é a minha verdade.
É a minha vida.
Sempre foi. Sei disso agora.
O antigo sucumbiu ao novo.
E sigo cantando em meu novo caminho.

quinta-feira, 8 de março de 2012

POEMA de RABINDRANATH TAGORE


Eu andava a cada dia pelo velho
Caminho. Levava os meus frutos ao
Mercado, o meu rebanho para os campos, e
Cruzava o rio com o meu barco. Todos os
Caminhos me eram familiares.


Certa manhã o meu cesto pesava
Muito. Os homens se afastavam nos campos,
As pastagens estavam apinhadas de
Rebanhos, e o peito da terra ofegava,
Alvoroçado pelo arroz maduro.


De repente, um tremor correu pelo
Ar, parecendo que o céu me beijava a
Fronte. O meu pensamento levantou-se em
Sobressalto, como a manhã levantando-se
Da névoa.


Esqueci-me de seguir o caminho.
Andei alguns passos fora da trilha, e o meu
Mundo familiar pareceu-me estranho,
Como a flor que eu só tivesse conhecido em
Botão.


A minha sabedoria cotidiana se
Envergonhou, e eu me desviei para o
Fantástico reino das coisas. A maior sorte
Da minha vida foi perder o caminho
Naquela manhã. Encontrei então a minha
Eterna infância!

do poeta indiano Rabindranath Tagore

sexta-feira, 2 de março de 2012

À MEMÓRIA DE MEUS TEXTOS!


Esqueci-me de meus textos!
Desapareceram com a enxurrada de dias ruins, fugiram magoados com a minha eterna fraqueza de entreter-me com o cotidiano mesquinho. Eu os vi caronas dando adeus da boléia de um velho caminhão sumindo por uma velha estrada poeirenta, indo para lugar nenhum, ansiosos de escaparem da aridez poética dos meus dias comuns.

Fiquei esquecido em meio ao deserto, suspirando saudades de minha poesia, incapaz de arrancar dos fragmentos de minha vida a verdadeira história que se esconde atrás das primeiras aparências.

Voce ficou comigo!

Ficastes prisioneira em meu coração e minhas vontades todas, incapaz de aflorar em sentimentos e lembranças para o mundo, pois eu estava mudo, minhas palavras se sedimentaram em meu coração e tornaram-se os muros e as grades que te prenderam.

Eu sempre soube que deveria ter tido maior zelo com as palavras, com elas os meus textos não teriam partido e a poesia teria permanecido nos meus dias – não existe tristeza onde habita a poesia. Mas, me perdi lambendo minhas feridas, desatento deixei que a poesia vazasse pelo ralo da dor e, quando percebi, estava estéril e minha inspiração era apenas dunas de areia sopradas pelo vento.

Se não existem textos e a poesia é nula perco meu tempo lendo meus antigos textos que os dedicara todos a você e as lembranças de amor.
É pouco e eu sei disso! Mas sinto dentro do meu coração algo se contorcer e remexer e isso é bom! As palavras repetidas que leio navegam nas ondas da noite e chegam até você em forma de uma brisa fresca que irrompe por tua janela aberta para a minha poesia, eu toco teus lábios e tua face, é um delicado beijo de amor.

E, em algum lugar, meus textos pegam as camisas surradas e vestem as desbotadas calças jeans, perdem algum tempo passando o perfume masculino e ganham a estrada. Eles sabem, como eu sei, que a estrada é longa e que eles tardarão em chegar. Eles sabem também que estou aqui à sua espera, a casa limpa e bem cuidada, cortinas nas janelas, brinquedos nos quintais e no jardim, rosas e margaridas despejando poesia como mel de suas pétalas.

Estou pronto para meus textos!

Estou pronto para voce!!!