segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

LUZ E ESCURIDÃO

 

A escuridão...

Sempre convivi com ela.

Era uma parceira que todos os dias

Comparecia para me tomar pela mão

E me conduzir pelos caminhos dessa vida.

Vida estranha...

Vida escura...

Escuridão...

Cego, cego pelas trevas,

Muitas vezes sorri para a vida,

Como se fosse realmente feliz.

Engano.

Cilada.

Sorrisos podem ser poderosas armadilhas.

Meus sorrisos serviam todos como arapucas

Brancas e cintilantes

Que me arrastavam, todos eles,

Cada vez mais, para dentro da escuridão.

Quanto mais cego,

Mais dentro da escuridão.

Cilada, lembram-se...

Um dia, entretanto, vi um lampejo de luz.

Segui-o para onde ia...

Era estranho ver aquele ponto brilhando

No maciço escuro das trevas.

Encontrei alguém que falava de um homem...

Que ensinou coisas verdadeiramente

Diferentes, deliciosamente diferentes.

Escutei como quem ouvia o som

Pela primeira vez.

Absorto, envolvido, encantado.

O ponto de luz foi crescendo,

Me envolvendo num abraço cálido,

Suave como a pétala de uma rosa,

Perfumado como um jardim.

Quando percebi, estava inteiro dentro da luz,

Olhei para os lados para ver

A escuridão...

Ela tinha fugido, apavorada.

A luz espanta as trevas.

Senti-me realmente em paz.

Confortável.

Feliz!

Absolutamente feliz!

Absurdamente feliz!

Verdadeiramente feliz!

Abracei quem pregou a mensagem para mim...

Abracei a mensagem,

Abracei o Evangelho.

Oh! Meu Deus, é verdade então!!

Não abracei o pregador,

Abracei o meu doce Jesus!

 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

VOU LHE FAZER POESIA!

 


Há quanto tempo não te faço poesia?

Não consigo mais quantificar

E isto tornou-se desnecessário...

Forçar poesia é algo inconcebível,

Profano demais,

Violento demais,

Não se pode violentar poesias.

Poesias nascem de forma natural,

Nunca arrancadas de um coração estéril

Retiradas à força pelo fórceps

De uma necessidade pagã.

Poesias são como borboletas,

Elas simplesmente eclodem

Do casulo da criatividade.

Algumas dentro de um tempo,

Outras dentro de dois tempos,

Nunca apressadas,

Urgentes,

Fabricadas.

Poesia deve ser artesanal.

Construída letra por letra,

Palavra por palavra,

Cada verso sendo uma pedra preciosa

Que irá incrustar a coroa

Poética que será posta

Majestosamente no coração

Da mulher amada.

Se não há poesias...

Simplesmente não há.

Aguarde-as como se aguarda

O filho que vai nascer,

Como se aguarda o sol

Depois da mais negra madrugada,

Como se aguarda a primavera

Depois de um rigoroso outono.

Há quanto tempo não te faço poesia?

Deixei de pensar nisso...

Fazer poesia é fazer amor em palavras.

Não tenho lhe feito amor nas palavras,

Isso é a verdade e fico triste com isso.

Fazer poesia é fazer amor em palavras.

Tenho feito amor em você, com você,

Como se fosse a primeira vez,

Com a volúpia da primeira vez,

Com o desejo da primeira vez,

E a certeza de que serão para sempre

Todas as vezes que faremos amor.

Esta é a verdade, portanto,

E verdades arrancadas do amor

São inquestionáveis.

Toda vez que faço amor contigo,

Meu amor muito mais que amor,

Estou te fazendo poesia,

Assim, não tem faltado poesia

Em nossa vida,

Em nossa cama,

Em nosso amor...

Faço poesia toda as vezes

Que faço amor contigo!

Farei poesia nessa noite!

domingo, 28 de fevereiro de 2021

OPERAÇÃO SELVA 1

 


A coragem de um policial penal é um caldo espesso feito de diferentes ingredientes, um deles é a loucura.

Já disse isso antes, empresto apenas novidade porque essa é uma frase que se faz nova em cada alvorecer.

Todos os dias, dentro de uma grande cadeia, ou nesse trabalho que hoje em dia se desdobra para fora dos grandes muros, a coragem desses homens e mulheres é testada até a exaustão, até seu limite supremo. E, quando a corda parece que vai arrebentar, ela se estica.

O que move essa gente a fazer o que fazem é inexplicável.

Isso nasce dentro do coração do policial penal e se torna parte dele.

Um dia, dia qualquer, ele simplesmente aprende a domesticar o medo e, desde então, essa besta não mais tem poder sobre ele.

Esse demônio fica lá, incisivamente, tentando, provocando, criando armadilhas para a queda do policial penal, mas, sem sucesso. O homem domesticou a selvageria desse sentimento e ele não tem mais qualquer poder sobre ele.

O medo é uma das armas do crime.

O crime é mutante, dinâmico, sempre busca novas possibilidades e somente ainda não venceu graças a essa gente, policiais penais que simplesmente, aprenderam a domesticar o medo e não se deixam vencer por ele e pela incapacidade institucional de se adaptar a agilidade do crime e dos problemas.

Se a solução não vem de forma sistêmica, essa gente oferece remédios pontuais.

Um desses remédios vislumbrei dia desses e fiquei admirado com a força dessa gente.

O sistema acordou e fechou diversas portas para o crime.

Os portões se fecharam com cadeados difíceis de abrir.

As muralhas ficaram altas demais.

As sentinelas ficaram extremamente vigilantes e não passava nem agulha por cima dos grandes muros.

O crime pensou, se os “bagulhos” não vem por baixo, vão vir por cima.

Arrumaram um drone e das alturas despejaram pacotes de ilícitos para dentro do presídio.

A quimera ainda comemorava o sucesso, rindo da cara dos guardiães da muralha e dos policiais dentro de seus corredores, quando alguém teve uma ideia insana: Se a gente não pega o bicho encima, vamos pega-lo embaixo, pela crina.

A máxima era a mesma do crime, agora se voltava contra ele a favor da polícia.

Quatro deles, tomaram um banho demorado naquele caldo espesso que foi suplementado com doses generosas de loucura e saíram no encalço.

Não tinham nada, só vontade, só coragem.

Deus ajuda os homens de boa vontade.

Chegaram numa mata fechada e deram de cara com o meliante.

Rotina. Quando ele viu a polícia correu para dentro do mato.

O crime ama o mato, o esgoto, a treva.

Caíram para dentro sem pensar duas vezes.

Dividiram-se.

Um deles, entretanto, dentro da mata fechada deu de cara com o ladrão.

O ladrão olhou para ele.

Ele olhou para o ladrão.

Deu voz de prisão.

O crime parece ser surdo, mais que surdo, tem medo. O medo impulsionou o ladrão e ele se jogou para dentro do matagal e desapareceu nos subterrâneos daquela floresta.

Quando tudo parecia perdido, chegaram os colegas, um deles trazendo debaixo do braço o drone do crime, no rosto o sorriso da vitória.

Voltaram para a cadeia.

A quimera ainda sorria quando eles entraram...

Daí a pouco, pelos cochichos do corredor, cadeia não tem “off”, a quimera soube da vitória da polícia.

Aquietou-se.

Seu sorriso engasgou-se na garganta.

Foi dormir com dor de cabeça naquele dia, o monstro.

 

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

BAÚ DE ANO NOVO

 

 


       

Novo baú foi aberto.

Novas expectativas expostas.

Outras já velhas

Nos revisitando trajando

Cachecóis e bengalas

Ansiosas de serem satisfeitas.

Insistentes...

O antigo baú foi lacrado,

Guardado no sótão do tempo.

Alguém sugeriu que colássemos

A etiqueta: Vitória!

Resisti...

Não enxergo essa vitória,

Não sinto seu calor em

Meu coração esperançoso,

Sequer sinto seu gosto na boca.

A verdade é que a maioria de nós

Anda esquecido e desajeitado.

Agradecendo as garrafas que bebeu...

Os bifes que comeu...

O hospital que não visitou...

(tantos visitaram hospitais...)

Tudo tão pouco,

Tão insuficiente.

Esqueçamos o velho baú.

Ele foi enchido com egoísmo,

Narcisismo e coisas vãs.

Baú perdido... perdido...

Olho para dentro do novo baú,

Estico meus ouvidos

Para as promessas que acabam

De nascer na boca da humanidade.

Tu não está nelas, Pai!

A maioria da maioria de nós

Anda mesmo esquecido, Pai!

Baús se abrem...

Baús se fecham...

Jesus não nasce no coração do povo.

Quantos baús ainda nos restam???