Fato.
Todo ser que acabou
trancafiado na cadeia é um ser auto destrutivo.
É alguém que possui
nítidos problemas de personalidade, desconhece hierarquias e ordenamentos e,
acima de tudo, não tem qualquer escrúpulo em quebrar leis e regras.
Leis e regras são
fundamentais na vida em sociedade, são elas que estabelecem as fronteiras na
convivência humana, a perfeita harmonia entre os homens.
Se não houver regras, não
haverá ordem.
Dentro da cadeia existem
uma espécie sui generis de preso que
consegue ser ainda mais auto destrutivo que os demais. Porque a cadeia,
entenda-se, possui um ordenamento próprio que é natural dela e que todo preso
procura seguir, não por satisfação, sim por entender que a quebra das regras na
clausura, automaticamente gera uma punição: crime e castigo.
Especificamente esse preso
que iremos tratar agora, andou por toda a cadeia, incomodando e desrespeitando
as leis naturais de cada pavilhão – tudo o que conseguiu construir dentro da
prisão foi ser um “seguro”, ou seja, preso que não tem mais convivência com o
restante da população carcerária.
Foi parar na disciplina,
na solitária estacionou. Não tinha para onde ir...
Os dias viraram meses e,
por sua única vontade, ficava ali.
Ocorre que um dia qualquer
começou a conversar com internos do pavilhão ao lado, até aquele dia tinha
fechado os ouvidos para todos e tudo, por um motivo qualquer (desconhecido),
começou a flertar com o raio vizinho.
Um preso gritava do “prédio”,
ele respondia da “forte”.
Estabeleceu-se um namoro.
Os presos do pavilhão
convidaram-no para retornar: “Foi tudo esquecido...”, “Tá tudo ajeitado...”, “Chega
de sofrimento, irmão!”.
Ele concordou.
Confiou e pediu para
voltar.
Falou com a segurança
penitenciária expondo sua decisão.
Os agentes aconselharam
que não, que aguardasse uma transferência, poderia ser nada, poderia ser tudo,
poderia ser uma armadilha.
Não teve jeito, a sua
confiança tinha atingido o pico e no alto dessa montanha ficou cego para seu
passado de pecados e desrespeitos dentro da cadeia.
E, convenhamos, a mudança de
cela era seu direito.
Assinou os papéis que
permitiam sob sua responsabilidade o retorno e caiu para dentro do pavilhão.
Sorridente.
No último instante, quando
o agente já se preparava para fechar a porta da cela, teve um insight, convidou o preso que entrava
para sair, para voltar atrás e desistir dessa mudança.
“Que é isso, senhor?” Ele
respondeu já com alguma arrogância. “Tô de boa... Tô com a família...”
Respondeu confiante.
“Isso mesmo, senhor! Ele
está com a família...” Falaram os demais internos enquanto o faziam desaparecer
para dentro da cela envolto por uma avalanche de abraços e tapinhas nas costas.
Nada mais a fazer.
O agente bateu a porta e
se foi para cuidar da rotina da cadeia. A megera não para e, ali, parecia tudo
bem.
No outro dia, o preso
amanheceu pendurado.
Havia se “suicidado”
dentro da madrugada.
Cadeia cobra, sempre
cobra.
Todo ser que busca a
própria destruição, um dia a encontra.
Fato