terça-feira, 28 de setembro de 2010

SONHOS DE UMA NOITE DE OUTONO

Hoje, acordei fardado de tristeza, calcei o mais lustroso dos coturnos de desilusão, coloquei no bolso o distintivo e o brasão da tropa “Onde está meu futuro?” e saí para a rua, para a ronda ostensiva no meu espírito irrequieto.



Num bairro da periferia, numa vila de reputação duvidosa, encontrei esperança fumando um cigarro de “engana que eu gosto” e dei batida, mandei-a para a parede, “Geral, malandragem!”



Enquanto a trancava no baú do camburão, a esperança olhou-me dentro dos olhos e apaixonei-me por ela à primeira vista. Vestia-se como uma vagabunda, mas, entende-se lá porque, enxerguei seu coração...



Modulei pelo rádio e puxei sua capivara, uma ficha mais branca que bundinha de nenen. Vejam só como é a vida, fui dar um saculejo na vila desilusão e encontrei esperança, ainda que a cara fosse toda pintada de pilantragem a ficha limpa não negava sua inocência.



Tirei-a do baú, coloquei-a sentada no banco da frente da viatura desespero e levei esperança para o centro de minha vida, um apartamento pequeno e confortável no edifício coração.



Casei-me com ela, dei a ela um teto e ela, no primeiro ano, deu-me um filho a quem chamamos Possibilidade.



Hoje, vivo bem, vivo feliz, tenho Esperança e tenho possibilidade.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PEQUENO DISCURSO SOBRE A PAIXÃO

Eu acredito mesmo é na paixão!
Não consigo me desvencilhar dela, de não pensar nela, de não desejá-la com todo o poder de meu corpo.
A paixão me dá forças, me eleva, me distingue.
Com ela sou diferente, sou melhor, faço melhor.

De que me adianta ter toda a técnica do mundo, ser o mais inteligente, o mais cerebral, ser um “expert” em isso e aquilo e tudo o mais, mas, não ter paixão vai me tornar parecido com tantos outros que existem em todos os lugares. Ases existem em toda a parte, apaixonados não. Eles são raros, são poucos, são gente extinta, são loucos e são tolos aos olhos do mundo, e são tão belos, tão encantadores, tão necessários... Isso! Os apaixonados são necessários!

Para mim nada é pouco e pequeno demais, porque sou apaixonado, pela paixão não conheço a mediocridade.

Eu faço pelo prazer de fazer bem feito, a paixão é meu combustível ela que me impulsiona para a perfeição, para a busca incansável pela excelência em todas as suas formas. Gosto de ser bom, não para mim, não para você, ou para quem quer que seja, gosto de ser bom porque sou apaixonado. Ser bom, portanto, não está em mim, está na minha paixão.

A paixão é a luz de meu espírito, e esse é o brilho que me interessa. Ela me conduz para o prazer de realizar, de construir, de diferenciar, de edificar, sem compromissos com recompensas ou outras coisas quaisquer.
Quem espera recompensas, frustra-se.
Eu jamais me frustro, sou apaixonado, faço porque quero fazê-lo e fazê-lo já me recompensa.
Eu acredito mesmo é na paixão!
Enquanto ela estiver comigo, serei eu próprio!
No dia que ela me abandonar, terei esquecido de mim mesmo e serei apenas mais um... Mais um... E já são tantos...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

ORAÇÃO Nº 01

Senhor!
Abra-me agora todas as portas do entendimento,
Que eu diga o que precisa ser dito!
Que eu ensine o que precisa ser ensinado!
Que eu aprenda o que precisa ser aprendido!
Que eu não seja mais, nem menos,
Que tenha a medida certa em todas as coisas,
Para todas as coisas,
E que a sabedoria seja a luz de todos os olhos,
Aqui e lá fora!
Ao final, que não seja eu o glorificado,
Pois nada sei e nada sou,
Pois nada tenho e nada ganho
Que não provenha de ti, meu Pai!
Esqueçamos o homem que sou
E desviemos nossa atenção e contemplação
Para a obra, pois ela e toda ela,
É feita para glorificar o meu amor a Ti!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DOIS...

Na madrugada,
Por uma fresta da realidade,
Ele mandou-lhe o recado,
(Que foi mais que um recado),
Foi um suspiro de amor:


Já é noite, minha querida...
... E que demônio é este que me devora?
Saudades, teu nome demônio, é saudades....




Na alvorada,
Enquanto a realidade ainda adormecia,
Ele recebeu a sugestão de amor,
Que veio... veio... voando...
E pousou em seu coração:




Mas olha amor, vê...
Já é dia...
Põe de novo o coração na janela,
À espera,
Assim como eu ponho o meu,
Porque um pequeno gesto teu
(como este),
Ilumina a vida
E o demônio da saudade,
Fica pequeno,
Diante da certeza
Do amor que te dedico.




E a lagrima apaixonada de um,
Caiu na mesma sincronia do outro.
Mesmo tão longe,
O amor os trouxeram perto,
E fizeram amor assim...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

PEQUENA RECEITA PARA O IMPROVISO NO AMOR

Ele fez tudo o que julgou certo,
Tudo o que lhe foi ensinado no inicio dos tempos,
Quando nos peitos dos homens ainda batia
Um coração romântico e sensível.
Ele comprou o buque mais perfeito,
Escolheu uma caixa de bombons belíssima,
Vestiu seu melhor traje,
Tomou um banho demorado e perfumou-se
Como se a vida não lhe fosse dar outra chance.
Antes um pouco, durante o dia,
No meio da confusão do escritório,
Leu poesia durante todo o tempo,
As pessoas falavam de dólar e de mercados,
Ele sonhando Neruda, Pessoa e Quintana.
Levou uma cantada da musa da repartição,
Fechou os olhos, o coração e tudo o mais
Para sua investida,
(A serpente oferecendo a maçã no paraíso... Remake...)
Agradeceu dando uma de desentendido,
O coração apaixonado de um homem é
O que pode haver de mais fiel.
Agora, a noite lhe sorria com uma lua belíssima,
Comprou um vinho de uma safra interessante,
Encomendou uma comida que julgou adequada,
Acomodou tudo tranquilamente no carro
E foi para o apartamento dela.
Apertou a campainha...
(Como ela ainda não ouvirá seu coração?)
Ela surgiu, shorts e camiseta,
Ruborizou-se com a surpresa
Que a colhia desprotegida de protocolos
E de uma roupa mais apropriada.
Ele colocou suavemente um dedo em seus lábios,
Sugerindo para nada dizer,
Preparou a mesa com a comida,
O vinho foi para um balde com gelo,
O buque para um vaso com água,
Os bombons para um recanto seguro.
Ela quis se arrumar,
Ele não deixou.
“Voce está do jeito que sempre deve estar...”


Fizeram amor antes mesmo do jantar!

domingo, 5 de setembro de 2010

A SENHORA E A ARMADURA

à Mamãe, amada!

Ela acorda logo após o ultimo pio de coruja, imediatamente antes do primeiro cucuritar do galo cujo mister é anunciar para os quatro cantos o novo dia que nasce.



Levantou-se determinada, sem delongas, tendo em mente toda a agenda do exaustivo dia já sincronizada na consciência. Colocou uma vasilha com água no fogo, foi ao banheiro e lavou-se demoradamente, higiene para ela nunca foi um exagero. Saiu, a água já fervia, colocou o açúcar, o pó de café, coou e o cheiro forte da bebida acariciou seus instintos – sorriu, o café é mesmo fundamental.



Encheu uma xícara e tomou ali mesmo, de pé, olhando a noite agonizante pela janela da cozinha, foi neste instante que o galo anunciou oficialmente o novo dia.



Ela foi para o quarto e escolheu sua roupa, sempre limpa e cheirosa, simples e elegante. Vestida, preparou a mesa para um lauto café da manhã para os que acordariam mais tarde: frutas, bolinhos, biscoitos, torradas, café, frios, margarina, tudo bem cuidado, tudo carinhosamente preparado.



Foi para a velha estante e pegou a Bíblia Sagrada que ficava aberta em todo o tempo no ponto nobre da casa, um livro que se percebia facilmente que era muito lido; tomou-o com lágrimas nos olhos e o leu novamente com a mesma fé ardorosa da primeira vez, abençoando a si e a todos os seus. Ao terminar a leitura, era como se houvesse colocado uma armadura e estava pronta para todas as árduas batalhas do dia.



Foi ao primeiro quarto e viu as crianças, os netos, atirou-lhes silenciosamente um beijo em suas faces; no segundo quarto, o filho e, ao seu lado, o livro que com ele adormeceu na noite anterior, beijou-o com a ponta dos dedos, abençoou-o, virou-se, abriu a velha porta de madeira da sala e saiu para a rua e a amarga rotina, feliz e decidida. Desapareceu na escuridão assim que deu os primeiros passos, a noite ainda resistia lá fora...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

TODAS AS RESPOSTAS QUE PROCURAS...

Não acredites em nada do que eles todos dizem...
É loucura.
Suas palavras são profanas e a verdade lhes é estranha.
Não acredite nos sinais, nos sinais à sua volta e no
Que eles sugerem.
É loucura idem.
Os sinais são os filhos primogênitos das contingências e
refletem sua educação árida de amor. Eles
conhecem apenas a sua realidade e por sua realidade vivem, desprezando outros desejos e outros fatos.


E não precisas de nada mais para me conhecer...
Porque já me procurastes na noite mais densa
Tendo como lanterna teu desejo,
Como norte minha excitação por você.
Porque já caminhastes sobre meu corpo branco
Que se deitava para você nas negras e nuas carnes da noite.
Deves se lembrar da minha altivez masculina contrastando com a serenidade que resplandecia em minha face.


Não precisas de nada mais para me conhecer...
Seus beijos, meus lábios e meu corpo já conhecem o sabor.
O toque suave de seus dedos já escorregou por
Todas as curvas de meu corpo teso de paixão.
Que respostas procuras, meu amor, que ainda não a tens?


Tens todas elas, as respostas, encravadas como setas
Em seu coração sensível.
Não fui eu quem lhe fez amor,
Quem tirou de seu âmago feminino o mais doce dos ais?
Conheço teus cheiros, teus gostos, teus sonhos,
E teu sorriso não foi sempre meu melhor amigo?
Que respostas procuras, amor?
Tens todas elas em teu coração...


Não tens???