segunda-feira, 28 de junho de 2010

UM DIA FELIZ!

Acordei com o som dos pássaros, lá fora.
Pela janela do quarto entrou uma brisa fresca de outono
Impregnada com um adocicado cheiro de manhã.
O sol invadia o quarto pelas frestas da janela,
Dançando e cantando dentro do quarto,
Celebrando a vida e a continuidade dos dias.
Levantei-me, abri a janela
E recebi no corpo a deliciosa ducha de raios de sol,
Lavando meu corpo dos últimos vestígios da noite.
Pus a chaleira no fogo e fiz um café.
Seu cheiro invadiu a casa, minhas narinas
E todos os cômodos de meu coração.
O pão fresco do dia rachou-se
Ao primeiro impacto dos dentes esfomeados.
As frutas ficaram mais viçosas
Antegozando o desejo de serem devoradas.
Saí para a rua e todas as coisas.
Sorri bons dias para desconhecidos,
Dei um abraço num estranho,
Comemorei a vitória do clube de coração
Com a mesma fé de um irmão palmeirense.
Comprei o filme que seria visto à noite,
Adquiri toda a matéria prima para o jantar,
Comi uma barra de chocolate, no meio da rua,
Lembrando um guri peralta.
Trabalhei o dia todo com a mesma felicidade
Do meu primeiro dia na empresa.
Saí do serviço com o mesmo sorriso
Que vestia de manhã, ao chegar.
Tomei um delicioso sorvete de morango,
E o crepúsculo pegou-me no acostamento,
Os olhos grudados no grande olho do firmamento.
Cheguei em casa.
Abri a porta.
Sinatra acariciou meus ouvidos.
Corri para o quarto,
Você lá estava, pronta, nua!
Aguardava-me...
Fizemos amor delicadamente!
Sou um homem feliz,
Definitivamente!!!


quinta-feira, 24 de junho de 2010

POEMAS & CONSELHOS

ao amigo N.

Meu amigo, meu irmão,
Pouca coisa importa nesta vida
Que senão a realidade
De seres feliz.
Não a felicidade do outro,
Abstrata e tola,
E sim, a felicidade própria,
Verdadeira e fiel,
Que nasce do teu desejo,
Que vive em seu coração.
Ninguém jamais poderá lhe dizer
Os caminhos que te levarão
Para a tua felicidade.
O que o outro conhece como verdade,
Para você poderá soar louca e abstrata.
Portanto, descubra tua verdade,
E descobrirás a tua felicidade.
Feita esta reflexão,
Vista tua coragem de todos os dias,
E lute por ela
Com todas as tuas forças,
Querendo e desejando
Como se fosse este teu ultimo ato!
A vida é curta, meu amigo,
Os dias mais curtos ainda,
Não desperdice seu tempo
Com orgulho e inércia.
Arrependa-se, amanhã, de ter tentado,
Nunca pela tua omissão.
Livre-se das vaidades todas,
Sejam elas quais forem,
São estúpidas e pagãs.
Atire para fora os maus costumes,
Purifique seus olhos e desejos,
Purifique seu espírito e,
Então, somente então,
Corra atrás de tua felicidade
Que ela lhe aguarda sorridente,
Pronta para um abraço,
Pronta para fazer amor
Ao crepúsculo de incontáveis dias.
Meu amigo, meu irmão,
Pouca coisa importa nessa vida,
Que senão a única
E derradeira verdade:


Ser feliz!!!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A VIDA OCULTA DAS PALAVRAS

Se houvesse um conselho
Que eu gostaria de ofertar,
Ele deitado esplendidamente
Numa bandeja de ouro,
Seria o de que façam poesia!
Diria: Sejam conquistadores!
Construam impérios!
Conquistem as palavras
E as encarcerem nas belas masmorras
Em forma de oásis de uma poesia.
Domem as palavras,
Tomem-nas em seus lábios,
Experimentem-nas em sua boca,
Sintam seu mel escorrer
Por vossa língua sensível.
Elas devem lhe obedecer,
Encaixarem-se perfeitamente
Fazendo amor em todos
Os espaços de tua poesia.
Se alguma delas não lhe for generosa,
Sejas cruel com ela.
Atire-a fora, imediatamente,
E, escolha outra
Que queira se apaixonar
Dentro do lirismo
Que se encerra em seu texto.
Se a palavra escolhida for lua,
E lua mostrar-se rebelde,
Deite-a fora!
Chame estrelas
Conversa com ela, esta palavra linda,
Cochichando-lhe aos ouvidos
As maravilhas que é viver
E morrer para sempre
Dentro de uma poesia.
Fale para ela, convence-a
Da verdade para todas as palavras.
Para elas, as palavras,
A liberdade nas pradarias do desconhecido,
É viver sem estar vivo,
É permanecer num limbo
Onde o nada persevera
E a vida é apenas um tolo sonho
Que não se concretiza na realidade.
Mas, dentro da poesia,
E somente dentro da poesia,
A palavra renasce fulgurante
Para encantar olhos e corações.
Dentro da poesia,
A palavra é bela, existe,
E será eterna!


20/06/2010 2h02min

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O PODER DAS PALAVRAS

Sois linda!
Não canso de cantar
Essa ode pelos quatro cantos do mundo!
Sei que estais distante,
Assim como Plutão está para a nave terra.
Mas, de alguma forma,
Dentro dessa estranha
Complexidade que move o universo,
Eles estão juntos!
E assim te enxergo,
Pela distância!
E assim te venero,
Na janela esquálida do tempo
Que jamais se abre para mim.
Te enxergo pelas frestas das horas,
Iluminadas que és,
Nestes instantes singulares,
Pela luz do destino que te põe,
Por raros momentos, junto a mim.
Sou pequeno nestas horas,
E enxergo meu desejo intacto
No espelho de tua íris,
Um desejo feito de açúcar
Que sonha se desmanchar em seus lábios,
Transformando um querer mágico
Em mel de amor!
Sei que minha poesia é tola e pobre,
Desconectada de maiores habilidades.
Sei que soa profano,
Cantar tua beleza por uma estrada
Repleta de pieguices,
Mas, sejas solidária e condescendente,
E aceite meu canto
Com alguma generosidade.
Ele não se faz como poesia, é um louvor!
Atenta-te que Deus ouve sorrindo
As orações de ricos e pobres,
De negros e brancos,
De intelectuais e estúpidos
Não olhando jamais para a forma
Como as palavras se lhe apresentam,
E sim, para a fé que elas carregam.
Venero tua beleza
Canto teu amor
Por uma canção
De acordes desafinados.
Não sejas deusa, entretanto,
Somente em tuas formas de Afrodite,
Sejas também na paciência,
Na sabedoria,
No entendimento das coisas.
Não olhes minha poesia pelos olhos,
Não ouça esta canção com os ouvidos,
O caminho para senti-la é a sensibilidade,
E, por esta estrada,
Ela se tornará notável,
Bela como as grandes obras
Dos grandes poetas em todos os tempos.
Esta poesia não foi feita com palavras,
Nem versos,
Só sentimentos...
E, todos eles, para ti!!!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

COMO SE FOSSE O ULTIMO TEXTO...


Vi muita gente durante minha caminhada reclamando da vida, e eu também, aqui ou ali, devo ter apresentando minhas queixas. Aquelas queixas que fiz para ninguém, nem para mim mesmo, a boca falando sozinha, eu próprio não acreditando em minhas palavras... Mesmo destas tolices, arrependo-me agora. Gostaria de ter usado este tempo para ter exaltado a natureza e a vida, tantas coisas que estavam ao meu redor ululando energia e eu reclamando de mesquinharias – tudo é tão pequeno quando a gente coteja qualquer coisa com a vida e todo o seu maravilhoso leque de possibilidades....

Eu agora não tenho muito tempo, se pensarmos bem, nunca o temos com fartura – Deus! Que mercadoria rara e maravilhosa é o tempo...

Gostaria de ter-me dado mais ocasiões para fazer as viagens que não fiz, ter ido com meus filhos à praia e as montanhas, rido com eles durante a viagem e lá, quando a água do mar molhasse os seus pezinhos lindos e eles sorrissem comemorando a areia, o sol e o horizonte farto de beleza, eu faria uma oração agradecendo o momento, por mim e por eles!

O pior desses momentos de revisita ao passado é que a palavra que sempre nos surge é o mais, pois tudo o que fizemos até aqui, quando o fim se desenha na nossa frente, parece pouco, inacabado, imperfeito. Talvez, seja apenas uma má impressão que nos fica pela ânsia de vida que temos e que nos é negada.

Tenho uma lágrima no rosto agora, e não queria que ela realmente estivesse aí. Não quero ficar os últimos momentos que tenho pensando no que poderia ter vivido e que tudo é injusto, pois ainda sou jovem e tinha muita coisa pela frente. Também não vou sair feito louco, gastando o que não tenho para fazer as coisas que nunca fiz até hoje, sou o que sou e mesmo no final serei honesto com minha personalidade.

Vou, isso sim, tentar ser melhor em alguns aspectos, tentando me preparar espiritualmente para uma nova fase que viverei em outro canto, em outra dimensão, quando for chegada a minha hora – tudo o que desejo realmente, que fica como louvor e escrito com meu sangue nessa hora que se veste de ponto de interrogação é que minha vida tenha sido suficiente para me colocar na grande mesa celestial quando for chegado o momento do grande banquete. Eu quero estar lá... Quero estar lá!

E peço perdão, para quem ainda não pedi.

Perdoo, quem houver para perdoar, que se esqueceu ou mesmo não teve a capacidade de pedir – requerer o perdão é antes de tudo um ato de grandiosidade de espírito.

Aconselho que vivam sem se preocupar com materialidades, todas as futilidades são tolas. Não somos nada... Somos uma mentira que foi esquecida pelo universo dentro desse planeta. A verdade nos será ofertada, um dia, mas não agora... não agora...

Poderia falar muito mais, mas é desnecessário e o tempo, já disse antes, me é curto. Ainda tenho uns livros para ler, uns filmes para ver, umas conversas para pôr em dia, umas poesias para serem escritas...

E, se amanhã, quando o sol acordar, ele não me ver em pé, fiquem sabendo todos vocês que, de minha parte, valeu a pena... Sentirei saudade de todos vocês, sentirei saudades da vida, sentirei saudades de mim...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CAVALOS SELVAGENS

Todo o meu corpo é uma grande pradaria
E meu amor é como os cavalos selvagens
Que correm livres por estes prados.
Como se pode frear cavalos selvagens?
Como fazer eles ficarem impassíveis,
Se prenderem
E se auto-mutilarem com a inércia
Diante da liberdade?
Não se consegue frear cavalos selvagens,
Assim como não se pode frear meu amor.
Algo assim é atentar contra
A natureza da coisa,
É como pedir para o sol parar de queimar,
É gritar para a lua: És horrenda!
Estando encantado por sua beleza.
Percebes a tolice disso...
É oco.
É vazio.
É falso.
É inútil.
Não se consegue frear cavalos selvagens.
Não se diz para a natureza
De todas as coisas para que elas sejam
Diferentes daquilo que elas realmente são.
O sol não pode parar de queimar,
Como jamais a lua deixará de ser encantadora,
Ser bela é a sua vocação natural.
Não me peças, portanto,
Para frear o desejo que sinto por você.
Pode-se frear uma vida, tirando-a a bel prazer.
Mas o amor é dotado de vontade própria
Ele vem e vai conforme seu desiderato,
Sem domínios,
Sem arreios,
Sem freios,
Sem donos,
Assim como os cavalos selvagens
Que correm livres pelas pradarias...

sábado, 5 de junho de 2010

O AMOR GUIA SEU POVO


à Katia

Minha querida e minha vida
Nestes dias de confusão e loucura
Tenho pensado muito no amor,
Tenho pensado muito em você.
Será que me entendes, minha querida!
As coisas são mesmo assim
Dentro do meu coração,
Não posso pensar amor
Sem que eu pense em você.


E, nestes dias onde a razão se perdeu
Onde a dor pintou os muros de Lisboa,
Onde tropeçastes sem querer na normalidade
E caístes dentro da loucura imbecil,
Reconheci você no meio da tempestade,
Te vi como Delacroix viu sua musa liberdade.
Estavas no olho do furacão
Seminua e empunhavas um estandarte
Bordado com fios de ouro
A dignidade e a decência.
Os ventos da traição te chicoteavam,
Teus pés pisavam as vísceras
Daquilo que foi tua vida
E ainda se percebia alguma nódoa
Em teu belo corpo de tuas lágrimas
(e das nossas...)!
Mas tu avançavas, meu amor, tu avançavas!
Teus passos esmagavam
A inércia, a dor e o sofrimento.
Teu seio balançava nu sob o sol de Odivelas,
As roupas em farrapos testemunhando tuas lutas,
Demarcando com fortes cores tua força e dignidade.
Seguias... Seguias... Seguias...
Apesar de tudo e de todos, seguias!
Fostes forjada com a coragem de Roma
Nas fornalhas de onde saíram seus maiores heróis!
Nada abate os guerreiros, meu amor, nada!
Nada fará com que pares!
As noites de Odivelas não ouvirão teus lamentos,
Teus ais serão enterrados no teu passado,
E teu sofrimento servirá de argamassa perfeita
Para teu novo começo, novo destino.


Agora é noite aqui, meu amor!
Minha lagrima se prende no
Negro firmamento de Fátima do Sul!
Mais uma estrela que nasce neste céu...
Hoje eu choro saudades,
Saudades de você, meu amor!
E minhas saudades têm o tamanho
Deste Atlântico que nos separa.
Ela começa aqui, neste coração dolorido,
E termina aí, contigo!
Lisboa hoje saberá,
E seu povo saíra para as ruas
Para comemorar o amor e a poesia.
Lisboa hoje saberá,
Quando leres meu poema e meu sentimento,
O quanto te ama este teu irmão!!!


Ilustração: Quadro de Eugene Delacroix, A Liberdade guiando o povo (La Liberté guidant le peuple), 1830

terça-feira, 1 de junho de 2010

MEU PEQUENO JARDIM


... e meu jardim resumiu-se ao pinheiro e uma roseira. O pinheiro, por sua própria espécie rude, sempre mostrou-se forte e independente, um ente com vontade própria e ânsia de liberdade. “Dê-me água!” pedia, “... e o resto é tudo comigo!” Arrogante meu pinheiro, mas assim sempre o foi, ele seguiu sempre solitário, satisfeito, arrotando sua independência.

A roseira, ao contrário, sempre foi frágil. A ela dediquei alguns cuidados e sempre se mostrou satisfeita com eles. Olhava-a com carinho, acariciava suas folhas, cheirava sorrindo suas flores, podava-lhe os talos e as pontas secas, limpava sempre seu espaço, irrigava-a, dedicava a ela fartos pedaços de mim, ainda que, a bem da verdade, meu conhecimento de jardinagem não consiga encher uma xícara.

Num dia qualquer, a roseira apareceu mal, doente, debilitada, vários galhos estéreis, secos. Ofereci alguns cuidados esmerados e emergenciais, todos aqueles que acreditei mais honestos, não houve jeito, tão rápido quanto foi o adoecer foi seu morrer. Meu pequeno jardim sofria uma perda irreparável, perdia-se a poesia, a beleza, a suavidade, a sensibilidade; ao lado, o pinheiro, imponente, ar mais arrogante impossível, testemunhava minha dor com olhos de “Eu sou um sobrevivente”, mostrando sua insensibilidade doentia por meio de um egoísmo aleijado.

Tive de me acostumar a não ver mais as belas rosas vermelhas, tive de me adaptar ao deserto que ficou no pequeno espaço quadrado de terra onde ela morou em vida e na minha retina todas as manhãs ao acordar e ir até a janela.

Um dia, vi que no lugar da roseira nascera um pé de mamão, como a semente fora parar ali é um desses mistérios da natureza. Ele apareceu pequenino e cresceu rápido. O pinheiro não gostou, no meu pequeno jardim ele sempre fora o forte, o Golias, o gigante, não via com bons olhos a invasão desse intruso que vinha para lhe arrancar o protagonismo solitário de seu monólogo em meu jardim.

Fiquei contente com isso.

Sempre vi o pinheiro com pouca gentileza, nunca gostei de sua soberba, empáfia e jactância. Desconfiei até que, de alguma forma, o infeliz fora responsável pela morte da minha meiga roseira. Nunca lhe atirei isso na cara, pois nunca tivera provas, e o deixei ficar... ainda que fosse um sentimento bizarro, nutria algo pelo arrogante pinheiro.

O pé de mamão cresceu e deu belos frutos e um dia, à mesa, quando partia uma de suas frutas para mim e as crianças, perguntei-lhes:

- Meninos, e a roseira?

Eles, com as boquinhas coloridas do alaranjado doce mamão responderam-me uníssono:

- Que roseira, pai?

E, cravaram seus dentinhos de leite na tenra carne do mamão, desinteressados. Olhei para o generoso pedaço de fruta em minha mão, mordi-o com euforia e sai para o quintal cuspindo as sementes.

- ... é mesmo, que roseira? Pensei olhando o mamoeiro altivo.

Meu coração lacrimejou, nessa hora, saudoso da roseira; meu estômago comemorou em júbilo, o mamoeiro. A vida continuava no meu pequeno jardim, diferente, mas continuava...