Esta história não é
completa, esclarece-se de antemão.
Ela chegou-me ao conhecimento
toda fragmentada e desde o início ela me sugeriu uma ótima oportunidade para um
texto.
Os fatos da história não
foram em nada acrescidos, e o que não se sabe não interfere no contexto. Não se
produziu remendos.
Temos todos de saber que
o que vale nas histórias não são os juízos, julgamentos ou méritos das
personagens, deve-se sim, prestar atenção no conteúdo e no que se pode
aprender.
Sabedoria é uma dádiva
de Deus, mas sempre se pode aprender uns bocados quando se tem o cuidado de
parar e prestar atenção nas coisas ao redor, livrando-se sempre dos
preconceitos e pré-conceitos e apenas apreciando com uma atitude de reflexão.
Aprender é crescer e
quanto mais se cresce mais se sabe que é preciso aprender.
O certo é que a mulher
era uma pessoa de princípios.
Em grande parte isso
veio com ela ao nascer, em seu caráter e na postura perante a vida – valores e
ética são valiosos tesouros e esta nossa amiga sempre foi rica neste ponto.
Um dia, conheceu um
sujeito, formoso, boa presença, fala mansa e atitudes gentis.
Houve um flerte e se
apaixonaram.
E o namoro se seguiu
como devia ser naqueles tempos. Respeitoso por ambas as partes, o casal se
conhecendo se testando, um tentando enxergar no outro o companheiro para toda a
vida.
Ele amou tudo nela.
Gostou da sua beleza física, muito mais do seu encanto interior. A mulher era
cheio de qualidades e isto fez com que se rendesse ao amor quase que
imediatamente. Era prendada, excelente cozinheira, cheia de valores morais e
espirituais que asseguravam a ela uma reputação ilibada.
Ela o amou. Achou-o um
homem formoso, que lhe dava segurança e lhe transmitia paz e o sentimento de
ser amada. Carinhoso, de bom humor e tinha uma visão da vida que se acenava
similar a dela.
Ocorre que nesta vida,
nem tudo é como a gente quer que seja.
Por mais belo que seja o
paraíso terrestre, uma vírgula, um “se”, um “senão”, alguma coisa sempre surge e
poderá colocar tudo a perder. Para que o castelo não caia, é necessário amor,
uma sólida posição do que querem as pessoas envolvidas e, acima de tudo,
respeito.
O amor leva as pessoas
para os seus relacionamentos, o respeito mútuo é que as mantém unidas e
confortáveis dentro deles.
Como continuar se não
houver confiança e credibilidade, e estes são os dois pilares do respeito.
O homem no primeiro
instante, nas primeiras conversas, não contou para a formosa mulher que ele era
rico, que era o dono da fazenda onde todos moravam e trabalhavam.
Não há como saber o porquê
dele ter feito isso, ter escondido essa informação e tudo o que relatarmos aqui
será elucubração, exercício de criatividade. Não posso fazer isso, estou
prisioneiro da promessa que fiz no inicio da narrativa, de contar o que sei e as
lacunas existentes jamais serão preenchidas. Não por mim.
Um dia, quando tudo se
desenhava para ser o mais belo na vida daquele belíssimo casal, ela ficou
sabendo da verdade, que o peão que desejava casar com ela era o dono da fazenda.
O castelo ruiu para ela.
O belo mundo que
desenhou para si foi apagado com algumas frases.
Mentira. Como se pode
viver com o embuste? Como perdoar a inverdade? Como o amor pode sobreviver a
tamanha prova?
Ela não conseguiu, já
dissemos que era uma mulher de princípios sólidos e entre seus valores estava a
completa abominação a falsidade, por mais inocente que ela pudesse ser.
Em seu entendimento, a
mentira nunca é inocente.
Deu tudo por terminado e
o abandonou com palavras gentis e decididas.
Ele entendeu que o fim,
era o fim mesmo.
Ficou lá, em pé, olhando
a mulher que se afastava indo para longe do seu destino.
Sentiu-se impotente,
desconsolado, triste.
Ela, mesmo com o coração
esfacelado, pois que aprenderá a amá-lo, foi-se fazendo não o que queria fazer
e sim o que precisava ser feito. Estes são os nobres de espírito, fazem o que é
necessário nunca sucumbem aos seus desejos pessoais.
Tudo nela pedia para
ficar, para perdoar, mas, intimamente ela sabia que nada que começa sob o totem
da falsidade não terá forças para continuar – a mentira é corrosiva demais, é
um acido que destrói a confiança e, sem confiança, o amor sucumbe.
Ele voltou para sua casa
e tentou encontrar outros amores.
Em todos os rostos
femininos, perseguiu o dela, mas todas as outras já chegavam condenadas pelos
efeitos da comparação. Era uma guerra para elas que já começava perdida.
Somos todos únicos e
inigualáveis, para bem, para mal.
Nas tardes, em sua bela
varanda na casa grande, sentado numa cadeira de balanço, o homem ficava olhando o horizonte, fixamente, como
se aguardando que ela surgisse em sua direção.
Ficava se perguntando: “Porquê...
Porquê...” Era o que sempre se questionava e nunca se dava uma resposta convincente.
Não compreendia a reação dela, tão peremptória, tão... tão... fatalista.
Ele nunca soube e nunca
saberia, mas para ela, meias verdades sempre foram mentiras inteiras.
Ela nunca conviveria com
a mentira. Nunca.