A estrada ensina muitas lições.
A estrada nos mostra muitas coisas.
Contudo, exige-se experiência para que, ao mesmo
tempo que tenhas a atenção e o respeito necessário que a estrada exige,
consigas captar dela as epifanias que ela tem para mostrar.
Dias desses, montado na minha 150, quando ia para
o trabalho, vi um pequeno rebanho de pintainhos no meio da estrada.
Os enxerguei já de longe, atento que vinha.
Apertei poderosamente a buzina e o ronco da
corneta espantou os bichinhos para o acostamento e além dele.
Que faziam estes no meio da estrada?
Imerso em meus pensamentos, um carro passou ao meu
lado em grande velocidade, urrando ferocidade enquanto devorava distâncias.
Pelo retrovisor vi os pintainhos retornando,
pareciam perdidos, sem rumo, desconectados.
Logo a frente, vi o corpo sem vida de uma galinha.
Atropelada.
Um carro feroz havia devorado algo mais que
distâncias...
Entendi o que acontecia com os pintainhos...
Entendi o porquê de estarem perdidos...
Não entendiam o porquê de a mãe deles não se
levantar, não mais vir até eles para afaga-los; cacarejar alguma coisa, um
ensino, uma exortação.
Eles ficaram lá, percebi, na beira da estrada,
olhando para a mãe e para toda a parte, buscando entender o que acontecia...
Minha moto já me levava longe, ela também, ainda
que em menor proporção, devorava distâncias...
Eu já não era mais o mesmo.
Estava triste com o destino dos pintainhos.
A mamãe deles jamais retornaria...
A estrada realmente nos ensina muitas coisas,
algumas delas, nos deixa profundamente tristes.
O corpo da galinha ficou para trás, uma pasta
carnosa no escuro chão de uma estrada cruel que não respeita a vida selvagem e
domesticada que nasce e cresce ao lado de suas margens.
A estrada só conhece a si mesma e os veículos que
são seus senhores.