segunda-feira, 29 de março de 2010

A GENTE SE VIRA...


Algumas frases surgem nas bocas das pessoas sem maiores arranjos ou pré-projetos, elas nascem naturais e causam abalos sísmicos na percepção e na vida das outras pessoas. São verdadeiros terremotos que sacodem as estruturas de quem as ouvem, elas estavam preparados para outras palavras... Queriam outras palavras...

Mas, as palavras têm vida própria, elas seguem seu curso e nada as detém depois que são pronunciadas. Causem estragos ou caricias, não se importam, elas passam por nossas vidas e deixam sempre suas marcas, para bem, para mal.

Naquele instante ele preparou tudo para ouvir qualquer outra coisa que, senão, “A gente se vira...”, foi esta a expressão inocente que a boca também inocente proferiu. E, no meio de tanta inocência, cravou-se com dardo fatal e poderoso sua auto-estima, seus estímulos, seu futuro numa parede de desilusão.

“A gente se vira...” poderia designar simplesmente um rodopio, um passo de dança, uma brincadeira infantil, mas não era, “A gente se vira...” naquele momento, naquele contexto, ia muito mais além, era cruel, era mortífero, sobretudo, porque não havia maldade, ou vontade de ser ruim, simplesmente, havia naturalidade e inocência. Estas qualidades podem ser mais terríveis que a própria inveja e o ciúme, quando ambas vêm na hora errada.

“A gente se vira...” ele escutou como “Tudo bem, a gente passa sem você...” ou “Não farás muita falta... Vamos em frente...” muito diferente do que gostaria de ouvir.

Talvez tudo tenha sido dito sem pensar muito, as pessoas deveriam industrializar as palavras, passá-las por vários filtros, mas não, a maioria prefere o modo artesanal de articulá-las e as emitem sem maiores questionamentos. Talvez... Talvez... o talvez ficou soando como se quisesse desculpar as palavras tão doloridas, advogando em causa delas, mas o “talvez” não possui força para apagar os “A gente se vira...” O “talvez”, simplesmente, joga o suplicio um pouco mais à frente enxugando as lágrimas de agora com um lenço falso de possibilidade de tudo ser diferente. Talvez não funciona de verdade, ele somente entorpece e, portanto, não ajuda.

Arrancou o “talvez” de seu coração, e abraçou o corpo que disse “A gente se vira...” e sentiu um abraço caloroso e um olhar brilhante se cravando sobre ele. Ela o amava, pensou, tentando encobrir “a gente se vira...” com o que sentia nesse carinho.

O que será mais forte, pensou, enfim...

As palavras? Um abraço?

Confiou no abraço... Em parte por comodidade, em parte por que seria mais coerente com ele próprio e sua sentimentalidade. As palavras se enganam às vezes, os sentimentos não se enganam jamais!

quinta-feira, 25 de março de 2010

POST MORTEM!

Morri!
E, depois de mim haverá todas as demais coisas.
Acreditei-me importante e minha morte mostrou-me o quanto era fraco e pequeno, o quanto era disponível e descartável.
O mundo continuou girando,
Crianças ainda indo para a escola,
E pássaros cantando mais um dia de sol.


(Gostaria disso, no dia de minha morte, de pássaros cantando para a brisa, para as flores, para o dia de sol...)


Meus amigos foram para o trabalho do mesmo jeito,
O comércio não fechou,
As guerras não cessaram,
E tudo o que fiz foi esquecido no dia seguinte à ultima pá de terra sobre meu ataúde.


Houveram lágrimas, sim houveram, e elas se misturaram à terra, a mesma terra que devorou o corpo de Adão e Eva e agora mastiga lentamente o meu.
Se fui egoísta, arrogante, ambicioso, mau, invejoso, pretensioso.
Se fui altruísta, solidário, bondoso, generoso, bom, trabalhador,
Tudo bem, tudo nada, nada mais importa,
O Tudo e o nada perdem a autoridade quando se morre.
O que fui,
O que poderia ser,
Foi tudo sepultado por grossas camadas de terra,
E não há mais chance para qualquer coisa.


De tudo o que fui, nada restou... Nada...
Minha fortuna, minha pobreza, minhas roupas de grife,
Meus perfumes importados,
A bela casa na praia e no campo,
O carro do ano,
A inveja que gostei de semear sobre mim,
A vaidade com que conduzi minha vida
E meu delicado senso de felicidade,
Tudo isso ficou para trás, esquecido, apagado,
Na poeira que agora me digeri.


Não sou sequer história.
Quiçá que eu seja memória na consciência de alguém,
Pois todos os meus já são mortos... Como Eu...


Meu pomposo nome riscou-se de todas as atas,
De todas as placas,
Dos documentos e das escrituras,
Ficou como um rascunho numa fria lápide,
E a velha cruz de madeira que repousava sobre meu túmulo
Caiu cansada de chuva e de sol.


Esqueçam de mim, esqueçam,
Eu sou o passado,
Eu sou a nódoa de uma lembrança,
Eu sou o que existiu e o que existiu é apenas um sonho!


Eu estive no caminho,
Estive no inicio, no meio,
Jamais conhecerei seu fim.
A gente não alcança o fim,
O fim nos conquista!


Morri....
E, depois de mim...
Virá todas as demais coisas!


Foto: Miguel Andrade (olhares.com)

domingo, 21 de março de 2010

VOCE POR MIM...

Não posso negar, nem esconder, pois que a verdade sempre foi o meu maior talento. As minhas palavras encerram minha verdade e esta sempre foi minha maior benção, minha maior maldição.

Mas eis que nos últimos tempos, minha verdade, meus esforços, minha poesia, minha euforia, tudo em mim esteve voltado para voce!

Como se voce não fosse somente o fim, mas meu caminho!
Como se voce não fosse somente alimento, mas a água... Até mesmo o ar que respiro!
Como se voce não fosse somente o produto, mas também, cada elemento da soma de meus fatores.
Como se voce não fosse somente o mel, mas sim o adocicado sabor de minha vida.

Esqueci-me, enfim, de meu próprio prazer, ele é vão, vazio sem voce.

Eu mesmo não me reconheço mais.
Meus textos não são mais meus, pois que os leio e não os identifico, eles são teus na construção, na essência, na alma, eu sou somente seu condutor, um artesão que tece frases da matéria prima que sai toda ela de ti.

Eu confesso!
Eu confesso!
Eu confesso!

Esta minha dependência não me faz menor, nem menos homem, pelo contrário, gosto de ter meu desejo como sendo a água que sai de sua fonte, e esta é a fonte que me anima!

Eu quero é te encantar!
Quero que minha poesia beije seus olhos e abrace seu coração!
Quero seu suspiro feminino e apaixonado.
Quero sua essência de mulher amando cada verso meu, pois cada verso meu se paramenta para sua alma feminina

Quero que ames meus textos, pois meus textos todos têm em sua argamassa paixão por voce, é este o fermento natural de meu lirismo: amor por voce!

Eu escrevo por ti! Meu eu se despreza por completo...
E quando me leres... Espero que minha paixão encha de mel tua boca linda e teu espírito vibre por cada escrito meu.

Oh, meu amor! Não estarás lendo a mim nessa hora exuberante, estarás fazendo amor comigo!

quinta-feira, 18 de março de 2010

CONFIANÇA NA VIDA


Não pedi muito dessa vida... Não pedi...
Não pedi ouro e pedras preciosas, não pedi um reino e seu reinado, sempre acreditei que isso devia ser segundo plano em meus pensamentos, jamais, minha busca de ideal de vida.
Tudo o que quis foi um amor verdadeiro!
Uma mulher que me olhasse e visse dentro de mim o que sou realmente!
Que amasse a minha poesia, a escrita e aquela que se mostra na forma como vejo a vida.
Que entendesse a minha maneira de amar, intensa, sem distorções, cúmplice, com justiça, entupida de verdade.
Que me quisesse, em corpo e alma!
Que fosse sensual, amorosa, delicada, feminina, guerreira, comprometida comigo e com tudo o que fosse nosso.
Não pedi muito dessa vida... Não pedi...
Tudo o que queria de verdade era amar... E ser amado!
E eu amei, dentro do ontem, do hoje e do para todo o sempre! Minha capacidade de amar sem reservas me faz diferente, isso me faz bem!
A vida não me deu é alguém para me amar de verdade... Isso me entristece! Meus amores até hoje me trataram como bibelô, uma coisa bonitinha e admirável para ser trancada no cofre ou colocada no ponto nobre da estante. Quero um amor que me coloque dentro do seu cotidiano, para bem e para mal, que eu seja parte dela, indissociável dela, dentro dela, pedaço dela.
Não pedi muito dessa vida... Não pedi... E tudo o que pedi, acreditei que foi pouco, não fui atendido.
Não desisto. Sigo em frente, a busca continua para mim, sou paciente, sou benigno, dou mais um tempo para a vida, uma hora ela olha para mim... Para mim...
Eu aguardo este amor que está para florescer!

sábado, 13 de março de 2010

SEDUZIONE, em três pequenos tempos

- Alo... Alo... Quem é?
Silêncio do outro lado da linha.
- Quem está aí?
Silêncio.
- É voce não é... Diga-me que é voce...
Silêncio, com vontade de falar, mas, silêncio.
- Eu vou desligar se não responderes... Respondes... Respondes...
Silêncio.
- Tu tu tu tu tu tu tu tu tu....
Do outro lado, ele sorriu ao se deparar com uma felicidade diferente e estranha. Uma felicidade que o fazia sorrir e, ao mesmo tempo, fazia uma lágrima correr pela sua face. Era a primeira vez que ouvia a voz dela....



Nestes últimos tempos não sabia o que mais lhe amedrontava.
Se a esterilidade instalada em sua capacidade de escrever.
Se o seu desestímulo por tudo e por todos.
A verdade é que somente excitava-se por ela... Mas, ela... Ela estava tão longe... Tão longe... Longe... Longe...



Noite dessas, acordou de madrugada, o corpo suado, o coração descompassado, sua masculinidade se mostrando alerta.
Soube que havia sonhado amor com ela... Com ela...
O castigo maior é que não se lembrava de nada, o sonho havia se partido em mil pedaços com a consciência instalada.
Bateu inveja em seu peito – sua inconsciência a trazia dentro de uma fantasia dourada e mágica.
Virou-se na cama, fechou os olhos, dormiu novamente, correndo atrás de um sonho que ia na frente, buscava ela... Ela...
N’outro dia acordou cedo, na boca o gosto demorado de um beijo apaixonado, o cheiro dela perfumando cada poro de seu corpo, sua pele ainda gozava o vicio de tocar o corpo dela... Não se lembrava de nada, mas tudo em seu corpo sabia e lhe dizia: Fizeram amor pela noite toda!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Fragmentos do diário NUNCA escrito por mim

Prefiro eu chorar mil lágrimas se delas resultarem um único sorriso teu... Amar é mesmo isso, querer mais ao outro do que a si próprio!

sábado, 6 de março de 2010

PROCURO-ME!!!

Tenho tentado nos últimos dias encontrar o texto que me resuma, que me defina nestes novos tempos e me leve além, para uns prados onde o sossego e a paz de espírito estejam perfeitamente sincronizadas com os moradores do lugar.

Tenho andado perdido... A paz em mim é morta, meus estímulos todos sucumbiram, meu ânimo é sombrio. No horizonte só vejo nuvens negras, meus sorrisos vem todos com uma nódoa de protocolos, a minha ultima gargalhada me foi arrancada da memória. Sangro minha dor dentro de uma crisálida solitária, sou sozinho e sozinho caminho por uma estrada somente de ida; assassinaram todas as minhas possibilidades, sou prisioneiro de mim mesmo, da minha inércia, do meu ócio, da minha incapacidade de gritar e derrubar todas as barreiras que me prendem dentro de mim.

Talvez meu escrito seja um pedido de socorro, talvez não seja nada disso, e seja somente uma declaração de auto-compaixão o que me diminuiria ainda mais, ser pequeno e mesquinho sempre foi o maior dos bichos papões em minha vida – eu lutei contra isso como um bravo, mas, me esqueci de como é ser um bravo... Esqueci-me...
Disse-me um dia, lá atrás, quando meus dias todos eram feitos somente de alvoradas: Sorria mesmo que seu sorriso seja triste, pois mais triste que seu sorriso triste é não vê-lo sorrir! Oh! Quanta besteira, isso não serve para mim. Eu mesmo devia me conhecer, saber que não sei fazer o que não se passa dentro do meu coração. Sou feito de verdades, as fiéis, as leais, e mesmo de verdades absurdas, mas são elas que me conduzem e somente faço aquilo que sinto. Não sinto os sorrisos, não sei mais sorrir.

Estou lutando... Estou lutando... Sou um sobrevivente dos dias difíceis! Eu irei vencer novamente, irei me encontrar e encontrar a alegria perdida, o entusiasmo, a poesia, a vontade de ser eu novamente, de estar aqui, de estar ali, em toda a parte, em todo o lugar e em nenhum ao mesmo tempo, e onde quer que eu esteja que vá com meu entusiasmo e energia que me fazem e me transformam no que sou.

É tão difícil mudar e, mais difícil ainda, mudar e perceber que o que aprendestes é tudo errado. Em meio ao emaranhado de confusões que me fazem o que sou hoje, me acharei e voltarei a ser o que era... Tenho tanta certeza disso como o sol que nasce após a noite mais escura. Não quero mais crepúsculos, nem madrugadas, quero dias ensolarados em meu cotidiano.

Peço apenas paciência! Paciência para mim mesmo, comigo mesmo e para todos os meus amigos verdadeiros que me visitam!

Então, fiquemos assim, eu para com todos, todos para comigo. Sem textos que busquem conceitos e definições, estou impossibilitado de entregar qualquer resenha neste momento. A regra primeira da escrita é saber do que se vai escrever, não posso falar sobre mim, nestes instantes que lambo as feridas... Eu não me conheço ainda...