sábado, 10 de dezembro de 2011

Fragmentos


FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM

Não peço desta vez exuberantes acontecimentos.
Este, já os pedi todos.
Alguns deles, os tive, e estão catalogados na memória de meus melhores dias.
Quero apenas a simplicidade de uma tarde contigo...
Destas pequenas tardes amarelas, sol a pino, preguiçosas, sem agendas, sem expectativas, sem programas, sem nada... uma tarde que se junta ao elo de outras tardes iguais e se torna melhor por ser feita contigo.
O almoço, um improviso. Como de improviso seriam todas as coisas enfiadas nesta tarde. Apenas a rede na varanda, sustentando nossos corpos, nossa preguiça domada e leve, nossos sonhos levemente adormecidos, um abraço sossegado e duradouro, e todos os beijos entregues  com carinho e poesia.
Uma tarde sem preocupações com belos vestidos e chaneis, uma tarde nua e com seu cheiro de mulher acariciando meu corpo inteiro, apenas isso... apenas isso...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A ADAGA E A CARNE


Sinto sua falta!
Assim mesmo, sem prolixidade, sem sofisticações pirotécnicas no desespero, sem maiores cosméticos na dor, sem razões acadêmicas para explicar tamanhas saudades.
Tudo natural! Nu!
Tão verdadeiro quanto a alegria que sinto contigo por perto.
Entendes...
Proximidade, satisfação. Ausência, dor.
Equação de minha vida.

E falo nisso sem querer tapinhas nas costas, abraços solidários ou lenços nos cantos dos meus olhos.
Quero mesmo é beber no mesmo cálice dos sorrisos as lágrimas que me corroem agora.
Quero a alegria de estar ao seu lado.
Quero ainda que de um jeito insano a sua ausência.
Pois que contigo tudo é absoluto e intenso!
Não conheces meias medidas!
Se na presença, o corpo goza generoso cada instante; na ausência, o espírito purifica o sentimento de te amar plenamente.

Venha, venha então, linda flor do campo!
Pois quem te possuirá será um corpo corrompido de desejo, e o gozo será do mais puro e refinado amor!
Sei e sei demais pela consciência que este tempo me dá, que tua presença é carne; tua ausência, adaga. Ambas juntas é amor, esta ferida letal, pois quanto mais a adaga fere a carne, mais a carne quer sofrer.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

QUERIA QUE VOCE ESTIVESSE AQUI



Tudo por aqui é igual.
O céu continua estrelado
E os crepúsculos ainda ocorrem pontualmente.
Ouço as mesmas músicas que ouvi antes.
E todas as poesias foram revisitadas,
Como da mesma comida,
Bebo da mesma bebida,
E minha rotina é muito parecida.
O filme que vi hoje estava chato,
Ainda que o mundo inteiro tenha gostado.
Meus textos não me sorriem mais,
E minha inspiração foi cavalgar outros prados.
Saio de casa com vontade de voltar.
E, quando volto, a vontade que fica era de estar em qualquer outro lugar.
Sinto-me como um cão entre cães vagabundos!
Sonhar é um exercício que não faço mais...
Todas as descobertas que faço são tolas.
Um novo barzinho com musica ao vivo.
Uma nova canção capturada no radio.
Um belo filme europeu.
E aquele blog com textos surpreendentes.
Nada mais, nada mais é bom,
O bom é inalcançável.
Se tudo, meu amor, é tão igual,
Porque as coisas perderam o sabor?
Porque meu mosaico ficou black and white?
E todos os meus cantos não me parecem mais meus?


Voce não está aqui...
Voce não está aqui...


Tu és o segredo de todas as coisas.
O tempero para minha felicidade.
O ar que eu respiro.
A inspiração de minha poesia e de minha vida.
A cor dos meus dias.
A beleza das alvoradas e de todos os ocasos.
Sem você aqui
Minha vida programada é entediante,
E todos os acasos e improvisos são estúpidos.
Percebes?
Estou condenado à infelicidade
Sem você aqui...
Queria que você estivesse aqui...
Agora...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O ENGENHEIRO E A FLOR DO BAIRRO


Era uma pessoa que já tinha quase 90 anos. Mas era o tipo de pessoa que passava por nós na rua e era incapaz de não nos cumprimentar, de nos tirar o chapéu. Era cordial. Solícito. Prestativo. Era uma pessoa que parecia preocupar-se com os outros. E que faleceu a conversar com a empregada enquanto a mesma lhe preparava o pequeno almoço (café da manhã). Ela disse que virou-se para colocar algo no microondas e ele sentado no sofá, caiu para o lado. Foi um ataque cardíaco fulminante. Chamava-se J.C.R.A.. E em mim, deixará muita saudade. E o orgulho de poder ter conhecido e trocado experiências de vida com alguém que tinha na sua simplicidade a mais pura sabedoria. Cuidava da esposa que tem Alzheimer. Estou triste. Sei que a morte faz parte da vida, mas pessoas como o Sr. Engenheiro, faziam desta vida, deste mundo, um lugar melhor para se viver, conviver... (Testemunho da flor do bairro)


Algumas histórias que são contadas para nós, se armazenam dentro da memória, e isto é bom. Outras, que não nos encantam, passam tão rápido por toda a gente que sequer nos lembramos que um dia tivemos contato com elas, isto é mal. Mas, existem algumas histórias, que de tão lindas, mágicas, ou sabe-se lá que nome se deve dar para elas, vão direto para o nosso coração, e lá vicejam e nos fazem melhores, isto é maravilhoso.
O engenheiro era um velho senhor já aposentado, na casa dos seus 90 anos. Era daquelas pessoas sempre prontas para doar um sorriso, uma gentileza, um elogio, não por protocolos ou cerimonialismo, simplesmente, por que era do seu coração.
Ele a conheceu no balcão da farmácia, onde ela lá se encontrava todos os dias. Não precisou de muito tempo para que, o velho engenheiro, percebesse que estava diante de alguém especial. Ele pensou, ali estava uma flor.
Porque ela a recebeu com um sorriso sincero, depois lhe desejou um bom dia com tanta honestidade que ele, o velho engenheiro, soube no começo da manhã que o restante do seu dia seria ótimo.
Ele foi atendido como se ela fosse realizar a ultima venda que haveria neste mundo, e, por alguns instantes, num evento simples e comercial, ele se sentiu especial.
As pessoas boas têm essa propriedade admirável que as fazem singulares, o contato delas com os outros, fazem com que estes sejam iluminados por sua luz, e, tanto o velho engenheiro como a flor do bairro, eram pessoas dessa estirpe.
Ele foi embora e se despediu dela chamando-a de flor de bairro, e, por flor do bairro, foi pelo que doravante, sempre a tratou.
E, todos os dias, ele passava em frente a farmácia, fazia uma menção gentil tirando seu chapéu da cabeça e a cumprimentava num ritual diário e carregado de gentilezas mútuas: “Bom dia, flor do bairro!”
Ela sorria, e seu sorriso iluminava o velho senhor e todo o lugar: “Bom dia, Senhor Engenheiro!”
E, de quando em quando, falavam da vida, de generalidades diversas, pequenas coisas que para alguns são pequenas demais, todavia, para outros, os sábios, entendem que são estas pequenas coisas que enchem a vida de felicidade e doçura.

Num dia qualquer que nasceu para ser igual a todos os demais, o senhor engenheiro não apareceu. Ela sentiu falta dele, logo nas primeiras horas, ainda que os afazeres do trabalho engolissem seu tempo e sua atenção.
Depois, surgiu alguém montado no negro cavalo da tragédia, e deu a notícia que ela jamais quereria ouvir: “O velho engenheiro morreu, derrotado por um infarto fulminante do coração!”
Ela se recolheu para um canto da farmácia, se fechou dentro de seu coração e da tristeza, queria um breve momento consigo, queria chorar a perda do amigo tão querido, e todas as suas lágrimas foram uma oferenda de saudades no altar de boas memórias que guardaria dele para todo o sempre.
Voltou para o balcão da farmácia e enxergou no meio da calçada o velho engenheiro a olhar para ela, elegante, sorridente, rosto resplandecente a se curvar num gesto gentil com o chapéu e a lhe dizer: Adeus, flor do bairro! Depois, da mesma forma mágica como surgiu, montou em um belo e alado cavalo branco e voou para o céu azul que se abriu para recebê-lo com honras no paraíso.
Ela ficou lá, perdida entre lágrimas e sorrisos, comemorando a boa alma que ganhava o éden, arrazoando consigo mesmo que, jamais, bons corações deveriam ser vencidos.
Os bons, comemorou, são eternos!


terça-feira, 25 de outubro de 2011

O ÍNDIO DE BOTAS


Quando o índio apresentou-se a liberdade já havia lhe escancarado a porta.
Não demonstrou qualquer sentimento.
Não comemorou a liberdade que lhe sorria, parecia totalmente descomprometido consigo próprio. Sem alegrias, sem tristezas, somente a vida e sua sucessão de eventos.
O estado do índio era lamentável.
Trazia uma camiseta puída, uma velha calça jeans que lhe fora ofertada na cadeia e os pés marrons e descalços.
Isso chamou a atenção.
E o índio revelou que não conhecia sapatos. Nada cultural, pobreza extrema.
Alguém em alguma parte arrumou um par de botas de borracha, gênero sete léguas, que lhe foram calçadas aos pés grandes e chatos.
O índio de botas.
Ficou estranho.
E, ele se foi, desconfortável com as botas nos pés, desconfortável com a liberdade, sem saber o que fazer com uma e com outra.
E, mais tarde, bem mais tarde, quando chegou à sua casa em sua aldeia, ninguém o esperava, ninguém comemorou sua chegada.
Comemoraram as botas...

sábado, 22 de outubro de 2011

FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM


Quando meu último setembro chegar e a última pétala de minha vida cair, eu estarei na floresta entre os lobos uivando lamentos...
Não chorarei a vida que se vai, sei que a estadia aqui é um instante mágico e estreito e até mesmo as mais belas flores murcham...
Meus lamentos encerrarão a amarga certeza cantada pela razão é que tudo que há aqui é mentira, a única verdade que me foi ofertada nesta bandeja de prata foi a de que iria mesmo partir.
Se fui feliz, sorri.
Se fui triste, chorei.
Se tive autoridade, agora é tola o bastante.
E se não fui nada de importante, ainda é mais estúpido.
Quando cair a ultima pétala tudo o que fui ou deixei de ser se tornará vazio e profano.

[...]

terça-feira, 11 de outubro de 2011

EMOÇÃO PALMEIRENSE


Esta foto explica, um pouco, o que é ser palmeirense!


Dedico a todos os palmeirenses esparramados por este mundo, especial a todos aqueles que, de alguma forma, fizeram parte de minha vida!


Em especial:


À mana, que nasceu palmeirense assim como eu!


Ao Henrique, que se tornou palmeirense depois de nascido, e a paixão tomou conta dele!



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SOBRE FACEBOOKS E ARTIGOS DE DIREITO

O homem entrou numa das muitas paradas do ônibus.
Não olhou para os lados, escolheu seu lugar e largou-se com uma pressa algo exagerada. Sentou-se logo à minha frente, límpido para meu campo de visão.
O ônibus não estava cheio.
E como passageiros haviam, ainda, um casal adolescente, muito adolescente, que trocavam incessantes carinhos mútuos e beijos estralados. Mais à frente, uma mãe e o filho petiz, que insistia em seguir viagem de pé sobre a poltrona. Mais atrás, um velho senhor acariciava um cigarro de palha cuja matéria prima era um fumo fedorento – se questionava os motivos de não poder fumá-lo.
O homem, um rapaz high tech, abriu uma maleta negra e dela retirou um computador portátil. Puxou de algum lugar um drive que dá acesso remoto à internet e, pronto(!) em minutos, enquanto o ônibus devorava a estrada, ele navegava pelo mundo.
Foi impossível não bisbilhotar.
Lá estava ele em dezenas de páginas de facebooks. Despejou sorrisos e suspiros para os perfis de Ledas, Patrícias, Cintias, Natálias, Brunas e tantas outras garotas lindas e maravilhosas. E, mandou e leu alguns scraps, respondeu uma porção de e-mails com uma urgência eufórica, riu de algumas boas piadas que chegaram nestes correios eletrônicos e, por fim, entrou no MSN, ninguém estava on, seu mundo todo off, suspirou desanimado.
Insensível, sua consciência o convidou para estudar, abriu o Word em um artigo que tratava de procedimentos jurídicos. No monitor, o artigo subia, o artigo descia, ele olhou para o horizonte, olhou de novo para a tela, pela primeira vez na ultima meia hora incomodou-se com mais um (entre as dezenas que houveram) estalido de beijo entre os adolescentes e, subitamente, como se desmaiasse, dormiu... sem mais, sem menos... Sonífera matéria, pensei com sorrisos calados.
Entendi que facebook dá mais entusiasmo que artigos de direito e, sorri, apreciando a paisagem estéril da pós-colheita, sem condenar meu colega de viagem.
Enquanto isso, no resto do universo do ônibus, tudo na mesma.
Os adolescentes ainda se beijavam, quase acreditei que iam se devorar ali mesmo; o velho insistia num flerte com o cigarro de fumo que, dentro do veículo público, não ia dar casamento; e o guri, em dado momento, foi convencido pela mãe e os argumentos irrefutáveis de uma palmada a sentar-se em sua poltrona.
Voltei meu pensamento para minhas próprias coisas e todas as outras ficaram em algum quilometro lá atrás da viagem. Somos todos passageiros do mesmo ônibus, que nos conduz entre os mais diferentes destinos rumo à derradeira estação.

sábado, 1 de outubro de 2011

TODAS AS LUAS DE MINHA VIDA


à Katia


Lembrei-me de você hoje,
Nas primeiras horas do dia,
Quando a manhã ainda estava fresca da brisa da noite,
E quando os pássaros ainda bocejavam a madrugada.
Fiquei quietinho por um instante,
Sentindo as cobertas acariciarem meu corpo.
Uma lagrima se formou em um dos olhos,
Outra no outro,
Quis chorar, mas não o fiz.
Não deixei!
Minha felicidade merece sorrisos
E todas as lágrimas que molharam meu rosto,
Desaguaram em um sorriso forte e sustentável,
Que se manteve em meus lábios,
Comemorando você!
Lembrando você!
Não vou mais tornar saudades num momento de expiação.
Minhas saudades
De alguma forma me leva até ti,
E isso é bom...
E se é bom...
Comemoro com sorrisos.


Lembrei-me de você hoje,
Nas últimas horas do dia.
O sol há algum tempo já dormia
E a coruja caçadora fazia suas vitimas lá fora.
Ouvi o seu piar e o guinchar de sua presa.
Soube que a noite convidava a sonolência
Para vir deitar comigo,
E ao meu lado, somente saudades,
Esta dama formosa que insiste em flertar comigo.
Abri a janela,
Respirei fundo a brisa noturna.
Olhei o céu negro cravejado de estrelas preciosas.
Olhei para a lua,
A mesma lua que brilhou em Sesimbra,
E que agora, ilumina Odivelas.
Que as saudades sejam uma benção para ti,
Assim como são para mim.
Lembrar de você é estar permanentemente puro.
E, agora mesmo, enquanto dormes
Sob esta lua que brilha para todos nós,
Sinta-se abençoada por mim e por todos os anjos.
Saudades é um sentimento forte em mim,
E isso me faz melhor.
Meu amor é mais forte que saudades,
Isto me aproxima de você!
E você é o que mais se aproxima da perfeição,
A mais linda e querida entre todas as luas!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PEQUENA CRÔNICA DE AMOR


Eu não posso te dar o pouco, porque somente conheço o muito.
Se me pedires a frase, te darei o poema inteiro.
Se me pegares a mão, levarás junto o abraço e o beijo.
Nunca te contentes com metades, levarás sempre tudo.
Não consigas conviver com o razoável, pois que comigo o intenso é o ponto de partida.
Não existe o frio, o calor será a temperatura dos nossos corpos.
Se me sussurras o amor, eu lhe faço.
Se me sugeres um sorriso, eu lhe doo a alegria absoluta.
Tua crença nunca será maior que a minha – se acreditas em mim, acreditarei mais em você.

Eu sou teu segredo, sou teu sonho, sou teu desejo de amor no coração e em teu sexo.
Meus beijos serão teus beijos.
Meus abraços te aquecerão.
E meu coração é o eco do teu amor.
E, ao deitarmos para fazer amor, serei carinhoso e selvagem, cada um desses homens entrando em cena no momento mais oportuno de nosso espetáculo de amor.
Cante, cante, meu amor! Serei sua platéia entusiasmada de um único e apaixonado homem.
Colha todas as flores que existem no jardim de meu coração.
Receba como brisa cálida o meu suspiro dado no primeiro ato de amor

Não te peço nada, a não ser que esteja ao meu lado.
Posso ser qualquer coisa contigo, mas tudo o que quero realmente ser é seu amante e amado.
Pois isto é o que me mantém, sustenta e impulsiona-me a seguir em frente... em frente... e chegar até você, meu porto mais seguro!

sábado, 24 de setembro de 2011

RAZÃO E DESEJO


As palavras saíram tortas... na voz, no sentimento.

O lençol umedeceu-se recepcionando palidamente as lágrimas que caiam fartas do seu rosto vincado pela dor.

Por que toda história de amor, questionou-se, tem de começar com um sorriso e ter um ponto final feito de sofrimento? “Será isso uma regra inquebrável, pelo menos para mim”? Insistiu em suas reflexões...

Era noite e a noite se vestia especialmente bela, como se pressentisse que algo especial haveria de ocorrer para eles...

Colocou de qualquer jeito a última camisa na mochila, pegou o perfume que ficava sempre na penteadeira, olhou seu rosto no retrato do espelho e viu um tolo... Tolo por ter começado algo que desde o inicio nasceu sob o signo do fracasso... Tolo por terminar algo que queria insistir...

Quis buscar mais justificativas, para partir, para ficar, não conseguiu, todas as desculpas que se dava estavam desafinadas com a verdade, a loucura brotava em todos os cantos de seu sossego, sua paz sangrava no meio de uma discussão que jamais conheceria vencedores, não queria mais acender velas neste totem.

Agiu conforme a consciência mensurando o tamanho da dor que deveria carregar dentro do seu peito, sangue lágrimas e adagas seriam seu legado doravante... Escolheu o caminho que lhe pareceu que seria o mais correto, ainda que o correto usasse a mascara do mais feroz dos demônios.

Abriu a porta do apartamento... Partiu... Atrás de si ficaram muitos sonhos e um cálice de lágrimas derramadas nos lençóis lívidos em que fizeram amor e um beijo que deixou marcado na face dela que sentada na cama era mais uma triste espectadora deste espetáculo que sugeria tragédia...

Na rua, ele olhou a noite e tentou se convencer da única coisa que parecia real em toda esta história: Um homem, algumas vezes em sua vida, não deve fazer o que quer fazer e sim, o que precisa ser feito...

Pegou um taxi e este o levou para longe... longe... dela e de todas as coisas que queria amar e não podia...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

OS DOIS REPENTES


Ela entrou num repente, mas por ter sido a primeira vez que a via, este repente ficou enquadrado em sua memória e coração para todo o sempre. Para ele, para sempre, sua eternidade começava com este lampejo...

Daí para frente, todos os seus momentos, os súbitos e os planejados, os inesperados e os aguardados, todos eles foram dela e para ela.
Seu rosto lhe mostrou o que era a beleza e se gravou na retina de seus olhos.
Seu cheiro dançava um belo e excitante tango em suas narinas.
Sua voz parecia veludo em seus ouvidos.
E todas as suas palavras eram recepcionadas como se fossem mergulhadas na argamassa de poesia perfeita.

Eram mais que namorados, amados ou amantes, sabe-se lá que nome se dá para esses arranjos entre os apaixonados, eram os mais amigos, os mais leais, os mais comprometidos, os mais generosos, os mais meigos, os mais carinhosos, os mais divertidos, jamais existiu casal mais cúmplice que ambos entre homens e mulheres.

Às tardes, quando saiam do trabalho, caminhavam de mãos dadas pelas ruas, vendo o sol se deitar na grande cidade de pedra, desfilavam pelo asfalto e entre as vitrines poderosas seus sonhos e seus romances mais delicados – sim, tudo entre eles era delicado, feito de uma poesia cuja essência vinha dos tempos que o amor era conhecido pelo romantismo.

A primeira vez que pegou a mão dela, seus corações dispararam e seus olhares se cruzaram na escuridão do cinema agradecendo um pelo amor do outro.
A primeira vez que a beijou foi num novo repente, um momento súbito que escapou da generosidade do destino indiscreto que desejava ver o pequeno ato de amor entre os amantes. E a beijou pela primeira vez, com a intensidade de uma última e a presente ansiedade virgem da novidade. Para eles, naquele momento, faziam amor... faziam amor num beijo longo e desesperadamente aguardado...

... E, ela saiu num instante, se foi montada num momento imprevisto e ladrão, que roubou deles a sua eternidade e o amor mais perfeito que poderia ocorrer.

... E, também este lampejo gravou-se em sua memória e coração, para sempre. Definitivamente, para ele, a eternidade tinha os limites de dois repentes, o primeiro que a viu, e um último, que a levou embora... sua vida ficava espremida no meio, e era somente um resto.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ÀS MARGENS DO RIO TEJO EU SENTEI E CHOREI...


Não se cruza o Tejo impunemente.
Ao sentir o frescor que sopra do rio algo em você se transforma, um estado de êxtase se estabelece em seu intimo e tudo se prepara para a contemplação da paisagem do rio e de você próprio.
Suas águas te convidam para um mergulho dentro de si mesmo e somente os corajosos aceitam este convite.
Eu sempre soube que meu primeiro dia no Tejo seria especial, somente não sabia que este dia seria eterno.
Estávamos todos lá, pela primeira vez em muitos anos, mamãe, papai, mana e eu – e os amei neste dia do mesmo jeito que os amei lá atrás, quando nossa vida era absolutamente entrelaçada.
Por um novo momento em nossas vidas desgarradas, éramos uma família novamente, com nossos sorrisos e lágrimas, com nossas dores e fortalezas, com nossas fraquezas e possibilidades, com todos os nossos erros e acertos, com todo o amor, enfim, imperfeito e verdadeiro que sempre existiu e nos uniu.
Eu quis dentro daquele instante que o momento fosse eterno, que nunca mais se acabasse e que tudo o que sempre foi nosso, de belo e de feio, se instalasse permanentemente nas prateleiras de nossos dias mais comuns.
Mas assim não o foi.
O tempo e o destino nos oferta com uma mão e tira com as duas.
Na hora de ir embora e dizer adeus a este mágico dia eu sentei à margem do Tejo e chorei, quieto, manso, comigo mesmo e mais ninguém, não queria que minhas dores fossem alimentar as dos meus queridos.
Chorei porque sabia que dias perfeitos não existem de verdade, e, quando se criam por uma mágica qualquer, eles se vão embora para sempre.
Chorei porque sabia que logo ia embora e meu caminho era longo e pedregoso e que por minha estrada, não caminhariam meus queridos comigo, eles têm suas próprias veredas.
Chorei e minhas lágrimas foram se juntar às águas belíssimas do Tejo, este rio que é o sangue de Portugal, sangue este que também corre em mim.
Saudades do Tejo.
Saudades deste dia perfeito que não é mais vivo, é somente mais um item dentro da minha história.
Dentro do tempo este dia foi somente mais um dia. Dentro do meu coração, ele foi e sempre será eterno.


Observação: O título é uma paráfrase, e uma homenagem, à obra de Paulo Coelho, notável escritor brasileiro.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

dois...

E L A...

Eu não pertenço à este mundo
Não pertenço à nenhum lugar
E não pertenço à esse corpo
Eu não pertenço à esta mente
e nem minha alma pode se aprisionar
Porque eu inteiramente pertenço ao amor
e todo o meu amor pertence à você


E L E...

Somos dois em único dom.
E  o nosso dom é amar.
Amar voce é muito mais do que minha vontade,
amar voce é a minha primeira necessidade... e a última!!!


sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O 11 DE SETEMBRO...



... Nos Estados Unidos, fazem um memorial para as vítimas e erguem outro prédio no lugar maior que as Torres originais.

... No Japão, os sobreviventes se juntam em solidariedade, um ajuda o outro e, em 15 dias, tem outros prédios idênticos ao que foram derrubados.

... Na Argentina, o povo vai para as ruas fazer um panelaço em protesto ao terrorismo, compõem um tango e a nação chora uma vida inteira o sofrimento das perdas.

... No Brasil, dão um jeitinho de arrumar a empreiteira sem licitação e erguem um prédio qualquer, inferior em todos os quesitos as Torres Gêmeas, e com preço superfaturado.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PEQUENO POEMA EM DEFESA DA FACA

A faca não é cruel.
Cruel é o cabo por onde se empunha a faca.



O fio da faca não é cruel.
Cruel é o metal que lhe dá forma.



O tamanho da faca não é cruel.
Cruel é a solidez que lhe dá força.


Cruéis não são o cabo, o metal e a solidez da faca.
Cruel é a mão que segura a faca.



Cruel é o coração do homem que mata!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

MULHERES, ABRAÇOS, ESTÓRIAS


A mulher chegou cheia de sorrisos.
Comemorou a limpeza do lugar e observou sua grandiosidade – a primeira vez ali a encantava e isso era bom...
Quando chegou à frente do solário, seu sorriso nublou-se, foi eclipsado por uma nuvem que sugeria tristeza.
Ela viu o pai se levantando do meio de uma roda de homens, e ele veio até ela parando no lugar que devia ficar. 
Aguardava sereno por fora.
Aguardava ansioso por dentro.
O portão se abriu.
Ela entrou.
E, no mesmo momento, esqueceram-se num espremido abraço que saiu da aridez da saudade, irrigado pela chuva de lágrimas que desceu pela face da jovem mulher.
Era a primeira vez que via o velho pai em meses, desde que fora preso por um erro tolo e inconseqüente que cometera.
Abraçaram-se...
Abraçaram-se...
E, quando não mais agüentavam, se abraçaram de novo, como se, pelo abraço, tudo se apagaria e se renovaria; como se pelo abraço, ganhariam asas e voariam para longe dali e de todos; como se pelo abraço, uma mágica se pudesse haver e os erros não houveram sido cometidos; como se pelo abraço fossem mais... pai e filha.
Depois de longos minutos, entraram ambos em uma cela e fecharam a porta, o abraço ficou lá no solário, marcado, grafado, erguido feito um busto na memória e no coração de toda a gente que o presenciou...


A mulher chegou taciturna.
Trazia um olhar vazio e o rosto com uma expressão enfurecida. Parecia que tudo naquele lugar a incomodava profundamente e registrava isso em toda a expressão do seu corpo.
Quando chegou frente ao solário, seu rosto abriu-se num sorriso amplo como se esquecesse tudo e onde estava, lembrando apenas aonde iria – para os braços de seu homem.
O portão se abriu.
Ela entrou.
E, no mesmo momento, esqueceram-se num abraço longo e apertado, que saiu do fogo da paixão acendendo as chamas da excitação de ambos.
Abraçaram-se...
Abraçaram-se...
E juntos e silenciosos caminharam para a cela dele, batendo a porta com uma velocidade nervosa e impaciente. Sabiam o que queriam e diálogos maiores eram completamente desnecessários.
O abraço deles evaporou-se no solário, esquecido forçadamente por todos. E, ficou em toda a gente uma vontade súbita de amar e serem amados...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Enquanto isso, no metrô de Lisboa...



"E se eu não morresse nunca. E, eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das cousas."

Frase de Cesário Verde, poeta português, cunhada com lirismo nas paredes da estação cidade universitária, Lisboa, Portugal.

Não quero morrer jamais,
Mas se um dia tiver que morrer,
Que o seja em vossos braços, meu amor!
Porque até morrer se tornaria bom,
Se o ato de partir para sempre
Me desse mais um pequeno momento de voce!

sábado, 27 de agosto de 2011

PORTUGAL, UMA SAUDADE!


Portugal, não derrames lágrimas por mim.
Ainda que teu vermelho corra em minhas veias
E teu verde habite meu coração,
Eu não sou daqui,
Aprendi isso com alguma dor e resistência.
Eu sou amante das matas,
Sou daqueles que anda com os pés descalços
Fincados na vermelha terra dos cerrados,
E tomo banho seminu nas lagoas
Que refrescam o calor intenso da minha terra.
Meu falar é errado,
As concordâncias nem sempre são perfeitas,
E minha visão de mundo é limitada.
Meu mundo é todo aquele que enxergo da minha janela,
Esse é meu, esse me entende.
Eu conheço mesmo é das coisas da minha Pátria.
É nela que eu me renovo,
É nela que me encontro,
É nela que eu nasci e nela irei enterrar
Estes velhos ossos que me trouxerem até ti.
Mas tu és lindo, Portugal!
O encantamento deita em tuas ruas,
E a magia reluz em teus monumentos e paisagens.
Tenho orgulho em dizer que tu fazes parte de mim,
Que minha história mistura-se a tua
E que de alguma forma,
Eu e você estamos unidos dentro da eternidade.
E, se te peço que não vertas lágrimas por mim,
Ao mesmo tempo aceite como oferenda neste altar de saudades
As muitas lágrimas que derramo em teu chão.
Deixo-te com saudade e sofrimento,
Minha terra anseia e me espera.
E, como oração, um último pedido, Portugal,
Ame meu pai e minha irmã, seus filhos,
Como se fossem únicos,
Como se fossem os últimos que tivestes e terás,
Pois que para mim, junto com minha mãe e meus infantes,
Não há nada mais abaixo de Deus
Encima deste mundo de dor que seja mais
Importante que eles!



Foto: Arquivo Pessoal

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A VELHA CADEIRA DO LARGO DO RATO


O largo do rato é um bairro especial.
A arquitetura do lugar impressiona, antiga, que remete a época de ouro de Portugal, tempos em que a nação lusa era a grande potência mundial e seus navegantes desbravavam mares desconhecidos em busca de riquezas e novas terras.
Tudo por lá tem a arquitetura do passado ainda que dentro dos comércios em geral reine a sofisticação dos potentes computadores e softwares modernos. A velha história, o passado é bom e lindo mas fica lá fora, aqui dentro, de verdade, habita a modernidade.
Passei em frente a uma loja de antiguidades, mamãe preferiu dizer que era de bugigangas, talvez estivesse certa, talvez não, o que importa é a forma como olhamos as coisas é esta a verdade que emprestamos a elas. Ela estava lá, uma velha e forte cadeira toda trabalhada em seus mínimos detalhes. Acreditei que ela tinha uns duzentos anos, ainda que eu não posso testemunhar isso sobre o livro da verdade. Imaginei quantas pessoas descansaram seus cansaços sobre ela, quantas decisões foram firmadas sendo ela firme testemunha. Provavelmente, ela viu crianças nascerem, tornarem-se homens e saírem para a vida e todas as suas dificuldades, e os viu retornar mais tarde, vitoriosos ou derrotados e a todos recebeu com a mesma honestidade em seu procedimento.
Ela serviu a alguma família, ou famílias, de forma honesta e leal e, de repente, alguém acreditou que uma nova poltrona com motivos modernos, seria mais útil e despejou-a ali, solitária e infeliz num purgatório injusto.
Uma cadeira como aquela mereceria os destaques da sala de estar de uma boa família, honesta e feliz, de gente fraterna e cúmplice, jamais o ostracismo e a periferia de uma loja de antiguidades.
Papai caminhava na frente, mamãe logo atrás e minha mana na sequência e eu, por último, fascinado pela cadeira, encantado pela arquitetura do Largo do Rato.
Olhei para a cadeira, ela olhou para mim.
Nos entendemos facilmente. Os poetas são mais sensíveis e a cadeira talvez tenha abrigado algum deles.
Imaginei uma mesa de jantar e a cadeira no canto principal.
Imaginei nós quatro, aqui ou em qualquer canto do mundo, a jantar e a rir das banalidades do dia.
Segurei uma tristeza incipiente, sabia que meus sonhos e os da cadeira não são e nunca serão compatíveis.
Fui-me embora, sonhando com a cadeira na sala de estar de minha família.
A cadeira ficou lá, quieta, impassível, aguardando uma família para chamar de sua, família esta que sabíamos, não seria a minha…

Ilustração: Antiga foto do largo do Rato, colhida na NET

domingo, 14 de agosto de 2011

A LUA DE SESIMBRA



Nada tens, nada és?

Quem disse isso?

Deus provou-me definitivamente que somos todos importantes, independente do que temos e do que somos, ontem, na belíssima praia de Sesimbra (Portugal) quando me deu de presente uma linda paisagem e a mais linda lua que nascia sobre a serra de Arrápida.


Estávamos todos lá, portugueses e brasileiros, franceses e italianos, indianos e árabes, um mundo de gente que se extasiava com a mesma lua.

Divido convosco, um pouco da emoção do momento....

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

PORTUGAL: PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Passadeiras (Portugal) - Faixa de pedestres (Brasil

Está muito quente o verão europeu.
É um calor abafado, baixa umidade e mesmo para um homem dos trópicos como eu, acaba sentindo a sua intensidade.
Mas, não reclamo jamais, prefiro sempre o calor ao frio. O aeroporto de Lisboa é enorme, e demorou "pacas" para pegar o visto de entrada no País. Conosco, mamãe e eu, foi tudo tranquilo, os brasileiros têm grande facilidade para entrar em Portugal.  As avenidas e as ruas são muito limpas, tudo que é público é organizado e bem cuidado. Os peões (assim são chamados os pedestres) possuem sempre privilégio no trânsito, pisou na passadeira (faixa de pedestre) e os automóveis automaticamente param. Os autocarros (ônibus) são novos e não se vê lotações dentro deles ou desespero para pegá-los, como, por exemplo, vi em São Paulo, ainda que, a bem da verdade, em São Paulo tudo é superlativo, tanto nas benesses, quanto nos problemas. É relativamente barato para se trafegar no transporte público em Lisboa. Por 12 euros você faz um cartão chamado “LISBOA VIVA”, é necessário exato 24 horas para se obtê-lo sem maiores burocracias do que a apresentação de alguns documentos, endereço e foto 3x4. O grande barato é que se o indivíduo se apresentar sem foto, existe uma máquina do lado do guichê que fotografa por 3 euros com impressão em minutos – praticidade pura. Ao ver esta máquina, lembrei-me imediatamente do filme “O fabuloso destino de Amelie Poulain” quem assistiu, sabe do que falo.  Enfim, conquistado o cartão Lisboa Viva, você compra uma senha por 42 euros, chamada passe, você tem acesso ao metrô (aqui eles chamam de metro) e a toda rede de ônibus, sem pagar mais nada. Este cartão também dá desconto no cinema, no oceanário e em outros locais bastante interessantes. A arquitetura é diversificada, o velho e o novo misturam-se sem maiores problemas. Não existem praças feias e ou mal cuidadas em Lisboa. São todas belas e sempre apresentam algo de chamativo que convida a todos para conhecê-las. Outra coisa que vi diferente são as refeições, o Português gosta de comer bem e muito, e os jantares possuem as entradas, os queijos, os molhos e ou as sopas, e, fundamentalmente, um bom vinho de acompanhamento. Feita a refeição, não é raro toda a família dirigir-se para um café, para tomar um expresso bem encorpado. Todavia, separando este aspecto de aprendizado que uma viagem como essa sempre traz, existe o sentido maior que é o sentimento que nutro por este País que sempre fez parte de mim, minhas raízes estão encravadas aqui e conhecê-lo é um sonho realizado. Todas as emoções estão sendo fortes e deliciosamente saboreadas pela minha sensibilidade, e, já sofro agora, pelo dia que terei de partir, mas, deixa isso para o momento oportuno… não vou ficar sofrendo de véspera, não é mesmo? Chau!!!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A CURA PARA TODOS OS MALES

Descobrimos isto numa viagem pelo metrô de Lisboa, em uma de suas muitas estações, estava sobre um banco dentro do vagão. Minha irmã viu primeiro e convidou-me para apreciar esta propagada do Professor Mamadu, o homem que garante ter a receita para solucionar todos os males.

Fica aí, como curiosidade para uns, e como possibilidade para outros, afinal, a fé pode remover montanhas.

Transcrição do folheto de propaganda:

PROFESSOR MAMDU
Astrólogo - Grande Médium Vidente

Especialista de todos os trabalhos ocultos. Resultados rápidos e garantidos. Dotado de dom herditário (?). Ele resolve todos os problemas mesmo os casos mais desesperados: amor, negócios, casamento, impotência sexual, insucessos, depressão, doenças espirituais, sorte ao jogo, protecção, retorno imediato e definitivo de quem amar, harmonia matrimonial e fidelidade absoluta entre esposos. Se quiser prender uma vida nova e pôr fim a tudo o que lhe preocupa, contacte o MESTRE MAMADU, ele tratará o seu problema com rapidez, honestidade e eficácia. Consultas das 9h às 22h de Segunda a Domingo, pessoalmente ou por carta. Pagamento depois do resultado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CÁ ESTOU!!!

...e, de repente,  PORTUGAL nasceu em mim...

E eu... Nasci em PORTUGAL!


Foto: ODIVELAS

terça-feira, 19 de julho de 2011

PELAS ESTAÇÕES DA VIDA


Quero que saibas como eu sou
Para que entendas o mundo que represento.
Todos nós somos um universo,
Cada qual com suas próprias considerações,
E um vasto arsenal de particularidades.
Somos o que somos,
E tudo o que somos é resultado
Desta fórmula pouco comum,
Que junta nossos desejos com o destino,
Que junta nossas idiossincrasias
Com as minúcias que formam o outro.
Convergir tudo isso para um caminho comum,
É a grande matemática da vida,
Coisas têm de ser perdidas no trajeto,
Coisas têm de ser adquiridas no trajeto,
E tudo misturado dentro da gente.
Ás vezes dá certo,
E segue-se junto para todo o sempre.
Ás vezes não dá,
E vamos ficando pelo caminho
Nas muitas estações que se oferecem.


Eu poderei, algum dia,
Ficar em uma dessas estações.
E quando o teu trem partir
E teu rosto ficar colado na janela
Olhando para trás
E para tudo o que poderia ter sido,
Quero que vás com minha benção,
E tente na próxima parada
Encontrar para ti
O que eu não consegui ser para você.
Não te condenarei pelo que não fostes para mim.
Não haverá culpas entre nós,
Não percamos tempo em busca de culpados,
Busquemos a felicidade em outros rostos,
Porque a vida é curta
E não dá para ficar, para sempre,
Lamentando o passado.


Eu ficarei aqui, perdido numa estação fria,
Seguirei meu curso e tentarei ser feliz.
Mas quero que saibas que
Todas as noites,
Antes de me deitar,
Eu me lembrarei de você
E de seu corpo quente e branco.
Sentirei um arrepio de prazer
Ao lembrar-me das noites que fizemos amor,
E, em um breve instante,
Como se domando a vontade do destino,
Estarei contigo novamente.


E, se em algum lugar,
Voce pensar em mim dessa forma.
Lembrar-se de minha mão tocando teu corpo,
Os arrepios em sua pele sugerindo paixão.
A gente vai estar junto novamente...


Quem sabe,
Numa próxima estação,
A gente não se encontre de novo...


... E tudo pode ser diferente!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O INCÊNDIO

Tocaram fogo no mato.
E o fogo, por sua própria natureza arredia, que jamais reconhece e se submete a quaisquer senhores, ganhou uma proporção enorme. Ninguém controla o fogo, o fogo se controla.

Era outono e as noites nesta estação são mais ligeiras no chegar, lentas no partir.

Ainda que o quadro fosse de descalabro e todas as tragédias se mostrassem em cores vivas, havia naquele inicio de noite uma beleza macabra no fogo. O som do crepitar das chamas, o avanço inexorável e poderoso do incêndio, as labaredas altas que dançavam um tango “caliente”, o clarão que se erguia na noite expulsando-a com uma luminosidade tênue. Era o belo que escondia a fera, era o fogo.

Mas esse pensamento de admiração durou apenas um minuto, durou apenas o tempo de um espasmo de tolice, a razão tomou o seu lugar. Imaginei todas as mil tragédias que se escreveram naquele lugar, naquela tarde. Assisti a fuga dos lagartos e calangos; vi os coqueiros aterrorizados morrerem impassíveis e caírem silenciosamente – os coqueiros morrem com nobreza; ouvi o lamento dos quero-queros que voavam em círculos chorando o ninho que ardia; milhões de insetos fugiram e outros milhões pereceram nas lambidas do fogo. Quantas histórias malditas não serão contadas nesta noite?

De repente, o som da sirene, chegavam os combatentes das chamas, os soldados que destroem o fogo e, por este ofício, é quem mais o respeita. Trabalharam rápido, organizado, eficiente, mataram o incêndio e partiram da mesma forma que vieram, sem avisos na chegada, sem alardes na saída, alguém mais os reclamava e eles se foram.
Ficou a fumaça incômoda e a lembrança quente do incêndio. A natureza se recuperaria, ela sempre se recupera. A natureza somente sucumbe ao homem...

... foi quando, num canto qualquer do mato, um estralo de madeira soou e vi uma pequena labareda que surgia.
Ela olhou para mim...
Eu olhei para ela...
E antes de tudo e qualquer coisa, pisei-a no seu olho que, arrogante, me desafiava. Era o recado do fogo: Venceram-me nesta batalha, mas, eu volto, eu sempre volto, eu sou eterno...

Esqueci-me de recados e do próprio fogo, orei pelos bombeiros e fui em frente, a vida, este sim, um incêndio delicioso, me convidava para dançar...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O AMANTE DA NOITE


Alguém me chamou a atenção para a beleza da noite, como se houvesse uma maneira d’eu ser colhido desatento para a sua beleza.
Eu sou um dos amantes da noite, o tornei algum tempo atrás, no primeiro suspiro da minha adolescência, quando os eflúvios do amor aspiraram sobre mim seu perfume mais delicado.
Eu me lembro de como olhei em seu grande olho, da forma como ela recepcionou o menino e entregou o homem.
Eu me tornei homem no negro seio da noite. Bebi seu leite e toquei sua carne, fomos amantes eufóricos.
Eu recitei para ela toda a poesia dos grandes poetas, falei-lhe de Quintana e Neruda, de Drummond e de Pessoa, de Espanca e Moraes e teci para ela em alguns velhos cadernos alguns ajuntamentos dos mais finos vocábulos, tentando exaltá-la e comemorá-la com o doce sabor da poesia.
Com a noite, preparei e brindei a poesia... na noite conheci a poesia, e por ela... por ela, me fiz melhor.
Por tudo isso, não passo impune à noite.
Eu a sinto dentro de mim, ela é minha, eu sou dela, e somos ambos prisioneiros da mesma magia lírica que enfeitiçou amantes e poetas em torno de seu corpo escultural.
A noite é sempre amante, amiga e amada.
Seu coração é um oceano que recebe com gentilezas e cânticos exaltados os marinheiros que se atiram em suas águas.
Eu estou agora dentro da noite...
Estou encantado por sua beleza e, de novo, como tantas e tantas vezes desde a minha primeira vez com ela, deixo-me envolver, dançar, cortejar, amar e ser amado por esta, a mais bela entre todas as noites, a menos encantadora das que virão.
E, de todos os segredos que a noite me confia, ela sussurra-me ao ouvido e ao coração: “Ame como amas a mim... como a mim...” e, em meio a um espasmo de paixão, a noite faz-se mais bela...
... E, eu te amo dentro desse delírio... te amo, meu amor, te amo como amo a noite...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

OLHARES DE OUTONO


O circulo foi improvisado ali mesmo, naquele local que parecia o mais improvável de todos – às portas de uma grande cadeia.

O homem gritava os seus versos, seus olhos buscavam cada rosto feminino que ali se encontrava, e pelas faces sofridas, sabia-se que em cada uma, uma história de dor diferente era escrita todos os dias.

Elas já tinham vencido muitas intempéries.
Tinham ultrapassado a humilhação que sentiram um dia de estar ali aos domingos, o dia de visitas da penitenciária. E tinham aprendido a voltar... fielmente, sempre retornavam, em nome de uma lealdade que somente as mulheres conhecem.

Muitas delas sabiam que sua vida seria aquela mesma, pois seus homens insistiam em retornar, eles um dia, sabiam elas, conheceriam a liberdade, ainda que brevemente, elas.... jamais! Estavam condenadas a uma expiação que duraria toda a sua existência – a mulher de bandido acompanha-o em toda a sua condenação, e além... e além...

Todos os que chegavam (ou passavam) olhavam o quadro com diferentes satisfações. Seus olhares expressavam os mais diversos sentimentos e todos os sentimentos vinham cavalgando os mais formosos puros-sangues de preconceito e estigmas.

Pelo grupo de mulheres, passou todos os olhares...
Passou o olhar de indiferença. Passou o olhar de diferença. Passou o olhar de resignação e a condenação. Passou o olhar de perdão, o de solidariedade. Passou o olhar contrariado, o amistoso, o simpático e mesmo o raivoso. Passou a intolerância, passou o preconceito, passou o olhar egoísta. Passaram todos os olhares e nenhum deles para bem ou para mal abalou a fé delas.

E, ao sinal do homem, elas rezaram, na porta da cadeia, no meio de todo o povo, debaixo de um céu azul e não esperaram nada em troca que não fosse a chance de exercitar o poder de sua própria fé.
A fé pode habitar palácios e barracos, mas em nenhum lugar ela é mais exuberante do que no olhar daqueles que crêem.

E, aquelas mulheres criam mais do que todos, naquela fria manhã de outono...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

É ASSIM QUE EU ESCREVO...

Escrevi para vocês.
Escrevi para mim.
Nunca importou realmente a direção do texto, seu mérito ou qualidade, o fundamental sempre foi o sentimento.
Porque não tenho a técnica dos grandes autores, e isso me diminui, possuo sim a calma serena que reveste a certeza de que meu caminho é a emoção.
Por ela me movo e sigo.
Por ela construo meus textos.
Pode ser um disfarce para a mesquinhez das minhas linhas, enquanto o universo se entretém com o sabor adocicado das fatias não percebe que os ingredientes do todo são suspeitos.
Talvez... E, talvez é uma mera suposição, uma bala perdida sem rumo que pode (ou não) enclausurar-se num coração.
Não será um talvez a seta que me orientará...
A calma que o tempo me legou, ensinou-me que não se adquire aceitação, ela se conquista e, ainda que soe deverás arrogante, não busco aceitações, no tamanho e nas formas que elas se apresentam para o mundo.
Aprendi a ser mais eu, a gostar mais de mim, cativando o eu próprio como se ele fosse o fim dos meus pensamentos e atitudes. Simples assim.
Isto não é pouco, todavia, não há nada em minha pessoa que se cubra com o doirado da simplicidade, sou a complexidade e entendê-la e vivenciá-la é o que me move. Bruta missão.
Por este farol que ilumina meu eu é que alcanço o outro.
Esta é a certeza, esta é a seta que busco seguir.
Aprendendo sobre mim, gostando mais de mim, exercito a faculdade divina de amar o outro – jamais se conhecerá o divino, estou convicto disso, pelo você, é pelo outro que se vê a Deus. Eu quero Deus!
Escrever é, portanto, um exercício público de meditação e expiação por onde busco entender este homem que sou e que se esconde nas entranhas do meu ser.
Não sou Shakeaspeare.
Não sou Dostoievsky.
Não sou ninguém outro, pelo ser ou pela técnica de escrita.
Sou apenas Gilberto, e não busco as mentes das pessoas, quero os seus corações.
É assim que eu escrevo.

domingo, 12 de junho de 2011

ESTA NOITE CANTAREI PARA VOCE...


Esta noite cantarei para você.
Voce estará nua deitada sobre um lençol de cetim
E me olhará ansiosa pelo meu próximo passo.
Não sou um cantor e tu sabes disso.
Mas ainda que meu canto seja desafinado e sem jeito
O sentimento o torna formoso.
Isso! Não canto com a qualidade dos grandes tenores,
Canto com a paixão dos grandes amantes,
E nesta seara ninguém pode ser maior que eu.
Eu te amo com devassidão e selvageria.
Eu te amo com carinho e suavidade.
Eu te amo dentro da poesia e da necessidade.
Te amo de dia, te amo de noite.
Te amo agora e para sempre,
Numa sempre escala crescente que não conhece fim.
Então eu canto, canto, canto,
Para extravasar minha alegria de estar contigo,
Para comemorar nosso amor,
Para louvar a tua presença junto a mim,
Para flertar em novas e incessantes serestas
As enormes medidas de paixão
Que escapam do meu coração,
Todas elas feito flechas para voce.
Essa noite cantarei para voce.
Cantarei tocando com carinho teu corpo,
Tirando de cada curva, de cada volume,
A mais linda e deliciosa nota musical.
Não exijas grandes arranjos de minha canção,
Amo a música, amo mais a letra e
Minha balada tem uma poesia que é feita
De um único e delirante refrão:


Eu te amo!
Eu te amo!
Eu te amo!


E, enquanto te penetro a carne,
Minha canção alcança teu espírito.


Esta noite cantarei para você, meu amor!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM SONHO DE AMOR PERFEITO

Ele a amou dentro de um instante e este instante se construiu para sempre, ainda que o para sempre tenha sido apenas um sonho de amor perfeito.
Quando se ama uma mulher verdadeiramente, ainda que este amor não se realize, ele deixa marcas tão profundas no homem que elas seguirão com ele vida afora. Não importa o quanto se amou e como se amou, as pessoas são diferentes e o jeito de amar de um não se compara ao do outro. Amor não foi feito para ser medido, pesado, mensurado em tabelas e comparações que aos olhos do sentimento soam tolas e sem nexo.
Amor, o que és tu que tanto se sente e não se explica?
Sei que para ele o amor que sentiu por ela sempre foi especial, mágico, poético, amou-a no espírito, jamais somente no corpo.
Ele ainda se lembra de seus beijos, da boca pequena dela esmagando seus lábios carnudos.
Ele ainda se lembra de como os abraços conseguia arrebatá-lo para um estado de encantamento perfeito. Com ela nos seus braços, o mundo era apenas um palco onde dançava uma canção romântica com ela.
Ele ainda recorda de como as conversas com ela o deixavam entretido e interessado, ela tinha uma inteligência aguçada.
Ah! Seu jeito de olhar, sua feminilidade, sua suavidade e meiguice, sua educação e boas maneiras singulares, sua aparente fragilidade, seu pezinho pequeno que exigia que comprasse seus sapatos na ala infantil, tudo nela era diferente, extraordinário e o encantava profunda e verdadeiramente.
Mas, ainda que o amor seja perfeito e intenso, por vezes, e, igualmente sem explicação, ele não se consuma.
Não existem vilões, nem pecados, nem imperfeições maiores que as naturais que envolvem homens e mulheres. Ele simplesmente não acontece.
O amor parece ser um bicho que realmente se move por vontade própria, captura o que quer, quando e como quer, e somente permanece se quiser ficar... se não, vai embora, deixando para trás a terra que semeou completamente devastada.
Ele sofreu um tanto, e, depois outro tanto, quando soube de algum jeito que o amor deles não se consumaria. Soube igualmente, que amaria de novo, de novos modos, novos rostos e corpos, porque o amor se renova e se transforma, nunca é igual. Sempre soube, também que, igual a ela, nunca mais...
E, quando ela partiu num velho ônibus para a capital, numa tarde qualquer de um verão qualquer, ele reconheceu que o que viverá fora um amor perfeito... ainda que não se consumará, ainda que ela não seguisse com ele por toda a vida, ainda que a partir dali fossem dois estranhos, ele soube que viverá um amor perfeito...



... e, amores perfeitos, seguem com a gente pela vida toda.

terça-feira, 31 de maio de 2011

ODE AOS BAJULADORES E INCOMPETENTES


...E todos eles comemoraram o silêncio,
A fuga da coragem e da iniciativa,
Doaram com exuberância seus mais belos sorrisos
Para todos aqueles que bateram ponto no ostracismo,
Banharam com o mais caro champanhe
Os corpos mais preguiçosos,
Serviram um banquete suntuoso
Para os pobres de pensamento,
Para os que não pensam,
Para todos aqueles que domesticam suas idéias
Colocando-as sob o laço dos governantes.
E viva a rotina!
Gritaram com a força de seus pulmões,
Essa triste rotina que encobre,
Que disfarça, que dissimula,
Que mimetiza a incompetência
Dando a ela ares de nobreza e sofisticação.
Eles ficaram de suas belas e ricas janelas
Olhando a todos os que passavam
Rasgando loas para os bajuladores,
Cantando-lhes odes onde eram os heróis;
E as mais terríveis quimeras
Todos aqueles que pensavam diferente.
Aonde estão os gritos de rebeldia?
Para onde foram a coragem e a iniciativa?
Onde se escondeu a criatividade?
Quem assassinou o comprometimento?


Quando os que seguem
Deixam-se acorrentar pelo pensamento,
Sua vontade perece no meio de uma rotina
Erguida para perpetuar a mesmice,
Esta mesmice tacanha
Que ajoelha-se em reverência para a incapacidade.


Neste instante,
Não existe mais saída.
Os bons são vencidos por eles mesmos,
Sua inércia é a maior arma dos corruptos
De almas e riquezas.
A gargalhada de vitória deles
Sobrevive somente no silêncio
Das bocas e da omissão dos bons.


... E, todos eles comemoraram o silêncio...

terça-feira, 24 de maio de 2011

O SONHO DE ÍCARO

Para mim aqui agora tudo é estranho.
Tudo tem o cheiro azedo das coisas podres.
O mato cresce no quintal.
O jardim está estéril.
A última rosa nasceu há cinco primaveras atrás
E sua morte sentenciou também a roseira.
Aqui todos os sabores estão enlatados.
Quando quente, é quente demais.
E quando o frio chega congela todos os meus sonhos.
O sol não entra mais pelas janelas,
Impedido pela decoração de gosto duvidoso.
O quarto é uma câmara mortuária,
No seu centro uma urna funerária
Que sepulta os ossos de uma felicidade
Que jamais foi santa, e,
Enterra também todos os meus sorrisos.
A casa é um labirinto,
Por onde ando trombo com muros de dor,
Por onde o sofrimento, minotauro maldito,
Armado com sua lança de ignorância e estupidez
fere minha paz e sossego todos os dias, todos os dias...
E, nas noites, saí do seu covil o abutre solidão
Para devorar minha carne.
E, nas noites, antes que Morpheu me alcance,
Ergo os olhos para o céu e peço para Dédalo
Para que me de asas para voar,
Para que possa me erguer por sobre
As paredes deste triste labirinto.


... e quando adormeço,
Fecho os olhos sorrindo
(sem perceber)
Pois sonho com asas e vôos...
Sou livre... livre... livre...
E não sinto a primeira
Mordida voraz e feroz
Do maldito abutre em minha carne....

domingo, 15 de maio de 2011

Poema para quem ama à distância


Eu te vi na padaria,
Comprando pães quentes.
Vestias um vestido florido de uma bela fazenda
E ele bailava comemorando o ar condicionado.
Fiquei a um canto afastado olhando você e seus afazeres.
Não me vistes quando entrei,
Tua vida te chamava e teus pensamentos estavam reféns
De todo o universo que te cerca.
Eu olhei para você.
Olhei para teu corpo.
Percebi que sentistes um arrepio qualquer,
Porque olhastes para os lados
E para trás,
Procurando qualquer coisa.


E eu estava lá, no canto... no canto...
De todas as coisas...
Da padaria...
Da tua vida...
Te buscando do palco central de meu desejo.
E tu não me vistes...


Aproximei-me...
Assoprei seus cabelos com a cortesia de uma brisa.
Acariciei tuas narinas com a delicadeza de um perfume...
... meu perfume.
Meu olhar beijou tuas costas algo nuas e tuas coxas grossas.
Quando falastes e seus lábios róseos tremularam
Os beijei com minha vontade mais desejada.
Ficastes em silêncio,
Olhavas para um ponto qualquer
E, ao mesmo tempo,
Para lugar nenhum.
Fechastes os olhos com discrição,
Voltastes para mim
E para meu canto na distância.
Sabias de todo o chão que nos separava
E sabias que eu estava ali... Contigo!
Sorristes e a delicadeza deste gesto iluminou-me.
Tu me vistes...
Tu me vistes...
E pelo teu olhar e teu sorriso
Soube que me amavas e que me sentias.
Quando uma nova brisa soprou seus cabelos
E abraçou todo o seu corpo quente e sensual,
Soubestes de todas as formas
O que somente uma mulher pode alcançar:


O amor de seu homem, em silêncio...