sexta-feira, 22 de setembro de 2023

QUEM COM O FERRO FERE...

 


... pelo ferro será ferido.

O ladrão colou na área de segurança do pavilhão e pediu seguro.

A polícia fechou os bretes isolando o preso num limbo e depois o retirou com segurança, a ele e a sua tralha que consistia numa sacola velha de roupas sujas, um colchão surrado e fino e um monte de bugigangas.

Seguiu-se a praxe: geral no preso e em seus pertences, assinatura no papel que caracterizava a medida preventiva de segurança pessoal e, na sequência, o preso sendo isolado em pavilhão específico para essas situações.

Antes disso, o policial perguntou ao preso o motivo do seguro, já que esta medida é sempre extrema (pelo menos devia ser...), porque não existe dignidade para o preso em sair jogado do raio, além do mais, o isolamento para onde se vai é um pavilhão onde as dificuldades florescem que nem mato sob sol e chuva.

O interno, não se fez de rogado e entregou o jogo.

O “voz” do raio chegou até ele, no início do banho de sol, e alertou que a sua cabeça estava a prêmio e não tinha como garantir a sua segurança pessoal e não queria problemas no raio, pois isso atraía a polícia. Ladrão tem alergia a polícia. E, terminou dizendo, como querendo fazer piada que “defuntos sempre fedem...”.

Com esta informação alcançada pela polícia foram tomadas as devidas precauções para a segurança deste preso que chegou na cadeia com uma etiqueta de preço colada na testa – havia matado em sua cidade o filho de um figurão e alguém tinha dado a missão: apresentem o cadáver do assassino e o pix será feito na hora. Essas coisas inflamam a bandidagem...

O seguro foi alojado e a cadeia seguiu o seu fluxo massacrante de rotina, os dias viraram meses e os meses se amarelaram em anos e tudo sobre esta história parecia realmente esquecido, nem mesmo o preso que fora seguro se lembrava mais que sobre ele pesava uma sentença e um preço.

Um dia, dia qualquer, tão gorduroso de rotina quanto qualquer outro dentro da quimera, o preso que fora seguro amanheceu dependurado numa cela e, como sempre, ninguém viu nada, ninguém sabia de nada.

Cadeia é bicho estranho... traiçoeiro mesmo...

Deus perdoa sempre... o homem perdoa as vezes... cadeia não perdoa nunca...

É... Quem com o ferro fere, pelo ferro será ferido...

terça-feira, 18 de abril de 2023

PERTO DE VOCE

 

Quero estar perto de você,

Bem perto,

Tao perto que o estar perto

Será apenas um eufemismo

De proximidade.

Se fores orvalho,

Serei a relva.

Se fores a lua,

Serei a noite.

Se fores o sol,

Serei o girassol.

Se fores um beija-flor

Serei a mais atrativa rosa.

Se fores um rio,

Serei um peixe.

Se fores o ar,

Serei o pulmão.

Se fores o céu azul,

Serei as brancas nuvens.

Se fores castanheira,

A rainha da floresta,

Serei o solo para suas raízes.

Estarei sempre em você,

Tao perto de você,

Tão unidos

Que sem você

Jamais poderá haver a mim.

E, aos olhos de Deus

(e dos homens)

Seremos apenas um...

Eu e você... apenas um!

domingo, 19 de março de 2023

IN MEMORIAN

 


Acordei ouvindo um som estranho...

Olhei o relógio...

Mais tarde que o habitual.

Aticei com o aguilhão da preocupação

Os ouvidos em direção aos sons da casa.

Somente o som estranho... longe...

Não ouvi o liquidificador batendo papas,

Não ouvi os chinelos preocupados esfregando

Em um eterno ir e vir no frio chão da casa...

Não ouvi comprimidos e mais comprimidos

E mais comprimidos sendo descascados...

Portas de guarda-roupa se mantiveram fechadas...

Cadeiras de rodas descansavam...

Descansavam...

Descansavam...

Recomendações de cuidados diversos foram enfiadas

Numa enorme gaveta de silêncio...

Silêncio...

O chuveiro aguardava ansiosamente a

Cadeira de rodas que aguardava alguém

Para empurrar esse alguém até o chuveiro,

Ambos esperavam,

Esperavam por um flerte que não mais aconteceria.

Duas gotas d’água escapavam do bocal do chuveiro

Tristes com a ciência dessa notícia...

Frente a casa nenhuma motocicleta

Acionava sua buzina nervosa

Nos convocando para buscar mais remédios...

Remédios...

Remédios...

Remédios...

Para que serve isso?

A casa toda mergulhada num enorme silêncio,

Físico, sólido, pesado.

À volta um buraco gigantesco

Que somente o tempo e graça

Poderia encher...

Continuei ouvindo o som estranho...

Levantei...

Coloquei a roupa rapidamente...

Corri até o som...

Vi você meu amor de costas para mim

Na cozinha de nossa casa...

Chamei...

Descobri o som estranho...

Era você que chorava...

Te abracei...

Choramos juntos....

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Bem cedo, cedinho, amanhã....


para Drúcila Reis Mendes

 Amanhã... amanhã...

Assim que o sol acordar

E despejar seus bocejos

Sobre a nossa vida.

Nesse momento brilhante

Eu quero te abraçar...

Te abraçar de um jeito único,

De um jeito que só os

Verdadeiros amantes conhecem.

Um abraço de verdade.

Porque o abraço por si só

Já sussurrará a todo o seu corpo

Todas as frases de amor

Que nesta noite fria

Encontram-se enjauladas em mim,

Dentro de mim,

Presas em uma cela chamada saudades.

Um abraço de verdade.

Libertador.

Porque dentro desse abraço

Estaria a poesia que todas

Essas frases anseiam conceber

Para você...

Sonham... e como sonham...

Serem declamadas baixinho

Aos pés de seus ouvidos,

Dentro da intimidade de

Um abraço de verdade.

Ah! Amanhã, amanhã,

Quando o sol acordar

Chegarei montado num corcel

Chamado urgência

E te abraçarei de verdade,

Um abraço que será

Uma porta aberta

Para a poesia que está faminta

Dentro de mim

E anseia te encontrar

Dentro de um abraço de verdade!!!

Amanhã... amanhã....