terça-feira, 4 de setembro de 2018

ALIMENTOS PARA A ALMA



Nestes dias de frio intenso, não a vi...
Ela ficou recolhida, esquentando o corpo cansado de dias no calor do recôndito do lar.
Hoje o sol saiu, deu a cara tímida depois de tantos dias fora. Apareceu como se tivesse envergonhado de deixar todo o povo mergulhado no cinza dos dias frios.
Junto com o sol, ela apareceu.
Colocaram a sua poltrona de costas para a rua, para que o sol da manhã tocasse o seu corpo de frente, essa carícia (convenhamos!) é mesmo deliciosa.
Eu passei, rápido.
Do lado dela, uma senhora também já entrada em dias, falava de coisas e mais coisas, ela parecia ouvir cansada, mais entretida com os toques abrasadores dos raios do sol.
Eu a cumprimentei como faço todos os dias.
Ela não se voltou, e nem poderia. A posição da poltrona a impedia.
Reconheceu-me, sei que sim, senti no tom da sua voz e na urgência da resposta.
Ficou em mim uma vontade enorme de ver o seu sorriso. Ele é tão lindo. Não importa nossa idade, sorrisos são sempre viçosos como a juventude. O dela guarda o frescor de uma brisa de verão e o cheiro de uma tarde de primavera.
Já ia sumindo da vista da casa, quando de repente, a senhora ao seu lado se virou para mim, parecia aborrecida por ter incomodado seu monólogo.
Essa senhora sorriu. Um sorriso lindo. Mas não era desta, nada daquilo era mesmo desta... O sorriso desta senhora, percebi imediatamente, era um reflexo do sorriso dela... dela para mim.
Sei que a alma possui alimentos mais vigorosos e nutritivos como oração e leitura da Bíblia, mas, sorrisos são um delicioso acompanhamento.