terça-feira, 31 de março de 2009

PARA O HOMEM QUE TEM TUDO



Oh, tu homem, que acreditas que tudo possui.
Para tu que achas que o mundo é teu quintal, que o tempo te serve com generosidade, que a juventude é eterna e o momento será você mesmo que escolheras.
Para tu, que fazes da conquista teu interesse e das necessidades dos outros uma ponte para teus objetivos.
Para tu mesmo que tem esse brilho de arrogância intensa fluindo maravilhosamente em sua retina, que olha para todos do alto de sua capacidade.
Para tu que tem a saúde de ferro.
Para tu que sabes que todos os dias o sol nasce para você, para iluminar a tua estrada, para mostrar teu sucesso, para aquecer teu corpo do frio climático e do ostracismo.
Para tu que nascestes para o protagonismo em sua essência mais pura, em todos os momentos, em todos os lugares.
Para tu que és belo, que encanta as mulheres, que inveja os homens, que fazes do amor dos outros por ti uma forma de saciar seus desejos hedonistas.
Para tu, que está acima de todas as coisas, da justiça, da moral e da ética, do bem e do mal, nada te alcança em tua fortaleza.
As leis foram feitas para todos os outros, não para você, oh grande homem!
Para tu mesmo, que não sabes o que é comunhão, que desconhece a solidariedade, que acredita que generosidade é um conto de fábulas e coisa para tolos.
Para tu que sempre esteve ereto, jamais caiu de joelhos, jamais louvou e rezou, pois desconhece a Deus arrotando ser agnóstico – Deus somente existe para os miseráveis, esta é sua crença mais intima.
Para tu que mentes, de forma mais crível do que quando falas a verdade – a mentira sempre serve seus anseios.
Para tu, oh homem, não existem fronteiras, não existem barreiras, nem valores, não existe nada que não seja a satisfação de sua ambição.
A única coisa que cresce continuamente em ti, é isso grande homem, tua ambição. O resto, todo o resto, seja o que for, despreza jogando na lata de lixo que é tua existência egoísta.

Atenta-te, grande homem, atenta-te, por mais poderoso que sejas eu te alcançarei um dia – chegarei mansamente, de uma forma bastante pacata, montada numa alva ironia, tendo um rosto belo para agradar os teus olhos acostumados a ver maravilhas.
Não existirá lugar que poderás esconder-se de mim, e eu te alcançarei como alcançarei todos os outros homens.
Eu rirei de teu poder na tua cara.
Eu pisarei em todos os teus títulos e em todo o teu dinheiro.
Tua beleza não me seduz e tuas pedras brilhantes não iluminam meu querer!
Eu sou irredutível, incorruptível, sou o poder que iguala a todos no momento que sirvo meu doce vinho em meu cálice.
Eu sou a força, sou o maior de todos os fenômenos.
Deus e teus pais te deram o inicio, tu construístes a tua vida e eu determino teu final.
Vistes, és nada perante mim! És nada! Nada! Nada!

Eu sou a morte e vim te buscar...



Foto: www.olhares.com

sábado, 28 de março de 2009

SOBRE EROS E FLECHAS DE AMOR...



Quando se tratava de mulheres era um devasso. Oh! Não tomemos a palavra em sua plena acepção. Estaríamos faltando com a verdade junto a esse companheiro. O devasso era no sentido da quantidade de mulheres, que foram muitas e variadas, brancas, morenas e negras; magras, altas e baixas e até mesmo uma gorduchinha linda que ele conheceu em uma feira no interior do Estado do Paraná. Jamais pelas formas de amar. Tinha um sorriso encantador, era quase bonito, o bom papo compensava o que lhe faltava em beleza física. Era um cavalheiro e como cavalheiro, educado e gentil. Assim, municiado de tantas armas as mulheres lhe caiam como pinos frente a uma bola de boliche bem arremessada.

Mas um dia, Eros lhe flechou! E a flecha fatal do amor cravou-se em seu coração belo e virgem para este sentimento que transforma as pessoas.

As pequenas coisas do amor, como uma troca de olhares, um bilhete enamorado surpreendido no bolso, o pôr-do-sol, um pegar de mãos, tudo isso passou a ter uma importância que para ele, antes, corrompido pelo demônio da lascividade, nunca prestara atenção. As emoções se lhe tornaram fortes e arrebatadoras, conheceu o paraíso e o sublime lhe fez ver o quanto é importante o flertar, a conquista árdua do coração amado, um passeio com ela no fim de tarde, de um beijo no rosto, ser presenteado com um sorriso apaixonado da boca feminina.

Sentiu-se bobo quando se lembrou da primeira vez que conseguiu que ela o deixasse pegar em sua mão pequenina e delicada. O fez com carinho, com amor, com dedicação, com uma nobreza de sentimentos que não sabia que residiam todos eles dentro de seu peito. Ela o olhou de soslaio, ruborizada. Ele devolveu-lhe um sorriso, de gratidão pela outorga (que palavra esquisita para um texto amoroso!) que lhe foi destinada. Seu coração ululava de alegria. Em todo o peito uma convulsão, um redemoinho que lhe provocava prazer intenso. Sentia nas veias o sangue fervendo correndo pelas vias expressas das artérias, penetrando nos atalhos das veias, correndo de encontro a um beijo sagrado no cardial. Espantou-se: Como pode um pegar de mão provocar tanta euforia?
Ah! Devíamos todos saber que não é o grau de intimidade sexual que nos torna íntimos. Não é o número de camas as quais nos deitamos que nos torna grandes amantes. O maior de todos os conquistadores não é aquele que conquista todo dia diferentes rostos, e sim, aquele que cativa todo dia, um mesmo rosto, a mesma mulher, o mesmo coração! Isso já foi dito antes, simplesmente, emprestamos nova roupagem!

Ah! Grande cavaleiro serás tu se domares o corcel dos teus desejos fúteis, colocar rédeas nele e embalar este animal poderoso em direção ao teu destino. Doma-o, nobre coração humano! Coloca-o a sua mercê, porque só se pode conhecer o verdadeiro amor aquele que ama verdadeiramente uma mulher.

quinta-feira, 26 de março de 2009

FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM

Contou-me depois, muito depois...
Contou-me que teve um sonho e que neste sonho beijava uma gótica.... Sim, uma gótica, uma mulher gótica, vestida em couro negro, maquiagem full Black carregando de noite melancólica os olhos e os lábios belos em plena tarde de primavera. O beijo, disse-me ele, com um brilho intenso nos olhos, foi tão verdadeiramente mágico que foi sua boca que a tocou, mas todo o seu corpo, toda a sua alma foram sugados nesse toque encantador. Disse-me que se apaixonou e eu fiquei me perguntando durante todo o tempo: Apaixona-se pela sugestão de um beijo?
Contou-me que, ao acordar, ainda sentia na boca, sua boca, o gosto macio da língua dela....

SOBRE QUIMERAS, BELEROFONTES E TODO O RESTO...



Vocês não se lembrarão de mim agora...
Agora que o conforto e o sossego repousam em águas tranqüilas,
Lago plácido frente as suas casas.
Suas barrigas estão cheias, seus corpos aquecidos,
Há café fumegante no velho bule sobre suas mesas
E seus sorrisos e gargalhadas inebriam vossa percepção sobre mim!
Agora, eu sou o descartável e o inútil,
Sou, no máximo, segundo os mais generosos, um mal necessário...
Ah! Mas esperem quando os ventos revoltos soprarem
E as águas tranqüilas se movimentarem num espasmo brusco,
E as águas mansas descerem em cascata como um rio caudaloso...
Esperem quando a grande quimera branca acordar
Assustada e nervosa de seu sonho secular,
E seus mais de mil corações soprarem em seus ouvidos
Uma única inspiração: vingança!
Vingança tola, estúpida, cretina e cega!
Vingança por tudo e por nada, oca e aleijada.
Mas, uma vingança tão terrível que sua gordura
Respingará por todos os cantos
Impregnando seus corpos, suas casas e seus sorrisos
Com essa massa disforme e fétida.
Quem olhará dentro dos olhos da grande quimera nesse instante?
Quem correrá ao seu encontro para domá-la, para segurar
Seu ímpeto selvagem e violento? Quem? Quem?
Não será você, tenho certeza!
Nessa hora, todos os seus instintos te mostrarão a fuga,
Pois teu egoísmo, matéria que te constrói,
Somente te mostrará a porta da saída.
As lágrimas que derramares, se derramares, serão despejadas
Longe daqui, na rua, em segurança!
Nessa hora se lembrara de mim... De mim...
O vermelho que tingirá essa terra será meu sangue!
O pegajoso liquido que brilhará nas paredes será o meu suor de combate!
Serei eu o Belerofonte que domará a quimera...
... Ou morrerá tentando!!!
Lembre-se disso, quando os novos dias chegarem
Restaurando a tua paz e o teu sossego invejáveis!
Lembre-se que os pilares que sustentam tua tranquilidade são feito da argamassa de minha coragem,
E que tua paz bebe na fonte de minha guerra diária para manter a grande Quimera sempre adormecida... quieta.... sonolenta!

terça-feira, 24 de março de 2009

CARTA DE AMOR ou CRÔNICA DA SAUDADE ABSOLUTA


Quando ela chegou entregou-lhe um sorriso doce, um olhar cristalino que grudou-se instantaneamente ao seu e pegou em sua mão ouriçando todos os seus sentidos. Quando se ama e se ama de verdade, as pequenas coisas do cotidiano e os pequenos atos estão sempre no palco principal de seus interesses, no entanto, o contrário, quando o amor não passa de um fingimento ou um exercício aeróbico de representação, todos os eventos ainda que notáveis atingem somente a periferia de nossa paixão. O amor não se cria ou se força, ele acontece. O amor não se compra, é conquistado. O amor é uma dádiva encantadora.

E, ao olhá-la, ele percebeu que a amava. Talvez a certeza tivesse vindo do calor do beijo dela em sua face; talvez, tivesse vindo do sorriso que iluminou sua vida; não importava, realmente, o instrumento pelo qual o amor lhe tocou, ele a amava e isto, lhe bastava.

Pegaram-se nas mãos e sentaram-se no banco da igreja de uma vila qualquer de uma cidade qualquer, os “quaisqueres” também não tem relevância quando se está com quem se gosta. Falaram de passado, de velhas e alegres histórias que se transcreveram nas páginas dos livros de suas vidas. Ela sorriu de uma piada infame dele, somente o amor faria alguém rir de piadas natimortas de talento e bom humor. Ele abriu a boca, num gesto exagerado, assustado com a conturbada rotina da guerreira. Apertaram-se as mãos de uma forma tão intensa, como se quisessem que ambas transformassem em uma única. Seus olhos encontraram-se num apelo silencioso, os lábios secos umedeceram-se de desejo. Encontraram-se, as bocas, num beijo feroz e urgente, num beijo tão desesperadamente aguardado que lhe tiravam a respiração, num beijo nascido com a missão inglória de eliminar décadas de estiagem de paixão numa única chuva oscular. Ele a apertou contra si, ela gemeu baixinho perto de seu ouvido, confessando a ele seu desejo. Seu braço a rodeou por inteiro, protegendo, amando, trazendo-a para si num enlace de corpo e alma. Ai amor... Amor... Amor... que enleva e exulta, que abençoa e encanta, que une e transforma, eles ficaram por ali, por algum tempo, naquela praça simpática, trocando juras, confidências, carícias mais ou menos atrevidas querendo sempre algo mais.

E ao chegar o momento de ela ir embora, esqueceram-se dos amantes e despediram-se como amigos, de forma cordial e até recatada. Os amantes ficaram trancados em qualquer canto dos seus corações, para serem retirados de lá mais tarde, quando uma nova oportunidade alvissareira tocasse o alpendre de suas vidas e, então, pudessem se completar definitivamente, os dois fundindo-se em um, tornando-se um único ser de exuberante beleza. Separados eram incompletos e feios, juntos eram absolutos e lindos. O amor é a liga perfeita.

Por ora, ele a viu partir e enquanto afastava-se caminhando devagar, escondeu a lágrima feita da prata da saudade que escorregou num gesto demorado por seu rosto. Se ele pudesse ver, veria o reflexo de sua lágrima ir beijar o lábio de sua amada. A distância tratou de esconder ambas as dores, quando se ama e o amor não se completa, o sofrimento jamais é sozinho, é repartido em dois....

segunda-feira, 23 de março de 2009

Existem aqueles que amam devagar, e estes levam uma vida inteira para fazê-lo de verdade. Eu prefiro amar depressa, como a amei naquele momento e em outras tantas vezes pela vida. O que é certo, presumo, no amor e em todas as suas considerações, não é se amou devagar ou célere demais, muito menos a quantidade de amores que se teve, vale sim, é a intensidade com que se amou ou se ama.
Trecho da crônica "Amor à primeira vista", de minha autoria.

domingo, 22 de março de 2009

ROSA DE HIROSHIMA


Pensem nas crianças mudas telepáticas

Pensem nas meninas cegas inexatas

Pensem nas mulheres rotas alteradas

Pensem nas feridas como rosas cálidas!



Mas oh! não se esqueçam da rosa, da rosa

Da rosa de hiroshima, rosa hereditária

A rosa radioativa, estúpida, invalida,

A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica.



Sem cor, sem perfume

Sem rosa, sem nada!




Canta Ney Matogrosso (Secos & Molhados)

Composta por Gerson Conrad & Vinicius de Morais

“Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor..."



Esta questão acima pode soar tola e dissonante da realidade para muitos, para a maioria talvez! Haverá aqueles que poderá pensar que é mais um texto de Kafka e que seu universo onírico pousou novamente. Mas haverá alguns, um seleto grupo de pessoas que como eu, um dia, apaixonou-se por um principezinho e então, desde este dia, nas noites de céu estrelado, olha para o céu a procura de sua pequeno planeta e se pergunta: “Pode bem ser que o carneiro tenha comido a flor?” Estes me entenderão, a mim e a minha preocupação!

Não acredito ser provável porque o Principezinho era muito responsável e certamente, ele cuidou direitinho de sua flor amada. Contudo, a obsessão e zelo nesta guarda, inviabilizou e inviabiliza sua partida para uma nova visita a nós, aqui da Terra, que aprendeu a amá-lo sob a visão de Exuperry.

Resta-nos então essa busca incontrolável aos céus e as estrelas, tentando buscar, ainda que em breve relance, a visão do principezinho e seu carneiro, em seu pequeno planeta. Pode ser que ele nos busque também, que tenha saudades de alguma coisa aqui na terra, afinal, havia tanto ainda para ver e tanto ainda para nos ensinar. Porque sua visão simples da vida é a essência da felicidade. Para o principezinho, nada é muito complicado e o complicado, torna-se simples porque seus olhos enxergam todas as coisas sob o filtro da simplicidade. A sofisticação é tola, pensa o principezinho. Somos tolos todos em querer o que não temos quando aquilo que já é nosso está ali para nos confortar e satisfazer as nossas vontades. Talvez, esteja aí o segredo para todas as coisas, ver como se fôssemos crianças, como se fôssemos o principezinho! Hoje em dia, busco dentro de mim a criança que fui um dia e o Pequeno Príncipe me ajuda nesta busca intrínseca.

Penso, que quando me preocupo verdadeiramente se o Carneiro tenha ou não comido a flor, isto me traz mais perto do principezinho e então, mais próximo da felicidade. Porque o fundamental é preocupar-nos com as coisas importantes da vida: como o pôr-do-sol, poesia, flores e amigos, principalmente amigos. O resto, não é nada, é vazio, é oco, é sem importância, é erva má.

Verto agora uma lágrima. Não choro de tristeza, nem preocupação, choro de saudade, pois gostaria de ver novamente o principezinho. Gostaria de sabê-lo feliz, saber quantos pores-do-sol viu ontem e se a sua rosa passa bem... Ficaria feliz em saber disso tudo e ficaria mais feliz em abraçá-lo. Mas não posso, busco o céu de estrelas e não consigo vê-la. Talvez, não esteja suficientemente criança para percebê-lo. Talvez ninguém mesmo conseguirá ver seu pequeno asteróide B-612, mesmo que sejam todos crianças. Mas peço que o carneiro não tenha comido a flor.... Senão, o principezinho iria ficar muito infeliz e de infelicidade, basta aquela que nós cultivamos aqui na Terra.

Adeus, Pequeno Príncipe!!!

sexta-feira, 20 de março de 2009

COMENTÁRIOS LITERÁRIOS

O ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA faz parte daquela categoria de livros onde se insere a biblioteca de Franz Kafka, uma obra do fantástico e do imaginário que contamina a realidade de forma assombrosa. Saramago, definitivamente, torna-se um dos meus favoritos.
E, lê-lo, não é algo que se diga fácil. Usa de uma escrita que faz a supressão da pontuação o que dá um ritmo de dialogo, de fala, ao contrário do que a gente vê na leitura dos livros que empresta especial atenção para a escrita culta. É interessante, porém, é bastante criticado em todos os sentidos, por críticos e leitores diversos. Particularmente, gosto destas novas experimentações e buscarei mais alguma obra de sua bibliografia para realmente ver se seus livros todos tem a qualidade de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, este, realmente, é muito bom, tanto que já virou filme com Julianne Moore e direção do brasileiro FERNANDO MEIRELLES.


A virtude, quem o ignorará ainda, sempre encontra escolhos no duríssimo caminho da perfeição, mas o pecado e o vício são tão favorecidos da fortuna que foi ela chegar e abrirem-se-lhe as portas do elevador. Saíram dois hóspedes, um casal idoso, ela passou para dentro, premiu o botão do terceiro andar, trezentos e doze era o número que esperava, é aqui, bateu discretamente à porta, dez minutos depois estava nua, aos quinze gemia, aos dezoito sussurrava palavras de amor que já não tinha necessidade de fingir, aos vinte começava a perder a cabeça, aos vinte e um sentiu que o corpo se lhe despedaçava de prazer, aos vinte e dois gritou, Agora, agora, e quando recuperou a consciência disse, exausta e feliz, Ainda vejo tudo branco. (p.33)


O trecho acima destacado dá uma idéia da escrita, ou da forma como escreve Saramago. É justamente neste momento que a mulher de óculos escuros fica cega. Neste livro, não existem nomes e descrições de personagens, todos são conhecidos assim, por epítetos: A mulher do médico, o primeiro cego, a moça de óculos escuros, o homem da venda escura, a mulher do primeiro cego e por ai vai. Ora, perfeitamente lúcido isso, pois, num universo de cegos, identidades, nomes e tudo o mais perdem a relevância de ser.
O que resta desta fantástica alegoria é a impressão de que na verdade, estamos todos cegos, esperando alguém para nos conduzir para o verdadeiro caminho. A visão que temos nos permite enxergar, mas ver, na essência da palavra, poucos realmente o conseguem.
Fica, de resto, a sentença da rapariga de óculos escuros:

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos!” (p.262)


Saramago, José. O Ensaio sobre a cegueira, 1995, Editora Companhia das Letras.

quinta-feira, 19 de março de 2009

HOMEM OU RATO!?


Quando o homem adentrou o grande corredor para ir a uma sala especifica, encontrou olhando para dentro de seus olhos, um rato, um enorme rato, com um rabo imenso. Não que ele tivesse medo de ratos, longe disso, o seu leve tremor foi provocado por uma pequena ojeriza a roedores.

Por sua vez, o rato havia caído naquela arapuca movido pelo desiderato de alcançar o almoxarifado, lugar que sempre estava repleto de guloseimas. Entrou rapidamente no corredor e caminhou determinado para o lugar, quando o encontrou fechado e sem quaisquer possibilidades de adentrá-lo. Sem pensar duas vezes, resolveu voltar, ir embora, afinal, ele como rato experiente sabia que roedores não foram feitos para ficarem vadiando pelo mundo dos homens. Quando se voltou, deu de cara com um homem, um enorme homem, com um pé imenso, olhando para dentro de seus olhos. Não que tivesse medo de homens, longe disso, o seu leve tremor foi provocado por uma pequena ojeriza à humanidade.

O homem pensou: Vou avançar dois passos e, certamente, ele correrá de medo.

O rato pensou: Vou avançar dois passos e, certamente, ele correrá de medo.

E assim fizeram, homem e rato. Cada um deu dois passos na direção do outro e ficaram aguardando a atitude de seu adversário.

O homem não correu. O rato tremeu.
O rato não correu. O homem tremeu.

O homem pensou em voltar, mas na entrada, seu chefe aguardava impaciente. Mais do que a ratazanas, ele sentia medo de chefes. A única solução era passar pelo rato.
Glup! Engoliu, em seco.

O rato pensou em voltar, mas todas as salas estavam fechadas, estava num beco sem saída. A única solução era passar pelo homem.
Glup! Engoliu, em seco.

Por alguns momentos, a situação incômoda não se alterou. Ficaram ali, olhando-se fixamente, dois inimigos a duelar ao crepúsculo. Ambos os corações batiam rapidamente, movido pelo medo mútuo, mas tanto um como outro, não percebia no adversário, o terror estampado nos olhos e no corpo daquele.

Os segundos transcorriam lentamente. Parecia que cada pulo do ponteiro determinando o galgar de um segundo ribombava como se um tambor ecoasse no silencioso lugar. Ambos entenderam que algo deveria ser feito, e rápido, pois a situação não poderia se prolongar por muito mais tempo.

Foi então, que ambos tomaram uma decisão e esta, foi decisiva para o desfecho desta constrangedora historia.

O homem gritou, fez que foi e não foi, ficou pulando no lugar como se estivesse possuído por uma legião de demônios.

O rato guinchou, fez que foi e foi, partindo em direção ao homem como se estivesse possuído por uma legião de demônios.

Apavorado, o homem se virou e correu, acreditando mesmo que uma legião de demônios vinha correndo atrás dele. Passou pelo chefe e correu como louco, em direção a qualquer lugar, de preferência, um lugar onde nenhum rato jamais esteve.

Rapidamente, o rato passou pela porta de entrada, entrou por um buraco na parede, e com o coração aos pulos correu em direção ao esgoto, como se uma legião de demônios estivesse atrás dele, em direção a qualquer lugar, de preferência, um lugar onde nenhum homem jamais esteve.



MORAL DA HISTORIA


Às vezes, os homens têm a coragem de um rato.
Às vezes, os ratos têm a coragem de um homem.
Não importa se tu sejas um rato ou um homem, na maioria das vezes, tudo de que a coragem necessita é de iniciativa..

segunda-feira, 16 de março de 2009

MAIS DE "NA NATUREZA SELVAGEM"

Este deve ser o terceiro ou quarto post que faço acerca a vida e toda a obra que foi produzida em torno de Chris McCandless. Confesso, que sua história caiu como uma bomba emocional sobre mim, admirei-o desde o primeiro instante e jamais estarei entre aqueles que o criticam pela forma intespetiva que conduziu seus últimos dias aqui nesta Terra. Chris morreu pelos seus sonhos, lutou por aquilo que acreditava, nunca se importando se seu estilo de felicidade o levava na contramão do que o sistema estipulou.
Abaixo, posto uma série de fotos recolhidas a esmo na NET sobre Chris. Os trechos que legendam as imagens são retirados do livro 'NA NATUREZA SELVAGEM", de Jon Krakauer, publicado pela Companhia das Letras e recomendo, novamente, a leitura para complementar o que foi visto no filme de Sean Penn.




A STAMPED TRAIL, Alaska, local onde Chris passou seus ultimos dias, visão aérea, dá para se ver, ao fundo, o onibus onde McCandless instalou-se.



Chris, na primavera de 1992.


No dia seguinte, arrastou-se para fora do ônibus para procurar frutas silvestres, depois de deixar um pedido de ajuda na improvável hipótese de que alguém passasse enquanto estava fora. Escrita em letras de forma meticulosa numa página arrancada de Taras Bulba, de Gogol, ela diz:

"S.O.S. preciso de sua ajuda. Estou ferido. Quase morto e fraco demais para sair daqui. Estou sozinho, isto não é piada. Em nome de Deus, por favor fique para me salvar. Estou catando frutas por perto devo voltar esta tarde. Obrigado."

Ele assinou o bilhete: “Chris McCandless, Agosto?” Reconhecendo a gravidade de sua situação, abandonou o apelido pretensioso que vinha usando havia anos, Alexander Supertramp, em favor do nome que recebeu de seus pais ao nascer. (Jon Krakauer, Na Natureza Selvagem, Companhia das Letras)



Um de seus ultimos atos foi tirar uma foto de sí mesmo, de pé perto do ônibus, sob o alto céu do Alaska, segurando com uma das mãos seu bilhete final, a outra erguida numa despedida corajosa, beatífica. Seu rosto está horrívelmente emaciado, quase esquelético. Mas se sentiu pena de si mesmo naquelas últimas horas díficeis – porque era tão jovem, porque estava sozinho, porque seu corpo o traíra e sua vontade o abandonara -, isso não aparece na fotografia. Está sorridente e não há como se enganar com seu olhar: Chris McCandless estava em paz, sereno como um monge que se entrega a Deus. (Jon Krakauer, Na Natureza Selvagem, Companhia das Letras)

De resto, fica-me a esperança de que ao final de minha vida possa olhar para toda a minha existência, no exato instante em que a última vela ainda resistir bravamente para se manter acesa, e puder exalar a mesma frase que Chris McCandless, como ultimo suspiro:
“Tive uma vida feliz e agradeço a Deus. Adeus e que Deus abençoe a todos!”
"Alcançam-se facilmente todas as coisas que estão separadas pelo espaço, fica bem mais difícil alcançar aquelas coisas que estão incrustadas no tempo, impossível alcançar àquelas que estão separadas de nós pelo espírito".

Trecho da crônica “Sobre amigos e filosofias” de minha autoria.

domingo, 15 de março de 2009

QUANDO A LIBERDADE CHEGA...



A mulher banhou-se toda, um shampoo vagabundo, um sabonete mais vagabundo ainda, esticou o braço e pegou em uma saliência da parede de concreto um vidro de perfume com gosto bastante duvidoso, passou-o com satisfação necessária.


O marido a observava deitado em seu catre, um sorriso amarelo pendurado nos lábios, um brilho esquisito nos olhos negros como a pele. Deu uma ultima olhada no corpo da esposa chamado de seu: as pernas finas de cambito, a pele branca feito neve, os cabelos ondulados aloirados artificialmente, a boca algo exageradamente pintada, suspirou de uma forma longa como se este suspiro fosse um excelente substituto para as lágrimas.


Do banheiro, de onde ela estava, vinha pequenos gemidos, uns ais sufocados por uma vontade de ser forte, a liberdade lhe chegava para todo o corpo, mas deixava ali, aprisionado naquele lugar, o coração. Partia, quando queria ficar.


Deu um abraço no marido, seus corpos se chocaram com furor, quase com violência. Seu pequeninos seios se espremeram no peito do amante. Os lábios colaram-se num beijo longo e demorado, a lágrima de um misturou-se com a lágrima de outro. Enquanto a porta se abria e o agente convidava para sair, fizeram todas as juras eternas que poderiam ser feitas naquele exíguo espaço de tempo.


Quando o grande portão se abriu e viu a rua, esqueceu momentaneamente seus amores e suas saudades. O vento fresco lhe assoprou nas faces convites que a muito a liberdade havia lhe esquecido de fazer. Pensou em tomar uma cerveja; um sorvete; ir ao Shopping; ir ao Parque; visitar uma velha amiga; escrever uma carta, não fazer nada... Talvez! Simplesmente, dormir por uma tarde inteira sem horário para acordar...


Chegou em casa e não houve grandes festividades para sua recepção. Um sorriso aqui, outro ali, seu antigo quarto já ocupado com quinquilharias. A vida continuou para toda a família enquanto seu destino fora posto em stand by. Dormiu em outro canto qualquer, um quarto que lhe foi emprestado com cara de poucos amigos. Acordou de noite, com o corpo tremendo, a boca seca, uma dor de cabeça danada, era o corpo reclamando da abstinência da droga, do sexo.
Comeu rapidamente e saiu para a rua.


Andou em qualquer parte e por todo o lado. Suava frio, as entranhas lhe corroíam, precisava de droga, precisava de dinheiro. Precisava de um para ter o outro, precisava do outro para ter o um. Viu uma casa escolhida a esmo, pulou o muro rapidamente, caiu no jardim, avançou pela penumbra, abriu uma janela e entrou furtivamente: uma televisão, um aparelho de som, dinheiro, qualquer coisa lhe serviria...


Escutou um barulho, do outro lado do recinto. Uma voz lhe ordenando para parar. Não, pensou, cadeia de novo não! Tirou a pequena faca presa à calcinha vermelha e avançou para a voz. Ouviu um trovão, sentiu um impacto na testa, sentiu-se jogada para trás, contra a parede, sentiu-se jogada para fora de seu corpo, a bainha da faca batendo em seu pênis provocando-lhe ainda mais dor. A voz aproximou-se, chegou perto e ela viu....ela viu.... a voz... a voz... foi a mesma voz que abriu a porta, de manhã, na cadeia, para ela ir embora... Que azar!!! Foi seu ultimo pensamento, escolherá a casa do polícia! Fechou os olhos moribundos e abraçou de vez a liberdade definitiva que lhe surgia em uma névoa com a face do marido preso...

quarta-feira, 11 de março de 2009

POR TODA A BELEZA QUE HOUVER...

O que é belo para vocês?
O que toca vossos corações? O que faz vocês suspirarem profundamente, como se não houvesse outra chance para um novo fôlego?
O que é realmente belo para vocês? O que... O que... O que?
Esta é uma conversa que nos torna íntimos, pois o que nos enleva não fica na superfície de um ser humano, está nas suas profundezas... Portanto, para sabê-lo faz-se necessário que mergulhemos nestas águas para encontrar a resposta. É uma viagem de coragem e poucos têm ímpeto para realizá-la, é uma jornada de constatações e descobertas. Quem quer por aí encarar-se fielmente no espelho dessas águas?
Mas, a pergunta ainda retine no metal desse silêncio que já está ficando constrangedor... O que é belo para vocês?
De minha parte, com plena sinceridade, teria um bom número de respostas e, todas elas, com seus dedos acariciando poesia, pois, somente se houver poesia, algo será realmente belo.
O corpo nu de uma mulher é belo.
Uma rosa desabrochando é belo!
Abelhas nas flores, eis algo belo!
A brisa fresca numa tarde quente é belo!
O arrepio de paixão em meu corpo é belo!
Meu tesão é belo!
O abraço no amigo é belo!
Como é belo o homem que caí de joelhos para orar!
Cantar! Louvar! A música é bela!
Livros! Meu Deus! Livros são belos demais!
Vistes! A beleza para mim vem em várias vestimentas e se veste ao sabor do momento de poesia que por um acaso esteja vivendo.
A verdadeira beleza, aprendi a muito tempo atrás, não é egoísta, nem ufanista, não procura saltos altos para aparecer mais que os outros, a beleza, geralmente, nos visita com sandálias comuns.
Eu procuro o que é belo, todos os instantes, em todas as partes. Num novo sorriso, num novo cheiro, no tocar uma pele macia, no lábio que toca outro lábio, na canção que me extasia, na poesia que me faz feliz.
Eu procuro o que é belo num novo texto, escrever me faz mais belo. Eu procuro a emoção nos seus olhares, a batida poderosa de vossos corações; quero respirar este ar desgarrado de suas emoções, o brilho de seus olhares ao me ler ilumina-me e isso é tudo o que pode haver de mais belo!
Quero o que há de mais belo em vocês, seus sorrisos, abençoando este meu texto! Isto é belo, afinal, escrever para vocês é belo!
FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM

Eram três corujas e penso que estavam se pegando... Existe ménage à trois entre corujas?
Uma delas voou de onde estava e pousou no grande banco, próximo a mim e ficou-me olhando nos olhos, profundamente.
Será que queria dizer-me algo?
Ela ficou por ali um momento, dois momentos, a observar-me a alma... Depois voou desaparecendo dentro da noite.
Eu fiquei só de novo, somente com meus pensamentos:

- Para onde voam as corujas depois que percrustam nossas almas???

domingo, 8 de março de 2009

A PERFEIÇÃO



Houve algum tempo, em um passado não tão remoto, que ficava extremamente preocupado com a perfeição. A perfeição dos atos e das atitudes; a perfeição do corpo e do espírito; a perfeição da moral e da ética; a perfeição, enfim, como algo absoluto, um fim em si mesmo.
Foi-se passando os anos, e os anos servem de mestre carinhoso e paciente, que nos orienta, por vezes, com as mãos à palmatória; outras vezes, sensatas vezes, nos colocando sobre seu colo e cochichando em nossos ouvidos a sabedoria em pequenos bocados.
Com o passar dos anos fui me dedicando menos a esta preocupação afoita com a perfeição, pois percebi que, por mais que tente, por mais que me esforce, jamais serei perfeito realmente. Sou feito de um material que não conhece a perfeição e não pode conhecer; pois a perfeição é um instrumento que emana do divino – não sou divino, não posso conhecer a perfeição.
Em minha tola preocupação de buscar a perfeição como se ela o Santo Graal fosse, esquecia que a vida tem de ser vivida e para ser feito isso intensamente temos de pagar o ônus de sermos mortais e falhos, e por sermos mortais e falhos, erramos, caímos, perdemos, magoamos e somos magoados; e tantas outras situações que são inerentes a nossa condição humana e que são elas, que nos dão este colorido todo especial perante o restante de todo o Universo. Na busca pela perfeição diária, esquecia de viver, e em não viver, era infeliz. Quer algo mais imperfeito do que a ausência da felicidade?
Acabei entendendo que minhas imperfeições são importantes, pois elas quando reconhecidas e trabalhadas por mim mesmo, podem me ajudar a chegar perto da perfeição.
Acabei entendendo que o destino e toda a sua variada gama de contingências, um dia bom, outro ruim; uma lágrima, um sorriso; toda esta somatória de condições funcionam como ferramentas indispensáveis para que possa com discernimento, tolerância, tranqüilidade, buscar a sabedoria – e a sabedoria é o caminho mais rápido para a perfeição. Quanto me custou para aprender isso!?
Não posso ser perfeito neste mundo, mas devo continuar vivendo. E, em continuar vivendo, buscando a perfeição sem o rancor dos xiitas e com a alma sonhadora dos poetas. E quando a perfeição um dia chegar até mim, montada num relâmpago, e cumprimentar-me vestida de branco vindo do Oriente, ela me encontrará deitado, tranqüilo, esperando-a para que então possamos dedicar um ao outro, dois dedinhos de prosa.



Imagem disponível em lagash.blogs.sapo.pt/1748.html

sexta-feira, 6 de março de 2009

O OBAMA NOSSO DE CADA DIA...

Escrita na madrugada de 6,março,2009.

O povo americano está em festa, Obama venceu a eleição!
Estou feliz pelos EUA, mas a alegria deles não enche a minha barriga.
E, além do mais, não somente os EUA têm seus problemas,
Eu também os tenho... Nós também os temos!
Se os EUA estão combatendo seus problemas com Obama!
Também quero um Obama para mim!
A conta corrente estourou: Obama nela!
A farmácia, a padaria, o mercado ligaram cobrando o atraso nas contas: Obama neles!
O chefe te deu uma bronca: Obama!
Acordou mal-humorado, dor de cabeça, descobriu uma úlcera: não tem problema, convoca o Obama!
Discutiu com o colega de trabalho, a promoção não veio: Dá-lhe Obama!
Teu carro fundiu, você próprio ta todo fundido: Que nada, no problem, Obama, Obama!
Obama é a novíssima maior droga americana.
Ela dopa, ela ilude, ela entorpece,
Ela te faz acreditar em fadas e duendes,
Ela te faz crer que o mundo será mesmo melhor!
Na essência, é igualzinha as outras anteriores, as drogas anteriores!
A diferença é a embalagem Black, o sorriso White,
Os ternos impecáveis em Black tie!
Como não fumo e não bebo,
E quero arrumar algo para me dar esperanças,
Quero um Obama para mim!
Para me iludir, me dopar, me entorpecer,
Quero acreditar em fadas verdes e pensar que o mundo
Será mesmo um lugar melhor para todos.
(Ah! Ah! Ah!)
Mas, sou nacionalista, e quero algo que seja autenticamente brasileiro.
E, pensemos bem, estamos também em festa, acabaram-se as eleições em nosso País!
Sarney, no Senado; Temmer, na Câmara; Collor, na Comissão de Infra-estrutura!
Arre! Droga pesada demais, é overdose na certa!
Em matéria de droga somos muito melhores que os EUA...
Enrola um baseado de Obama para mim aí, brother!!!!