quarta-feira, 29 de junho de 2011

O AMANTE DA NOITE


Alguém me chamou a atenção para a beleza da noite, como se houvesse uma maneira d’eu ser colhido desatento para a sua beleza.
Eu sou um dos amantes da noite, o tornei algum tempo atrás, no primeiro suspiro da minha adolescência, quando os eflúvios do amor aspiraram sobre mim seu perfume mais delicado.
Eu me lembro de como olhei em seu grande olho, da forma como ela recepcionou o menino e entregou o homem.
Eu me tornei homem no negro seio da noite. Bebi seu leite e toquei sua carne, fomos amantes eufóricos.
Eu recitei para ela toda a poesia dos grandes poetas, falei-lhe de Quintana e Neruda, de Drummond e de Pessoa, de Espanca e Moraes e teci para ela em alguns velhos cadernos alguns ajuntamentos dos mais finos vocábulos, tentando exaltá-la e comemorá-la com o doce sabor da poesia.
Com a noite, preparei e brindei a poesia... na noite conheci a poesia, e por ela... por ela, me fiz melhor.
Por tudo isso, não passo impune à noite.
Eu a sinto dentro de mim, ela é minha, eu sou dela, e somos ambos prisioneiros da mesma magia lírica que enfeitiçou amantes e poetas em torno de seu corpo escultural.
A noite é sempre amante, amiga e amada.
Seu coração é um oceano que recebe com gentilezas e cânticos exaltados os marinheiros que se atiram em suas águas.
Eu estou agora dentro da noite...
Estou encantado por sua beleza e, de novo, como tantas e tantas vezes desde a minha primeira vez com ela, deixo-me envolver, dançar, cortejar, amar e ser amado por esta, a mais bela entre todas as noites, a menos encantadora das que virão.
E, de todos os segredos que a noite me confia, ela sussurra-me ao ouvido e ao coração: “Ame como amas a mim... como a mim...” e, em meio a um espasmo de paixão, a noite faz-se mais bela...
... E, eu te amo dentro desse delírio... te amo, meu amor, te amo como amo a noite...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

OLHARES DE OUTONO


O circulo foi improvisado ali mesmo, naquele local que parecia o mais improvável de todos – às portas de uma grande cadeia.

O homem gritava os seus versos, seus olhos buscavam cada rosto feminino que ali se encontrava, e pelas faces sofridas, sabia-se que em cada uma, uma história de dor diferente era escrita todos os dias.

Elas já tinham vencido muitas intempéries.
Tinham ultrapassado a humilhação que sentiram um dia de estar ali aos domingos, o dia de visitas da penitenciária. E tinham aprendido a voltar... fielmente, sempre retornavam, em nome de uma lealdade que somente as mulheres conhecem.

Muitas delas sabiam que sua vida seria aquela mesma, pois seus homens insistiam em retornar, eles um dia, sabiam elas, conheceriam a liberdade, ainda que brevemente, elas.... jamais! Estavam condenadas a uma expiação que duraria toda a sua existência – a mulher de bandido acompanha-o em toda a sua condenação, e além... e além...

Todos os que chegavam (ou passavam) olhavam o quadro com diferentes satisfações. Seus olhares expressavam os mais diversos sentimentos e todos os sentimentos vinham cavalgando os mais formosos puros-sangues de preconceito e estigmas.

Pelo grupo de mulheres, passou todos os olhares...
Passou o olhar de indiferença. Passou o olhar de diferença. Passou o olhar de resignação e a condenação. Passou o olhar de perdão, o de solidariedade. Passou o olhar contrariado, o amistoso, o simpático e mesmo o raivoso. Passou a intolerância, passou o preconceito, passou o olhar egoísta. Passaram todos os olhares e nenhum deles para bem ou para mal abalou a fé delas.

E, ao sinal do homem, elas rezaram, na porta da cadeia, no meio de todo o povo, debaixo de um céu azul e não esperaram nada em troca que não fosse a chance de exercitar o poder de sua própria fé.
A fé pode habitar palácios e barracos, mas em nenhum lugar ela é mais exuberante do que no olhar daqueles que crêem.

E, aquelas mulheres criam mais do que todos, naquela fria manhã de outono...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

É ASSIM QUE EU ESCREVO...

Escrevi para vocês.
Escrevi para mim.
Nunca importou realmente a direção do texto, seu mérito ou qualidade, o fundamental sempre foi o sentimento.
Porque não tenho a técnica dos grandes autores, e isso me diminui, possuo sim a calma serena que reveste a certeza de que meu caminho é a emoção.
Por ela me movo e sigo.
Por ela construo meus textos.
Pode ser um disfarce para a mesquinhez das minhas linhas, enquanto o universo se entretém com o sabor adocicado das fatias não percebe que os ingredientes do todo são suspeitos.
Talvez... E, talvez é uma mera suposição, uma bala perdida sem rumo que pode (ou não) enclausurar-se num coração.
Não será um talvez a seta que me orientará...
A calma que o tempo me legou, ensinou-me que não se adquire aceitação, ela se conquista e, ainda que soe deverás arrogante, não busco aceitações, no tamanho e nas formas que elas se apresentam para o mundo.
Aprendi a ser mais eu, a gostar mais de mim, cativando o eu próprio como se ele fosse o fim dos meus pensamentos e atitudes. Simples assim.
Isto não é pouco, todavia, não há nada em minha pessoa que se cubra com o doirado da simplicidade, sou a complexidade e entendê-la e vivenciá-la é o que me move. Bruta missão.
Por este farol que ilumina meu eu é que alcanço o outro.
Esta é a certeza, esta é a seta que busco seguir.
Aprendendo sobre mim, gostando mais de mim, exercito a faculdade divina de amar o outro – jamais se conhecerá o divino, estou convicto disso, pelo você, é pelo outro que se vê a Deus. Eu quero Deus!
Escrever é, portanto, um exercício público de meditação e expiação por onde busco entender este homem que sou e que se esconde nas entranhas do meu ser.
Não sou Shakeaspeare.
Não sou Dostoievsky.
Não sou ninguém outro, pelo ser ou pela técnica de escrita.
Sou apenas Gilberto, e não busco as mentes das pessoas, quero os seus corações.
É assim que eu escrevo.

domingo, 12 de junho de 2011

ESTA NOITE CANTAREI PARA VOCE...


Esta noite cantarei para você.
Voce estará nua deitada sobre um lençol de cetim
E me olhará ansiosa pelo meu próximo passo.
Não sou um cantor e tu sabes disso.
Mas ainda que meu canto seja desafinado e sem jeito
O sentimento o torna formoso.
Isso! Não canto com a qualidade dos grandes tenores,
Canto com a paixão dos grandes amantes,
E nesta seara ninguém pode ser maior que eu.
Eu te amo com devassidão e selvageria.
Eu te amo com carinho e suavidade.
Eu te amo dentro da poesia e da necessidade.
Te amo de dia, te amo de noite.
Te amo agora e para sempre,
Numa sempre escala crescente que não conhece fim.
Então eu canto, canto, canto,
Para extravasar minha alegria de estar contigo,
Para comemorar nosso amor,
Para louvar a tua presença junto a mim,
Para flertar em novas e incessantes serestas
As enormes medidas de paixão
Que escapam do meu coração,
Todas elas feito flechas para voce.
Essa noite cantarei para voce.
Cantarei tocando com carinho teu corpo,
Tirando de cada curva, de cada volume,
A mais linda e deliciosa nota musical.
Não exijas grandes arranjos de minha canção,
Amo a música, amo mais a letra e
Minha balada tem uma poesia que é feita
De um único e delirante refrão:


Eu te amo!
Eu te amo!
Eu te amo!


E, enquanto te penetro a carne,
Minha canção alcança teu espírito.


Esta noite cantarei para você, meu amor!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

UM SONHO DE AMOR PERFEITO

Ele a amou dentro de um instante e este instante se construiu para sempre, ainda que o para sempre tenha sido apenas um sonho de amor perfeito.
Quando se ama uma mulher verdadeiramente, ainda que este amor não se realize, ele deixa marcas tão profundas no homem que elas seguirão com ele vida afora. Não importa o quanto se amou e como se amou, as pessoas são diferentes e o jeito de amar de um não se compara ao do outro. Amor não foi feito para ser medido, pesado, mensurado em tabelas e comparações que aos olhos do sentimento soam tolas e sem nexo.
Amor, o que és tu que tanto se sente e não se explica?
Sei que para ele o amor que sentiu por ela sempre foi especial, mágico, poético, amou-a no espírito, jamais somente no corpo.
Ele ainda se lembra de seus beijos, da boca pequena dela esmagando seus lábios carnudos.
Ele ainda se lembra de como os abraços conseguia arrebatá-lo para um estado de encantamento perfeito. Com ela nos seus braços, o mundo era apenas um palco onde dançava uma canção romântica com ela.
Ele ainda recorda de como as conversas com ela o deixavam entretido e interessado, ela tinha uma inteligência aguçada.
Ah! Seu jeito de olhar, sua feminilidade, sua suavidade e meiguice, sua educação e boas maneiras singulares, sua aparente fragilidade, seu pezinho pequeno que exigia que comprasse seus sapatos na ala infantil, tudo nela era diferente, extraordinário e o encantava profunda e verdadeiramente.
Mas, ainda que o amor seja perfeito e intenso, por vezes, e, igualmente sem explicação, ele não se consuma.
Não existem vilões, nem pecados, nem imperfeições maiores que as naturais que envolvem homens e mulheres. Ele simplesmente não acontece.
O amor parece ser um bicho que realmente se move por vontade própria, captura o que quer, quando e como quer, e somente permanece se quiser ficar... se não, vai embora, deixando para trás a terra que semeou completamente devastada.
Ele sofreu um tanto, e, depois outro tanto, quando soube de algum jeito que o amor deles não se consumaria. Soube igualmente, que amaria de novo, de novos modos, novos rostos e corpos, porque o amor se renova e se transforma, nunca é igual. Sempre soube, também que, igual a ela, nunca mais...
E, quando ela partiu num velho ônibus para a capital, numa tarde qualquer de um verão qualquer, ele reconheceu que o que viverá fora um amor perfeito... ainda que não se consumará, ainda que ela não seguisse com ele por toda a vida, ainda que a partir dali fossem dois estranhos, ele soube que viverá um amor perfeito...



... e, amores perfeitos, seguem com a gente pela vida toda.