quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

VAYA CON DIOS, VIEJO NAVIDAD !!!!!


Mais um Natal se passou, mais um que vai se juntar a tantos outros!
De minha parte não restou muita coisa.
Muitas gargalhadas com bons amigos.
Mais um Natal trabalhando....
Mais um Natal que a felicidade se desdobrou pelas metades.

Não falo para causar tristezas.
Não sou desses que choram por chorar ou que buscam compaixão e a piedade alheia.
Sou forte e orgulhoso o suficiente para suportar meus próprios sofrimentos – de certa forma, os amo, neles me faço mais forte, neles me preparo para batalhas mais grandiosas que virão pela frente. O grande sofrimento não é o de hoje em nossas vidas, será sempre aquele que está por vir.

Simplesmente, tenho de ser verdadeiro comigo mesmo!
Não quero mais ficar com pessoas que não me amam!
Não quero mais rir as gargalhadas que são de outros!
Não quero ouvir as canções que outros ouvidos amam!

Eu tenho meus pecados, é certo, mas o maior deles é o meu comodismo. Estou recitando isso agora como se fosse um mantra!
Ando aceitando fácil tudo o que se tem para se aceitar.
Venho tendo a resignação como sobrenome.
A covardia vem em seu mais belo vestido de sossego.

Eis que o ano novo bate às portas, minha e de todos nós.
Vou mudar muita coisa em mim no novo ano.
As roupas que visto.
Um novo vocabulário.
Uns textos com novas construções, chega de melancolia de tanta poesia, vou escrever idéias e a realidade.
Quem sabe uma nova vida.....

E, se me encontrares por ai, em qualquer ambiente, virtual ou não e achares que estou diferente, não se aflija, não se assuste, estarei mesmo diferente, são os novos ares que estarei respirando buscando entender de que forma a felicidade deve ser acomodada em mim.

Que venham as mudanças e o novo ano, espero que tudo seja melhor, para mim e para você, meu amigo de sempre (virtual ou não!)
Serei feliz nesta nova vida que me está nascendo!
Sejas feliz neste novo ano que lhe está nascendo!!!

sábado, 22 de dezembro de 2007

O OLHAR DA MEDUSA

O jovem chegou assustado na cadeia, esta velha medusa!



Se ela aterroriza o coração dos mais velhos e preparados imagina o que não faz com os imberbes.


Ah! E que prazer a cadeia tem em capturar essa gente quase infantil! Todo o seu corpo volumoso se estremece num frenesi orgástico, suas gorduras todas balançam dançando ao som de uma vociferante gargalhada. A velha medusa é mesmo uma megera indomável.


Ele olhou para os agentes como se visse uma alcatéia de lobos famintos. Tentou conter uma lágrima e não conseguiu, ela rolou ali mesmo na área de segurança tentando desesperadamente segurar-se numa coragem que não mais existia.
Seu crime foi bárbaro, um fratricídio, uma espécie de “remake” de Caim matando Abel.


Quis saber a verdade de suas lágrimas.
Por quem choraria o jovem criminoso?
Choraria pela dignidade perdida?
Choraria pela memória do irmão assassinado?
Choraria pela liberdade que lhe escapou?


Não houve como saber, ele foi rapidamente engolindo pelas entranhas da cadeia, foi-se, marcando seu caminho com seu sofrimento pagão.


Afinal, não ouso dizer que senti piedade de sua dor. Se houvesse que haver lágrimas de minha parte não deveriam sê-las todas pelo irmão morto? Não cabe a mim julgar, morto e vivo, nem chorá-los mais! A cadeia também alcança o sentimento dos agentes. Cabe a nós tentar fazer com que a serenidade resista em meio aos escombros desses quotidianos conturbados e, então, encontrar fórmulas para que o coração do garoto sobreviva e, se possível, transforme-se em algo que não seja pedra.


O olhar da medusa realmente aterroriza...

Ilustração: Medusa, Tela de Caravaggio.

sábado, 15 de dezembro de 2007

UM NOVO EU!

À procura de um novo texto experimentei diversas técnicas e muitas sensações. Descartei tudo isso, não vou encher de protocolos (ainda mais!) a minha vida! Porque eu quero agora é experimentar o inusitado, quero o diferente, nunca quis ser mais um rosto na multidão e nesta fase de minha vida desprezo ainda mais a mesmice e a massificação. Se todos preferem algo, eu vou para a direção contrária, são todos tolos. E, isto em nenhum momento quer dizer que eu seja mesmo esperto, está aí algo que não sou: esperto! O que eu sou, é o que tenho, e tudo o que tenho é minha própria personalidade – no erro e no acerto!

Sei que alguns, principalmente àqueles que não me conhecem pessoalmente, acreditarão este parágrafo arrogante. Não descarto essa possibilidade e não os condeno, terei que conviver com esta possibilidade e com este julgamento – ter personalidade é assumir riscos, é assumir posturas, para bem e para mal! Condenem-me se quiserem, amigos, até a hora que a fogueira se acender manterei minha posição de tentar ser diferenciado e pregar esta diferença como uma posição ideológica e filosófica de vida.

Não quero ser um Messias nem quero seguidores! A verdade de todos vocês talvez não seja a minha, e donos de diferentes verdades a felicidade seguirá caminhos igualmente distintos! Além do que, andei muito nestes últimos anos falando da felicidade como se ela fosse um karma, totem, ou um escalpo a ser arrancado. Sabe, desisti de dar o papel de protagonista a este tema, quero mais é que se dane a felicidade e as suas vestimentas todas, vou correr atrás dela nu e farei amor com ela por sobre um lençol de rosas vermelhas ou no chão duro do sertão – serei feliz do jeito que vier, do jeito que dar, do jeito que puder!

Este é meu novo eu, se escandalizo ou se agrego não me tem mais muita importância – não busco minha promoção nem minha desgraça pública.

Não vou mesmo é me adaptar....

....ao sistema!
....ao amor!
....a vocês!
....a nada mais....

Porque ao não me adaptar, estarei sempre em estado de alerta, e o papel de atalaia me serve mais a esta nova fase.

Atento, para o amor, em total plenitude da palavra!
Atento, para a vida, em total plenitude da palavra!
Atento, para agarrar a felicidade na hora que ela mostrar a sua cara!!!!

sábado, 8 de dezembro de 2007

QUANDO OS DEUSES ERRAM...


Mas o que gostavam mesmo era de ficar todos ao seu redor, olhando-a, admirando-a, idolatrando-a como súditos de Vênus. Bebiam seus sorrisos como se sorvessem o mais doce néctar dos deuses; respiravam cada suspiro que escapava daqueles lábios feito no mais belo veludo, o último pedaço de veludo da mais pura qualidade que os anjos haviam tecido no céu.
Sua beleza possuía um toque qualquer de Midas que lhe facultava o Dom do sucesso. Suas piadas, algo insossas, eram gastas até o último caroço com as gargalhadas masculinas; sua sede, saciada com baldes d’água oferecidos em copos de cristais pelos homens; não havia comida que não experimentasse antes; todas as novidades eram-lhe ofertadas na bandeja do primeiro lugar; e todos os sonhos masculinos daquele lugar esquecido pelo Criador tinham-na como protagonista.
Tanta veneração colocava-a num pedestal. Seu elogio, um olhar, um pequeno sorriso descompromissado, colocavam seu destinatário no Olimpo, uma benção instantânea, ainda que descartável. As verdadeiras bênçãos são aquelas que vêm impregnadas de amor, e o coração da musa já conhecia esse sentimento, era uma terra conquistada com bandeira já fincada. Até mesmo as Deusas possuem seus defeitos....
Por outro lado, esta idolatria carregava sua maldição.
Uma leve contrariedade, um olhar oblíquo de desdém, uma negação, uma crítica (cruz credo!), levavam seu interlocutor ao Hades, num abraço fatídico com Plutão. Infeliz, esse homem! Sofreria o pior dos martírios, como se criassem especialmente para ele um décimo circulo no inferno de Dante. Alma decadente, atirada aos cães.
Quis Zeus, entretanto, que sua bela fosse tão generosa quanto linda e jamais seria capaz de, voluntariamente, exilar alguém assim para o País do esquecimento. Suas qualidades todas, um conjunto mavioso de poesia divina, só sabiam aglutinar, jamais separar!
Mas mesmo o pai dos deuses pode errar! Em sua pressa de dar ao mundo um anjo, a fez com um único coração para amar! Devia ter posto em seu peito mil corações, todos eles virgens desse sentimento que move os homens ou então desprovê-la de um, torná-la uma branca estátua em mármore, sem capacidade para amar. Porque para as deusas não existe saída, ou ama a todos, ou não ama a ninguém, jamais ser somente de um só!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

FELIZ DIA QUALQUER!!!!


Feliz dia qualquer!
Prepare uma bebida saborosa
(e gelada, se preciso for!).
Faça aquele almoço especial
E convide os seus amigos para comemorar!
Comemore o sol que nasceu!
Mais um dia que viveu!
Comemore a saúde,
A comida,
a bebida,
a vida.
Comemore as pequenas coisas,
Porque as grandes já têm amplos destaques!
Um feliz dia qualquer,
Saído do nada, mesmo!
Para se comemorar por comemorar,
A alegria não precisa de motivos.
Sorria para toda a gente,
Dê pontapés na tristeza e no mau-humor.
Comece a rir de besteiras,
E deixa as lágrimas somente para tragédias,
se tragédias mesmo houver....
(Não as invente!).
O mundo já nos dá muitos sofrimentos
Para que ainda mais os criemos!
Peça dispensa hoje, de tudo,
Do trabalho, de toda a chatice,
Neste feliz dia qualquer.
De este dia, todo ele, para você,
A vida é curta,
E os bons dias mais curtos ainda!
Feliz dia qualquer para você!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007


O pequeno escaravelho imaginou uma linha reta e seguiu em frente.


Atravessou um oceano do tamanho de uma poça d’água.


Escalou uma montanha enorme, um pedregulho pode ser um incômodo gigantesco.


Um metro quadrado de uma fina areia branca num jardim foi-lhe um grande deserto.


Destemido, o pequeno escaravelho venceu todas as intempéries, transpôs todas as catástrofes, foi além de seus limites.



E, ao chegar ao seu destino, morreu vítima de uma pisada involuntária.

domingo, 25 de novembro de 2007

A maior tragédia humana


O Sertanejo não conseguiu esconder sua satisfação. À sua frente, uma lauta mesa a disposição completa sua e de sua família: sete filhos e a mulher grávida do oitavo, de sete meses.
Não se fizerem de rogados, sentaram-se e esfomeados, mergulharam na comida. Comiam, comiam, comiam, sem pensar em quaisquer outras coisas.
A Vida no sertão não é algo que se possa dizer, fácil. A dificuldade nasce com o sertanejo e é a parceira diária dele; dificuldades sempre multiplicadas pela seca constante. O trabalho é pouco, o alimento é pouco. A única coisa que é maior que as dificuldades do sertanejo é a sua resignação; resignação com seu destino, resignação com a própria vida; uma resignação mesclada com esperança.
E o sertanejo comia avidamente quando ouviu um ronco, um ronco estranho, diferente. Olhou para os lados na busca de alguém, um estranho, um animal – nada! Deu de ombros, voltou a atenção ao seu prato.
Um novo ronco, desta vez mais alto.
Olhou para a esposa e para os filhos, todos comiam vorazmente, felizes. Não entendeu, de onde vinha este ronco, ronco estranho.
O aroma da comida o convidou novamente.
Voltou a comer e comia quando sentiu uma pontada na barriga. Depois outra, outra, e mais outra. Acordou, era madrugada. Viu os filhos todos esparramados pelo chão da casa, dormiam – felizes os filhos, pensou, dormiam!
A barriga doia incessantemente e então, escutou o ronco, e outro, e mais outro. Dobrou-se comprimindo o estômago doído, sofrido. Lambeu a gota salgada da lágrima que escorregou-lhe pela face suja e escura. Quis dormir de novo, sonhar de novo, sonhar comendo de novo. Chorou um pranto contido, silencioso demais. Chorou o choro da fome........

sábado, 24 de novembro de 2007

-¿Por Quien si levantan las cruces




-¿Por Quien si levantan las cruces
Eu me pergunto em todo momento.
Aonde o sofrimento faz mais vitimas?
Eu me pergunto em todo o momento .
A lágrima que derramo é mais sofrida que a tua?
Será tua cruz mais pesada que a minha?
Perguntas e sofrimentos buscam suas respostas.


-¿Por Quien si levantan las cruces
Olho nos olhos de todos Vocês,
Busco a dor que se iguale a minha,
Nenhuma dor é igual a outra.
Nenhuma dor sangra mais que a outra
Ainda que a tua cruz seja mais pesada que a minha,
É a minha que me faz sangrar.


-¿Por Quien si levantan las cruces
Eu me pergunto em todo momento.
Olho nos olhos de todos vocês,
Em cada um vejo uma cruz diferente,
Sangro um bocado por cada uma delas,
Sangro mais por aquela a qual carrego.
As cruzes se levantam por todos nós, afinal!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

SONETO DA NOITE ENAMORADA!


E eu estarei sempre olhando o céu e as estrelas,
Deixando meu olhar às sombras se mesclar
Porque sei que tu amas intensamente a noite,
E se é a noite o teu ambiente é nele que quero estar.


Eu estarei dentro da noite, eternamente!
E se for o teu desejo, o de algum momento me buscar,
Olhe profundamente nos negros olhos da noite
Eu estarei lá, meu amor, a te querer, a te aguardar!


Aprender a te amar foi a maior das maravilhas,
E todas minhas dores não pagaram este sentimento,
O amor é mesmo maior que qualquer sofrimento.


Aprendi que amas melhor assim, distante e na noite!
Aprendi que amo melhor assim, platonicamente!
Deixando que meus lábios de beijos, a noite açoite!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

SONETO DA MEIA NOITE


À meia noite, foi quando chegastes,
Trazia no olhar o desejo de amor,
No corpo a estiagem de meus beijos,
Teus lábios sedentos clamaram: Por favor!

Abri meus braços, então!
Abri meu coração, então!
Cravastes teus desejos neste corpo teu!
Tua sede de amor não é maior que eu!

Não entendo por que partes.
Se sozinhas, és metade de um ser.
A felicidade precisa de dois para viver!

Ah, amor! Que estranha maldição és tu!
O aguilhão que fere mortalmente,
É o mesmo que dá vida novamente
!

sábado, 17 de novembro de 2007

LIMPANDO OS PECADOS DA HUMANIDADE


Aguardaram que eu dissesse algo importante, algo que mudasse o mundo, que colorisse o futuro, que removesse as manchas do passado como se o passado fosse uma vidraça que pudesse ser limpa com um pano e álcool.
Eu não sou mesmo tão poderoso assim.
Mal consigo me defender dos meus próprios erros que me acusam todo o tempo.
Não consigo criar outras possibilidades para meus próprios fracassos.
Tudo o que tenho de belo é uma retórica perfeita de auto-compaixão.
Ultimamente, tenho gasto tempo sentindo piedade de mim mesmo, não tenho mais lágrimas para chorar as dores dos outros.
Viram! Estou mesmo um fraco.
Como podem me pedir uma palavra que possa mudar alguma coisa neste mundo enlouquecido?
Vou dizer para não construírem bombas atômicas, se eles não se preocupam com a fome dos miseráveis?
Vou dizer para pararem com pensamentos de conquistas espaciais se eles sequer conhecem seu semelhante?
De que vale buscar as estrelas, diria, se não conseguimos alcançar nosso próprio coração?
Poderia falar de natureza, mas esta gente toda acha que desenvolvimento econômico e natureza são palavras inconjugáveis em comunhão.
(Eles sequer sabem o que é comunhão....)
Não me peçam para falar nada que possa mudar o mundo, estou infeliz.
Não domino mais meus sentimentos, meu destino.
A desilusão pela vida e pelas pessoas ronda minha porta.
Para que tivesse a arrogância de mudar o mundo, teria primeiro que mudar a mim próprio, penso que essa é a grande receita afinal.
Porque não percebo em ninguém esta capacidade de criar um discurso que possa alterar alguma coisa.
Estamos todos tão preocupados com nós mesmos...
... E isto me entristece, não gostaria mais de ter pensamentos puramente egoístas!
Então, vou pensar primeiro em um discurso para mudar o que é necessário em mim.... Vou resgatar minha humanidade perdida!
Quem sabe, será o primeiro passo que darei para mudar o mundo!

sábado, 10 de novembro de 2007

ORFEU E EURÍDICE


Orfeu (descendo do morro para a cidade [o inferno])


"Não dou daqui, sou do morro. Sou o músico do morro. No morro sou conhecido - sou a vida do morro. Eurídice morreu, desci à cidade para buscar Eurídice, a mulher do meu coração. Há muitos dias busco Eurídice. Todo mundo canta, todo mundo bebe; ninguém sabe onde Eurídice está. Eu quero Eurídice, a minha noiva morta, a que morreu por amor de mim. Sem Eurídice não posso viver. Sem Eurídice não há Orfeu, não há música, não há nada. O morro parou, tudo se esqueceu. O que resta de vida é a esperança de Orfeu ver Eurídice nem que seja pela última vez".


Orfeu da conceição - Vinicius de Moraes

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tributo à Edith Piaf

Ela chegou por um acidente cinematográfico em minha vida.
Quando estava assistindo ao filme "O RESGATE DO SOLDADO RYAN", do Spielberg, chamou-me a atenção a música que os soldados americanos escutavam enquanto esperavam a máquina de guerra alemã para a batalha que, todos eles sabiam, seriam a derradeira. A morte era certa. Alguém encontra um vinil naquela vila francesa, o coloca num sistema de som e eis que a mágia acontece. Fantástico!
A visão daqueles quatro homens, em uma atitude tranquila à espera da morte escutando Edith Piaf é qualquer coisa de absurdamente belo se visto além da tragédia se mostra à primeira visão, uma visão menos sentimental e sensível. A música e a voz de Edith Piaf nos envolve, sugere, encanta, nos toma pelas mãos e parece nos apontar com seus dedos instigadores e virtuais para a crueldade daquele momento ao mesmo tempo que o pacifica. É como se aquele instante todo as vidas dos quatros soldados fossem uma pintura e a música de Edith Piaf a moldura. Congela-se a expectativa dos bravos, na tela; congela-se nossas respirações e sensações na platéia.
Naquele instante apaixonei-me por Edith Piaf e seu "Non, je ne regrette rien" e "Ne me quitte pas", apaixonei-me por um tempo onde músicas eram feitas de letras com conteúdo e com a voz e o talento dos artistas, ao contrário deste saco de gatos metalizado e robótico que escutamos hoje.
Este post é tão simplório. E Edith Piaf está muito acima disso. Para aqueles que me leiam, perdoem-me, sou pequeno e escrevo como pequeno, portanto, não prestem atenção neste amontoado de vocábulos em andrajos que tentam a todo custo se segurarem em uma frase maltrapilha. Edith Piaf mereceria que as palavras vestissem fraque, smoking e todas essas similaridades que, de forma exógena, enobrecem o homem. Assim, não atentem para o texto e vejam, como eu vi na cena do filme comentado, além do que se mostra. Vejam a minha emoção e minha completa devoção a esta extraordinária artista. Por este prisma, é provável que conheça Vosso perdão por arriscar a escrever sobre Edith Piaf.

sábado, 3 de novembro de 2007

ESPERA


J. G. de Araújo Jorge


Se tivesses mandado uma palavra - "Espera"!
Sem mais nada, nem mesmo explicado até quando,
Eu teria ficado até hoje esperando...
- Era a eterna ilusão de que fosses sincera -
Que importaria a vida, o sol, a primavera,
Se eras a vida, o sol, a flor desabrochando?
Se tivesses mandando uma palavra
- "Espera"!Eu teria ficado até hoje esperando...
Não mandaste. Tu nada disseste, e eu segui,
Sem saber que fazer da vida que era tua,
Procurando com o mundo esquecer-me de ti
E afinal o destino, irônico e mordaz
Ontem, fez-me cruzar com teu olhar na rua,
Ouvi dizer-te, "Espera" e ser tarde demais!

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Missão Cumprida, Dani!!!!

A idéia foi da Dani Kopsch!
A proposta era simples, pegar o primeiro, o primeiro livro que houvesse à sua direita e ler a 5ª frase da página 161.
Ora, de minha parte, não haviam livros ao lado direito, mas havia do lado esquerdo e peguei o primeiro que botei os olhos: Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, um pocket Book lançado pela Editora Globo em 1997.

Resgatei a frase sugerida:

- Pregar uma peças destas a mim! – repetia constantemente o Arquichantre. – A mim!

Não sei se a missão está inteiramente cumprida e se o foi com galhardia. Entretanto, um pedido da Dani deve ser sempre respeitado e procurei dar o melhor de mim nesta tarefa.

Gostaria que fosse uma frase mais emblemática, que mudasse espíritos, pois somente com mudanças de espíritos ocorrem as verdadeiras revoluções.

Se queres você também, que ora me visita, entrar nesta brincadeira para lá de interessante, faça isso também, poste a 5ª frase da página 161 do primeiro livro que houver à sua direita.
E nos avise, para que possamos lê-la e aprender um pouco com a eventualidade deste achado!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

VIDAS ENQUADRADAS – Parte I

por Daniela Kopsch, direto de Curitiba/PR

Uma noite nunca é silenciosa no centro de Curitiba. Quando o barulho da rua parece diminuir e ouve-se apenas eventuais sirenes, é o vizinho que briga com a mulher ou o bebê que chora. É à noite que todo som tem um significado diferente, uma história a ser contada. A causa da sirene, do choro, da briga.
Em frente à minha janela tem um prédio de dez andares de janelas amplas. A maioria dos apartamentos não tem cortinas, o que os tornam palcos para uma pessoa curiosa.
A primeira janela mostra um casal assistindo TV. Mesmo com a luz apagada, a televisão ilumina a sala com um tom azulado que vai variando e absorve a atenção dos dois. Não pronunciam uma palavra. Parece que já não há mais o que desperte curiosidade um no outro. Acabou o motivo da conversa, a não ser que o programa seja mesmo muito interessante.
Na janela ao lado há vários jovens ao redor de uma mesa. Talvez joguem baralho ou algum jogo de tabuleiro. Enquanto um deles pula e parece gritar, o som de “truco” quase chega aos meus ouvidos. Somente em dois andares abaixo encontro movimento. Uma moça alta vestindo pijama anda pelo apartamento sem parecer muito ocupada. Me identifico de imediato. Sempre sozinha e sempre vagando pelo apartamento em busca de ter o que pensar. Logo ao lado há outra mulher, gorda e com idade avançada. Parece nervosa teclando num computador. Imagino se seria uma profecia do futuro da jovem de pijama. Sozinha teclando com alguém que acredita falar com uma loira, alta, de olhos azuis e 20 anos. Mesmo assim ela ainda pode estar só digitando uma monografia.
No último apartamento com movimentação há dois rapazes na janela. Possivelmente entediados. Provavelmente vendo a luz vermelha da minha câmera. Talvez pensando o mesmo que eu. Observar a vida de outras pessoas enquadrada pela câmera é muito útil para quem não tem mais o que fazer, ou não quer enfrentar o que tem dentro da própria janela.


Post Scriptum: Foto: Tela de Salvador Dali

"Obra de arte em imagem emoldurando uma obra de arte em texto"

VIDAS ENQUADRADAS – parte II


(a partir de um pensamento de Daniela Kopsch)

A cadeia é silenciosa a partir de algumas horas da noite, e este silencio é ainda mais angustiante que a algazarra e os alvoroços do dia. A cadeia dói na alma dos presos, durante o dia, mas dói muito mais durante a noite, quando os pensamentos dos internos se elevam para deuses surdos, quando seus olhos se voltam para horizontes limitados, quando seus ouvidos escutam apenas o som de suas próprias lástimas.

Estou atento em meu posto, nestes instantes. Sou um dos atalaias que vigiam, que tenta filtrar deste silêncio os sons que denunciam os maus pensamentos. Sou feito para que seus deuses continuem surdos, para que seus horizontes continuem ainda mais limitados e, se der, que as lástimas sejam atenuadas ou substituídas. Na clausura, as novas lágrimas parecem ser menos sofridas que as antigas.

Na cadeia, tudo é quadrado. Prédios quadrados, janelas absolutamente quadradas, vidas enquadradas, sentimentos quadrados, se é que me entendem? Num desses eqüiláteros, um homem fuma seu cigarro demoradamente, absorto no tempo, o tempo esquecido dele. Em um outro, um jovem (juventude perdida!) grita uma blasfêmia qualquer, o eco parece devolver o xingamento – Deus! Nem mesmo os ecos respeitam essa gente! Um estuprador derrama uma lágrima, depois da milionésima, na cadeia, eles são santos e castos. Em outro enquadramento, o homicida arrota sua arrogância, num reino que cultua a violência eles são reis.

Em outro quadro, alguém assovia uma triste canção. Parece querer que o som espante sua tristeza. A infelicidade é feita de silêncio, a alegria necessita de som para sobreviver. Aparências, nada mais que aparências, elas são necessárias neste lugar, sobre elas estão as bases desta consciência enclausurada.


Um espelho salta para fora de uma janela e busca a mim em seu reflexo. O reflexo me vê, atento, vigilante. O espelho se vai, frustrado, recolhendo-se para uma outra oportunidade.
Não será ainda desta vez, eu penso!
Não será ainda desta vez, eles pensam!
E a vida de todos nós continuará enquadrada por mais algum tempo!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

BREVE FILOSOFIA SOBRE VIDA E FUTEBOL


Futebol sempre foi uma coisa importante para mim. Sei disso porque ele nasceu em minha consciência antes mesmo que ela própria. Como se explica numa família de santistas fanáticos eu nascer palmeirense, sem qualquer incentivo, sem qualquer história que explique essa paixão. O Palmeiras nasceu em mim antes da própria consciência. E, por amá-lo tanto, transformei as peladas no meu grande divertimento de infância. Elas aconteciam em todos os lugares da pequena cidade. De repente, era sempre a mesma história, aparecia um vindo não se sabe de onde, trazendo uma bola debaixo do braço, chegava outro e outro, e uma pequena multidão de guris alvoroçados se formavam em torno da bola e de seu soberano, o proprietário – nestas horas, a bola era uma Julieta e a gurizada duas dezenas de Romeus sedentos de amor por ela.
Eu sempre estava pelo meio, futebol nasceu em mim, já disse, antes de outros prazeres. Esse fantástico jogo me ensinou a ver a magia e a arte que existe no jeito de viver. Muitos valores aprende-se ao se jogá-lo e eu os entendi todos num primeiro momento, quando abracei uma dezena de amigos valorosos depois de fazer meu primeiro gol. E meus gols eram raros, nunca fui o craque que foi o Ademir da Guia ou o Evair, compensava a falta de habilidade com determinação e transpiração. Era uma espécie de Dudu do time, bastante piorado. Em nenhuma outra área da vida, acreditem, a transpiração pode compensar a falta de inspiração, somente no futebol, talvez por isso seja tão apaixonante. Em nenhuma outra parte o suor pode ser comparado à técnica e a magia, nenhuma outra coisa inventada pelo homem é tão democrático: pretos e brancos são rigorosamente iguais; ricos podem valer menos que pobres; o baixo tem tanto valor quanto o alto; e um gorducho pode ser o melhor do time.

A vida devia ser feita do jeito que se faz dentro de um campo de futebol, com suas regras simples, oferecendo as mesmas possibilidades para todos, onde a competência determina realmente o vencedor e onde as armas de cada time, ainda que inferiores as do adversário, podem ser suficientes para que se atinja os objetivos: a vitória. A vida devia mesmo ser igual a um jogo de futebol....O tempo já vai longe e as “peladas de futebol” ficaram para traz em minha vida real, mas eu as revivo todos os dias, quando recosto a minha cabeça num canto qualquer e fecho os olhos por um momento, então, eles surgem todos, vindos de dentro de meu coração saudoso, velhos amigos que comigo derramaram suor e alegria sobre campos de terra. Lembro da velha camisa do Palmeiras bastante surrada, um velho calção branco encardido de tanto se esfregar no chão, e o coração sorrindo feliz por amar o Palmeiras e o futebol.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

DOZE ALVORADAS E UMA DÚZIA DE CREPÚSCULOS

A cadeia possui seu próprio tempo, tempo sem hora, hora sem tempo, letargia das horas, um lugar onde a relatividade não exerce sua força de lei, a cadeia é um lugar onde um segundo vale por sessenta, para mim, para você, para todos nós, feito marionete nas mãos de deuses preguiçosos que se divertem na platéia desse grande teatro.
Porque o tempo somente encanta quando embebido na liberdade, quando você o enclausura dentro de um limite, ele perde seu sabor de néctar dos deuses e ganha um gosto amargo de fel – o fel das grades, de clausura, da grande e inativa espera pela liberdade.
Ah, Liberdade! Disseram que és um delicioso vinho que as pessoas não sabem sorver com recato e se perdem imiscuídas em seu sabor encantador, embebedando-se.
Oh, lugar estranho! Seus dias são desleais! És um mundo de obscenidades, de bizarrices inexplicáveis, suas doze alvoradas rompem sua placenta de ferro marcando as duas únicas horas de um dia de sol, uma dúzia de crepúsculos marcam uma noite de vinte e duas horas sem estrelas. No sol ou nas trevas, o único companheiro dos habitantes desse universo é o sonho, o sonho de bebericar desse doce vinho, fermentado em seus próprios sonhos, envasado no barril de seus desejos. Sair...voar para a realidade!
E todos eles têm medo da realidade, mas como ela é atraente, essa grande e bonachona meretriz! Serve-os em seu cálice de enganos o doce vinho da liberdade e convida-os para fazer amor, tolos, tolos, tolos aqueles que se enredam nestas armadilhas, o destino é realmente o maior de todos os engodos.
Quais sonhos que restaram para eles sonharem?
Esta prostituta levou todos eles....o que farão com sua taça de vinho?
Oh, lugar ingrato! És um limbo no tempo, és um universo paralelo, suas horas são contadas através de rotinas, um mundo órfão de mãe e pai, um templo para um Baco segurando a sua taça de vinho inebriante estendendo-a de forma zombeteira num oferecimento depravado e fácil sem nunca entregar...Sorria, Baco, gargalhe enquanto podes. Um dia a taça lhes será entregue e então, eles voltarão para a realidade, para fazer amor com esta concubina de toda a humanidade. De alguma forma, então, serão novamente senhores de seu tempo (e o tempo tem senhor???) e o tempo ganhara o seu poder de relatividade, como deve ser, com os segundos tendo o seu tamanho exato, uma alvorada e um crepúsculo num dia de vinte e quatro horas, sem a quantidade de auroras e ocasos do mundo da cadeia, mas com a poesia que esses momentos oferecem.
Talvez esteja ai a grande receita para sorver o vinho da liberdade – um gole pela manhã, outro a noite, com equilíbrio constante. A liberdade é uma bebida como outra qualquer, tem de ser bebida com moderação. E ao aprender a beber deste vinho, aprenderão que a realidade não é assim tão vadia, ela pode amar com a dedicação e a fidelidade de um grande amor.....

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

MEDITAÇÕES!!!

Fragmentos do diário NUNCA escrito por mim

Saco!!!!!!!!

Esterilidade nos pensamentos!
Esterilidade na imaginação e na criatividade!

Se a terra está estéril como se adubar textos?????

sábado, 15 de setembro de 2007

SONETO DE AMOR E SAUDADE!

Lembrei-me de você por um instante,
Um lampejo, um breve instante no tempo,
Suficiente para saciar minha sede de você.
O amor deve ser maior que um momento!


Mas o que é o amor realmente?
As pessoas correm atrás de conceitos feitos,
Definições bem escritas e ajustadas.
Prefiro amar sempre desse meu jeito.


Não sei se é o jeito politicamente correto!
Não busco harmonizar-me com a sociedade,
Meu amor vai além do amar por vaidade.


Amo-te....simplesmente! E quando digo
Que amo-te em um momento de saudade,
Lembre-se! Esse instante é a eternidade!

domingo, 2 de setembro de 2007

A VERDADE MINHA DE CADA DIA!!!

No blog, havia pensado em deixar somente as crônicas, como seu foco principal. De repente, me vi postando diversos textos outros, os fragmentos do meu cotidiano, as coisas que capturo observando a vida. Sei lá....comigo é tudo assim mesmo, a verdade de hoje não deve ser escrita como manchete amanhã! Invejo, de alguma forma, aquelas pessoas que sabem o que realmente querem, em todos os sentidos. Não sou assim, a inconstância é meu signo, a insegurança uma colega. Algumas amigas me disseram que isso me deixa fascinante, alguém interessante, pois meus caminhos são sempre inéditos (?!). Não sei se isto é verdade....não sei... Minhas amigas são suspeitas em tudo o que dizem sobre minha pessoa, são generosas, e a generosidade pode comprometer sua isenção sobre estes comentários.
A verdade de hoje é que vou postar tudo aquilo que me der vontade, não vou transformá-lo em um diário pessoal, não vou entupi-lo com minhas poesias, não vou reproduzir as crônicas já publicadas em outros sítios e somente vou postar aquelas mensagens que realmente tragam uma mensagem edificante....pelo menos, não vou fazer somente uma dessas coisas! Isto tudo até que eu perceba uma nova idéia, um novo sentimento, um novo caminho....Viva a minha eterna inconstância!
Esta é a verdade de hoje, contudo, não se esqueçam, amanhã é outro dia!

domingo, 26 de agosto de 2007

PARABÉNS PARA VOCÊ!!!!


Este post mereceria uma atenção ainda mais que especial, contudo, acabei de chegar do plantão e estou cansadíssimo.


Mas não posso deixar de registrar o meu Parabéns para a SOCIEDADE ESPORTIVA PALMEIRAS, o clube de futebol que ganhou meu coração.


Para alguns, futebol é algo trivial, não para mim, que adoro este esporte e vibro com as vitórias e as derrotas de meu time.


Até posso concordar com Drummond quando disse que aqueles que não conhecem e não gostam de futebol, a estes, unicamente a estes pertence o reino da tranquilidade.


Não para mim, não conseguiria viver sem as euforias e as frustrações que meu clube proporciona, ele é parte de mim, eu sou parte dele!


Obrigado, Palmeiras, pelas alegrias que me destes, pelos inumeros amigos que me deu e por estar todos os dias presente em minha vida.


Sociedade Esportiva Palmeiras, 26/08/2007, 93 anos de alegrias!!!!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O HOMEM QUE NUNCA EXISTIU...

...E, de repente, não mais que de repente, estava só, como sempre esteve, aliás, só do mundo, só das ridículas coisas triviais que constroem a vida de um ser humano comum, só em si próprio. Há muito que andava pensando em sua existência pacata e pequena, limitada a um restrito espaço da periferia do sucesso. Era do tipo que poucos queriam ver, usando um eufemismo para ninguém. Suas idéias eram ocas, vazias de brilhantismo, efêmeras em inteligência, natimortas na capacidade de chamar a atenção. Quando falava, ninguém lhe ouvia. Quando qualquer um falava, escutava com a dedicação dos miseráveis, faminto pelas migalhas caídas da mesa da amizade. Seu andar era arrastado, levava todo um mundo de desejos insatisfeitos e solidão às costas. Sua tristeza parecia endógena, traduzindo-se e refletindo-se de um mundo ao qual queria pertencer, mas não lhe conhecia.
E, de repente, não mais que de repente, quando sua última película de existência enterrou-se neste atoleiro que é a solidão, quis se matar e descobriu mil formas de faze-lo, das mais simples às sofisticadas; das de formas limpas àquelas com requintes de barbárie. Queria-se morto! Ser percebido, ser comentado, quem sabe uma lágrima, uma única lágrima para si, uma vez na vida, o mundo que não o conhecera vivo, o reconheceria morto. Não conseguiu...Em seu caso, suicídio significava dignidade e a dele, esta qualidade que freqüenta os grandes homens, fora embora de mãos dadas com a sua auto-estima e as virtudes, todas em desabalada carreira fugindo desesperadas da consciência de um ser humano que nascera para o ostracismo social.
Mas um dia de repente, não mais que de repente, ganhou uma fortuna em dinheiro. Não se sabe ao certo de onde o dinheiro apareceu, o fato é que ele estava lá, um monte de dinheiro, e isto, a grande quantidade, torna a sua origem irrelevante para as pessoas. Os pés sujos da fortuna são sempre ofuscados pelo corpo exuberante da riqueza. Sendo rico, nasceu para o mundo que o conheceu, o acolheu num longo e delirante abraço. O dinheiro é um excelente cosmético para a mediocridade.
E, de repente, muito de repente, era convidado para festas e recepções, participava de jantares maravilhosos e suntuosos, riam de suas piadas insossas, adoravam sua presença recheada de indiscrições e indelicadezas. Tornar-se-á querido, respeitado, necessário, tratado como um “parvenu*”, um homem de estirpe e sangue azul. Foi feliz o quanto se pode ser nestas situações onde a felicidade é fugaz, onde a falsidade exerce soberania singular. Mas nisto, sua mediocridade o ajudou. Afeito aos seus poucos atributos físicos e morais, a notoriedade luxuriante e corrompida que o dinheiro lhe deu foi suficiente. Talvez tivesse percebido isso, mas se o fez, não deixou transparecer. Não possuía a felicidade, o máximo que tinha era um arremedo dela, e para quem um dia sequer existiu, o nada era muito. Tudo o que queria era ser bajulado pelas pessoas, ainda que estas fossem tão medíocres quanto ele próprio.
Foi feliz, enquanto o dinheiro durou....E isto, não passou de um repente, não mais que um repente...

* PARVENU: do francês, filho da fortuna.

domingo, 12 de agosto de 2007

MAIS UMA SOBRE POEMAS




Meus amigos me escreveram para falar de poemas....
Como se os poemas fossem realmente tão importantes...
Os poemas não são mais importantes....
Importante é a queda da bolsa e a ultima crise econômica mundial!

Sou um perdedor na vida,
Não porque não sou rico e nunca o serei!
Isto é uma grande besteira sem igual....
Sou um fracassado por que entre o feijão e o sonho,
Esqueci do sonho e fiquei com o prato de feijão!

Agora, voltei novamente a ter dúvidas,
Afinal esta história era algo que tinha posto um fim.
Tinha dito não aos poemas porque, de alguma forma,
Eles teriam dito não a mim!?

Mas meus amigos abriram-me os olhos!
Oh! Bendita seja Vossa persistência, amados!
Chamaram-me a atenção para o sonho – novamente!
E o sonho é um dos atalhos para os poemas!
E o sonho é um dos atalhos para o amor!

Assim, voltei a pensar em amor, novamente,
Como pode ser isso, achava-me morto para essas coisas?
Poemas e amor andam de mãos dadas.
Se pelos sonhos procuro poemas (de novo!),
Pelos sonhos procuro novamente o amor!

E, que venham os poemas....e o amor!
Com novas faces....
Com novas formas....
Com novos sorrisos em suas caras...
E me façam novamente escrever poesia....
E me façam novamente amar!

Não estou sendo muito exigente,
Com poemas,
Com amor.
Tudo o que quero é escrever poemas....
Tudo o que quero é amar!

- E, depois, comer um bom prato de feijão!!!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O VENDEDOR DE SORRISOS

Dedicada inteiramente ao sábio amigo e artesão Aristóteles (Vicentina-MS), o fantástico vendedor de sorrisos.

Apanhou o amigo como colhe uma rosa! Com alegria, satisfação em estar por perto, em poder servir de alguma forma. A generosidade é mesmo a mais nobre entre todas as qualidades humanas. Passou com o carro algo apressado e detectou o amigo a um canto da estrada, com o olhar esquecido de si mesmo, com a auto-estima escorregando como enxurrada pelos esgotos de um cotidiano sofrido. Parou e deu marcha a ré, abriu a porta do automóvel e com um sorriso autêntico convidou-o para entrar.
Seguiram em frente, mesma direção, histórias diferentes, destinos diferentes. Ele falou entusiasmado de seu trabalho com a fabricação de brinquedos, falou das dificuldades, de como as pessoas não valorizam mais o artesanato. Parece mesmo, confessou, que as pessoas esqueceram o valor de um produto inteiramente feito por mãos humanas, entalhado na madeira, com amor, com carinho, com um sorriso nos lábios. Olhou de soslaio para os brinquedos e insistiu na conversa. Porque um brinquedo, quando fabricado por um artesão, disse ao amigo carona, é feito para fazer uma criança sorrir, ele nasce com essa vocação, ele nasce com essa missão. A alegria do artesão não é somente vender, é ver a face satisfeita do comprador, da criança que recebe o mimo. Tem as máquinas este poder? A pergunta ficou no ar, sem a resposta dita, mas encravada na consciência e no olhar de cada um dos homens.
Ele falou de vida, de como consegue viver com pouco, de como são simples os seus sonhos, porque a vida é mesmo simples. Vida simples, sonhos simples, felicidade simplificada. Equação fácil. Sorriu, sentindo-se filosofando. As coisas parecem tão óbvias quando ditas com a confiança que a sabedoria promove.
O carona o ouvia atentamente, como o aluno que escuta o mestre, como se estivesse numa ágora grega para ouvir os grandes filósofos. Sentiu-se pequeno diante de toda aquela simplicidade exultante, daquele olhar sábio em enxergar a vida e suas ramificações. O carro devorava a distância, o tempo se perdia no limbo das horas, com o olhar fixo na estrada e no amigo ouvia as lições e procurava seu entusiasmo no meio da poeira de seus problemas. Insignificante era sua dor, pois sua dor não era algo tão grande assim se comparada a todas as outras tragédias humanas. Sentiu vergonha de se achar infeliz tendo um corpo saudável, a barriga cheia, inteligência, um emprego fixo e algumas possibilidades de escrever destinos diferentes para si mesmo. Quantos, pensou, que não tem essa possibilidade de poder escrever sua própria história?
O homem parou em frente ao seu trabalho. Sorriu com felicidade redobrada, teceu meia dúzia de elogios para ele e o convidou para almoçar qualquer dia desses, em sua casa. Deu-lhe um cartão com um telefone e cobrou um contato a qualquer hora dessas, os amigos, decretou, tem que estar sempre juntos.
Partiu! Partiu como faz o sol quando cumpriu sua missão natural de doar-se sem cobranças, assim ele o foi, uma força da natureza pronto para ajudar, para contribuir, um homem bom e generoso!
O carona ficou ali por um breve momento, olhando o carro afastar-se na distância, já sentindo saudades da sabedoria do colega. Os brinquedos foram sacolejando euforia, órfãos por enquanto de uma criança que os fizessem seus. Mas, o entusiasmo do vendedor de sorrisos, certamente, encontraria para cada um de suas criações em madeira o dono certo, um brinquedo para fazer sorrir mais uma criança neste velho mundo de lágrimas.
O carona foi-se embora, andando devagar, em algum lugar de seu coração o otimismo e o entusiasmo brotavam verdes como brotos que florescem em meio a uma terra árida recentemente irrigada.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O REI NEGRO E O DIVINO BRANCO

O tempo desta história não existe e se existe, existe apenas na cabeça daqueles que sonham, tempos onde camisa e jogador se confundiam.
“Seo” João sempre foi uma pessoa apaixonada pelo futebol, pelo bom futebol, cresceu santista, fascinado pelas jogadas do Rei Negro.
Eu era guri quando ele me contou esta história, e seu entusiasmo ao contá-la, só não foi menor que o meu, ao ouvi-la.
Ele não acreditava na história de que havia no Palmeiras, um branquelo que jogava tão bem quanto a Pelé. Diziam que ele era mágico, pois apesar de lento, desafiava tempo e espaço e sempre chegava na frente; era habilidoso com a bola nos pés e o maestro de todo o time da Academia – diziam até que seu apelido era divino. “Seo” João achou uma heresia dar o nome de divino a um mortal, e, ainda mais, um qualquer. Somente Pelé merecia tal distinção. “Seo” João, incrédulo, disse-me que sorria destas invencionices.
Um dia, o Palmeiras veio com o time todo da Academia jogar numa cidade próxima a do “Seo” João, e ele foi lá: “Vou ver com meus próprios olhos se esse branquelo joga alguma coisa mesmo!” Ia armado de uma sacola de críticas pré-concebidas, o olhar treinado para depreciar qualquer jogada de Ademir; as palavras todas ensaiadas para uns xingos. Ademir já entrava em campo condenado previamente pelo “Seo” João, ele confessou-me isso.
A partida começou, o time da casa derrubava suor e sangue para marcar os guerreiros verdes. Com poucos minutos de jogo, Julinho escapou pela direita e deu um centro para a grande área, Vavá olhou fixamente para o capotão e no momento certo subiu testando forte, a bola explodiu no travessão e voltou para o meio da grande área. O zagueiro assustado, mirou para onde o nariz estava virado e deu uma bicuda para o alto, no velho estilo Viva São João, expulsando o perigo de gol eminente. A bola subiu feito um foguete, conta “Seo” João, o brilho dos olhos ainda guardando toda a admiração original e foi em direção ao meio campo, indo na direção do tal branquelo. “Seo” João disse que sorriu naquele momento, antevendo um fracasso no movimento de Ademir da Guia. “Esse ai!” pensou, “Não vai saber o que fazer com a bola!”.
Ademir no meio campo era uma estátua em mármore. Olhou para os lados, parecia onisciente, parecia controlar tudo a sua volta, o movimento do ar, o tempo da bola, seus traços estavam impassíveis quando dominou “o couro” que caia em velocidade vertiginosa. Ele ergueu a perna direita e a bola desceu colada aos seus pés, acariciada. Ela ficou quietinha à sua frente, falou-me “Seo” João. Nunca havia visto algo parecido. A bola não tinha vida própria, obedeceu ao homem e ao seu comando como se somente a ele pertencesse. Aquela matada, nem Pelé faria igual. Depois, driblou o primeiro marcador, tocou para Servilio que devolveu prestativo. Ademir era soberano, o estádio todo em silêncio, escutava-se as suas pisadas leves no gramado. Meteu um chute em rosca e a bola morreu no canto superior direito do goleiro que esticou-se todo e pulou como um gato. Mas não tinha jeito, a bola era de Ademir e somente a ele obedecia. Um golaço!
“Seo” João ficou em silêncio por um momento, seu olhar entretido com as lembranças que acariciavam sua consciência e sentenciou: Ademir da Guia era divino...pertencia aquela classe de jogadores que entendiam o jogo e o dominavam. Se houve um dia em que eu me arrependi de ter entregue meu coração ao Santos, foi naquele, diante daquele time esplendoroso. Daquele jogo em diante, o coração continuou pintado em preto e branco, mas lá no fundo, um pedacinho ficou verde e sempre ficou!
Fui-me embora, sonhando com tempos que não mais existem, e se existem, existem somente na cabeça daqueles que sonham.... Orgulhoso de ser palmeirense! Obrigado “Seo” João!!!

terça-feira, 3 de julho de 2007

O HOMEM DO JARDIM


Uma rosa floresceu com a alva, toda oferecida para flertar com o orvalho. O jasmim, de noite, enamorado da lua perfumou-se todo para chamar sua atenção. A grama vestiu seu traje mais reluzente. Os pingos d’ouros asseados, unhas bem cortadas, eram as muralhas a guardar o harém florístico. Um reino em flora a esperar seu senhor!
E quem era o senhor daquele jardim?
Quem era o homem que com seu toque de Midas para a natureza, acariciava as rosas e beijava as tulipas, conversava demoradamente com as margaridas, flertava com as hortênsias e cochichava segredos para os cravos e afiava as espadas de São Jorge?
Quando no jardim, era um homem delicado e dedicado. Amava aquele ofício que transcendia as questões de remissão de pena. As plantas mostravam-lhe o quanto era importante, o quanto ele era necessário. As plantas o amavam, e ele amava as plantas – um amor entregue, sem sacrifícios fúteis, buscas oportunas ou pedidos interesseiros, o amor pelo amor, simplesmente.
Porque, na verdade, detestava o amor dos homens. Amor insano, imperfeito, de duplas intenções. Os homens davam e pediam algo em troca: sua vida; sua submissão; às vezes, sua honra; sua dignidade, sempre.
No jardim, entretanto, as manhãs eram festas plenas. As plantas esperavam-no como aguardavam o sol, com sua melhor roupa, com seu melhor aspecto, com o melhor dos eflúvios.
No jardim entre as plantas, sentia-se importante. Sua decisão era respeitada e acatada, pois todas elas sabiam que tudo o que ele fazia era para o bem delas. Uma democracia, que funcionava de verdade, onde a maioria era privilegiada e jamais, jamais, deixou que suas vontades pessoais sobrepujassem o interesse do jardim. Como poderia? Ele era parte do jardim, a parte mais feia e, ainda assim, com sua importância. Ele aprendeu isso no jardim, na natureza que o rodeava. Somos todos partes de um grande ser chamado PLANETA TERRA e todos nós somos importantes, todos precisamos uns dos outros para sobreviver, ninguém é mais importante que o outro.
Os homens não entendem dessas coisas, os pulhas!
Mas não queria mais pensar em homens. Eles não têm a pele aveludada como as rosas e suas pétalas; seus cheiros são fétidos; não possuem cores vibrantes. Seres desprezíveis, os homens. Alguém lhe disse que na biblioteca da cadeia tinha um livro que falava de um homem que ao acordar pela manhã havia se transformado em um inseto. Isto! É isto que os homens são, insetos!
De repente um grande barulho de portões se abrindo tira-o de seus pensamentos. Surge por entre a muralha de ferro uma linda jovem. Ela sorri e o cumprimenta gentilmente.
Ele retribui o sorriso, corta uma linda rosa e a oferta para a moça. Ela agradece, educadamente, e vai embora algo satisfeita com o mimo.
Ele deixa o olhar entreter-se nela até perder-se com ela nos corredores da Unidade Penal. Ele controla um impulso... Selvagem... Um desejo a muito sufocado luta para renascer. Um desejo animalesco, que tira dele o que ele tem de pior, um desejo que somente aplaca-se com sangue...sangue alheio. Os homens são mesmo desprezíveis, pensa, só servem para adubo. Uma rosa chama sua atenção, volta-se por completo ao jardim...enquanto isso, algo dentro dele se acalma...se acalma...adormece...e dilui-se junto com a água que irriga o belo jardim da cadeia.

sábado, 23 de junho de 2007

PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE A CADEIA

Como sempre, lá estava ele, em seu posto, atento. Olhava a tudo e a todos, em suas celas, todos os movimentos dos reclusos cuidadosamente estudados. Observava um velho senhor negro, cabelos brancos, tomando um banho demorado, ensaboando-se com tamanha vontade que parecia querer tirar todos os pecados do corpo com água e sabão. Na cela inferior, um jovem mal-encarado fumava absorto, pensando na vida, tentando encontrar outros culpados para pecados exclusivamente seus. Em um outro cárcere, um rosto apareceu na janela e gritou uma blasfêmia qualquer. Desabafava suas agruras e tristezas para si próprio, para todos os deuses surdos que o escutava. Um outro qualquer comia o restante do conteúdo frio de sua marmita com relativo prazer, na cadeia a fome é o melhor tempero.
A cadeia é silenciosa à noite, a melancolia monta guarda na madrugada da penitenciária. Pode-se ouvir os passos dos agentes no grande corredor central, o guinchar dos ratos no jardim, os sons da longa noite de insônia dos prisioneiros. Pode-se descortinar alguns sorrisos aqui e ali, mas não se pode dizer que há alegria suficiente neles para mover os moinhos da felicidade. Sorri-se, invariavelmente, para esquecer a dureza de um ambiente onde todos na verdade gostariam de estar longe. A cadeia é um local de aparências, cortinas abstratas escondem as verdades que estão sepultadas nestes endurecidos corações humanos. A tristeza veste sorrisos fantasiando uma alegria que não existe. O ódio dissimula-se com a rotina e a disciplina. A liberdade fica em “stand by” aguardando em forma de crisálida para nascer como borboleta, com o abrir voluntário dos portões; ou romper o casulo de forma furtiva como uma mariposa fugitiva. O diálogo surge como intruso quando as facas são forçosamente trancafiadas nos “mocós” de lares que não são doces.
A cadeia é um lugar de aparências, a tranqüilidade é uma visita agradável ansiosamente aguardada, mas que todos sabem que tem hora para ir embora. As cortinas são obrigatórias na cadeia, são elas que de uma forma artificial sustenta a tranqüilidade. Tudo são aparências na cadeia, aparências.....reconhecer isso e lembrar-se permanentemente disso, é manter-se vivo.
E como sempre, lá estava ele, em seu posto, atento. Olhava a tudo e a todos, percrustando, tentando divisar algum movimento ilícito, alguma atitude impensada, alguma ação não permitida. A cadeia é um organismo vivo que contamina todos os que nela adentram. Ele viu seu coração, percebeu um lado resistente, ainda resplandecente; o outro negro, corrompendo-se com esta realidade trancafiada em grades. Desde o dia em que conheceu a cadeia e seus devaneios de megera, suas dores não eram mais tão doídas, sua alegrias não mais tão prazerosas, perdeu-se nele a humanidade. O sofrimento alheio era uma realidade, e a realidade é feita para manchetes de jornais, não para os frontispícios do próprio cotidiano.
Alguém apareceu, rendeu-o em seu posto, a vida continua na madrugada gelada da cadeia. Olhou uma última vez para as cenas solitárias de todas as janelas das celas que encenavam dramas particulares, solitários e comuns a todos os internos. De algum lugar viu brotar novamente a poesia, de algum lugar em que a havia esquecido, no passado, sufocada por sua covardia em não querer encarar sua própria humanidade. Ela ainda sobrevivia, sentiu um alívio por isso. Sentiu compaixão por aqueles seres humanos....sentiu compaixão por ele próprio. O agente ainda era gente, afinal, gente....

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Senhor de toda a gratidão

Tinha acabado de fechar o portão que dá acesso para as galerias de internos no interior do Pavilhão, quando se aproximou de mim um jovem, e ficou por ali marcando tempo, com aquela expressão perdida e despreocupada daqueles que sabem qual será a sua rotina diária pelos próximos muitos anos. Uma grade nos separava – ele para o lado dentro, eu para o lado de fora –, me olhou, percebi que esperava um momento adequado para se aproximar – a cadeia é mesmo assim, fica muito caro o preço a pagar quando se escolhe o momento errado em qualquer coisa, a cadeia desconhece o perdão e sempre cobre suas dívidas.
- Eu me lembro do senhor!
Disse após tomar a certeza de que era o momento certo.
(Quando é o momento certo?)
Fiquei em estado de alerta.
- Desde o dia em que eu cheguei aqui, eu me lembro do senhor!
Revirei todas as gavetas da memória, tirei o pó de algumas coisas que estavam lá no fundo do grande baú de lembranças, sacudi o tapete das reminiscências, até investiguei algumas chateações que estavam depositadas no grande arquivo morto da inconsciência, mas que.... Nada do rosto do sujeito aparecer. A cadeia tem dessas coisas, você se esquece do interno, o interno jamais esquece de você.
Como me mantinha em silêncio, estratégia encampada para entender a situação, ele insistiu.
- No dia em que eu cheguei, a minha Bíblia caiu no chão. O senhor a pegou e me entregou.... Nunca esquecerei disso!
Neste instante, houve luz em minhas lembranças. O rosto tristonho do sujeito, suas coisas espalhadas pelo chão depois da revista, o seu medo no olhar, o Livro Sagrado no chão.... no chão....
Senti sinceridade nas palavras dele e senti que aquela era a forma que ele sabia, ou encontrou, para me dizer Obrigado!
Sorri de uma forma circunspecta, a cadeia é um lugar que algumas manifestações emotivas devem ser suprimidas, e respondi sóbrio:
- Veja bem! Lembre-se sempre do Senhor e tudo estará bem, para mim e para você.
Eu me afastei, fui cuidar de outros afazeres e lá, de onde estava em meu posto, pude vê-lo uma vez mais, a um canto qualquer, meditando, olhando para mim, seu olhar atravessando as grades. De certa forma, fiquei assustado, era a primeira vez que a gratidão me visitava na cadeia.

domingo, 17 de junho de 2007

UMA QUIMERA E MIL SACIS

Depois que a cadeia fecha, o silêncio toma conta das galerias. Apesar das muitas luzes, o ambiente ganha tons lúgubres. Aqui ou ali se ouve um grito qualquer, um preso chamando outro; outro grito de um louco buscando sanidade no horizonte trancado dos muros; um louvor ao Deus de todos nós, um louvor triste que soa como um lamento; uma oração, dez orações, cem orações; um delinqüente solitário olhando para o grande olho da lua, pensativo em mil patifarias; um bandido sentado agarrado às grades, os pés para fora, balançando-se ao sabor do vento fresco da noite, grita, esperneia, xinga, chora e ri, tudo sozinho, com ele mesmo, ele e a droga maldita que toma conta de sua consciência atrofiada. Mas, o silêncio está ali, presente, constante, como se fosse um ente, um ser vivo, dá medo o silêncio da noite na cadeia, o silêncio de mil homens trancados, liberdade sufocada pela força do aço das grades, o silêncio na cadeia é calmaria que antecipa as tempestades.
De repente, sobem os agentes, a polícia da cadeia, os coletes, os cinzentos, indesejados por uns, odiados por todos; a quimera agita-se, se contorce num espasmo, rompe-se a placenta do silêncio e surge um assovio longo e agudo formado por um coral de mil sacis. Fiu... Fiu..... Fiu..... O alarme está dado, os agentes vêm chegando, é hora de sufocar os gritos, de esconder os radinhos[1], guardem as facas, tome logo este último gole de Maria Choca[2], tapem os mocós[3], a polícia vem vindo.... Vem vindo!
Apesar da calmaria, a cadeia nunca dorme inteiramente, ela é um monstro, uma quimera de mil corações, mil pares de olhos, mil olfatos e têm mil vidas para serem desperdiçadas. A cadeia nunca dorme, tem sempre um olho acordado para vigiar, atalaia patife e insone, um saci para acordar os outros sacis e soar o grande coral de alarme da cadeia. É impossível colher a grande quimera desprevenida, não há formas de emboscá-la em seu habitat maldito ou vacilando no seu eterno plantão; ela está sempre atenta com seus mil pares de ouvidos que escutam tudo e em toda a parte.
Os agentes chegam e fazem seu trabalho, rotina ou extraordinário, não importa, em todas as boquetas[4] olhares rompem a noite, atentos, analisando, odiando, tecendo mil maldições... Maldições das sentinelas sacis... E de todos os demais demônios!
Será que maldição de saci pega?
Os agentes vão embora, despreocupados, rindo de alguma mula[5] qualquer... Talvez seja essa a grande vacina para as maldições dos sacis e de todos os demônios que habitam as entranhas desta quimera... O bom humor!
De repente, as risadas e os passos vão ficando distantes no corredor, um fechar de cadeado, de dois cadeados, mil cadeados trancados... O silêncio retorna ao seu descanso vigilante, a cadeia retorna a sua rotina – o que é patifaria retorna para o esgoto onde vive; as orações retornam cheias de fé e de tristeza, a fé é maior dentro da cadeia! O silêncio é mesmo democrático na cadeia, a quimera suporta a oração com a mesma apatia com que ouve as maldições.
Não se ouve mais os agentes, seus passos, suas chaves, suas risadas, suas preocupações, todas as maldições de um ofício que desconhece bênçãos foram-se com eles.... Só se ouve o silêncio... O silêncio e todas as suas malditas possibilidades.....
Dormem os sacis, por enquanto!



[1] Celulares.
[2] Aguardente artesanal fabricada na cadeia (de forma ilícita).
[3] Esconderijos ilícitos dentro das celas ou nas dependências da cadeia.
[4] Pequena janela colocada na porta da cela.
[5] Zombaria, picardia de cadeia.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

NOITES NA CADEIA

A noite é tão delicada na cadeia.
O silêncio, quando silêncio, é mais silêncio.
Seus sons são mais audíveis, sentidos, aguardados.
A noite é realmente mais delicada na cadeia.
Uma ducha demorada.
O pigarrear de uma garganta cansada.
Um espirro. Outro espirro.
Um rato que sobe as grades.
Dois ratos que sobem as grades.
O lento ato de fumar um cigarro, a oração da beata[1] que os santos não ouvem.
Tudo é mais escutado, sentido, com um furor que beira a idolatria.
A noite é tão delicada na cadeia.
É quando todas as suas quimeras estão adormecidas, todos os males estão entorpecidos. Desse desajeitado esquecimento da balbúrdia e do caos, da hibernação de seus demônios é que nascem estas noites tão delicadas na cadeia.
Foi numa dessas noites que aprendi que não existem anjos ou demônios, estes seres extraordinários, na cadeia. Estes estão lá fora, no universo real, cuidando ou atazanando a vida dos mortais.
Nesta dimensão alternativa, onde vagam sem perspectivas imediatas almas desalentadas, fantasmas instantâneos há arrastarem suas correntes pelos corredores desses cotidianos desesperadamente iguais, o maior de todos os anjos é o homem; e não existe demônio mais terrível que o próprio homem.
Ainda assim, em meio a esta guerra não declarada, ainda nascem noites delicadas na cadeia...


[1] Pequena porção de maconha (cannabis sativa linneu).

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Brrrrrr! ou a noite de amor dos quero-queros!

Fez tanto frio nessa madrugada....brrrr!!...parecia que estava dentro de um congelador. Até mesmo os quero-queros que sempre estão fazendo uma algazarra danada, nesta noite de freezer, pareciam nada querer. Olhei para dois deles que estavam a um canto qualquer, provavelmente um casal querendo encetar namoro. Percebi isso....e me animei! Pensei! Belo papel o meu, vou ficar numa de “voyeur” de quero-quero e, assim, as coisas esquentam um bocadinho. Pensamentos poucos nobres, admito, mas vá pensar em nobrezas baratas com a temperatura perto do zero grau. Alguns pecados como este, nesta temperatura, são permitidos(!?). Brrrrr.....
O quero-quero macho (será que assim o chamam?) dava uns olhares lânguidos para a quero-quero fêmea(?) – os olhares não congelam, primeira premissa. Ela, realmente, tentava retribuir, mas retraídas como estavam suas penas não davam qualquer chance para o amor – o amor dos quero-queros, eis a segunda lição, precisa de algum espaço.
Fique este texto como documento, se algo acontecer a população mundial de quero-queros, esta noite onde tudo se congelou (inclusive a vontade de amar das quero-queros fêmeas!) contribuiu significativamente para a extinção desta espécie. Fiquemos atentos....
De repente, cansado de tantas sugestões masculinas sem quaisquer retribuições femininas, já com as pestanas (?) cansadas de atirar olhares lânguidos e concupiscentes, o quero-quero macho sumiu, tão repentinamente que nem sei se foi voando....duvido, não se voa encolhido como estava. Deve ter desabalado em fragorosa carreira, tentando espantar o frio, tentando encontrar uma fêmea mais assanhada que o frio. Por sua vez, a fêmea desiludida, cavucou um canto qualquer para encolher-se ainda mais, escondendo o frio e as suas frustrações amorosas. A noite poderia ter sido bela (e algo assanhada!) para os quero-queros, mas amor e frio congelante, pensava em sua cabecinha de quero-quero, é algo que não excita.
Liberto da casca de “voyeur” de quero-quero voltei para o meu papel momentâneo de estátua natural em mármore congelante, Deus, pensei como em oração, uma xícara grande de chocolate com canela em rama, valeria bem mais do que uma barra de ouro, e esta foi a terceira premissa, pois não se dá para aprender muita coisa em uma noite com um frio desses....brrrrrrrrr!!!!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Domingo à tarde, quase noite, momento maior de introspecção. Por que será que nestas horas a gente se volta para dentro de nós próprios e fica procurando respostas....Que benesses estas respostas darão para nossas vidas? São tantos os questionamentos que sinto é melhor sair para dar uma volta, sem destinos ou bússolas, uma viagem de idas com voltas sem maiores comprometimentos que senão fugir....Nossa própria cabeça, vez em quando, pode ser um animal selvagem que não sabemos domá-la....Devo pensar nisso depois, aprender a domar meus instintos, meus pensamentos.
Viro a quadra de casa e adentro a avenida, lá na frente vejo um volume atirado à sarjeta. Aproximo-me, os olhos refletindo curiosidade. É um homem, Deus é um homem. Não falemos em Deus nestas horas, ele não tem nada com isso. Está deitado, decúbito dorsal, todo o corpo na sarjeta e uma perna encima da calçada. Seus olhos estão fixos no céu, olho para o céu e não está azul, parece que tudo no mundo nesta quase noite de domingo está negro. Seus olhos estão abertos, mas ele não vê nada, percebo isso. Ele está inconsciente, adormecido profundamente, as moscas voando ao seu redor como atalaias de seu sono. O sujeito bebeu até desmaiar. Penso em quais animais ele tenta domar, que feras habitam sua cabeça que o obriga a entorpecê-los com álcool. A pena – compaixão – pode ser um sentimento terrível e é o que sinto por aquele homem, jogado ao desprezo de uma sarjeta. Ele foi vencido pelos seus tormentos, seus pensamentos foram mais fortes que sua vontade. A derrota, me parece, pode ter diferentes níveis. Há o nível em que se perde com honra, esta é a melhor derrota; há o patamar em que a derrota não deixa honra, contudo, fica a possibilidade de se recuperá-la, depois, num momento mais fortuito; e há esse tipo de derrota, que joga o homem na sarjeta da calçada, da vida, reduzindo-o apenas a um volume na avenida. Segui meu caminho, tenho meus próprios animais selvagens para domar e a constrangedora cena em nada me ajudou, pior, fez ajuntar mais algumas bestas àquelas que já me atormentavam. Tenho um pensamento essencialmente judaico acerca a bebida alcoólica (deve ser porque a detesto!). Aos suicidas não resta sequer o direito de ser enterrado junto com os demais da congregação. Parece ser impiedoso, mas é a verdade. Detesto a bebida e, sobretudo, os seus efeitos. Em como ela consegue transformar homens em meros volumes....estranhos volumes às sarjetas de nossas cidades.
Chego a Avenida principal de Fátima do Sul e ela, à noite, é um misto de desolação e congestionamento. Alguns points que chamam a atenção dos jovens ficam lotados deles, os carros vomitando som alto e de pouca qualidade, hoje em dia é mesmo assim, compensasse com potência o pouco que se tem para mostrar: na música, nas pessoas; as gurias desfilando como caça à frente dos rapazes; estes em bandos, a abrirem suas caldas como se pavões fossem, todas as armas de conquista engatilhadas para chamar a atenção das fêmeas. Os amores ganham novos contornos nos dias de hoje, lascivos e mundanos, penso que não fui feito para esta época e seus modernismos.
Caminho pela parte desolada da urbe, no domingo à noite a solidão combina mais com meu espírito introspectivo. Um outro bêbado encostado a um poste fala comigo em uma língua ininteligível. Dou uma resposta educada, sigo em frente, o passeio não me ajudou muito. Parece que todos os bêbados estão soltos na noite fatimassulense. Retorno para casa, e tomo Clarice Lispector nas mãos, domo todos meus animais selvagens lendo “A hora da estrela”. Quais pensamentos teriam assolado Clarice num domingo à noite qualquer...será que os gênios sofrem como nós mortais comuns? Sem perceber adormeço, adormecendo comigo todos os meus questionamentos. Talvez a única resposta que realmente exista é que não nos é permitido ter respostas porque a vida perderia o sentido se já tudo soubéssemos...nós não saberíamos conviver com todas as verdades que habitam neste universo e em suas dimensões. E, no silêncio do quarto, sonhando com poetas e poemas aprendo a domar meus pensamentos....e durmo, mais uma vez inocente dos pensamentos que me acusam.

domingo, 20 de maio de 2007

UM CÃO E ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...

Estar com outros e depender dos outros havia tornado-se algo natural em mim.
O trabalho que conseguira fora de minha cidade me obrigava a isso e, na realidade, não me importava. Diariamente, era um exercício de humildade e humildade sempre nos faz bem.
Ficava num pequeno trevo onde os motoristas se viam obrigados a diminuir a velocidade de seus veículos, nesse momento, algum colega me reconhecia e, numa breve troca de olhares, nos entendíamos: a carona estava ganha!!!
Nessas muitas pequenas viagens, vi muitas coisas, ouvi outras tantas e sempre tirei algumas lições disso. A vida sempre está nos mostrando algo e precisamos estar receptivos aos seus ensinamentos.
Uma vez, quando o sol já bocejava sonolência, em uma das muitas caronas que ganhei naqueles tempos, vi um pequeno cão vira-latas, sentado a beira do caminho. Estava imóvel, como se fora uma estátua. Seu olhar perdia-se num vazio e sua expressão refletia a mais pura tristeza. O carro passou rápido. Toda essa cena me surgiu como um relâmpago. Contudo, a expressão do animal ficou em minha lembrança. Em meus pensamentos, misturados ao ruído estrondoso do motor e a conversa dos demais passageiros, me questionava sobre o motivo da infelicidade do cão. Ah! Mas a vida é urgente e nos faz mais urgentes ainda. Minhas responsabilidades, minha labuta, meu cotidiano me trouxe de volta a realidade. E o tempo passou, e o cãozinho se perdeu na distância e no esquecimento.
No outro dia, quando uma nova carona e um novo amigo me prestavam serviços; passei, novamente, célere pelo local. No acostamento, no mesmo lugar do dia anterior, lá estava o cão: impassível, quieto, morto... De repente, compreendi tudo: a tristeza, seu olhar perdido, sua agonia silenciosa. Então, em algum canto do meu coração, de uma forma perene, imperceptível, uma lágrima desabrochou e rolou pela minha alma. Em meu íntimo chorei... chorei pelo cãozinho morto, chorei por mim próprio...e por todas as pessoas!!!
"Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.
Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira......
"






Canto I, Inferno, A divina comédia, Dante Alighieri



Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.


Ahi quanto a dir qual era è cosa dura
esta selva selvaggia e aspra e forte
che nel pensier rinova la paura!



Tant'è amara che poco è più morte;
ma per trattar del ben ch'i' vi trovai,
dirò de l'altre cose ch'i' v'ho scorte.


Io non so ben ridir com'i' v'intrai,
tant'era pien di sonno a quel punto
che la verace via abbandonai.