sábado, 22 de dezembro de 2007

O OLHAR DA MEDUSA

O jovem chegou assustado na cadeia, esta velha medusa!



Se ela aterroriza o coração dos mais velhos e preparados imagina o que não faz com os imberbes.


Ah! E que prazer a cadeia tem em capturar essa gente quase infantil! Todo o seu corpo volumoso se estremece num frenesi orgástico, suas gorduras todas balançam dançando ao som de uma vociferante gargalhada. A velha medusa é mesmo uma megera indomável.


Ele olhou para os agentes como se visse uma alcatéia de lobos famintos. Tentou conter uma lágrima e não conseguiu, ela rolou ali mesmo na área de segurança tentando desesperadamente segurar-se numa coragem que não mais existia.
Seu crime foi bárbaro, um fratricídio, uma espécie de “remake” de Caim matando Abel.


Quis saber a verdade de suas lágrimas.
Por quem choraria o jovem criminoso?
Choraria pela dignidade perdida?
Choraria pela memória do irmão assassinado?
Choraria pela liberdade que lhe escapou?


Não houve como saber, ele foi rapidamente engolindo pelas entranhas da cadeia, foi-se, marcando seu caminho com seu sofrimento pagão.


Afinal, não ouso dizer que senti piedade de sua dor. Se houvesse que haver lágrimas de minha parte não deveriam sê-las todas pelo irmão morto? Não cabe a mim julgar, morto e vivo, nem chorá-los mais! A cadeia também alcança o sentimento dos agentes. Cabe a nós tentar fazer com que a serenidade resista em meio aos escombros desses quotidianos conturbados e, então, encontrar fórmulas para que o coração do garoto sobreviva e, se possível, transforme-se em algo que não seja pedra.


O olhar da medusa realmente aterroriza...

Ilustração: Medusa, Tela de Caravaggio.

Nenhum comentário: