sexta-feira, 17 de julho de 2020

POEMA QUE COMEMORA TUA BELEZA



Meu amor,
Mais lindo que o amor!
Estavas ainda mais bela nessa manhã.
Radiante estavas como se fosse
O primeiro raio de sol que rasga
O pano negro da madrugada.
Perfumada estavas, invejavas
A primeira rosa que nasce na primavera
Do mais lindo entre todos os jardins.
Por tão linda que estavas
Ruborizavas esta rosa...
E mais vermelha ela ficava!
Saístes e corri a abrir a janela,
Para roubar da chance
Uma última oportunidade de te ver.
Não me vistes...
Entretida estavas com tuas coisas...
Simplesmente partistes...
Aqui ficou o vazio,
Um abismo sem fundo
Incapaz de ser enchido com mais saudades.
E fiquei na janela, parado,
Por um momento,
Dois momentos,
Numa espera tola de que retornasses,
Esquecida de alguma coisa,
Movida por alguma coisa,
Mas alguma coisa não aconteceu...
Resignei-me...
Retornei para mim mesmo...
Vá, meu amor, vá!
Seja luz e sal nesse mundo
Negro e insosso.
Esparrame excelência como
O semeador lança
Sementes na boa terra.
Depois volte!
Volte para casa e para mim.
Eu te aguardo com fome e sede...
Meu amor, mais lindo que o amor,
Estavas tão mais linda hoje!!!!

terça-feira, 14 de julho de 2020

HERÓIS ANÔNIMOS


               
O interno olhava através de uma fresta no tapume que lacrava a janela que dava acesso para o pavilhão inimigo.
Este tapume lá estava para evitar contatos desnecessários entre os pavilhões que se diziam adversários.
Adversários?
Cadeia é tudo teoria.
O que pode ser, pode não ser; e o que não pode ser, pode ser.
Entender esses dois polos transforma o seu sabedor em alguém especial lá dentro do reino dos cadeados.
Alguns chamam esses sabedores de inteligentes, costumo chamá-los de sobreviventes.
Quando o policial penal passou indo em uma missão, isso chamou a atenção do preso curioso.
Olhou para o polícia e o convidou para uma conversa.
- Senhor, esses caras aí são muito mulambos... que sujeira dentro das celas...
O duplo “P” aceitou o convite.
- Certa vez, um sujeito bandido, me disse uma coisa que eu guardei para mim como verdadeiro.
O preso se interessou.
- É mesmo, senhor! O que foi?
- Ele me disse assim: Seu Polícia eu sou bandido, mas nem por ser bandido eu preciso ser mal educado e mulambo. Minha cela e minhas coisas são limpas, senhor, assim como procuro deixar limpo meu comportamento...
O preso deixou-se fascinar, percebia-se em seus olhos. Captou alguma sabedoria na frase de seu igual que veio do passado navegando pelo oceano do tempo dentro de uma nau de reminiscência.
- Sabe senhor! Meu avô foi pai de 12 filhos.... Criou todos eles sozinhos, sem ajuda de ninguém, sem roubar um palito de fósforos. A frase que ele sempre dizia era essa: malandro sou eu, criei doze sem roubar nada de ninguém... e ele ria senhor, não esqueço seu olhar e seu sorriso.
O policial ficou surpreso com a breve história. Essas pequenas conversas são raras dentro do reino dos cadeados, muito mais raras são aquelas que nos deixam algo que nos ensinam, que nos elevam para um patamar além do que estávamos. O destino de todo homem é aperfeiçoar-se, ser melhor hoje do que foi ontem. A estagnação é uma maldição, o retrocesso a maior das tolices.
- Todos os dias a mídia escolhe e elege seus heróis. Saibas que são todos eles falsos. Os verdadeiros heróis são esses homens e mulheres como seu avô, que sozinhos, contra todas as contingências e contrariedades da vida, criam 12 filhos sem serem pesados para ninguém, sem roubarem nada de ninguém, confiando apenas em Deus. Benditos sejam esses heróis. Seu avô foi um herói!
- É... Verdade, mesmo! Meu avô foi herói, senhor! Eu é que estraguei tudo....
O Policial Penal sentiu que o interno se emocionou. Ele pediu licença e saiu, indo para o lado contrário. O agente ficou ali, a observa-lo, ainda deu tempo de ver que, no chão que pisava o preso, uma gota de lágrima caía, grossa, cristalina, cheia da gordura que o sofrimento produz. Os fornos mais quentes da sabedoria são o do sofrimento, felizes aqueles que a conquistam sem serem submetidos a esse fogo abrasador.