quarta-feira, 28 de novembro de 2007


O pequeno escaravelho imaginou uma linha reta e seguiu em frente.


Atravessou um oceano do tamanho de uma poça d’água.


Escalou uma montanha enorme, um pedregulho pode ser um incômodo gigantesco.


Um metro quadrado de uma fina areia branca num jardim foi-lhe um grande deserto.


Destemido, o pequeno escaravelho venceu todas as intempéries, transpôs todas as catástrofes, foi além de seus limites.



E, ao chegar ao seu destino, morreu vítima de uma pisada involuntária.

domingo, 25 de novembro de 2007

A maior tragédia humana


O Sertanejo não conseguiu esconder sua satisfação. À sua frente, uma lauta mesa a disposição completa sua e de sua família: sete filhos e a mulher grávida do oitavo, de sete meses.
Não se fizerem de rogados, sentaram-se e esfomeados, mergulharam na comida. Comiam, comiam, comiam, sem pensar em quaisquer outras coisas.
A Vida no sertão não é algo que se possa dizer, fácil. A dificuldade nasce com o sertanejo e é a parceira diária dele; dificuldades sempre multiplicadas pela seca constante. O trabalho é pouco, o alimento é pouco. A única coisa que é maior que as dificuldades do sertanejo é a sua resignação; resignação com seu destino, resignação com a própria vida; uma resignação mesclada com esperança.
E o sertanejo comia avidamente quando ouviu um ronco, um ronco estranho, diferente. Olhou para os lados na busca de alguém, um estranho, um animal – nada! Deu de ombros, voltou a atenção ao seu prato.
Um novo ronco, desta vez mais alto.
Olhou para a esposa e para os filhos, todos comiam vorazmente, felizes. Não entendeu, de onde vinha este ronco, ronco estranho.
O aroma da comida o convidou novamente.
Voltou a comer e comia quando sentiu uma pontada na barriga. Depois outra, outra, e mais outra. Acordou, era madrugada. Viu os filhos todos esparramados pelo chão da casa, dormiam – felizes os filhos, pensou, dormiam!
A barriga doia incessantemente e então, escutou o ronco, e outro, e mais outro. Dobrou-se comprimindo o estômago doído, sofrido. Lambeu a gota salgada da lágrima que escorregou-lhe pela face suja e escura. Quis dormir de novo, sonhar de novo, sonhar comendo de novo. Chorou um pranto contido, silencioso demais. Chorou o choro da fome........

sábado, 24 de novembro de 2007

-¿Por Quien si levantan las cruces




-¿Por Quien si levantan las cruces
Eu me pergunto em todo momento.
Aonde o sofrimento faz mais vitimas?
Eu me pergunto em todo o momento .
A lágrima que derramo é mais sofrida que a tua?
Será tua cruz mais pesada que a minha?
Perguntas e sofrimentos buscam suas respostas.


-¿Por Quien si levantan las cruces
Olho nos olhos de todos Vocês,
Busco a dor que se iguale a minha,
Nenhuma dor é igual a outra.
Nenhuma dor sangra mais que a outra
Ainda que a tua cruz seja mais pesada que a minha,
É a minha que me faz sangrar.


-¿Por Quien si levantan las cruces
Eu me pergunto em todo momento.
Olho nos olhos de todos vocês,
Em cada um vejo uma cruz diferente,
Sangro um bocado por cada uma delas,
Sangro mais por aquela a qual carrego.
As cruzes se levantam por todos nós, afinal!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

SONETO DA NOITE ENAMORADA!


E eu estarei sempre olhando o céu e as estrelas,
Deixando meu olhar às sombras se mesclar
Porque sei que tu amas intensamente a noite,
E se é a noite o teu ambiente é nele que quero estar.


Eu estarei dentro da noite, eternamente!
E se for o teu desejo, o de algum momento me buscar,
Olhe profundamente nos negros olhos da noite
Eu estarei lá, meu amor, a te querer, a te aguardar!


Aprender a te amar foi a maior das maravilhas,
E todas minhas dores não pagaram este sentimento,
O amor é mesmo maior que qualquer sofrimento.


Aprendi que amas melhor assim, distante e na noite!
Aprendi que amo melhor assim, platonicamente!
Deixando que meus lábios de beijos, a noite açoite!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

SONETO DA MEIA NOITE


À meia noite, foi quando chegastes,
Trazia no olhar o desejo de amor,
No corpo a estiagem de meus beijos,
Teus lábios sedentos clamaram: Por favor!

Abri meus braços, então!
Abri meu coração, então!
Cravastes teus desejos neste corpo teu!
Tua sede de amor não é maior que eu!

Não entendo por que partes.
Se sozinhas, és metade de um ser.
A felicidade precisa de dois para viver!

Ah, amor! Que estranha maldição és tu!
O aguilhão que fere mortalmente,
É o mesmo que dá vida novamente
!

sábado, 17 de novembro de 2007

LIMPANDO OS PECADOS DA HUMANIDADE


Aguardaram que eu dissesse algo importante, algo que mudasse o mundo, que colorisse o futuro, que removesse as manchas do passado como se o passado fosse uma vidraça que pudesse ser limpa com um pano e álcool.
Eu não sou mesmo tão poderoso assim.
Mal consigo me defender dos meus próprios erros que me acusam todo o tempo.
Não consigo criar outras possibilidades para meus próprios fracassos.
Tudo o que tenho de belo é uma retórica perfeita de auto-compaixão.
Ultimamente, tenho gasto tempo sentindo piedade de mim mesmo, não tenho mais lágrimas para chorar as dores dos outros.
Viram! Estou mesmo um fraco.
Como podem me pedir uma palavra que possa mudar alguma coisa neste mundo enlouquecido?
Vou dizer para não construírem bombas atômicas, se eles não se preocupam com a fome dos miseráveis?
Vou dizer para pararem com pensamentos de conquistas espaciais se eles sequer conhecem seu semelhante?
De que vale buscar as estrelas, diria, se não conseguimos alcançar nosso próprio coração?
Poderia falar de natureza, mas esta gente toda acha que desenvolvimento econômico e natureza são palavras inconjugáveis em comunhão.
(Eles sequer sabem o que é comunhão....)
Não me peçam para falar nada que possa mudar o mundo, estou infeliz.
Não domino mais meus sentimentos, meu destino.
A desilusão pela vida e pelas pessoas ronda minha porta.
Para que tivesse a arrogância de mudar o mundo, teria primeiro que mudar a mim próprio, penso que essa é a grande receita afinal.
Porque não percebo em ninguém esta capacidade de criar um discurso que possa alterar alguma coisa.
Estamos todos tão preocupados com nós mesmos...
... E isto me entristece, não gostaria mais de ter pensamentos puramente egoístas!
Então, vou pensar primeiro em um discurso para mudar o que é necessário em mim.... Vou resgatar minha humanidade perdida!
Quem sabe, será o primeiro passo que darei para mudar o mundo!

sábado, 10 de novembro de 2007

ORFEU E EURÍDICE


Orfeu (descendo do morro para a cidade [o inferno])


"Não dou daqui, sou do morro. Sou o músico do morro. No morro sou conhecido - sou a vida do morro. Eurídice morreu, desci à cidade para buscar Eurídice, a mulher do meu coração. Há muitos dias busco Eurídice. Todo mundo canta, todo mundo bebe; ninguém sabe onde Eurídice está. Eu quero Eurídice, a minha noiva morta, a que morreu por amor de mim. Sem Eurídice não posso viver. Sem Eurídice não há Orfeu, não há música, não há nada. O morro parou, tudo se esqueceu. O que resta de vida é a esperança de Orfeu ver Eurídice nem que seja pela última vez".


Orfeu da conceição - Vinicius de Moraes

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Tributo à Edith Piaf

Ela chegou por um acidente cinematográfico em minha vida.
Quando estava assistindo ao filme "O RESGATE DO SOLDADO RYAN", do Spielberg, chamou-me a atenção a música que os soldados americanos escutavam enquanto esperavam a máquina de guerra alemã para a batalha que, todos eles sabiam, seriam a derradeira. A morte era certa. Alguém encontra um vinil naquela vila francesa, o coloca num sistema de som e eis que a mágia acontece. Fantástico!
A visão daqueles quatro homens, em uma atitude tranquila à espera da morte escutando Edith Piaf é qualquer coisa de absurdamente belo se visto além da tragédia se mostra à primeira visão, uma visão menos sentimental e sensível. A música e a voz de Edith Piaf nos envolve, sugere, encanta, nos toma pelas mãos e parece nos apontar com seus dedos instigadores e virtuais para a crueldade daquele momento ao mesmo tempo que o pacifica. É como se aquele instante todo as vidas dos quatros soldados fossem uma pintura e a música de Edith Piaf a moldura. Congela-se a expectativa dos bravos, na tela; congela-se nossas respirações e sensações na platéia.
Naquele instante apaixonei-me por Edith Piaf e seu "Non, je ne regrette rien" e "Ne me quitte pas", apaixonei-me por um tempo onde músicas eram feitas de letras com conteúdo e com a voz e o talento dos artistas, ao contrário deste saco de gatos metalizado e robótico que escutamos hoje.
Este post é tão simplório. E Edith Piaf está muito acima disso. Para aqueles que me leiam, perdoem-me, sou pequeno e escrevo como pequeno, portanto, não prestem atenção neste amontoado de vocábulos em andrajos que tentam a todo custo se segurarem em uma frase maltrapilha. Edith Piaf mereceria que as palavras vestissem fraque, smoking e todas essas similaridades que, de forma exógena, enobrecem o homem. Assim, não atentem para o texto e vejam, como eu vi na cena do filme comentado, além do que se mostra. Vejam a minha emoção e minha completa devoção a esta extraordinária artista. Por este prisma, é provável que conheça Vosso perdão por arriscar a escrever sobre Edith Piaf.

sábado, 3 de novembro de 2007

ESPERA


J. G. de Araújo Jorge


Se tivesses mandado uma palavra - "Espera"!
Sem mais nada, nem mesmo explicado até quando,
Eu teria ficado até hoje esperando...
- Era a eterna ilusão de que fosses sincera -
Que importaria a vida, o sol, a primavera,
Se eras a vida, o sol, a flor desabrochando?
Se tivesses mandando uma palavra
- "Espera"!Eu teria ficado até hoje esperando...
Não mandaste. Tu nada disseste, e eu segui,
Sem saber que fazer da vida que era tua,
Procurando com o mundo esquecer-me de ti
E afinal o destino, irônico e mordaz
Ontem, fez-me cruzar com teu olhar na rua,
Ouvi dizer-te, "Espera" e ser tarde demais!

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Missão Cumprida, Dani!!!!

A idéia foi da Dani Kopsch!
A proposta era simples, pegar o primeiro, o primeiro livro que houvesse à sua direita e ler a 5ª frase da página 161.
Ora, de minha parte, não haviam livros ao lado direito, mas havia do lado esquerdo e peguei o primeiro que botei os olhos: Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, um pocket Book lançado pela Editora Globo em 1997.

Resgatei a frase sugerida:

- Pregar uma peças destas a mim! – repetia constantemente o Arquichantre. – A mim!

Não sei se a missão está inteiramente cumprida e se o foi com galhardia. Entretanto, um pedido da Dani deve ser sempre respeitado e procurei dar o melhor de mim nesta tarefa.

Gostaria que fosse uma frase mais emblemática, que mudasse espíritos, pois somente com mudanças de espíritos ocorrem as verdadeiras revoluções.

Se queres você também, que ora me visita, entrar nesta brincadeira para lá de interessante, faça isso também, poste a 5ª frase da página 161 do primeiro livro que houver à sua direita.
E nos avise, para que possamos lê-la e aprender um pouco com a eventualidade deste achado!