sábado, 26 de agosto de 2017

A NOITE EM QUE SONHEI COM KAFKA


Acordei em meu castelo todo suado enrolado num lençol de cetim.
Estranho, não tenho lençóis de cetim...
Isso mesmo... estava tão de boa que lençóis de algodão se transformavam no mais puro cetim.
Fiquei olhando o teto.
Dormindo acordado.
Lembrei do sonho que tive na madrugada,
Logo depois que a coruja caçadora deu um bote na rua,
Uma barata boêmia acreditou que poderia dar umas voltas,
E se deu mal.
Corujas não dormem de touca.
Sonhei com Kafka. Simples assim, direto no assunto assim.
E como não poderia deixar de ser,
O sonho foi bem doidão.
Tudo em Kafka era onírico,
Realidade e fantasia se misturavam.
A única coisa que era de verdade em Kafka
Eram seus textos excelentes.
Kafka foi um dos grandes, um dos grandes.
Lembrei que era final de semana.
Pensei, vou fazer nada não, ficar daquele jeito.
Colocar os pés para cima
Tomar um suco de laranja misturado com outra fruta
E me fartar de preguiça.
Talvez escreva um texto, se uma ideia vir a minha cabeça.
Se não vier, escreverei qualquer coisa mesmo.
Quem sabe.... no final, algo se salve.
Quem sabe nem tenha final...
Não quero mesmo é saber de relógios.
Nada que me lembre que o tempo exista.
Cuspirei na cara do tempo neste dia...
Isso... vou gargalhar em sua face...
Pelo menos um dia na vida eu vou mandar em mim mesmo.
Serei o senhor de mim mesmo neste dia,
Que uma barata boêmia perdeu a sua vida
Precocemente na calçada de casa,
Assassinada por uma coruja esfomeada.
Neste dia em que lençóis de algodão
Metamorfosearam-se em cetim puro.
Exatamente neste dia que Kafka me visitou
Em um sonho atrapalhado que teve início,
E nunca chegou ao fim.
De repente o celular tocou: alarme!
Peguei o aparelho pronto para desliga-lo...
Uia! Hoje é segunda-feira...
Peguei a farda, o coturno,
Subi em minha moto
Corri para o trabalho.
Ao bater da porta,
Ouvi o tempo badalar horas
(fora de hora)
Num relógio grande e velho
Pendurada numa parede igualmente velha
Gargalhando,
Zombando da minha cara...