Acordei
em meu castelo todo suado enrolado num lençol de cetim.
Estranho,
não tenho lençóis de cetim...
Isso
mesmo... estava tão de boa que lençóis de algodão se transformavam no mais puro
cetim.
Fiquei
olhando o teto.
Dormindo
acordado.
Lembrei
do sonho que tive na madrugada,
Logo
depois que a coruja caçadora deu um bote na rua,
Uma
barata boêmia acreditou que poderia dar umas voltas,
E
se deu mal.
Corujas
não dormem de touca.
Sonhei
com Kafka. Simples assim, direto no assunto assim.
E
como não poderia deixar de ser,
O
sonho foi bem doidão.
Tudo
em Kafka era onírico,
Realidade
e fantasia se misturavam.
A
única coisa que era de verdade em Kafka
Eram
seus textos excelentes.
Kafka
foi um dos grandes, um dos grandes.
Lembrei
que era final de semana.
Pensei,
vou fazer nada não, ficar daquele jeito.
Colocar
os pés para cima
Tomar
um suco de laranja misturado com outra fruta
E
me fartar de preguiça.
Talvez
escreva um texto, se uma ideia vir a minha cabeça.
Se
não vier, escreverei qualquer coisa mesmo.
Quem
sabe.... no final, algo se salve.
Quem
sabe nem tenha final...
Não
quero mesmo é saber de relógios.
Nada
que me lembre que o tempo exista.
Cuspirei
na cara do tempo neste dia...
Isso...
vou gargalhar em sua face...
Pelo
menos um dia na vida eu vou mandar em mim mesmo.
Serei
o senhor de mim mesmo neste dia,
Que
uma barata boêmia perdeu a sua vida
Precocemente
na calçada de casa,
Assassinada
por uma coruja esfomeada.
Neste
dia em que lençóis de algodão
Metamorfosearam-se
em cetim puro.
Exatamente
neste dia que Kafka me visitou
Em
um sonho atrapalhado que teve início,
E
nunca chegou ao fim.
De
repente o celular tocou: alarme!
Peguei
o aparelho pronto para desliga-lo...
Uia!
Hoje é segunda-feira...
Peguei
a farda, o coturno,
Subi
em minha moto
Corri
para o trabalho.
Ao
bater da porta,
Ouvi
o tempo badalar horas
(fora
de hora)
Num
relógio grande e velho
Pendurada
numa parede igualmente velha
Gargalhando,
Zombando
da minha cara...