Acordei ouvindo um som estranho...
Olhei
o relógio...
Mais
tarde que o habitual.
Aticei
com o aguilhão da preocupação
Os
ouvidos em direção aos sons da casa.
Somente
o som estranho... longe...
Não
ouvi o liquidificador batendo papas,
Não
ouvi os chinelos preocupados esfregando
Em
um eterno ir e vir no frio chão da casa...
Não
ouvi comprimidos e mais comprimidos
E
mais comprimidos sendo descascados...
Portas
de guarda-roupa se mantiveram fechadas...
Cadeiras
de rodas descansavam...
Descansavam...
Descansavam...
Recomendações
de cuidados diversos foram enfiadas
Numa
enorme gaveta de silêncio...
Silêncio...
O
chuveiro aguardava ansiosamente a
Cadeira
de rodas que aguardava alguém
Para
empurrar esse alguém até o chuveiro,
Ambos
esperavam,
Esperavam
por um flerte que não mais aconteceria.
Duas
gotas d’água escapavam do bocal do chuveiro
Tristes
com a ciência dessa notícia...
Frente
a casa nenhuma motocicleta
Acionava
sua buzina nervosa
Nos
convocando para buscar mais remédios...
Remédios...
Remédios...
Remédios...
Para
que serve isso?
A
casa toda mergulhada num enorme silêncio,
Físico,
sólido, pesado.
À
volta um buraco gigantesco
Que
somente o tempo e graça
Poderia
encher...
Continuei
ouvindo o som estranho...
Levantei...
Coloquei
a roupa rapidamente...
Corri
até o som...
Vi
você meu amor de costas para mim
Na
cozinha de nossa casa...
Chamei...
Descobri
o som estranho...
Era
você que chorava...
Te
abracei...
Choramos
juntos....