quinta-feira, 1 de outubro de 2015

BARRABÁS





O homem estava atônito.
Nas cruzes, que eram três, estavam crucificados seus dois companheiros e aquele homem que fora colocado para morrer em seu lugar...
Ele não sabia quase nada sobre ele.
Diziam que era profeta, que fazia milagres e que somente esparramava o bem.
Ele, ao contrário, era o mal personificado. Fora salteador (João 18:40), homicida (Lucas 23:19), amotinador (Marcos 15:17), e era bem conhecido dos romanos (Mateus 27:16) e, ainda assim fora ele o escolhido para ser libertado enquanto aquele que chamavam Cristo foi crucificado no lugar que não era seu. A cruz fora feita para ele, Barrabás, não para Jesus, o nazareno.
Ficou por ali, ouvindo a multidão:

“Ele curou dois cegos...” (Mateus 20:34)
“A mulher com fluxo de sangue...” (Marcos 05:34)
“Ressuscitou a filha de Jairo...” (Lucas 08:54,55)
“Acalmou uma tempestade no mar...” (Mateus 08: 26,27)
“Num dia, num único dia, limpou dez leprosos...” (Lucas 17: 12-14)
“Alimentou uma multidão com cinco pães e dois peixinhos...” (Lucas 09: 16,17)
“Eu o vi expulsar uma legião inteira de demônios e a colocar numa manada de porcos...” (Marcos 05:09-13)

Foi esse homem que morreu em seu lugar...
Ele, somente ele, Barrabás é que merecia estar ali, pregado, não aquele homem fazedor de milagres e que até perdoava pecados. Sim, perdoava, sabia disso. Ele testemunhou quando um dos seus companheiros foi perdoado com autoridade e proclamado sua entrada no paraíso.
De repente, o mundo encheu-se de sombras e ele escutou um grande terremoto que movimentou toda a terra, seu coração duro rachou-se ao meio e então compreendeu a verdade, e esta verdade o libertou.
Não se importava mais com o jugo hostil dos romanos.
Não desejava mais riquezas e poder.
Não queria mais matar, e sim, deixar viver.
Aproximou-se de um grupo de judeus que confabulavam os acontecimentos do dia e lhes relatou o que Jesus havia feito por ele, Barrabás.

- Fui seu último milagre. Ele me salvou da morte... E morte de cruz...
E cheios de interesse todos o escutavam...
À sombra da cruz o mal sucumbia ao bem; a morte era derrotada pela vida; um bandido abandonava uma sangrenta vida de crimes; e, o último milagre transformava-se no primeiro convertido.

O ARREBATAMENTO (em pílulas)



 Diálogos imaginários acerca esta promessa Divina


I


- Amor escutou este som?
- Que som?
- O som de trombeta?
- De trombeta??? Amor... Amor... Onde está você, amor?



II


- Ouviu, doutor? Um monte de gente sumiu pelo mundo?
- Sim, ouvi nos telejornais...
- Tens uma idéia do que seja isso, doutor?
- Não, não sei... Tenho a impressão de que se soubesse não estaria aqui conversando contigo...


III


- Irmão... Irmão... o arrebatamento aconteceu...
- Eu sei irmã... Eu sei... Parece que o mundo enlouqueceu...
- Nós não fomos irmão... Nós não fomos...
- E agora, irmã! Nem a morte nos salvará...


IV


- Filho, procurei tua mãe pela casa toda... Ela sumiu!
- Eu sei pai! Olhei na varanda e vi somente a velha Bíblia gasta dela aberta em 1 Tessalonicenses 4: 13-18.
- Ela se foi, filho! Ela se foi...
- Sim, pai! Todas as coisas que ela sempre nos disse... Eram verdades! ... E nós nunca demos ouvido, pai, nunca...

sábado, 19 de setembro de 2015

CANÇÃO DO ADEUS À AYLAN KURDY


Escuto o rugido do mar.
Sua fúria indômita,
Suas garras imparciais.
Toda carne é somente carne.
Para o mar...
Perto da praia, entretanto,
O mar é tranqüilo, calmo,
Suas águas aproximam-se da areia
Procurando jeito para tocá-las.
Na orla não existe raiva,
Toda praia é somente praia,
Para o mar...
Dia desses, tão igual aos outros,
O oceano furioso do alto mar
Entregou para as ondas calmas
Um corpo que foi depositado
Mansamente na praia.
De longe, eu observei,
Aquele pequenino corpo
Vestido num calçãozinho azul
E uma camiseta vermelha
Dormindo nas areias da praia.
As ondas vinham macias,
E o tocavam com frágeis dedos,
Incomodadas por acordá-lo,
Incomodadas por não acordá-lo.
E o pequenino, observei,
Simplesmente não se levantava.
Aylan era o seu nome.
Aylan fugia de outro mar,
Igualmente furioso e indômito
E que possuía sons assustadores
E garras mais imparciais ainda.
Toda carne é somente carne
Também para esse mar...
Na praia,
Um homem alto e esquálido surgiu,
Caminhou titubeante
Em direção a Aylan.
Parecia aborrecido...
Incomodado por acordá-lo...
Incomodado por não acordá-lo...
Ele se ajoelhou junto ao pequenino,
Que continuou deitado na areia,
Aylan simplesmente não acordava.
Em meu canto distante,
Derramei uma lágrima,
Lágrima é azeite de compreensão,
Agora compreendia tudo.
O homem alto e esquálido
Derramou uma lágrima, também,
E ela caiu no mar... no mar...
E se misturou a todas as outras...
O homem também entendeu...
Lágrima é azeite de compreensão,
Aylan não acordaria jamais...
O mar é feito de todas as lagrimas
Das dores produzidas neste mundo.
Todo sofrimento é apenas sofrimento
Para o mar...
Para o mar...

... não devia sê-lo para a humanidade.

Descanse no paraíso, Aylan Kurdy!




sábado, 12 de setembro de 2015

HOJE SERIA TEU ANIVERSÁRIO...




Não sou muito de acariciar o passado.
Não sou de ficar abrindo este velho e empoeirado baú e de lá arrancar seu grande rosário de boas e más histórias.
Não acredito mais no passado.
Tudo o que é realmente meu, já escrevi isso  um dia n’outro lugar, é esta prateleira de segundo do armário das horas.
É no agora que eu vivo.
É no presente que eu posso mudar minha existência e trilhar novos caminhos.
Como sorrir com gargalhadas já gastas?
Vou chorar sempre as dores de ontem, sabendo que o amanhã trará lagrimas mais cristalinas para irrigar sofrimentos frescos como a novidade de um novo dia?
Cada mal terá sempre seu dia. Nada mais.
Hoje seria o seu aniversário...
Lembrei-me disso sem querer.
Deixei a imaginação brincar, por um pouquinho.
Que bolo e guloseimas servirias?
Quantos presentes ganharias?
Sei que convidarias a todos, a todos mesmo, sem esquecer ninguém.
Espalharias sorrisos e risadas como quem atira flores.
Entregarias pratos generosos consciente dos elogios todos que receberias. Tinhas mãos de anjo na cozinha, minha querida!
O perfume de todas as flores que receberias ao seu próprio se misturaria, e a gente ali, a te olhar, buscando qual aroma é flor, buscando qual fragrância é Silvia.
Ai... Ai... hoje seria o seu aniversário...
Odeio passado, minha amada, odeio.
Costumo flertar com o presente e ignorar também o futuro.
Mas hoje... hoje seria o seu aniversário...
O que já foi enterro numa cova funda de esquecimento.
O que agora vivo transformo em esperança.
Com esperança avisto o futuro, que nunca foi meu, mas por este novo olhar te enxergo, Silvia!
Sei que é lá que estás.
Sei que é lá que te reverei novamente, esquecido de aniversários, a eternidade nada entende disso...
Breve, Silvia!
Breve, Silvia!
Será num agora que te encontrarei, querida, quando JESUS voltar... num futuro próximo!