...
Saí como quem foge do estresse mais sufocante.
O
que seria para você a coisa mais estressante?
Vivo
tempos onde esta inescrupulosa legião chamada estresse lança suas garras sobre
mim, vinda de todos os lugares, em todas as formas e jeitos, com força e
aptidão macabra.
Naquele
dia, entretanto, escapei...
O
plantão foi daqueles que tudo aconteceu, onde tudo não é apenas uma figura de
linguagem.
Vou
desprezar de falar da condição de trabalho do agente, falar disso é como pregar
no deserto: cactos e lagartos não entendem de problemas penitenciários.
É
assim que me sinto.
Num
deserto, cercado por cactos e lagartos. Pregando para um vazio que não me
escuta... nem o eco devolve minhas palavras...
Quando
ganhei o exterior e o sol bateu na minha face, minha pele abriu todos os poros.
O
sol é mesmo mais bonito aqui fora.
Respirei
fundo. O ar encheu meus pulmões e senti-me vivo, vivo, vivo novamente.
O
ar quente da cadeia havia ficado para trás.
Nada
de fugas, de assassinatos, de cobertores curtos para cobrir postos, de maldade
humana, de possibilidades de motins e rebeliões; de gente que cospe uma gosma todos
os dias no colete, uma gosma feita de indiferença e ausência de compromisso com
as coisas mais básicas do sistema.
Antes
do sistema, existe o companheiro.
Antes
do companheiro, devia existir a própria dignidade.
Se
não houver esta dignidade construída da matéria prima mais barata das coisas
triviais do cotidiano no agente, não existirá compromisso com o companheiro,
nem com o sistema.
Naquele
dia, depois da noite mais escura, escapei...
Peguei
minha moto 150 e ganhei a rodovia.
Em
dado momento, olhei para o céu azul e tudo estava tão lindo.
Fiz
uma oração para meu Senhor agradecendo por ter escapado incólume após mil terem
caído ao meu lado, e dez mil à minha direita, e nada, absolutamente nada chegou
em mim.
Legião
pensa que tem poder... mas o sangue de Jesus é bem maior.
Confesso
que uma lágrima caiu pelo meu rosto e o vento forte a levou para molhar um
pedaço do asfalto quente.
Chorava
a alegria dessa comunhão de sentir Ele tão perto de mim, de saber que Ele cuida
de mim e que estava com a gente, eu e meus companheiros, mesmo nos momentos
mais tensos e perigosos.
Agradeci
pelos meus companheiros, corajosos companheiros que dividem comigo a miséria de
não ser reconhecido por nada e ninguém.
Somos
gente esquecida do mundo.
Ninguém
quer saber de nós.
Mas,
escutando o ronco da moto, vendo o asfalto passar abaixo de mim, sobre minha
cabeça o céu azul mais lindo, ao meu lado arvores e flores se abrindo belas
para me encantar eu soube que nunca estarei sozinho de verdade.
Esqueça
de mim, mundo, por gentileza!
Nada
tenho e nada quero com você e sua honra barata.
Abracei
meu Jesus na velocidade e no anseio de chegar em minha casa.
Depois
do mais tenebroso plantão...
...
veio a alegria mais intensa de se saber amado de verdade!
Não
estamos sozinhos, meu companheiros!!!