Todos diziam na cadeia que aquele preso
não era certo...
Certo aqui
aponta para problemas mentais...
Todas as manhãs,
antes da troca do plantão, antes mesmo da realização do confere geral, colava
seu rosto na boqueta de sua cela e orava para Deus e todo mundo, isso não sendo
força de expressão.
Aos domingos,
nos dias de visitas, vestia um terno que havia ganho e que deveria ser uns dois
números maiores que ele e saia com sua Bíblia para o solário, andava por aqui,
andava por ali, entretido consigo mesmo em meio à multidão de internos e
externos que se misturavam nas caminhadas.
De repente,
iniciava um sermão, pregava alto como se o céu devesse escutar, falava sobre
arrependimento de pecados, salvação e do sacrifício de Jesus pela humanidade.
Pregava
direitinho...
Mas, como não
era certo, segundo a teoria em voga na cadeia, pouca gente o escutava.
Ele sabia
disso...
Não se
importava...
Arrancava da
memória falha, aqui e ali, alguns versículos bíblicos bem pertinentes com o
sermão e seguia em frente em seus alertas escatológicos: Jesus está voltando!
Arrependam-se!
Naquele dia, em
especial, um policial penal pegou-se a prestar atenção nele e em sua pregação
no deserto árido da cadeia – ele estava sozinho, sozinho em meio à multidão que
caminhava entretida com as coisas da carne.
A uma certa
altura de sua prédica, mandou um questionamento que serviu como retórica: “Sei
que vocês pensam que sou louco...” Deu uma pausa e olhou para a multidão que
passava, em seguida respondeu a ele mesmo. “Sou louco por Jesus!”
O policial
entretido com o sermão do pregador, pegou-se a perguntar-se: “Será que esse
preso é louco mesmo? ”
A pergunta ficou
no ar, flutuando, esvaindo-se no vento, esquecida de uma resposta.
Então,
levantou-se para os afazeres rotineiros e sua alma respondeu:
“Louco ou não,
nesta tarde, ele é o homem mais lúcido desta cadeia. Jesus está mesmo
voltando...”