sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DEVANEIO...


Ao J.



Um devaneio bizarro!

Foi a isso que chamou seu pensamento de amor, um amor que aconteceu lá atrás quando os dias ainda se vestiam de romance para ele.

A grande verdade é que ele a quis por um momento, a desejou tão intensamente como se pode querer um grande amor. Ela lhe fez amor diferente, devasso, sem regras, sem manual, sem etiquetas, cada novo momento servindo de novidade para outro instante. Ele despejou-se em sua cama como a água que escorre garganta abaixo aplacando a sede – ela saciou-lhe a sede, sendo o copo e a própria água.

Por um momento, um fugaz momento, ele disse não...

Não aos seus valores, aos seus princípios, para a razão que o acusava em todo o instante. Sua consciência ele trancafiou numa sala escura de seus desejos mais ocultos, sufocou seus gritos, virou-lhe as costas oferecendo a indiferença em generosas porções.

Mas o correto é vara verde, enverga e não quebra.

Num instante em que a selvageria desse amor lhe deu paz, a consciência conseguiu fugir e se fez ouvir.

Uma balança instalou-se em sua decisão – de um lado, o corpo e o coração, do outro, a consciência e a razão; de um lado o sexo e o amor enlouquecido, do outro, as perspectivas todas que, em coral, cantavam as tragédias de uma paixão aleijada de futuro dos pés a cabeça.

Largou-a!

Não sem sofrimento largou-a!
Ele seguiu sua vida sem grandes assaltos e arroubos, sempre tendo a normalidade como leal companheira.

Ela seguiu sua vida, meteu-se em várias confusões amorosas e envolveu-se com um sujeito canalha que transformou sua vida toda num inferno – a própria vida dele, explica-se, também se mudou para o tártaro.

Um devaneio bizarro, pensou, afastando de lado esse pensamento de amor. Suspirou aliviado, acalmou o coração e deu um beijo em sua consciência sempre atalaia. Por vezes, mais importante que um coração que saiba amar intensamente e sem juízo é ter um que saiba dialogar com a razão.


Ilustração: Paulomadeira.net, colhida no ótimo sítio de fotografias www.olhares.com

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ADEUS AOS HERÓIS!

Eu quis ser herói!
Derramei meu sangue, sofri, chorei,
Dilapidei minha fé e minha vontade.
Dissequei todos os meus valores e ideais
Diante de um altar de tolos.
Errei o caminho...
Não se fazem mais heróis com sangue!
Os heróis de hoje se constroem com palavras!
Tudo bem...
Eu me adapto...
Sou melhor com as palavras do que com as espadas!
Se eles não querem heroísmos
Não farei de mim próprio um mártir!
Não quero mais heroísmos...


Parafraseando os poetas:


(... E ambos já se foram...)


“Os heróis morrem de overdose...
(de tolice...)
E os bons partem antes...”


Esqueçamos os heroísmos... Isso virou besteira!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A CASCA

... e tinha os lábios de Nastassja Kinski emoldurado por um rosto de Marlene Dietrich. As feições eram belas e firmes, femininas e sensuais, chamavam a atenção masculina pelas sugestões selvagens que emanavam dela, a mulher era uma força da natureza e tudo nela voltava-se para um norte lascivo de sugestões mais que concupiscentes.



O ambiente era muito preguiçoso dentro da noite, a madrugada ceifava os cansaços do dia dos passageiros do ônibus com um instrumento bem afiado e, sua entrada, numa estação qualquer, para os que estavam atentos quebrou a rotina sonolenta dentro do veículo. Primeiro, chegou o seu cheiro de fêmea em ebulição, um perfume instigante que ouriçou as narinas e todos os feromônios do lugar, depois, veio seu rosto e seu corpo e todos os olhos machos dançaram sob o luar por sobre aquela geografia espetacular de relevos e curvas. Ela, por sua vez, desconsiderou quaisquer observações e, decidida, sentou-se no seu lugar da mesma forma como uma rainha se acomodaria em seu trono, tinha toda a empáfia de uma majestade apenas faltava-lhe a coroa.



Em seu posto, correu os olhos pelo ambiente, por cima, investigando sem curiosidade a tudo com aquele ar de superioridade. Nela, diversos olhares tatuavam-se sensibilizados com sua beleza singular. Ela ignorava, transformava todo esse evento em algo pequeno, como se tudo o mais ficasse pequeno diante de sua oponente presença.



E nela, talvez seja essa a grande verdade – tão grande quanto sua beleza selvagem e livre era sua arrogância, sua prepotência, seu ar ególatra que a fazia acreditar sempre que era o sol e, o mundo ao seu redor, astros que orbitavam em torno de si.



Não olhava ninguém, nem cumprimentava.
Não dizia boa noite, nem pedia licenças.
Não agradecia, não respeitava fronteiras fossem elas reais ou imaginárias.



Para ela, sua beleza física já era o bastante e, somente isso, nada mais que isso, já era o suficiente para agradar os outros. Seu combustível era unicamente seus desejos; seus limites, a satisfação destes. Boas maneiras e gentilezas era uma roupa que vestia eventualmente, um caminho pouco pisado e somente utilizado para garantir seus interesses.



Olhei-a novamente, desta vez sob o filtro da verdade e vi sua verdadeira face, horrenda. Sua beleza de princesa transmutou-se e a fera que habitava nela mostrou-se por inteiro. Fechei os olhos rendendo-me aos encantos de Morpheu, esquecendo-me de belas e de feras, sabendo intuitivamente que uma premissa cravara-se feito seta em minha consciência – a beleza pela beleza é pouco, o que torna uma pessoa especial e linda é todo o contexto, aliando o físico privilegiado a uma gama de qualidades espirituais e de comportamento.



A bela e anônima garota que entrou numa estação no meio do caminho e, sumiu por outra esquecida no trajeto, foi uma das mais belas mulheres que vi na vida, mas, era somente uma casca de beleza, exuberante sem dúvida, mas somente uma casca...




Foto: colhida na internet

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O REECONTRO

... E quando a médica entrou no quarto e viu o novo paciente que havia chegado na emergência, assustou-se como raramente houvera se espantado antes, era o seu melhor amigo e que há tempos não se viam...

Deixou-se levar... levar... e em sua mente surgiu em flashbacks antigas e belas histórias que havia vivido com seu amigo mais que querido: os abraços fraternos; os beijos carinhosos; as confidências mútuas; os sonhos planejados; as conquistas de um e de outro; as lágrimas que enxugaram em suas faces, de alegria e de tristeza; as gargalhadas que escaparam nas tardes de trabalho; a torcida e o apoio inquestionável que ele lhe deu para chegar aonde agora estava; o dia em que se despediram e juraram amizade eterna.

Ela olhou o amigo, estava todo quebrado... Meu Deus! Pensou consigo próprio, todo quebrado!

Começara um exame mais detalhado quando percebeu que ele havia recobrado os sentidos e a olhava intensamente, a reconhecendo, era um milagre, pensou, ele estar consciente... Ele estar vivo!

Ele tentou sorrir, ela percebeu, mas ele... Ele não conseguia... Todo o seu corpo não respondia aos seus estímulos.

Ele fez uma sugestão qualquer a convidando para aproximar-se dele.

Ela debruçou sobre ele quase encostando seu ouvido à boca do amigo morimbundo.

- E.... Erh.... Erhhhh...
- Não fale, meu amor.... não fale. Ela clamou desesperada.

... E tudo o que ainda restava nele, ele concentrou naquela tentativa desesperada de lhe falar, retirava dos lábios uma série de sons estranhos que ela entendeu como um “te amo”, duas palavras que escaparam tingidas de vermelho. Ele lutava para viver...

Quando ela afastou a face e buscou-lhe os olhos viu que ele já não dominava mais nada em seu corpo e sua vontade apressada de abraçá-la não conseguia ser satisfeita. Ela deixou cair uma lagrima quente que se misturou a dele, já fria, ambas se tornaram uma única e escarlate escorregou pela face machucada do amigo.

Quando ela o abraçou manchando o branco do seu jaleco com o rubro líquido, ele já estava morto, e isto ela já o sabia... Mas não era mais seu corpo que abraçava, era uma lembrança e uma saudade...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

FRAGMENTOS

Tudo pareceu muito simples naquela manhã de outono, mas, eram tempos que o simples tinha enorme valor para mim.

(Trecho da Crônica “Divagações e Bolo de Milho” Publicada em nel mezzo del cammim em 30/04/2010)


As palavras se enganam às vezes, os sentimentos não se enganam jamais!

(Trecho da crônica “A gente se vira...” publicada em nel mezzo del cammim em 29/03/2010)



... E sou o segundo e todos os outros tiros de minhas guerras em todos os fronts, sou macho, sou coletivo, sou razão e sou pura emoção – não tenho velas para queimar no altar da contemplação, apesar de me fascinar ela me é hoje um deus pagão!

(Trecho da crônica “A Fera” publicada em nel mezzo del cammim em 19/01/2010)


Compreendi, finalmente, que ninguém entende mais de políticos brasileiros do que as baratas... E fiquei escutando-a madrugada adentro enquanto ela fumava um roliço charuto cubano!!!

(Trecho da Crônica “ La Cucaracha” publicada em nel mezzo del cammim em 04/01/2010)


Noutro instante, que surgia do desejo da paixão, amavam-se novamente sobre um grosso carpete no chão da sala, um amor feito de muitos entretantos e um certeiro finalmente. Ela gemia aos seus ouvidos seu gozo e seu testemunho de amor, e ele lhe entregava com afeto e caricias a prova maior de sua devoção por ela.

(Trecho da crônica “Os sonhos vem com o crepúsculo” publicada em nel mezzo del cammim 1º/01/2010)

Gostavam era de ver o cair da tarde, o sol se escondendo no horizonte trocando de cores de uma forma mágica: O amarelo meio dia se alaranjando para as cinco horas até vestir-se do rubro ocaso das seis horas. Ficavam ali em silêncio, sentindo a brisa fresca vespertina que sussurravam poesias esquecidas no vento e captavam desses segredos inspirações diversas para a vida e para todas as coisas.

(Trecho da crônica “Crepúsculos” publicada em nel mezzo del cammim em 15/12/2009)



"As grandes expectativas estragam o amor. O amor, minha querida, prefere o ingênuo, por isso, te ofertarei o simples:

Meu coração, para te abrigar!"

(Trecho da Crônica “A forma como tu me queiras...” ´publicada em nel mezzo del cammim em 22/11/2009)


De tudo o que me lembro esse tudo me deixa em êxtase.

(Trecho da crônica O VELHO CINEMA, publicada em WWW.fatimanews.com.br em 21/09/2009 e também em nel mezzo del cammim)


Porque não existirá o amanhã,
Entendas isso definitivamente.
Tudo o que é realmente teu
É este segundo solitário de agora em que habita tua vida.
O amanhã pertence ao desconhecido,
Ao improvável,
Ao absoluto e intocável destino.

(Trecho da poesia E, DE REPENTE, NÃO É MAIS VERÃO..., publicada em WWW.fatimanews.com.br em 16/12/2008 e também em nel mezzo del cammim)

Ilustração: Retirada do site rbiancarelli.wordpress.com

domingo, 8 de agosto de 2010

O MUNDO QUE NÃO ACABA NUNCA

A primeira vez que vi o mar foi uma emoção arrebatadora.

Cheguei à frente dele e o fiquei olhando, os olhos se esticando, se esticando, e o fim não chegava nunca, o mar engolia o horizonte se engalfinhava com ele, misturava-se a ele, um tornando-se o outro, o outro tornando-se o um.

Não me fiz de rogado, tirei a camiseta e joguei-a na areia branca, fiquei somente de sunga e corri para as águas que me convidavam para um abraço. Tornei-me criança novamente... Pulava e gritava, cantava loas para a maravilha de estar ali, de sentir a brisa marinha no rosto, a água salgada tocando todo o meu corpo, os pés pisando a areia, o som do mar – que coisa fantástica é o som do mar, as ondas quebrando nas rochas, a maré vindo beijar delicadamente a orla, o sol que se doava generosamente para todos, me senti mais perto de Deus e de todas as coisas, através do mar, do mar...

Sai purificado daí algum tempo e procurei a camiseta que havia atirado na praia e, descobri, que a maré havia levado-a para os confins do oceano. Não fiquei triste, pensei comigo que era um preço razoavelmente barato para pagar pela felicidade que havia recebido gratuitamente.

Olhei para o mar, onde ele beija o horizonte e, em pensamento, numa conversa intima com ele, como se fossemos dois velhos amigos, agradeci por tudo e por todos. Fui-me embora, de sunga mesmo, a casa em que estava era perto e os amigos já me aguardavam para o almoço.

Cheguei ao meu quarto e vi sobre a cama, a minha camiseta que havia deixado na praia. Perguntei para alguém que passava se ele sabia como ela havia chegado até ali e, este alguém me disse que um amigo meu havia trazido para mim...

Sai do quarto e fui para fora, para a rua, de onde podia ver o mar, para agradecer novamente. Olhei para ele fixamente, e com o coração despejei a minha gratidão num sussurro que como uma vaga levada pelo vento alcançou o mar e beijou-o em sua face.

No mar, uma gigantesca onda se formou e veio se quebrar na orla, tocando com seus lábios prateados e sorridentes a praia branca...


... O mar respondia e me convidava para cirandar em suas águas...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

FRAGMENTOS DO DIARIO NUNCA ESCRITO POR MIM

[...] Eu amo, eu sofro, eu calo, eu grito, eu corro, eu suo, eu sorrio, eu choro, sou tantos “eus” que me perco nesta multidão de emoções, tento me entender no meio desse mosaico de sensações. E isso tudo não me desmerece, nem fala contra mim, gosto de ser assim, gosto de sentir (me sentir) sempre na voltagem mais alta. A sensibilidade foi para mim sempre uma de minhas maiores virtudes...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O CALICE DOIRADO DAS HORAS

Eu bebi teu desejo, meu amor,
No cálice doirado das horas.
Tua pele macia e tesa
Foi o alvo lençol onde depositei
Meus beijos e os toques mais íntimos.
Oh, meu amor! Teus “ais”
E teus sussurros de amor quebraram
O silêncio soberano da madrugada
Enchendo de som e vida
O reino celestial de nosso quarto.
O teu desejo é o mais puro elixir para mim.
Ele revigora e me energiza,
Me enrijece e me masculiniza,
Transforma a mim, um mortal, em um deus
Que faz inveja para Baco e Eros,
Pois deito com a mais bela das Minervas.
E, abra teus olhos, meu amor,
Observe que a madrugada lá fora,
Invasora, tomou o nosso reino,
Mas aqui, em nossa cama,
Ela não tem poder,
E não me cega,
Pois teu desejo é meu norte
E conheço instintivamente
Todos os teus caminhos,
E todos os teus caminhos
Levam-me ao teu desejo.
Bebo, bebo, bebo tua excitação
E toda a tua vontade,
Delicio-me com teus olhares de querer,
Farto-me com teus abraços de paixão,
Perco-me no teu corpo receptivo
Para me encontrar, todas as vezes,
Em teus lábios entreabertos e úmidos.
Teu beijo me ressuscita,
Todas as mil vezes que morro dentro de você!
Que venha o tempo,
Este ladrão da nossa juventude.
Ele não tem poder sobre mim...
Estarei bebendo seu desejo,
Enquanto ele me for servido,
Agora e sempre,
Dentro do cálice doirado das horas...



Ilustração: Tela de Salvador Dali

domingo, 1 de agosto de 2010

COMO SE FOSSE VIRGEM...

Voltou a ser virgem novamente.
Perdido, tolo, inocente, adolescente,
Num novo instante era virgem novamente...
... E, noutro momento, a virgindade se ia
Com um prazer ainda maior que o original.
Lembrou-se de tudo... Como começou...
Do seu sorriso encantador.
Do seu convite sibilante preso
Entre a delicadeza de um gesto,
A sugestão de uma frase e o
O famoso não que dizia sim!
Pegou em sua mão então –
A senha para o “aceito”!
Levou-a para o quarto,
Desnudou-a...
Devagar...
Devagar...
E tomaram um longo banho juntos...
(De banheira, para ser mais romântico!)
Degustaram de uma taça de vinho,
Leram poesias um para o outro,
Riram de algumas besteiras
Contadas aleatoriamente.
Dançaram pelo quarto
E se beijaram... Longamente....
Com carinho, primeiro!
Com furor, depois!
O corpo dela escorregou para a cama...
O olho dela buscou o seu carregado
De pura eletricidade erótica...
Ela lhe sorriu novamente,
Abriu os braços para ele
Num convite muito sensual... E...
Ele mergulhou nela como no mar,
Misturou-se a ela,
Deixando de ser ele para ser ela,
Dentro dela... Dentro dela...
Amou-a como se fosse a primeira vez!
Amou-a como se fosse a última vez!
E, ao terminar, estava virgem novamente,
Para ela... Para ela...
Cheio de desejo e paixão,
Pronto para ela outra vez!


Foto: Colhida na INTERNET – Google imagens