segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

LANÇAMENTO DO LIVRO "NO REINO DOS CADEADOS"


No Reino dos Cadeados nasceu não de um sonho, sim de um pesadelo diário que se ergue sobre os escombros de vidas exiladas.
Alguém poderá acusar que o texto possui tons líricos ou romanescos demais e se torna arrogante acreditar que ele possa demonstrar a verdade na forma como ela se mostra dentro da grande quimera. Ainda que não rejeite de todo essa acusação, não a abraço. Exploramos essa mitologia com a finalidade de entreter enquanto revelamos uma harmoniosa simbiose entre a realidade e a fantasia. Escrever deve ser antes de tudo um ato de prazer.
Entregamos uma aparência de fantasia para uma realidade que de alguma ou outra forma se desgarra todos os dias dentro das cadeias desse País. As crônicas apresentadas são lapsos de histórias, ou junção de várias histórias, sem personagens e sem tempo – nomes e períodos não importam, crônicas se preocupam com mensagens, se forem edificantes, muito melhor. O interesse é convidar para uma reflexão sobre esse universo, os que estão dentro dele que o use como um casulo para se transformarem em algo melhor e ao saírem tenham voos altos. Os que estão fora, que nunca o queiram conhecer. O Reino dos Cadeados é um lugar de brutos.
Nossa intenção não é polemizar, condenar ou absolver vidas, não temos de verdade essa pretensão, esse direito, essa capacidade. Deixamos isso para Deus, somente o Pai Eterno para enxergar os corações e dar a eles o derradeiro julgamento.
Cadeia é um pesadelo que se tornou realidade, fica a reflexão do guardião do Reino dos Cadeados.

O livro chegou e começou a ser vendido em 9 de outubro de 2019, menos de 60 dias depois, já havia se esgotado a primeira tiragem. Glória a Deus por isso. Hoje não temos mais livros para vender. Agora, vamos para a próxima etapa e que Deus continue nos ajudando e abençoando. Grato a todos aqueles que adquiriram o livro e contribuiram para o seu sucesso. 

sábado, 16 de novembro de 2019

O CEGO VOO DO ÍCARO



Cadeia faz coisa...
Essa é uma frase recorrente no reino dos cadeados.
É um eco...
Um eco com vida própria que surge toda vez que a monotonia é quebrada, que o extraordinário agita o organismo da quimera.
Aquele era um dia normal dentro do primeiro pavilhão.
A megera estava adormecida...
Normal ali, entende-se, como uma rotina sempre nervosa, agitada, entra e saí de presos, muitas celas abertas derramando muitas vidas na corrente sanguínea do raio.
Pavilhão de trabalho é assim mesmo – sempre frenético. Tranquilo encima das águas, por baixo, as águas rugem.
Do atento olhar do policial penal, nada ficou esquecido. Não vou sublinhar tudo porque sugere o bom senso que o tudo é algo estranho, abstrato. Tudo, somente Deus. E, lembrem-se, que por baixo da superfície da cadeia as águas são turbulentas...
A manhã era preguiçosa.
Um preso tecia uma rede de pesca, outro cuidava das mercadorias da pequena cantina. Uma mariposa, mulher de cadeia, entrava furtivamente numa cela e todos fingiam não ver, mas todo olho dentro do pavilhão viu. Dois homens carregados de janeiros caminhavam pela quadra de esportes, naquela manhã surpreendentemente esquecida. Um índio tomava um chá frio. Dois índios comiam pães adormecidos. Três índios tomavam tereré.
A manhã era mesmo preguiçosa...
De repente... a quimera tem um espasmo... a casca frágil do extraordinário se quebra e eclode junto com o parto do fora do comum um grito do agente: “Tem alguém encima do telhado!”
Todos buscam o telhado, mil olhos procurando o desconhecido e todos conseguem ver, um preso vindo por cima do telhado, desembalada carreira, em direção do precipício de uns sete metros que desembocava na dura quadra de concreto dentro da entranha do monstro.
“Estranho...” pensou o policial penal, “o preso não corria para fora, ele corria para dentro da cadeia...”
Começa uma correria por todos os lados dentro do pavilhão.
Presos pensam numa mesma frequência.
Alguém joga um velho colchão no chão duro da quadra, no mesmo instante, o corpo do preso se estatela no concreto da quimera. Nunca falei antes, a pele do monstro é de concreto.
“Ele se jogou lá de cima”, alguém sugeriu o óbvio.
Os presos se ajuntam, recolhem o caído como se ajuntassem cacos do mais fino cristal e com excesso de cuidados levam até a área de segurança onde é retirado pelos policiais penais para as providências de emergência e hospital.
Nas grades de segurança, dezenas de rostos se colam ao frio aço das grades tentando entender o motivo de alguém querer se matar assim... assim... ou de qualquer outra forma...
Presos pensam numa mesma frequência, como se ouvisse o questionamento íntimo de todos, um deles responde:
- Cadeia faz coisa...
E um coral de vozes assustadas responde em uníssono:
- Cadeia faz coisa...
Enquanto isso, uma vida quebrada é levada urgente para o hospital.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

TE AMO MAIS...



Dizes tu que me amas.
Sim, acredito nisso com a
Fé do meu primeiro amor.
Duvido apenas que seja mais do que eu.
Duvido....
Porque eu respiro você,
És a atmosfera do meu amor.
Bebo você,
És a água que sacia toda minha sede.
Sou dependente de você da forma
Como um beija flor é de sua rosa.
Quando acordas, és minha alvorada.
Quando adormeces, meu crepúsculo.
Tu me preenches de forma absoluta,
E o que transborda é o amor
Que vou despejando vida afora.
Os outros pensam que é meu,
Não, não é, é excesso,
Excesso de meu amor por você.
Voce entende de amar,
Não posso negar isso e isso reconheço.
Mas o meu amor por você
É luz que não se apaga,
É primavera presente e perene,
É alegria em forma de energia
Para minha vida.
Voce entende de amar, meu amor,
E isso eu sei....
Mas por você, minha bela,
Eu sou o próprio amor

terça-feira, 10 de setembro de 2019

A canção do meu coração





Não me perguntes sobre o amanhã...
Não me perguntes sobre qual será a matéria prima dos dias que ainda não se fizeram para nós...
Não quero pensar nestas coisas...
Quero pensar nos dias atuais, no agora, no presente, no que vou viver e no que vou fazer dentro deste segundo que enclausura a minha vida e a tua.
Eu enxergo tua face dentro deste momento, não no que virá...
Meu beijo alcança teu beijo agora e teu abraço aquece meu corpo neste instante e não tem poder para espantar o frio do mais tarde.
Teu sorriso é o brilho que ilumina esta minha noite onde todas as poesias foram revisitadas.
Ainda escuto a canção do meu coração após tua mão ter pego a minha de forma tão delicada, e esse som tem todas as notas musicais do recente em sua melodia.
O futuro não existe para mim não consigo viver com as impressões que enfeitarão outros dias.
O amanhã não é meu nem teu, meu amor, o agora é que é nosso!
Não me perguntes, portanto, sobre o amanhã...
Ele não enche a sacola de emoções do agora.
O presente se enche de nada se toda a preocupação for o futuro!
E, preciso te amar, meu amor, preciso te amar com a intensidade do último instante de minha vida, e o último pode ser agora e não no amanhã.
De que me valerá todos os projetos, todo ouro e toda pedra preciosa se o amanhã me trouxer montado em sua garupa branca o Anjo Azrael e seu cálice de morte?
Percebes, minha querida, nós não temos nada que senão um ao outro, que senão o agora e nada mais...
O amanhã não nos pertence e a ninguém.
Então venhas, dê-me um abraço como se este fosse o último, porque se o amanhã não se fizer para nós, eu amarei o agora ainda mais pois que é dentro dele que te amo!!!

... e de agora em agora eu te amarei para sempre!!!!





segunda-feira, 2 de setembro de 2019

DEPOIS DO EXÍLIO...

          
          Durante o inverno ela não apareceu...
Provavelmente a família a deixou recolhida dentro de casa, protegida do frio. Gripes e seus primos maus podem ser fatais na idade dela, já avançada em janeiros.
Hoje eu passei, como sempre, e olhei para a sua poltrona na varanda, onde ela costuma descansar nas manhãs embaixo de um sol sossegado, desses que gostam de acariciar a gente; os mais carrancudos, falando sobre os sóis, aparecem somente mais tarde e estes vivem irritados.
Cumprimentei com a alegria de sempre.
Seu cabelo parecia mais branco.
Sua pele parecia mais branca.
Mais alvo do que tudo isso foi o sorriso que me devolveu.
“Deus te abençoe, senhora!”
Ela olhou como que surpresa, poderia ter me esquecido enquanto esteve no exílio forçado pelo frio.
“Amém!”
E sorriu...
Não me esqueceu...
Soube disso, pelo sorriso.
Quis parar e falar que estava com saudades.
Mas não tenho toda essa intimidade.
Nossos contatos são assim mesmo, de passagem, rápidos, possuem a duração do tempo de um sorriso; não vivem mais do que um suspiro de uma saudade morta pelo olhar de quem se queria ver; ainda assim, são puros, cristalinos e tão verdadeiros que parecemos marcar a hora de nos ver todas as manhãs, quando subo para a academia e ela está em seu banho de sol matinal.
Nunca gostei de invernos... sua ausência forçada somente me trouxe mais um motivo para detestar essa estação do ano cinza e bolorenta.
Quando me afastei... Ia mais feliz... Ela ainda está por aqui a me encantar os dias com seu sorriso e sua expressão meiga e delicada.
Quando voltei... ela não mais estava lá... já havia se recolhido para o interior da casa, o sol já mostrava sua carranca e minha amiga não gosta de rostos ranzinzas.
Sorri para mim mesmo.... Sem problemas... amanhã seria um novo dia e ela, certamente, estaria lá...
Quem sabe... quem sabe... tomo coragem e puxo até um dedo de prosa... Amizades começam com sorrisos e trocas de gentilezas, mas elas se erguem sobre poderosas pernas somente quando energizadas por algumas boas conversas e relacionamento pessoal.
Segui em frente, a vida me chamava como sempre, olhei uma última vez para sua poltrona vazia e abençoei minha amiga, mesmo que de longe, sabendo que meu Deus tudo escuta, tudo sabe e alcança todos os lugares.
- Pai querido, abençoe-a neste dia...
E ficou em meu coração uma certeza de que ela estava bem.

sábado, 22 de junho de 2019

CANÇÃO QUE ESCREVI PARA DEUS



Meu Pai!
Foi numa noite estrelada
Que chegastes até mim,
Andavas calmamente
E trazias serenidade
Nos olhos e nas palavras.
Naquela noite, Papai!
Inquieto estava meu espírito.
Questionava coisas que me intrigavam,
Perguntava sobre espinhos na carne,
Lamentava as dores desse aguilhão
Que me perfurava a vontade e
A tranquilidade.
Mansamente convidastes-me
Para assentar-me à sua frente,
Tendo como testemunhas
As estrelas e os anjos do céu.
Atentos...
Falastes com a segurança
De Quem tudo sabe.
Mostrastes caminhos que somente
Quem percorreu todas as estradas
Poderia indicar com exatidão.
Depois... depois partistes,
Na forma como veio,
Deixando sua ausência
A certeza de sua sempre presença.
Confesso que não soube,
No primeiro momento,
Que eras Tu, Papai!
Soube disso mais tarde,
Quando um coração mais atento
Abriu meus olhos cegos
Para tuas maravilhas.
Ai, Papai! Ai, Papai!
Nasceu em mim uma saudade
Tão imensa, de ti,
Que em todas as noites de
Céu estrelado
Olho para o céu e Te busco
Desesperadamente,
Aguardando seu retorno.
Hoje, nessa noite,
Olho para as estrelas
E pergunto para elas de Ti, Papai!
Elas se iluminam poderosamente,
Como se sorrissem,
(Sei lá, não entendo muito de estrelas...)
E em meu coração nasce uma certeza:
Estais nas estrelas, Papai,
Estais acima delas e além,
Mas somente consigo Te enxergar
Quando olho para dentro do meu coração.
É nesse lugar, Papai,
Que mais amas estar.
Te amo, Papai!
Te amo, Papai!
Até daqui a pouco, sim....

domingo, 16 de junho de 2019

Quando o bem nasceu em mim...



Houve um tempo que pensei que poderia ser melhor por mim mesmo.
Buscava em minhas próprias habilidades e potencialidades as ferramentas para melhorar o que minha pessoa era.
Arrogância humana...
Acreditei que, por mim mesmo, podia construir algo melhor para o outro ou para mim mesmo...
Percebi um dia que não conseguiria sucesso nesta empreitada.
Árdua missão.
Ser melhor do que sou usando aquilo que tenho.
Entendi que minha matéria prima era fraca e má, miserável mesmo. Não conseguiria mudar nada porque a minha natureza era maléfica.
O ser bom não estava em mim.
O mau sim...
Um dia, impulsionado por um estímulo, entrei numa igreja.
Ouvi uma Palavra que falava de salvação.
Ouvi uma Palavra que ia direto em minha alma.
Ela me revelou o que, sem querer, havia já compreendido.
Eu sou mau e, por mim mesmo, não conseguiria ver a bondade.
Conheci o Bem e soube que o Bem foi crucificado na cruz.
Os homens não conhecem o Bem, por isso, tentaram eliminá-lo na mais cruel das mortes.
Mesmo morrendo, o Bem morria de braços abertos, como se convidasse os homens para um abraço, um encontro.
Aceitei esse abraço.
Aceitei esse encontro.
A partir de então, algo começou a mudar em mim.
Não por mim mesmo, porque sou mau, sou péssimo e nada em mim merece alguma coisa do Bem.
O Bem começou a atuar em mim.
Transformando.
Removendo.
Inserindo.
Modificando.
Eu mudei e com minha mudança mudaram-se meus pensamentos, meus valores e perspectivas.
Hoje acredito que posso ser melhor.
Não por mim mesmo...
Simplesmente e unicamente porque hoje o Bem vive em mim.
Eu O aceitei e O sirvo.
Esse Bem chama-se Jesus Cristo.

terça-feira, 23 de abril de 2019

LEANDRO BRITO COM E SEM RIMA



LEANDRO BRITO COM RIMA

Conheci um bom rapaz.
Foi a algum tempo atrás.
Percebi de imediato que era diferente.
Percebi de imediato que era influente.
Só não sabia eu o quanto ele era capaz.

Não se conhece ninguém de vislumbre,
No primeiro contato só vem o deslumbre.
Tem-se uma ideia do sujeito e sua educação,
Porém, conhecer exige tempo e dedicação,
Somente o passar dos dias traz maturação.

O tempo foi de grande generosidade
No cotidiano erguido no cimento da verdade.
A primeira impressão foi a que ficou,
Mais que ficou, se gravou,
Mais que se gravou queimou em minha personalidade.

O bom rapaz era muito mais do que eu esperava.
Era inteligente, simpático, de sagacidade,
O céu se abria para ouvi-lo quando cantava,
Da janela da admiração eu debruçava,
Quando com sua voz linda a Deus adorava.

Quando olho para ele só vejo as qualidades.
Não é exagero de minha parte, sem alarde.
Foi feito para várias especialidades:
Ser adorador, ser professor, ser cantor,
Para esparramar amor e fraternidade.

A alegria é uma das cores dessa aquarela,
Amizade que nasceu num dia, linda passarela,
Depois, no firmamento dos dias, ficou permanente,
Misturada com outra gama de sentimentos quentes.
Essa amizade, linda pintura, vai durar eternamente. 

LEANDRO BRITO SEM RIMA

Um tempo atrás conheci um jovem.
Sujeito bom de sorriso fácil.
No primeiro momento vi que ele era diferente.
Possuía qualidades que já no primeiro instante
Se sobressaiam e marcavam as primeiras expectativas.
As primeiras impressões são poderosas.
Não devemos nos cativar por elas,
Podem ser deveras enganosas.
O primeiro contato pode ser puro deslumbramento.
Mas o deslumbre não solidifica certezas.
O encantamento por uma pessoa se consolida
Dentro do firmamento dos dias,
Os valores, as atitudes, tudo isso e mais,
Cada um funcionando em nós como estrela e
Cada estrela sendo posta no céu do cotidiano.
Se o céu vai ser suficiente brilhante a ponto
De nos cegar os olhos de encantamento,
Somente o tempo poderá dizer...
No caso desse jovem funcionou mesmo assim.
As estrelas foram saltando de um baú
Cheio de generosidades e bondades,
As qualidades de sua personalidade
Eram astros radiantes
Que ofuscavam as trevas da mesmice humana.
(Hoje é tudo tão parecido!)
Dentre todo esse caleidoscópio de atributos,
Um chamou-me ainda mais a atenção: sua voz!
Ah! Quando esse jovem canta para Deus,
(Quando esse jovem canta para Deus...)
Os anjos param no céu para lhe escutar,
E eu transformo minha admiração numa
Linda janela amarela com rosas de gratidão
Plantadas sob o parapeito dessa vidraça
Que se abre para a mais perfeita adoração.
E fico lá, debruçado, glorificando o meu Deus
Com toda a força que possuo na alma.
Ele glorifica cantando.
Eu... glorifico falando.
É mesmo assim...
Muita gente se move por primeiras impressões.
Prefiro  que essa certeza caminhe
Por estradas mais seguras.
O ser humano é muito mais que um mero momento.
O tempo ajuda a escarificar o que somos,
E mostrar para o mundo o que poderemos ser.
Vi nele, na primeira vez, um bom sujeito.
Os dias o transformaram num amigo.
O tempo e o bom Jesus nos fizeram irmãos.
Amizades dentro desse pequeno espaço
Que o mundo chama de vida sempre termina,
Ou por finais indesejados,
Ou por túmulos de boca aberta
Que engole os fraternos numa bocada voraz.
Nossa amizade até nisso é diferente,
Ela vai durar para toda a eternidade.
Um dia, não mais estaremos aqui...
Estaremos lá... no céu...
E quando ele estiver cantando para Deus,
Na praça de ouro no meio do céu,
Estarei no primeiro banco, chorando,
Feliz, juntando a minha voz aos anjos:
Glória a Deus!
Lindo assim...
Simples assim...
Como nossa amizade!

terça-feira, 26 de março de 2019

CARROS QUE RUGEM



A estrada ensina muitas lições.
A estrada nos mostra muitas coisas.
Contudo, exige-se experiência para que, ao mesmo tempo que tenhas a atenção e o respeito necessário que a estrada exige, consigas captar dela as epifanias que ela tem para mostrar.
Dias desses, montado na minha 150, quando ia para o trabalho, vi um pequeno rebanho de pintainhos no meio da estrada.
Os enxerguei já de longe, atento que vinha.
Apertei poderosamente a buzina e o ronco da corneta espantou os bichinhos para o acostamento e além dele.
Que faziam estes no meio da estrada?
Imerso em meus pensamentos, um carro passou ao meu lado em grande velocidade, urrando ferocidade enquanto devorava distâncias.
Pelo retrovisor vi os pintainhos retornando, pareciam perdidos, sem rumo, desconectados.
Logo a frente, vi o corpo sem vida de uma galinha.
Atropelada.
Um carro feroz havia devorado algo mais que distâncias...
Entendi o que acontecia com os pintainhos...
Entendi o porquê de estarem perdidos...
Não entendiam o porquê de a mãe deles não se levantar, não mais vir até eles para afaga-los; cacarejar alguma coisa, um ensino, uma exortação.
Eles ficaram lá, percebi, na beira da estrada, olhando para a mãe e para toda a parte, buscando entender o que acontecia...
Minha moto já me levava longe, ela também, ainda que em menor proporção, devorava distâncias...
Eu já não era mais o mesmo.
Estava triste com o destino dos pintainhos.
A mamãe deles jamais retornaria...
A estrada realmente nos ensina muitas coisas, algumas delas, nos deixa profundamente tristes.
O corpo da galinha ficou para trás, uma pasta carnosa no escuro chão de uma estrada cruel que não respeita a vida selvagem e domesticada que nasce e cresce ao lado de suas margens.
A estrada só conhece a si mesma e os veículos que são seus senhores.