Durante o inverno ela não
apareceu...
Provavelmente a família a
deixou recolhida dentro de casa, protegida do frio. Gripes e seus primos maus
podem ser fatais na idade dela, já avançada em janeiros.
Hoje eu passei, como
sempre, e olhei para a sua poltrona na varanda, onde ela costuma descansar nas
manhãs embaixo de um sol sossegado, desses que gostam de acariciar a gente; os
mais carrancudos, falando sobre os sóis, aparecem somente mais tarde e estes vivem
irritados.
Cumprimentei com a alegria
de sempre.
Seu cabelo parecia mais
branco.
Sua pele parecia mais
branca.
Mais alvo do que tudo isso
foi o sorriso que me devolveu.
“Deus te abençoe,
senhora!”
Ela olhou como que
surpresa, poderia ter me esquecido enquanto esteve no exílio forçado pelo frio.
“Amém!”
E sorriu...
Não me esqueceu...
Soube disso, pelo sorriso.
Quis parar e falar que
estava com saudades.
Mas não tenho toda essa
intimidade.
Nossos contatos são assim
mesmo, de passagem, rápidos, possuem a duração do tempo de um sorriso; não
vivem mais do que um suspiro de uma saudade morta pelo olhar de quem se queria
ver; ainda assim, são puros, cristalinos e tão verdadeiros que parecemos marcar
a hora de nos ver todas as manhãs, quando subo para a academia e ela está em
seu banho de sol matinal.
Nunca gostei de
invernos... sua ausência forçada somente me trouxe mais um motivo para detestar
essa estação do ano cinza e bolorenta.
Quando me afastei... Ia
mais feliz... Ela ainda está por aqui a me encantar os dias com seu sorriso e
sua expressão meiga e delicada.
Quando voltei... ela não
mais estava lá... já havia se recolhido para o interior da casa, o sol já
mostrava sua carranca e minha amiga não gosta de rostos ranzinzas.
Sorri para mim mesmo.... Sem
problemas... amanhã seria um novo dia e ela, certamente, estaria lá...
Quem sabe... quem sabe...
tomo coragem e puxo até um dedo de prosa... Amizades começam com sorrisos e
trocas de gentilezas, mas elas se erguem sobre poderosas pernas somente quando
energizadas por algumas boas conversas e relacionamento pessoal.
Segui em frente, a vida me
chamava como sempre, olhei uma última vez para sua poltrona vazia e abençoei
minha amiga, mesmo que de longe, sabendo que meu Deus tudo escuta, tudo sabe e
alcança todos os lugares.
- Pai querido, abençoe-a
neste dia...
E ficou em meu coração uma
certeza de que ela estava bem.
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