Escuto o rugido do mar.
Sua fúria indômita,
Suas garras imparciais.
Toda carne é somente carne.
Para o mar...
Perto da praia, entretanto,
O mar é tranqüilo, calmo,
Suas águas aproximam-se da areia
Procurando jeito para tocá-las.
Na orla não existe raiva,
Toda praia é somente praia,
Para o mar...
Dia desses, tão igual aos outros,
O oceano furioso do alto mar
Entregou para as ondas calmas
Um corpo que foi depositado
Mansamente na praia.
De longe, eu observei,
Aquele pequenino corpo
Vestido num calçãozinho azul
E uma camiseta vermelha
Dormindo nas areias da praia.
As ondas vinham macias,
E o tocavam com frágeis dedos,
Incomodadas por acordá-lo,
Incomodadas por não acordá-lo.
E o pequenino, observei,
Simplesmente não se levantava.
Aylan era o seu nome.
Aylan fugia de outro mar,
Igualmente furioso e indômito
E que possuía sons assustadores
E garras mais imparciais ainda.
Toda carne é somente carne
Também para esse mar...
Na praia,
Um homem alto e esquálido surgiu,
Caminhou titubeante
Em direção a Aylan.
Parecia aborrecido...
Incomodado por acordá-lo...
Incomodado por não acordá-lo...
Ele se ajoelhou junto ao pequenino,
Que continuou deitado na areia,
Aylan simplesmente não acordava.
Em meu canto distante,
Derramei uma lágrima,
Lágrima é azeite de compreensão,
Agora compreendia tudo.
O homem alto e esquálido
Derramou uma lágrima, também,
E ela caiu no mar... no mar...
E se misturou a todas as outras...
O homem também entendeu...
Lágrima é azeite de compreensão,
Aylan não acordaria jamais...
O mar é feito de todas as lagrimas
Das dores produzidas neste mundo.
Todo sofrimento é apenas sofrimento
Para o mar...
Para o mar...
... não devia sê-lo para a humanidade.
Descanse no paraíso, Aylan Kurdy!