Não existe utensílio
mais nobre do que a marmita.
Ela confere ao seu
portador a melhor dignidade.
Trabalhadores usam
marmitas.
Sem querer dizer que,
quem não usa marmita não é trabalhador.
A questão é que ela é um
símbolo, um totem de sacrifício humano em produzir e construir.
Além disso existe outra
questão, para mim mais importante, raramente marmitas são preparadas pela mesma
pessoa que a irá usar, quem faz esse afazer é sempre outro, outro que derrama
durante esse trabalho todo um sentimento
de alguém que cuida e ama; de alguém que se preocupa com o próximo;
marmitas também são sinônimos de amor e solidariedade.
A maioria das pessoas vê
marmitas com desdém.
Não conseguem enxergar
nela o seu real valor. Não percebem que ela está sempre em seu lugar
desconfortável, longe dos lugares nobres da cozinha e quando convocada
apresenta-se para o trabalho sempre com o mais branco sorriso. Marmitas não têm
preguiça, nem reclamam de nada, elas amam servir ao seu senhor e faz disso uma
vocação despejando o melhor de si.
Marmitas sabem que,
depois de tudo, depois que forem usadas muitas vezes com piadas humilhantes
sobre elas, seu destino será retornar para o mesmo limbo, um universo onde
habita o esquecimento.
Elas não se importam com
isso, aprenderam a viver com o pouco que possuem esses raros momentos de
protagonismo onde seu senhor desfila com elas de mãos dadas pelas ruas, praças,
avenidas e empresas da cidade. Nessa hora elas são felizes, se sentem
importantes.
Oh, marmitas! O que
todos nós temos feito a vocês?
Eu não tenho nada melhor
para lhes oferecer, como vocês sou pequeno e frágil, mas ainda que tudo isso
seja pouco, lhes dou o meu reconhecimento pelo seu valor e nobreza.
Voces são singulares e
poderosas, queridas marmitas! Saibam disso! Não deixem ninguém lhes convencer
do contrário, o contrário é mentira.
E entre todas vocês,
existe uma que especialmente cumprimento. E esta história aconteceu muito tempo
atrás e me foi contada pelo meu amor mais lindo. Amor que também usa marmitas.
Amo vocês marmitas, vocês cuidam do meu amor.
Esta era uma marmita
pertencente a uma criança do campo, que assim como sua marmita também era nobre,
digna, valorosa, trabalhadora, e, ainda assim, era humilhada diariamente pelos
orgulhosos (tolos!) que acreditavam que a gordura saturada da cantina da escola
lhes premiava ostentação e superioridade.
Um dia, esse grupo de
tolos orgulhosos jogou a marmita dessa criança no chão e todos viram a comida
se espalhando pelo frio chão da escola enquanto que a marmita rolava
estrondosamente escadaria abaixo.
As lagrimas de vergonha
da criança misturaram-se as lagrimas de escárnio dos ricos debochados.
O quadro pintado parecia
de Salvador Dali.
De um lado, a marmita
humilhada; do outro, os lanches de cantina exaltados.
Isso não é para mim, não
quero conhecer esse mundo.
Mundo que prefere os indiferentes
e frios lanches de cantina ao calor sentimental de uma marmita.
Sei e somente sei que
precisamos de mais marmitas.
As pessoas necessitam
delas, urgente.
Quanto a criança, ela sobreviveu,
lembrem-se que tinha gente que enchia sua marmita todos os dias e essa mesma
gente a protegeu e a amou, e ela cresceu,
se tornou um pai de família, foi produtivo para a sociedade e se tornou
um servo do Senhor.
Os tolos orgulhosos???
Ah! Esses outros eram apenas lanches de cantina, desses que se compram em
qualquer lugar...
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