sábado, 23 de janeiro de 2016

EMERALDO, O ZÉ


Existem coisas que aproximam.
Existem coisas que distanciam.
Conheci o Zé da Chalana do rio Paraguai num final de tarde qualquer do verão corumbaense. Era final de ano e ele iria fazer a ultima viagem do dia, nos acolheu com a mesma energia, vivacidade e simpatia como se fosse a primeira excursão.
Havia um sorriso sempre presente escondido em sua face, estes sorrisos que não se apresentam cheio de dentes, e sim, que ficam pregados nos rostos com os fortes cravos da simpatia. Estes nunca saem, não importa o que aconteça. Sorrisos com dentes são frágeis demais, qualquer coisa os fazem sumir para uma terra longínqua onde se exilam e dificilmente saem de lá. Terra estranha. O sorriso do Zé era uma rocha inexpugnável em sua rosada face.
A mulher do Zé é a Dona Lú.
Era ela quem ia para o meio do povo fazer ás vezes de mestre de cerimônia distribuindo galanteios; gentileza sempre foi a melhor propaganda do Zé.
Iniciada a viagem tudo era muito exuberante, a natureza do pantanal chama a atenção pela sua riqueza na fauna e na flora, tudo isso tendo como moldura uma paisagem magnifica. Deus é um poeta, sem dúvidas.
Não desviemos nossa atenção nos atrativos da paisagem e voltemos para nossa narrativa.
O Zé não nasceu José.
O Zé nasceu Emeraldo.
Ele se tornou Zé por um acaso do destino.
Chegou um dia cheio de sonhos do interior de São Paulo para tentar a sorte no pantanal, após alguns anos de trabalho adquiriu uma chalana.
As coisas não começaram bem, Emeraldo trabalhava muito, mas o sucesso não se aproximava dele. Ele tinha tudo pronto, e sabia bem disso. Mas o pavio da sorte jamais era aceso, assim o sucesso não estourava.
Num dia de rotina alguém que não conhecia Emeraldo enxergou em Emeraldo um Zé. Outro alguém escutou a conversa do Zé e se aproximou, papo vai, papo vem, estas pessoas encantaram-se com a simpatia do Zé e saíram espalhando Corumbá afora as delicias da chalana.
No mesmo instante, Emeraldo entendeu tudo e acendeu o pavio da sorte.
Enterrou com pás generosas de esquecimento o Emeraldo e pariu o Zé.
Emeraldo distanciava as pessoas.
O Zé não, o Zé as convidava para afinidades, aproximava todas elas de si como moscas em mel, as amabilidades e as gentilezas do Zé eram ingredientes fáceis para fabricar amizades... e clientes.
É certo que a chalana ter aparecido no inicio de uma novela de sucesso ajudou, mas Zé sempre duvidou se o sucesso midiático teria vindo se sua barca tivesse o nome de Emeraldo. Até a barca gostava mais do Zé do que do Emeraldo.
Emeraldo distanciava mesmo as pessoas.
O Zé aproximava.
Quando o passeio terminou e fomos embora, lembrávamos de jacarés preguiçosos na tarde pantaneira e de gaivotas pescando; também vinha na memória o ocaso que se deitava preguiçosamente sobre o leito do rio Paraguai; o que realmente ficava protuberante em nosso encanto era a simpatia do Zé, o Zé que nasceu Emeraldo.
Só que Emeraldo distanciava as pessoas, e o Zé queria estar perto delas, falar com elas.
Existem coisas que distanciam.
Existem coisas que aproximam.
Quando a boa vontade encontra as gentilezas obtém-se a fórmula perfeita das afinidades, essa goma que une as pessoas. Zé descobriu isso naturalmente, estava nele, ele somente não sabia disso quando era Emeraldo, tudo se fez claro quando se tornou Zé.
Afinidade é bom para os negócios, muito melhor para os relacionamentos.
Posso estar equivocado, a gente se engana em muitas coisas. No que tange aos nomes de todas as gentes nada se apresenta contra um, outro ou aquele nome – neste aspecto, Emeraldo e Zé se equivalem. Nomes de pessoas são apenas nomes, não tem força para construir uma biografia, o inverso é que é verdadeiro – são os homens com suas ações, atitudes e seu olhar sobre o mundo em que vivem é que lapidam seus nomes no diamante da história.
Nisto Zé sempre foi diferente de Emeraldo.
Emeraldo distanciava as pessoas.
Zé as aproximava.
Definitivamente, a humanidade necessita de mais Zés.


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