domingo, 25 de novembro de 2007

A maior tragédia humana


O Sertanejo não conseguiu esconder sua satisfação. À sua frente, uma lauta mesa a disposição completa sua e de sua família: sete filhos e a mulher grávida do oitavo, de sete meses.
Não se fizerem de rogados, sentaram-se e esfomeados, mergulharam na comida. Comiam, comiam, comiam, sem pensar em quaisquer outras coisas.
A Vida no sertão não é algo que se possa dizer, fácil. A dificuldade nasce com o sertanejo e é a parceira diária dele; dificuldades sempre multiplicadas pela seca constante. O trabalho é pouco, o alimento é pouco. A única coisa que é maior que as dificuldades do sertanejo é a sua resignação; resignação com seu destino, resignação com a própria vida; uma resignação mesclada com esperança.
E o sertanejo comia avidamente quando ouviu um ronco, um ronco estranho, diferente. Olhou para os lados na busca de alguém, um estranho, um animal – nada! Deu de ombros, voltou a atenção ao seu prato.
Um novo ronco, desta vez mais alto.
Olhou para a esposa e para os filhos, todos comiam vorazmente, felizes. Não entendeu, de onde vinha este ronco, ronco estranho.
O aroma da comida o convidou novamente.
Voltou a comer e comia quando sentiu uma pontada na barriga. Depois outra, outra, e mais outra. Acordou, era madrugada. Viu os filhos todos esparramados pelo chão da casa, dormiam – felizes os filhos, pensou, dormiam!
A barriga doia incessantemente e então, escutou o ronco, e outro, e mais outro. Dobrou-se comprimindo o estômago doído, sofrido. Lambeu a gota salgada da lágrima que escorregou-lhe pela face suja e escura. Quis dormir de novo, sonhar de novo, sonhar comendo de novo. Chorou um pranto contido, silencioso demais. Chorou o choro da fome........

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