sábado, 8 de dezembro de 2007

QUANDO OS DEUSES ERRAM...


Mas o que gostavam mesmo era de ficar todos ao seu redor, olhando-a, admirando-a, idolatrando-a como súditos de Vênus. Bebiam seus sorrisos como se sorvessem o mais doce néctar dos deuses; respiravam cada suspiro que escapava daqueles lábios feito no mais belo veludo, o último pedaço de veludo da mais pura qualidade que os anjos haviam tecido no céu.
Sua beleza possuía um toque qualquer de Midas que lhe facultava o Dom do sucesso. Suas piadas, algo insossas, eram gastas até o último caroço com as gargalhadas masculinas; sua sede, saciada com baldes d’água oferecidos em copos de cristais pelos homens; não havia comida que não experimentasse antes; todas as novidades eram-lhe ofertadas na bandeja do primeiro lugar; e todos os sonhos masculinos daquele lugar esquecido pelo Criador tinham-na como protagonista.
Tanta veneração colocava-a num pedestal. Seu elogio, um olhar, um pequeno sorriso descompromissado, colocavam seu destinatário no Olimpo, uma benção instantânea, ainda que descartável. As verdadeiras bênçãos são aquelas que vêm impregnadas de amor, e o coração da musa já conhecia esse sentimento, era uma terra conquistada com bandeira já fincada. Até mesmo as Deusas possuem seus defeitos....
Por outro lado, esta idolatria carregava sua maldição.
Uma leve contrariedade, um olhar oblíquo de desdém, uma negação, uma crítica (cruz credo!), levavam seu interlocutor ao Hades, num abraço fatídico com Plutão. Infeliz, esse homem! Sofreria o pior dos martírios, como se criassem especialmente para ele um décimo circulo no inferno de Dante. Alma decadente, atirada aos cães.
Quis Zeus, entretanto, que sua bela fosse tão generosa quanto linda e jamais seria capaz de, voluntariamente, exilar alguém assim para o País do esquecimento. Suas qualidades todas, um conjunto mavioso de poesia divina, só sabiam aglutinar, jamais separar!
Mas mesmo o pai dos deuses pode errar! Em sua pressa de dar ao mundo um anjo, a fez com um único coração para amar! Devia ter posto em seu peito mil corações, todos eles virgens desse sentimento que move os homens ou então desprovê-la de um, torná-la uma branca estátua em mármore, sem capacidade para amar. Porque para as deusas não existe saída, ou ama a todos, ou não ama a ninguém, jamais ser somente de um só!

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