segunda-feira, 1 de outubro de 2007

DOZE ALVORADAS E UMA DÚZIA DE CREPÚSCULOS

A cadeia possui seu próprio tempo, tempo sem hora, hora sem tempo, letargia das horas, um lugar onde a relatividade não exerce sua força de lei, a cadeia é um lugar onde um segundo vale por sessenta, para mim, para você, para todos nós, feito marionete nas mãos de deuses preguiçosos que se divertem na platéia desse grande teatro.
Porque o tempo somente encanta quando embebido na liberdade, quando você o enclausura dentro de um limite, ele perde seu sabor de néctar dos deuses e ganha um gosto amargo de fel – o fel das grades, de clausura, da grande e inativa espera pela liberdade.
Ah, Liberdade! Disseram que és um delicioso vinho que as pessoas não sabem sorver com recato e se perdem imiscuídas em seu sabor encantador, embebedando-se.
Oh, lugar estranho! Seus dias são desleais! És um mundo de obscenidades, de bizarrices inexplicáveis, suas doze alvoradas rompem sua placenta de ferro marcando as duas únicas horas de um dia de sol, uma dúzia de crepúsculos marcam uma noite de vinte e duas horas sem estrelas. No sol ou nas trevas, o único companheiro dos habitantes desse universo é o sonho, o sonho de bebericar desse doce vinho, fermentado em seus próprios sonhos, envasado no barril de seus desejos. Sair...voar para a realidade!
E todos eles têm medo da realidade, mas como ela é atraente, essa grande e bonachona meretriz! Serve-os em seu cálice de enganos o doce vinho da liberdade e convida-os para fazer amor, tolos, tolos, tolos aqueles que se enredam nestas armadilhas, o destino é realmente o maior de todos os engodos.
Quais sonhos que restaram para eles sonharem?
Esta prostituta levou todos eles....o que farão com sua taça de vinho?
Oh, lugar ingrato! És um limbo no tempo, és um universo paralelo, suas horas são contadas através de rotinas, um mundo órfão de mãe e pai, um templo para um Baco segurando a sua taça de vinho inebriante estendendo-a de forma zombeteira num oferecimento depravado e fácil sem nunca entregar...Sorria, Baco, gargalhe enquanto podes. Um dia a taça lhes será entregue e então, eles voltarão para a realidade, para fazer amor com esta concubina de toda a humanidade. De alguma forma, então, serão novamente senhores de seu tempo (e o tempo tem senhor???) e o tempo ganhara o seu poder de relatividade, como deve ser, com os segundos tendo o seu tamanho exato, uma alvorada e um crepúsculo num dia de vinte e quatro horas, sem a quantidade de auroras e ocasos do mundo da cadeia, mas com a poesia que esses momentos oferecem.
Talvez esteja ai a grande receita para sorver o vinho da liberdade – um gole pela manhã, outro a noite, com equilíbrio constante. A liberdade é uma bebida como outra qualquer, tem de ser bebida com moderação. E ao aprender a beber deste vinho, aprenderão que a realidade não é assim tão vadia, ela pode amar com a dedicação e a fidelidade de um grande amor.....

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