sexta-feira, 12 de outubro de 2007

BREVE FILOSOFIA SOBRE VIDA E FUTEBOL


Futebol sempre foi uma coisa importante para mim. Sei disso porque ele nasceu em minha consciência antes mesmo que ela própria. Como se explica numa família de santistas fanáticos eu nascer palmeirense, sem qualquer incentivo, sem qualquer história que explique essa paixão. O Palmeiras nasceu em mim antes da própria consciência. E, por amá-lo tanto, transformei as peladas no meu grande divertimento de infância. Elas aconteciam em todos os lugares da pequena cidade. De repente, era sempre a mesma história, aparecia um vindo não se sabe de onde, trazendo uma bola debaixo do braço, chegava outro e outro, e uma pequena multidão de guris alvoroçados se formavam em torno da bola e de seu soberano, o proprietário – nestas horas, a bola era uma Julieta e a gurizada duas dezenas de Romeus sedentos de amor por ela.
Eu sempre estava pelo meio, futebol nasceu em mim, já disse, antes de outros prazeres. Esse fantástico jogo me ensinou a ver a magia e a arte que existe no jeito de viver. Muitos valores aprende-se ao se jogá-lo e eu os entendi todos num primeiro momento, quando abracei uma dezena de amigos valorosos depois de fazer meu primeiro gol. E meus gols eram raros, nunca fui o craque que foi o Ademir da Guia ou o Evair, compensava a falta de habilidade com determinação e transpiração. Era uma espécie de Dudu do time, bastante piorado. Em nenhuma outra área da vida, acreditem, a transpiração pode compensar a falta de inspiração, somente no futebol, talvez por isso seja tão apaixonante. Em nenhuma outra parte o suor pode ser comparado à técnica e a magia, nenhuma outra coisa inventada pelo homem é tão democrático: pretos e brancos são rigorosamente iguais; ricos podem valer menos que pobres; o baixo tem tanto valor quanto o alto; e um gorducho pode ser o melhor do time.

A vida devia ser feita do jeito que se faz dentro de um campo de futebol, com suas regras simples, oferecendo as mesmas possibilidades para todos, onde a competência determina realmente o vencedor e onde as armas de cada time, ainda que inferiores as do adversário, podem ser suficientes para que se atinja os objetivos: a vitória. A vida devia mesmo ser igual a um jogo de futebol....O tempo já vai longe e as “peladas de futebol” ficaram para traz em minha vida real, mas eu as revivo todos os dias, quando recosto a minha cabeça num canto qualquer e fecho os olhos por um momento, então, eles surgem todos, vindos de dentro de meu coração saudoso, velhos amigos que comigo derramaram suor e alegria sobre campos de terra. Lembro da velha camisa do Palmeiras bastante surrada, um velho calção branco encardido de tanto se esfregar no chão, e o coração sorrindo feliz por amar o Palmeiras e o futebol.

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