sexta-feira, 20 de março de 2009

COMENTÁRIOS LITERÁRIOS

O ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA faz parte daquela categoria de livros onde se insere a biblioteca de Franz Kafka, uma obra do fantástico e do imaginário que contamina a realidade de forma assombrosa. Saramago, definitivamente, torna-se um dos meus favoritos.
E, lê-lo, não é algo que se diga fácil. Usa de uma escrita que faz a supressão da pontuação o que dá um ritmo de dialogo, de fala, ao contrário do que a gente vê na leitura dos livros que empresta especial atenção para a escrita culta. É interessante, porém, é bastante criticado em todos os sentidos, por críticos e leitores diversos. Particularmente, gosto destas novas experimentações e buscarei mais alguma obra de sua bibliografia para realmente ver se seus livros todos tem a qualidade de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, este, realmente, é muito bom, tanto que já virou filme com Julianne Moore e direção do brasileiro FERNANDO MEIRELLES.


A virtude, quem o ignorará ainda, sempre encontra escolhos no duríssimo caminho da perfeição, mas o pecado e o vício são tão favorecidos da fortuna que foi ela chegar e abrirem-se-lhe as portas do elevador. Saíram dois hóspedes, um casal idoso, ela passou para dentro, premiu o botão do terceiro andar, trezentos e doze era o número que esperava, é aqui, bateu discretamente à porta, dez minutos depois estava nua, aos quinze gemia, aos dezoito sussurrava palavras de amor que já não tinha necessidade de fingir, aos vinte começava a perder a cabeça, aos vinte e um sentiu que o corpo se lhe despedaçava de prazer, aos vinte e dois gritou, Agora, agora, e quando recuperou a consciência disse, exausta e feliz, Ainda vejo tudo branco. (p.33)


O trecho acima destacado dá uma idéia da escrita, ou da forma como escreve Saramago. É justamente neste momento que a mulher de óculos escuros fica cega. Neste livro, não existem nomes e descrições de personagens, todos são conhecidos assim, por epítetos: A mulher do médico, o primeiro cego, a moça de óculos escuros, o homem da venda escura, a mulher do primeiro cego e por ai vai. Ora, perfeitamente lúcido isso, pois, num universo de cegos, identidades, nomes e tudo o mais perdem a relevância de ser.
O que resta desta fantástica alegoria é a impressão de que na verdade, estamos todos cegos, esperando alguém para nos conduzir para o verdadeiro caminho. A visão que temos nos permite enxergar, mas ver, na essência da palavra, poucos realmente o conseguem.
Fica, de resto, a sentença da rapariga de óculos escuros:

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos!” (p.262)


Saramago, José. O Ensaio sobre a cegueira, 1995, Editora Companhia das Letras.

Um comentário:

Regina disse...

Olá, querido amigo!!

Já ouvi muito falar deste livro, agora que indicastes, fica aqui anotada a dica... achei interessante este modo de escrever, suprimindo pontuações... deve ser uma experiência diferente lê-lo...

Obrigada por sua palavras que sempre me emocionam!...

Tenha um final de semana maravilhoso!!

Beijos em seu sensível coração poeta!