Houve algum tempo, em um passado não tão remoto, que ficava extremamente preocupado com a perfeição. A perfeição dos atos e das atitudes; a perfeição do corpo e do espírito; a perfeição da moral e da ética; a perfeição, enfim, como algo absoluto, um fim em si mesmo.
Foi-se passando os anos, e os anos servem de mestre carinhoso e paciente, que nos orienta, por vezes, com as mãos à palmatória; outras vezes, sensatas vezes, nos colocando sobre seu colo e cochichando em nossos ouvidos a sabedoria em pequenos bocados.
Com o passar dos anos fui me dedicando menos a esta preocupação afoita com a perfeição, pois percebi que, por mais que tente, por mais que me esforce, jamais serei perfeito realmente. Sou feito de um material que não conhece a perfeição e não pode conhecer; pois a perfeição é um instrumento que emana do divino – não sou divino, não posso conhecer a perfeição.
Em minha tola preocupação de buscar a perfeição como se ela o Santo Graal fosse, esquecia que a vida tem de ser vivida e para ser feito isso intensamente temos de pagar o ônus de sermos mortais e falhos, e por sermos mortais e falhos, erramos, caímos, perdemos, magoamos e somos magoados; e tantas outras situações que são inerentes a nossa condição humana e que são elas, que nos dão este colorido todo especial perante o restante de todo o Universo. Na busca pela perfeição diária, esquecia de viver, e em não viver, era infeliz. Quer algo mais imperfeito do que a ausência da felicidade?
Acabei entendendo que minhas imperfeições são importantes, pois elas quando reconhecidas e trabalhadas por mim mesmo, podem me ajudar a chegar perto da perfeição.
Acabei entendendo que o destino e toda a sua variada gama de contingências, um dia bom, outro ruim; uma lágrima, um sorriso; toda esta somatória de condições funcionam como ferramentas indispensáveis para que possa com discernimento, tolerância, tranqüilidade, buscar a sabedoria – e a sabedoria é o caminho mais rápido para a perfeição. Quanto me custou para aprender isso!?
Não posso ser perfeito neste mundo, mas devo continuar vivendo. E, em continuar vivendo, buscando a perfeição sem o rancor dos xiitas e com a alma sonhadora dos poetas. E quando a perfeição um dia chegar até mim, montada num relâmpago, e cumprimentar-me vestida de branco vindo do Oriente, ela me encontrará deitado, tranqüilo, esperando-a para que então possamos dedicar um ao outro, dois dedinhos de prosa.
Um comentário:
Gilberto querido!!
Gostaria de escrever-lhe tantas coisas!... tentarei ser breve, senão meu comentário acaba virando um post!
Primeiro, agradeço do fundo do coração por suas palavras no dia da mulher... Vejo as datas comemorativas como uma forma de homenagear as pessoas que nos são caras... porém, concordo plenamente quando dizes que devemos comemorar todos os dias, qualquer que seja o dia! Porque a vida, por si só, já é um grande motivo para comemoração, não é mesmo? Assim, exatamente como você, tão lindamente, conseguiu expor em seu texto “Feliz dia qualquer!”
E já reparastes que no Natal, as pessoas, de repente, se tornam “santas”?!! Passam o ano inteiro brigando, falando mal uma das outras e quando chega o Natal, todos se cumprimentam, se presenteiam, ficam “boazinhas”, sorridentes e simpáticas!!... rs.. Passada a data, todos voltam ao “normal” e, muitas vezes, as pessoas nem se lembram mais da existência, uma das outras!! Enfim... sempre digo que o Natal, para mim, é como um outro dia qualquer! E que o espírito natalino deveria estar presente em todos os dias do ano, não somente nesta data...
Mas, voltando ao seu texto, preciso confessar-lhe: já o havia lido há algum tempo pois, quando digo que gosto de seus poemas, é porque tenho conhecimento de causa (!) pois, se assim não o fosse, não poderia chegar a esta conclusão! Creio que já tenha lido a maioria delas...
E, quanto ao último post, posso dizer que a busca pela perfeição não é de todo um mal na medida em que estamos sempre tentando nos superar, buscando sempre melhorar... só é prejudicial quando esta busca vira um obsessão e frustração quando “falhamos” nesta busca... No mais, se soubermos dosar isto, é uma forma saudável de evolução... como sempre, amei a forma tão linda como escrevestes!
Querido, obrigada por ler meus devaneios que, muitas vezes, não consigo evitar!... assim como não consigo evitar comentários curtos, em se tratando de assuntos que gosto de discutir contigo!!
Obrigada por tudo!
Tenha um ótimo dia!
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