terça-feira, 25 de outubro de 2011

O ÍNDIO DE BOTAS


Quando o índio apresentou-se a liberdade já havia lhe escancarado a porta.
Não demonstrou qualquer sentimento.
Não comemorou a liberdade que lhe sorria, parecia totalmente descomprometido consigo próprio. Sem alegrias, sem tristezas, somente a vida e sua sucessão de eventos.
O estado do índio era lamentável.
Trazia uma camiseta puída, uma velha calça jeans que lhe fora ofertada na cadeia e os pés marrons e descalços.
Isso chamou a atenção.
E o índio revelou que não conhecia sapatos. Nada cultural, pobreza extrema.
Alguém em alguma parte arrumou um par de botas de borracha, gênero sete léguas, que lhe foram calçadas aos pés grandes e chatos.
O índio de botas.
Ficou estranho.
E, ele se foi, desconfortável com as botas nos pés, desconfortável com a liberdade, sem saber o que fazer com uma e com outra.
E, mais tarde, bem mais tarde, quando chegou à sua casa em sua aldeia, ninguém o esperava, ninguém comemorou sua chegada.
Comemoraram as botas...

2 comentários:

VELOSO disse...

Hoje se comemora mais as botas mesmo!
Parabens pelo Conto dá o que pensar!

Linda Simões disse...

Menino,

tem um tempinho que não venho aqui...

Mas,gosto do que vejo aqui chegando.

Então,o Ter vale mais que o Ser para a sociedade capitalista,consumista...

Boa reflexão.


Um beijinho,


Linda Simões