quinta-feira, 7 de julho de 2011

O INCÊNDIO

Tocaram fogo no mato.
E o fogo, por sua própria natureza arredia, que jamais reconhece e se submete a quaisquer senhores, ganhou uma proporção enorme. Ninguém controla o fogo, o fogo se controla.

Era outono e as noites nesta estação são mais ligeiras no chegar, lentas no partir.

Ainda que o quadro fosse de descalabro e todas as tragédias se mostrassem em cores vivas, havia naquele inicio de noite uma beleza macabra no fogo. O som do crepitar das chamas, o avanço inexorável e poderoso do incêndio, as labaredas altas que dançavam um tango “caliente”, o clarão que se erguia na noite expulsando-a com uma luminosidade tênue. Era o belo que escondia a fera, era o fogo.

Mas esse pensamento de admiração durou apenas um minuto, durou apenas o tempo de um espasmo de tolice, a razão tomou o seu lugar. Imaginei todas as mil tragédias que se escreveram naquele lugar, naquela tarde. Assisti a fuga dos lagartos e calangos; vi os coqueiros aterrorizados morrerem impassíveis e caírem silenciosamente – os coqueiros morrem com nobreza; ouvi o lamento dos quero-queros que voavam em círculos chorando o ninho que ardia; milhões de insetos fugiram e outros milhões pereceram nas lambidas do fogo. Quantas histórias malditas não serão contadas nesta noite?

De repente, o som da sirene, chegavam os combatentes das chamas, os soldados que destroem o fogo e, por este ofício, é quem mais o respeita. Trabalharam rápido, organizado, eficiente, mataram o incêndio e partiram da mesma forma que vieram, sem avisos na chegada, sem alardes na saída, alguém mais os reclamava e eles se foram.
Ficou a fumaça incômoda e a lembrança quente do incêndio. A natureza se recuperaria, ela sempre se recupera. A natureza somente sucumbe ao homem...

... foi quando, num canto qualquer do mato, um estralo de madeira soou e vi uma pequena labareda que surgia.
Ela olhou para mim...
Eu olhei para ela...
E antes de tudo e qualquer coisa, pisei-a no seu olho que, arrogante, me desafiava. Era o recado do fogo: Venceram-me nesta batalha, mas, eu volto, eu sempre volto, eu sou eterno...

Esqueci-me de recados e do próprio fogo, orei pelos bombeiros e fui em frente, a vida, este sim, um incêndio delicioso, me convidava para dançar...

Um comentário:

Cria disse...

Maravilhosa postagem, parabéns !!!!