quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O SOL QUE NASCE AO MEIO DIA


Começou a trabalhar aos catorze anos.
O pai o colocou para ajudar em um comércio da cidade, não por necessidade financeira imediata, muito mais para arrancá-lo das ruas.
Para ele, o adolescente, as ruas eram um encantamento, possuíam uma voz enfeitiçada que o convidava para dançar; águas malditas essas, o guri atirava-se de cabeça sem titubeios ou filtros quaisquer e as ruas são belas sereias que arrastam os ingênuos e incautos para os fundos de suas entranhas, e, quando lá, todos sucumbem em suas imundícies.
Tudo foi pensado e concebido para que o trabalho fosse uma benção, sobretudo pelo aspecto educacional. Um ofício é sempre uma ferramenta maravilhosa para ensinar e inculcar nobres valores na personalidade adolescente.
No caso deles, foi um enorme tiro no pé.
À revelia do pai, que queria o pagamento depositado na poupança, o guri se apossou do salário e se achou orgulho e vaidoso, já era o dono do próprio nariz, não respeitava nem obedecia ao pai e mais ninguém. A igreja foi deixada de lado, descartada como se fosse o maior dos incômodos em sua vida. Alterou o horário de expediente da tarde para a noite e passou a chegar muito fora de hora em casa. Saia do trabalho e ia para as ruas, sua senhora, a ela amava e rendia graças, demoníaca idolatria.
N’outro dia, despertava ao meio-dia, com aquela ressaca da “esbórnia” noturna, sem apresentar explicações ou justificativas e, para todo aquele que se atrevesse a interrogá-lo ou dar conselhos, apresentava uma bandeja de blasfêmias e ameaças que assustava. Valete o pequeno homem de calças curtas.
Só que as necessidades sempre vinham, e, quando elas se lhes apresentava, corria para o pai com frases de efeito e perfeitamente educadas, elaboradas com cuidados e dedicação exageradas, sempre capazes de amolecer o coração do “velho” e, assim, sanava a sua crise imediata. Satisfeito, cavalgava novamente nesse alazão de rebeldia e se distanciava da dignidade e da decência, mergulhando nos valores mundanos das ruas.
Existe uma espécie de pessoa que possui o toque de Midas às avessas – toda a benção que toca maldição imediatamente vira. São pessoas arrogantes e egoístas, algumas delas com pitadas generosas de falsidade em sua constituição e, para elas, a vida e todas as outras pessoas existem para orbitar em torno de seus desejos mais descabidos.
A verdade é que ele conseguir ludibriar o pai durante algum tempo com suas artimanhas, um dia, entretanto, o genitor acordou e, com o coração partido, afastou-se do filho ingrato.
O pai sabia que para algumas pessoas, e seu pequeno estava entre estas, profeta nenhum é honrado em sua própria terra e, enfim, triste, abandonou-o à própria sorte sabendo que alguns somente aprendem “quebrando a cara”.
Quando a rua e seu estilo mundano e pecador tivessem lhe arrebentado o orgulho e as vaidades sacrílegas, o pai, a igreja, estes que tanto repudiará estariam lá, esperando-o para perdoá-lo e lhe mostrar o reto caminho.
Um dia, e esse dia sempre chega, os rebeldes e desviados de Cristo descobrem que as ruas somente possuem ídolos pagãos que se quebram ao tocar – frustrados, decepcionados, eles voltam seus olhos para o céu e vêem novamente o Deus vivo e generoso, misericordioso que não reside nas ruas e sim, mora no coração do homem que lhe abre as portas.
Os filhos, em especial, nesse momento, rendem glórias a Deus e apresenta respeito também ao pai terreno, que sempre estão lá à espera deles – amor de pai pode até arrefecer, mas é chama que jamais se apaga.


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