Começou a trabalhar aos catorze anos.
O pai o colocou para
ajudar em um comércio da cidade, não por necessidade financeira imediata, muito
mais para arrancá-lo das ruas.
Para ele, o adolescente,
as ruas eram um encantamento, possuíam uma voz enfeitiçada que o convidava para
dançar; águas malditas essas, o guri atirava-se de cabeça sem titubeios ou
filtros quaisquer e as ruas são belas sereias que arrastam os ingênuos e
incautos para os fundos de suas entranhas, e, quando lá, todos sucumbem em suas
imundícies.
Tudo foi pensado e
concebido para que o trabalho fosse uma benção, sobretudo pelo aspecto
educacional. Um ofício é sempre uma ferramenta maravilhosa para ensinar e
inculcar nobres valores na personalidade adolescente.
No caso deles, foi um
enorme tiro no pé.
À revelia do pai, que
queria o pagamento depositado na poupança, o guri se apossou do salário e se
achou orgulho e vaidoso, já era o dono do próprio nariz, não respeitava nem obedecia
ao pai e mais ninguém. A igreja foi deixada de lado, descartada como se fosse o
maior dos incômodos em sua vida. Alterou o horário de expediente da tarde para
a noite e passou a chegar muito fora de hora em casa. Saia do trabalho e ia
para as ruas, sua senhora, a ela amava e rendia graças, demoníaca idolatria.
N’outro dia, despertava
ao meio-dia, com aquela ressaca da “esbórnia” noturna, sem apresentar
explicações ou justificativas e, para todo aquele que se atrevesse a
interrogá-lo ou dar conselhos, apresentava uma bandeja de blasfêmias e ameaças
que assustava. Valete o pequeno homem de calças curtas.
Só que as necessidades
sempre vinham, e, quando elas se lhes apresentava, corria para o pai com frases
de efeito e perfeitamente educadas, elaboradas com cuidados e dedicação
exageradas, sempre capazes de amolecer o coração do “velho” e, assim, sanava a
sua crise imediata. Satisfeito, cavalgava novamente nesse alazão de rebeldia e
se distanciava da dignidade e da decência, mergulhando nos valores mundanos das
ruas.
Existe uma espécie de pessoa
que possui o toque de Midas às avessas – toda a benção que toca maldição
imediatamente vira. São pessoas arrogantes e egoístas, algumas delas com
pitadas generosas de falsidade em sua constituição e, para elas, a vida e todas
as outras pessoas existem para orbitar em torno de seus desejos mais
descabidos.
A verdade é que ele
conseguir ludibriar o pai durante algum tempo com suas artimanhas, um dia,
entretanto, o genitor acordou e, com o coração partido, afastou-se do filho
ingrato.
O pai sabia que para
algumas pessoas, e seu pequeno estava entre estas, profeta nenhum é honrado em
sua própria terra e, enfim, triste, abandonou-o à própria sorte sabendo que
alguns somente aprendem “quebrando a cara”.
Quando a rua e seu
estilo mundano e pecador tivessem lhe arrebentado o orgulho e as vaidades sacrílegas,
o pai, a igreja, estes que tanto repudiará estariam lá, esperando-o para
perdoá-lo e lhe mostrar o reto caminho.
Um dia, e esse dia
sempre chega, os rebeldes e desviados de Cristo descobrem que as ruas somente
possuem ídolos pagãos que se quebram ao tocar – frustrados, decepcionados, eles
voltam seus olhos para o céu e vêem novamente o Deus vivo e generoso,
misericordioso que não reside nas ruas e sim, mora no coração do homem que lhe
abre as portas.
Os filhos, em especial,
nesse momento, rendem glórias a Deus e apresenta respeito também ao pai
terreno, que sempre estão lá à espera deles – amor de pai pode até arrefecer,
mas é chama que jamais se apaga.
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