sábado, 8 de dezembro de 2018

LOBO NA SOLITÁRIA



Fato.
Todo ser que acabou trancafiado na cadeia é um ser auto destrutivo.
É alguém que possui nítidos problemas de personalidade, desconhece hierarquias e ordenamentos e, acima de tudo, não tem qualquer escrúpulo em quebrar leis e regras.
Leis e regras são fundamentais na vida em sociedade, são elas que estabelecem as fronteiras na convivência humana, a perfeita harmonia entre os homens.
Se não houver regras, não haverá ordem.
Dentro da cadeia existem uma espécie sui generis de preso que consegue ser ainda mais auto destrutivo que os demais. Porque a cadeia, entenda-se, possui um ordenamento próprio que é natural dela e que todo preso procura seguir, não por satisfação, sim por entender que a quebra das regras na clausura, automaticamente gera uma punição: crime e castigo.
Especificamente esse preso que iremos tratar agora, andou por toda a cadeia, incomodando e desrespeitando as leis naturais de cada pavilhão – tudo o que conseguiu construir dentro da prisão foi ser um “seguro”, ou seja, preso que não tem mais convivência com o restante da população carcerária.
Foi parar na disciplina, na solitária estacionou. Não tinha para onde ir...
Os dias viraram meses e, por sua única vontade, ficava ali.
Ocorre que um dia qualquer começou a conversar com internos do pavilhão ao lado, até aquele dia tinha fechado os ouvidos para todos e tudo, por um motivo qualquer (desconhecido), começou a flertar com o raio vizinho.
Um preso gritava do “prédio”, ele respondia da “forte”.
Estabeleceu-se um namoro.
Os presos do pavilhão convidaram-no para retornar: “Foi tudo esquecido...”, “Tá tudo ajeitado...”, “Chega de sofrimento, irmão!”.
Ele concordou.
Confiou e pediu para voltar.
Falou com a segurança penitenciária expondo sua decisão.
Os agentes aconselharam que não, que aguardasse uma transferência, poderia ser nada, poderia ser tudo, poderia ser uma armadilha.
Não teve jeito, a sua confiança tinha atingido o pico e no alto dessa montanha ficou cego para seu passado de pecados e desrespeitos dentro da cadeia.
E, convenhamos, a mudança de cela era seu direito.
Assinou os papéis que permitiam sob sua responsabilidade o retorno e caiu para dentro do pavilhão. Sorridente.
No último instante, quando o agente já se preparava para fechar a porta da cela, teve um insight, convidou o preso que entrava para sair, para voltar atrás e desistir dessa mudança.
“Que é isso, senhor?” Ele respondeu já com alguma arrogância. “Tô de boa... Tô com a família...” Respondeu confiante.
“Isso mesmo, senhor! Ele está com a família...” Falaram os demais internos enquanto o faziam desaparecer para dentro da cela envolto por uma avalanche de abraços e tapinhas nas costas.
Nada mais a fazer.
O agente bateu a porta e se foi para cuidar da rotina da cadeia. A megera não para e, ali, parecia tudo bem.
No outro dia, o preso amanheceu pendurado.
Havia se “suicidado” dentro da madrugada.
Cadeia cobra, sempre cobra.

Todo ser que busca a própria destruição, um dia a encontra.
Fato

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