domingo, 28 de fevereiro de 2021

OPERAÇÃO SELVA 1

 


A coragem de um policial penal é um caldo espesso feito de diferentes ingredientes, um deles é a loucura.

Já disse isso antes, empresto apenas novidade porque essa é uma frase que se faz nova em cada alvorecer.

Todos os dias, dentro de uma grande cadeia, ou nesse trabalho que hoje em dia se desdobra para fora dos grandes muros, a coragem desses homens e mulheres é testada até a exaustão, até seu limite supremo. E, quando a corda parece que vai arrebentar, ela se estica.

O que move essa gente a fazer o que fazem é inexplicável.

Isso nasce dentro do coração do policial penal e se torna parte dele.

Um dia, dia qualquer, ele simplesmente aprende a domesticar o medo e, desde então, essa besta não mais tem poder sobre ele.

Esse demônio fica lá, incisivamente, tentando, provocando, criando armadilhas para a queda do policial penal, mas, sem sucesso. O homem domesticou a selvageria desse sentimento e ele não tem mais qualquer poder sobre ele.

O medo é uma das armas do crime.

O crime é mutante, dinâmico, sempre busca novas possibilidades e somente ainda não venceu graças a essa gente, policiais penais que simplesmente, aprenderam a domesticar o medo e não se deixam vencer por ele e pela incapacidade institucional de se adaptar a agilidade do crime e dos problemas.

Se a solução não vem de forma sistêmica, essa gente oferece remédios pontuais.

Um desses remédios vislumbrei dia desses e fiquei admirado com a força dessa gente.

O sistema acordou e fechou diversas portas para o crime.

Os portões se fecharam com cadeados difíceis de abrir.

As muralhas ficaram altas demais.

As sentinelas ficaram extremamente vigilantes e não passava nem agulha por cima dos grandes muros.

O crime pensou, se os “bagulhos” não vem por baixo, vão vir por cima.

Arrumaram um drone e das alturas despejaram pacotes de ilícitos para dentro do presídio.

A quimera ainda comemorava o sucesso, rindo da cara dos guardiães da muralha e dos policiais dentro de seus corredores, quando alguém teve uma ideia insana: Se a gente não pega o bicho encima, vamos pega-lo embaixo, pela crina.

A máxima era a mesma do crime, agora se voltava contra ele a favor da polícia.

Quatro deles, tomaram um banho demorado naquele caldo espesso que foi suplementado com doses generosas de loucura e saíram no encalço.

Não tinham nada, só vontade, só coragem.

Deus ajuda os homens de boa vontade.

Chegaram numa mata fechada e deram de cara com o meliante.

Rotina. Quando ele viu a polícia correu para dentro do mato.

O crime ama o mato, o esgoto, a treva.

Caíram para dentro sem pensar duas vezes.

Dividiram-se.

Um deles, entretanto, dentro da mata fechada deu de cara com o ladrão.

O ladrão olhou para ele.

Ele olhou para o ladrão.

Deu voz de prisão.

O crime parece ser surdo, mais que surdo, tem medo. O medo impulsionou o ladrão e ele se jogou para dentro do matagal e desapareceu nos subterrâneos daquela floresta.

Quando tudo parecia perdido, chegaram os colegas, um deles trazendo debaixo do braço o drone do crime, no rosto o sorriso da vitória.

Voltaram para a cadeia.

A quimera ainda sorria quando eles entraram...

Daí a pouco, pelos cochichos do corredor, cadeia não tem “off”, a quimera soube da vitória da polícia.

Aquietou-se.

Seu sorriso engasgou-se na garganta.

Foi dormir com dor de cabeça naquele dia, o monstro.

 

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