A coragem de um policial penal é um caldo espesso feito de diferentes ingredientes, um deles é a loucura.
Já disse isso antes,
empresto apenas novidade porque essa é uma frase que se faz nova em cada
alvorecer.
Todos os dias, dentro de uma
grande cadeia, ou nesse trabalho que hoje em dia se desdobra para fora dos
grandes muros, a coragem desses homens e mulheres é testada até a exaustão, até
seu limite supremo. E, quando a corda parece que vai arrebentar, ela se estica.
O que move essa gente a
fazer o que fazem é inexplicável.
Isso nasce dentro do
coração do policial penal e se torna parte dele.
Um dia, dia qualquer, ele
simplesmente aprende a domesticar o medo e, desde então, essa besta não mais
tem poder sobre ele.
Esse demônio fica lá,
incisivamente, tentando, provocando, criando armadilhas para a queda do
policial penal, mas, sem sucesso. O homem domesticou a selvageria desse
sentimento e ele não tem mais qualquer poder sobre ele.
O medo é uma das armas do
crime.
O crime é mutante, dinâmico,
sempre busca novas possibilidades e somente ainda não venceu graças a essa
gente, policiais penais que simplesmente, aprenderam a domesticar o medo e não
se deixam vencer por ele e pela incapacidade institucional de se adaptar a
agilidade do crime e dos problemas.
Se a solução não vem de
forma sistêmica, essa gente oferece remédios pontuais.
Um desses remédios
vislumbrei dia desses e fiquei admirado com a força dessa gente.
O sistema acordou e fechou
diversas portas para o crime.
Os portões se fecharam com
cadeados difíceis de abrir.
As muralhas ficaram altas
demais.
As sentinelas ficaram
extremamente vigilantes e não passava nem agulha por cima dos grandes muros.
O crime pensou, se os
“bagulhos” não vem por baixo, vão vir por cima.
Arrumaram um drone e das
alturas despejaram pacotes de ilícitos para dentro do presídio.
A quimera ainda comemorava
o sucesso, rindo da cara dos guardiães da muralha e dos policiais dentro de
seus corredores, quando alguém teve uma ideia insana: Se a gente não pega o bicho
encima, vamos pega-lo embaixo, pela crina.
A máxima era a mesma do
crime, agora se voltava contra ele a favor da polícia.
Quatro deles, tomaram um
banho demorado naquele caldo espesso que foi suplementado com doses generosas
de loucura e saíram no encalço.
Não tinham nada, só
vontade, só coragem.
Deus ajuda os homens de
boa vontade.
Chegaram numa mata fechada
e deram de cara com o meliante.
Rotina. Quando ele viu a
polícia correu para dentro do mato.
O crime ama o mato, o
esgoto, a treva.
Caíram para dentro sem
pensar duas vezes.
Dividiram-se.
Um deles, entretanto,
dentro da mata fechada deu de cara com o ladrão.
O ladrão olhou para ele.
Ele olhou para o ladrão.
Deu voz de prisão.
O crime parece ser surdo,
mais que surdo, tem medo. O medo impulsionou o ladrão e ele se jogou para
dentro do matagal e desapareceu nos subterrâneos daquela floresta.
Quando tudo parecia
perdido, chegaram os colegas, um deles trazendo debaixo do braço o drone do
crime, no rosto o sorriso da vitória.
Voltaram para a cadeia.
A quimera ainda sorria
quando eles entraram...
Daí a pouco, pelos
cochichos do corredor, cadeia não tem “off”, a quimera soube da vitória da
polícia.
Aquietou-se.
Seu sorriso engasgou-se na
garganta.
Foi dormir com dor de
cabeça naquele dia, o monstro.
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