por Carlos Drummond de Andrade
O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora depois de assinar-lhe a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido”. “Não”, respondeu, “Estou triste porque agora não posso tratá-lo mal.
É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava”
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond. A cor de cada um. Rio de janeiro: Record; 1988.
5 comentários:
Oi querido!
Pergunta:
_Vc já teve um girassol na sua vida?
Bjs.
Gilberto, sou literalmente apaixonada por Carlos Drummond de Andrade . As obras dele estão sempre em minhas mãos. Nem tenho palavras para dizer em qual época foi melhor poeta ou cronista. Ele continua mais que atual em tudo que escreveu. Imaginamos ele está aqui e agora.
Esse girassol do Drummond parece que é humano. Tem gente que ama assim...Nunca demonstra depois chora por ter perdido o momento de dizer "eu te amo".
Um grande abraço.
Ta ai uma das poucas coisas que eu não consigo entender...
Querido Gilberto,
Até a gente descobrir como cada pessoa ama, leva tempo! Ou até mesmo pode ser tarde demais...
Eu, por exemplo, descobri há pouco tempo que meu pai me ama!... Ele sempre foi durão, nunca demonstrou carinho e eu sempre sofri com isso, principalmente na adolescência...
Só hoje, depois de velha, é que consegui entender o seu jeito de me amar... Graças à Deus, descobri à tempo!!
Mas, apesar de ser um jeito estranho, temos que respeitar esse jeito de amar de cada um...
Como as pessoas complicam, não?!!
E com que maestria e sensibilidade Drumond conseguiu transmitir isso em seu texto... Tinha que ser ele!
Quanto as coisas simples da vida, adorei suas dicas, exceto o gol do Palmeiras!! rsrs... Brincadeira, não sou mais torcedora fanática do São Paulo, mas já fui um dia!! Faz muito tempo que não assisto futebol...
Querido, beijos! Obrigada pela amizade de sempre...
Diante a leitura do texto e possível constatar quer a finalidade
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