- Não, obrigado!
- Ah! O que é isso, moço ? É rapidinho...
- Não, obrigado!
- Mas tá precisando, moço?
- Não, Obrigado!
- Eu faço bem baratinho o serviço?
- Não, obrigado!
- Eu trabalho bem pra “xuxú”!
- Não, O...bri...ga...do!!!
- O senhor só sabe falar “Não obrigado”?
- Não. Também falo “de jeito nenhum”...Obrigado!
- Moço, o senhor paga o que quiser...
- Pô, mas você é insistente, enh?
- É precisão, moço...É precisão...
- Bem, vamos lá então! Estou com pressa. Vou pegar o próximo ônibus...
Sentou-se encima da caixa de engraxate, abriu-a e tirou todos os seus apetrechos. Em pé, tudo observava. Demonstrando grande prática, num instante iniciou o trabalho. Nada dizia, disse-me que não falava enquanto trabalhava. Momentos depois, entregava pronto o par de sapatos, brilhando realmente.
- Muito bom ! Tome seu dinheiro...
- Que é isso, moço ? Só cinqüenta centavos ?
- Você disse que eu faria o preço...
- É verdade. Mas não achava que seu preço era tão baixo assim...
- Mas cinqüenta centavos é o que todos os outros garotos cobram...
- Sim, mas não trabalham como eu. Eu sou o melhor!
- Quanto você acha que vale?
- Um real... No mínimo!
- O dobro?!?
- O justo...
- Tome. Explorador....
- Obrigado, aproveitador...
Pegou o dinheiro e foi-se embora satisfeito. O ônibus chegou e partiu, sem não antes de vê-lo a dialogar com outro freguês.
- ... Mas eu faço bem baratinho o serviço, moço!?!
5 comentários:
Esse daí sabe como "agarrar" o freguês!!
Menino de hoje
Homem do amanhã...
assim se forma...ótima crônica!
Querido Gilberto!!
Bom estar de volta lendo todas essas maravilhas que você escreve! Estava com saudades...
Obrigada por seu carinho de sempre, sua amizade me faz muito feliz!...
E esse menino aí é muito esperto, sabe vender o seu peixe! rsrs...
Beijo imenso, tenha um ótimo feriadão!!
Valeu pelo comentário lá no blog ! Espero que goste das próximas resenhas .
Abraços .
É Gil bela crônica de vida cotidiana... lembrei-me também daquela música que fala no menino das laranjas(Vandré).
E mais que isso vejo um menino inteligente,"Símbolo"de outros tantos na rua em situação de risco,vítimas de exploradores e traficantes...
Retrato de uma sociedade que não cuida de suas crianças.
Desculpe-me a leitura que fiz das entrelinhas...Como dizia Clarice Lispector: "o importante está nas entrelinhas".
Vi sua crônica como uma crítica social das mais refinadas.
Um grande abraço.
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