quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O PSICOPATA


Chegou do seu julgamento vestindo a mesma face que teria se houvesse feito uma visita dominical à praça da cidade. Era o seu quarto ou quinto júri que participava, todos eles por homicídios qualificados, em todos eles condenado.

Mas, o monstro que demonstrava ser na liberdade, no presídio domesticava-se. Era tranqüilo, calado, não oferecia problemas, era quase educado e gentil. Tinha um bom linguajar e conseguia conversar naturalmente com os mais variados tipos de pessoas que freqüentava-lhe o caminho, sabia, enfim, isto sendo uma notória qualidade dentro da cadeia, colocar-se em seu devido lugar e lá ficando até ser solicitado.

Chegou elegante, cabelos penteados, o juri fora célere (com ele era sempre rápido), provas cabais, contundentes demais, na maioria das vezes réu confesso. E, para ele, tanto fazia quanto fez, já tinha mais de cem anos em regime fechado nas costas, qualquer coisa que se adicionasse a esse montante não lhe faria maior diferença – no final de tudo, ele sabia, seriam 30 anos de cadeia, e pronto!

O homem perguntou-lhe, sem maiores interesses, qual havia sido o resultado do júri.

Sem menor interesse ainda, respondeu que fora condenado a 21 anos no regime fechado no homicídio e a 10 na tentativa.

Humor negro! O sujeito questionou-lhe o porquê da vitima da tentativa ter conseguido sair vivo...

Ele olhou dentro dos olhos do questionador e respondeu:

- A minha parte eu fiz... Meti seis tiros no couro do sujeito e ele escapou... Fazer o que... Couro duro...

Sorriu. Virou as costas, entrou em sua cela, desapareceu na escuridão do cárcere.

Ao se virar para ir embora, num ultimo relance, o questionador vislumbrou um brilho estranho e bestial no olhar dele, que se extinguia... O brilho que se vê nos olhos do predador prestes a atacar a presa. Teve a nítida certeza, não se domestica espíritos selvagens...



Foto: Norman Bates (Anthony Perkins, em Psicose, de Hitchcock) / Foto meramente ilustrativa que não se vincula diretamente com o texto. Uma singela homenagem ao ator que deu vida ao maior psicopata que o cinema conheceu, em minha modesta opinião.

11 comentários:

Anônimo disse...

Desculpem minha ausencia....Ká estou eu de novo.
Agradeço o carinho de todos que aki compareceram e me visitaram.

Adoro vocesss.....Um beijos na alma de cada um.

Cris França disse...

Credo! rs

se queria nos assustar, meus parabéns! missão cumprida.

Terrível...

mas o texto como habitualmente, fascina pela qualidade.

beijos!

Irene Moreira disse...

Gilberto obrigado pela sua visita e te digo que meia assustada li a história desse Psicopata... Sou contra a violência e já estou colocando o selinho no cantinho da Mamyrene, mas o que fazer se tudo isso faz parte da vida. Já estou te seguindo e retornarei para ler suas histórias. Beijos

G I L B E R T O disse...

Mon amis, mi belles


O texto de psicopata está pronto há muito, muito tempo e o relutei em posta-lo em nel mezzo del cammim justamente por sua essência não se vincular a alma do blog.

Entretanto, gosto de fazer experimentações literárias, na forma de novos métodos de conceber textos e mesmo as idéias e as mensagens que seguem embutidos neles. O psicopata, pois, segue esta linha...

Abraços e sempre grato por suas visitas, meus amores!

Linda Simões disse...

No meio do caminho existem flores, poesia e contos!


Muito bom,parabéns!


...


Linda Simões

Café com Bolo disse...

Afe! Vim aqui te conhecer e não poderia ter melhor recepção!
Que texto!
Bem escrito e, na dimensão exata, nos remete à tantos e tantos monstros que existem por aí...ui chega a dar arrepios na espinha1
Parabéns e prazer em conhecer seu blog!
Vou te seguir!
Abração.

Fragmentos Betty Martins disse...

._________querido Gilberto





está um colosso!!!


PARABÉNS!

________já perdi o conto - de quantas vezes vi o filme:)









_________///







beijO_____ternO

Manuela Freitas disse...

Olá Gil,
Histórias reais que muito gostariamos que não existissem. É monstruoso, cruzarmo-nos na rua, com pessoas, que sem aparência disso, são capazes de fazer os crimes mais hediondos!...
Muito bem escrito como sempre.
Beijinhos amigo,
Manuela

Anônimo disse...

Aff!!!!
Eu meio que fiquei até com medo do cara da foto...!!!!!( É o Norman Bates?)
Com certeza espiritos selvagens não se domestica...só nos resta fugir deles como o diabo foge da cruz!!!!kkkk
Tipos como ele, infelizmente andam soltos por ai, fazendo com que nós, é que vivamos enjaulados dentro de casa, enquanto que eles estão nas ruas ...
Bacana o conto, mas...assustador!

Regina disse...

Querido amigo,

Sua "experimentação" literária foi bem sucedida... que "meda"!!! rsrs...

Beijo!

Vera (Deficiente Ciente) disse...

Infelizmente existem várias pessoas com esse perfil soltas por aí, e até mesmo próximas a nós.

Psicopatas são frios, calculistas e cruéis e quando é necessário são verdadeiros lobos em pele de cordeiros. Deus nos livre dessas criaturas maléficas! Pessoas assim não podem ser humanas...

Querido amigo, gostei da diversificação de textos! Como sempre escreve de uma maneira fantástica e impecável!!

Boa semana!!

abraços
Vera