sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A MAIS LINDA ENTRE TODAS QUE NUNCA VIU


Ele não a viu quando ela entrou.



Quando despertou de suas divagações pelo mundo já a ouvia, ela sentada no banco da frente. Conversava com um sujeito qualquer. Falava da filosofia da vida e de toda a existência, questionando porquês e “aondes”. Debatia sobre política e direito. Extasiada falava de literatura russa, de pinturas e seus grandes mestres, falava de música e de cinema, sobretudo os clássicos, debatia sobre arte em geral.



Ele ficou encantando num primeiro momento, apaixonado no imediato instante seguinte. Amou sua sensibilidade, sua inteligência, sua visão de vida, sua posição firme e obstinada sobre todas as coisas, sua personalidade, seus sonhos, seus ideais, amou tudo isso de uma forma tão natural que quando se apercebeu, estava capturado por este sentimento.



A viagem prosseguia, e o colóquio na frente não cessava, ele atrás, no banco detrás, idolatrando cada expressão que ela evocava em suas frases cuidadosamente construídas, como se ela fosse a profetisa e as palavras suas súditas fiéis.



Mas quis a noite se enciumar dessa paixão súbita e avassaladora e então, convocou seu irmão para que fizesse uma missão ardilosa. Morpheu, atendendo este chamado, traiu Eros e atingiu o jovem apaixonado com um sono pesado que como se fosse um corcel alado, o conduziu estrada afora, embalando-o nas asas do vento.



Quando ele acordou, a noite ainda sobrevivia e o acariciava suavemente.
Silêncio.
Levantou-se, olhou para o banco da frente. Vazio!
Ela havia partido, pensou...




Tudo o que havia era o vácuo, a certeza de que ela ficará para trás, no caminho, em sua vida, no passado.
E o pior é que não sabia nada dela. Nada... Nada...
E isto, não era importante para ele. Ele se apaixonará pela essência de mulher que ela houvera lhe inspirado.



Sentou-se novamente e fechou os olhos, recapitulou as palavras e as idéias que se lembrou que ela havia dito e que ressoaram como ecos em sua consciência.
Feria-lhe uma certeza que nunca mais veria aquela que nunca viu. Feria-lhe uma certeza que estaria eternamente apaixonado por ela...



Mas tinha também a confiança de que nunca mais a esqueceria, e seria ela para sempre, doravante, o modelo de mulher que buscaria em todas as outras, ela havia se tornado a sugestão feminina ideal em seu intimo masculino.



Quando o sol surgiu expulsando a noite matreira e ciumenta, encontrou-o perguntando-se se ela houvera existido de verdade ou se tudo não fora apenas um sonho.



A noite e Morpheu haviam lhe deixado a sensação de que se apaixonará por um sonho... Um sonho de mulher...



Chegou ao seu destino, levantou-se e partiu, esquecido de sonhos e mulheres perfeitas, esquecido de si próprio e do amor lindo que poderia ter vivido se tivesse tido a chance...



Somente quem chorou de verdade, foi Eros, sentado no monte Olimpo, observando a mulher que descia do ônibus logo atrás dele, nas mãos um livro de Dostoévsky, na bolsa a coleção de filmes de Hitchcock, no coração feminino a vontade de viver um grande amor...

6 comentários:

Morgana disse...

No inicio pensei que fosse real, e esta é a sensação que os sonhos me trazem, mas no final, para mim ,sempre fica o gosto amargo de ter despertado no auge do sonho...
:)
(suspiros) Gosto da maneira como vc escreve
:*

Manuela Freitas disse...

Uma história interessante...um devaneio sobre a mulher ideal, bonita e inteligente, devia ser um sonho, porque ninguém que fique extasiado consegue adormecer, não te parece?
Beijos e bom fim-de-semana,
Manuela

Cris França disse...

Que essa mulher dos sonhos te visite mais vezes, bjs.

Cissa disse...

Adooro ler ser texto*-*
Estão cada vez mais lindos e encantador, esse mesmo me encheu de fé, adooro a força que tem suas palavras ^^

Continuarei sempre vindo aqui!

Regina disse...

Gilberto, meu querido...

Extasiada com este texto!

Morpheu, definitivamente não foi generoso contigo, roubando-lhe esta bela!!

Beijo!!!

Vera (Deficiente Ciente) disse...

Fantástica história, meu amigo!! Estava pensando agora em Eros e Psique...
Simplesmente amar sem conhecer...

abraços!
Vera