segunda-feira, 25 de maio de 2009

GURI SERTANEJO


Dedicado ao amigo Ismael Oliveira Silva, um dos homens mais generosos que conheci e, meus agradecimentos por ter dividido esta história comigo que, neste instante, transformo em crônica em sua homenagem!


A tudo o guri estava atento.


O homem observou isso de onde estava, divertindo-se com o extâse juvenil que, sôfrego, grudava o pequeno rosto na grande janela do ônibus. O que chamava a atenção inocente do menino, não era a paisagem árida do sertão nordestino, essa o guri trazia no sangue, conhecia-a intimamente. O sertão fazia parte dele, assim como ele fazia parte do sertão. O que deixava o petiz aturdido em todas as expectativas tão conhecidas por ele que apresentavam-se em sua janela, não eram as imagens em sí, e sim, a velocidade com que elas se frequentavam. O ônibus, assim lhe falaram que se chamava aquele transporte, engolia a distância como se mil jumentos o puxassem para frente numa pressa exagerada.


Ele olhou para o grande mandacaru, e num instantinho, ele ficou para trás, pequenininho, escondendo-se na cortina que a distância estendia. Ouviu o canto do sabiá vermelho, um canto que tantas vezes houverá lhe acordado em sua tapera velha, quando o sol riscava o céu negro do sertão com seu raio cintilante e colorido, colorindo a tudo e a todos. O menino fechou os olhos e lembrou-se do belo canto do pássaro, e de como ainda deitado ficava ouvindo sua melodia ganhar seu coração. O sertanejo é resistente para as agruras do lugar em que vive, mas seu coração é flácido para a música, para o riso, para a poesia de cordel e do bem viver. De repente, muito de repente, o garoto fez um enorme esforço para ouvir de novo o canto do sabiá vermelho, mas ele havia ficado para trás, tudo o que havia, tudo o que ouvia, era o possante som do motor à diesel do ônibus devorando o chão do nordeste.


O homem estava encantado com toda aquela cena.


Ele já desconhecia que houvesse no mundo inocências daquele jeito, que ainda houvesse ouvidos que se admirassem com a combustão de um motor, que ainda houvesse olhos que se surpreendessem com a urgência da vida moderna. Não se quer dizer, entretanto, que a inocência seja devagar, lenta em sua maneira de ser. A inocência tem o seu próprio tempo e ela acontece no momento dela, ela não se subordina a nada. Por isso, que ela é tão arredia a qualquer contratempo fugindo célere para lugar estranho quando contrariada. A inocência é mesmo bicho do sertão, arisco!


Encantado com o guri e com a inocência, o homem aproximou-se e estendeu para o curumim uma lata de refrigerante gelada. Desconfiado, o guri pegou a lata e assustou-se com o frescor que lhe tocou as mãos pequenas e virgens para estas coisas. O homem sorriu ternamente, e pediu para ele que bebesse, enquanto retornava para sua poltrona.


Com a lata nas mãos o menino se comportava como uma viajante num novo mundo. Ele olhou para a lata e questionou-se : Se alí havia líquido como fazê-lo jorrar? À sua frente, o grande enigma do universo.


O homem surpreendeu-se novamente, viu que o garoto não sabia abrir a lata de refrigerantes, aproximou-se e abriu-a para ele. Aberta, o aroma umido escapou pelo oríficio criado e o menino sorveu o primeiro gole com euforia. O líquido gelado desceu pela garganta acostumada às temperaturas quentes e fez-se festa em todo o corpo juvenil, comemorando cheiros e sabores de uma nova vida.


O guri voltou seu rostinho para o homem e ofereceu-lhe um sorriso como agradecimento. Um sorriso lindo. O coração do homem agitou-se numa alegria exultante e ele recostou-se na poltrona, a viagem seria longa. Sonhou... Sonhou com um céu azul e com anjos às pencas voando para lá e para cá, todos eles com um mesmo rosto: a face de um guri sertanejo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Oi querido!
Que bom, vc voltou!
O texto é muito lindo e singelo.
Muitos bjs procê!

Regina disse...

Querido amigo,

A inocência das crianças é, sem dúvida emocionante...

E a beleza com que você consegue narrar, é de um encanto sem fim!

Beijos no coração...

Unknown disse...

Puxa! só hoje liguei o micro depois de uma semana distante do virtual mas tive o prazer de ser brindado com tão lindo poema, e revivi toda a cena, o percurso, e lembrei daquele olhar inocente "moço como é que abre?".
Giba, voce é fantástico cara.
não lembrava que havia te contado esta história mas logo que comecei a lê-la visualizei toda viagem.
Obrigado meu irmão

G I L B E R T O disse...

Ismael

Será que nós trocamos 40, 100 cartas, não sei, e isto é irrelevante, mas para mim é como se fosse uma unica, lembro das histórias e vira e mexe, volto para rele-las novamente...

Acredite, gosto da forma como contas histórias e todas as que me contou, leio-as sempre!

Daqui a pouco, as coisas estarão mais tranquilas e estarei te escrevendo de novo... coisa que adoro fazer!

Saudades de suas cartas!
Saudades de suas histórias!
Saudades de sua forma de ver a vida!

Saudades, sobretudo, de voce meu irmão mais que virtual, que sinto tão perto como se aqui estivesse!

Abraços fortes e afetuosos!

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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