O som do saxofone inunda todo o ambiente.
Um som tristonho, que sugere dores, que sugere pensamentos que remetem a outras dores. Se a música é triste, o coração é triste.
Mas há uma beleza qualquer na amargura da música.
O triste também tem sua beleza, se você o olhar pelo lado certo, os olhos com alguma boa vontade, os ouvidos sempre prontos para a poesia. O melancólico também tem sua poesia...
Existem alguns homens sentados pelo lugar, aqui e ali, está frio e eles aquecem seus corpos sob o sol da manhã. Seus olhares estão perdidos, desconcentrados para a realidade, insuflados que estão pela beleza da música que alcança todo o ambiente onde eles estão, todos eles, viajando, cada qual em suas memórias, em suas tristezas, mergulhados no sofrimento de suas existências.
Alguém se levanta e se espreguiça.
Outro espirra.
Um terceiro fuma o quarto cigarro que morrerá dando vida para um quinto.
Um jovem dá um chute numa bola velha e ela se evade de um lance de pouca habilidade.
Um senhor de idade toma uma caneca de café com leite ainda fumegante, come com satisfação um pãozinho dormido.
Todos os ouvidos estão atentos no saxofone.
A música termina e logo se inicia outra, um hino de louvor, triste como a primeira canção.
O saxofonista está com seus olhos fechados, a sensibilidade apurada o leva para outros mundos.
Ele gostaria de ter poder para mudar as coisas, gostaria que o mundo fosse diferente, que sua música tivesse a magia de transformar as realidades de toda essa gente que o escuta. Ele está cansado de orar e não ser ouvido, então toca o sax, é uma forma que encontrou para rezar diferente. Ele pede oportunidades, horizontes, portas abertas, portas abertas... Ele está cansado dos dias iguais, das pessoas iguais, da brutalidade desses dias tão iguais, tão iguais, tão iguais... Ele ama o diferente, pensa. Queria comer diferente, queria beber diferente, queria amar diferente, queria tudo diferente para si mesmo, sobretudo o destino.
Este não é lugar para a diferença, descobriu um dia consigo mesmo. A música o fez distinto, e pela música tornou esse lugar melhor, então ele coloca todo o seu sentimento em sua canção, como sofre tanto, sua música sofre junto; como há beleza ainda em seu coração, sua tristeza carrega um brilho resplandecente que empresta alguma decência para ela.
Enche os pulmões de ar, novamente e novamente. Sopra com a força dos desesperados. Uma nova música floresce para o novo dia que nasce, ela ganha o ar, toma conta de tudo e de todos, escapa pelas grades de aço, salta o muro gigantesco e avança rumo para o horizonte onde está o sol. O Saxofonista continua preso, mas sua música está livre e segue em direção aonde o sol alvorece para todos os homens livres... E os presos!
Um som tristonho, que sugere dores, que sugere pensamentos que remetem a outras dores. Se a música é triste, o coração é triste.
Mas há uma beleza qualquer na amargura da música.
O triste também tem sua beleza, se você o olhar pelo lado certo, os olhos com alguma boa vontade, os ouvidos sempre prontos para a poesia. O melancólico também tem sua poesia...
Existem alguns homens sentados pelo lugar, aqui e ali, está frio e eles aquecem seus corpos sob o sol da manhã. Seus olhares estão perdidos, desconcentrados para a realidade, insuflados que estão pela beleza da música que alcança todo o ambiente onde eles estão, todos eles, viajando, cada qual em suas memórias, em suas tristezas, mergulhados no sofrimento de suas existências.
Alguém se levanta e se espreguiça.
Outro espirra.
Um terceiro fuma o quarto cigarro que morrerá dando vida para um quinto.
Um jovem dá um chute numa bola velha e ela se evade de um lance de pouca habilidade.
Um senhor de idade toma uma caneca de café com leite ainda fumegante, come com satisfação um pãozinho dormido.
Todos os ouvidos estão atentos no saxofone.
A música termina e logo se inicia outra, um hino de louvor, triste como a primeira canção.
O saxofonista está com seus olhos fechados, a sensibilidade apurada o leva para outros mundos.
Ele gostaria de ter poder para mudar as coisas, gostaria que o mundo fosse diferente, que sua música tivesse a magia de transformar as realidades de toda essa gente que o escuta. Ele está cansado de orar e não ser ouvido, então toca o sax, é uma forma que encontrou para rezar diferente. Ele pede oportunidades, horizontes, portas abertas, portas abertas... Ele está cansado dos dias iguais, das pessoas iguais, da brutalidade desses dias tão iguais, tão iguais, tão iguais... Ele ama o diferente, pensa. Queria comer diferente, queria beber diferente, queria amar diferente, queria tudo diferente para si mesmo, sobretudo o destino.
Este não é lugar para a diferença, descobriu um dia consigo mesmo. A música o fez distinto, e pela música tornou esse lugar melhor, então ele coloca todo o seu sentimento em sua canção, como sofre tanto, sua música sofre junto; como há beleza ainda em seu coração, sua tristeza carrega um brilho resplandecente que empresta alguma decência para ela.
Enche os pulmões de ar, novamente e novamente. Sopra com a força dos desesperados. Uma nova música floresce para o novo dia que nasce, ela ganha o ar, toma conta de tudo e de todos, escapa pelas grades de aço, salta o muro gigantesco e avança rumo para o horizonte onde está o sol. O Saxofonista continua preso, mas sua música está livre e segue em direção aonde o sol alvorece para todos os homens livres... E os presos!
4 comentários:
Gilberto, amigo, o saxofone tem mesmo esse som meio triste, mas certamente, muita poesia também há nele...
Imagino agora esses homens ao ouvir esse som e viajando em suas histórias...
Como sempre, muita sensibilidade em sua crônica...
Tenha um ótimo fim de semana, fique sempre bem!
Beijos!
Muito lindo meu amigo.
Bjs.
O som é livre, pode viajar muito além do que acontece enquanto um saxofone toca um jazz...
abraço e bom final de semana
ah esses teus textos...perfeito!
um beijão
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