segunda-feira, 20 de abril de 2009

QUANDO O AMOR SUGERE...


Algumas coisas acontecem na vida da gente e ficam permanentes em nossa memória... E no nosso coração! Entretanto, existem coisas que não acontecem e se tornam mais importantes que estas primeiras, pela simples possibilidade do que poderiam ter sido, e estas, se enraízam dentro de nós, árvores seculares que seguem vida afora sempre nos lembrando das sugestões que a vida ( ou o amor) um dia nos ofereceu e a gente, recusou-se a segui-las...


Era um dia de festas, destas festas do interior onde toda a cidade reúne-se para se encontrar, beber e comer à vontade, entre largos risos e abraços de amigos. Eu cheguei lá vindo de algum lugar e, no primeiro momento, já a vi, perto de uma barraca qualquer, que vendia coisa qualquer. Meu olhar buscou o dela, e o dela buscou o meu. Ambos os olhares se encontraram no meio do caminho, um impacto que não produziu som algum, mas o eco que se fez ecoou intensamente dentro de meu coração. Ela era linda e, infelizmente, não tenho mais como oferecer uma definição perfeita de como era seu rosto e seu corpo. O tempo pode produzir uma devastação em nossas memórias, ainda que conserve alguma seiva nas recordações para que esse néctar de energia seja suficiente para nos estimular no futuro. Era melhor que tudo esquecêssemos... Que o dia de hoje fosse sufocado pelo de amanhã, amordaçado e atirado para dentro de um baú que nunca mais voltasse para ser aberto na frente dos olhos de nosso coração... Porque dói lembrar... Dói... O certo é que me apaixonei naquele olhar e, apesar de toda a minha timidez, aproximei-me. Ela me recebeu com um sorriso, sentamos na relva e conversamos demoradamente, como se este encontro houvesse sido marcado há muito tempo, como se fôssemos velhos amigos, como se houvéssemos sido feitos um para o outro – logo nós, dois tímidos e desconhecidos. Falamos de vida, e de prazeres cotidianos; falamos de livros, e de flores; falamos de poesia, e de comidas; falamos de encontros, e de música; falamos de amores, e de superficialidades; falamos de tudo, menos do que deveríamos ter falado, de nós mesmos.... Eu, pelo menos, deveria ter dito que meu coração batia forte no compasso do dela; que meus olhos brilhavam refletindo a luz que vinha dela; que sentia meu corpo fervilhar de poemas que jamais havia pensado de serem feitos por mim, inspirados todos por ela... por ela... por ela... Mas nada disse, calei-me na tola timidez que possuía; ela nada disse, calada na tola timidez que possuía, e a vida passou pela gente, o amor mais belo que poderia ter havido passou pela gente... Na frente da gente... Sem se realizar.
Mais à tarde, quando o alto-falante do lugar ainda entoava uma canção romântica – Seguindo no trem azul, do Roupa Nova – Papai surgiu convocando-me para que fôssemos embora, a vida seguia e nos chamava. Levantei-me, como se toda a tristeza do planeta estivesse às minhas costas - Atlas sustentando o peso do mundo no dorso - olhei fixamente para dentro dos claros olhos dela e ela para dentro dos meus, lembro perfeitamente que todo o meu corpo queimava, que meu coração era um cavalo selvagem em louca disparada rumo ao horizonte, que meu sangue fervia nas veias, que tudo em mim, em meu corpo e meu espírito, implorava que beijasse aqueles belos lábios – Sei que com ela, também ocorria o mesmo. Tudo durou um minuto, eu olhando dentro do coração dela, de sua alma, dizendo com meu silêncio todo o amor que sentia-lhe, a atmosfera conspirando para que o beijo acontecesse, a música no ar, a relva que acariciava nossos pés, as flores de um jardim próximo que exalavam os mais agradáveis eflúvios de sua existência, pássaros que entoavam os melhores hinos para celebrarem um amor que nascia mas... Não aconteceu... Timidez, tolice, fraqueza, não sei... Não a beijei... Ela não me beijou... E fui embora para casa e para o resto de toda a vida com a sua lembrança em mim, com a sugestão de felicidade e amor que ela me entregou naquela tarde de primavera que ficou incrustado feito diamante no meu passado e nas minhas reminiscências...


... Sei, afinal, que tenho saudades daquele beijo, um beijo que não existiu de verdade, um beijo que nunca foi entregue nem recebido, um beijo que nasceu e morreu na vontade, mas entre todos os beijos enamorados de minha vida... Aquele que nunca me esqueci!!!

2 comentários:

Regina disse...

Querido amigo...

A timidez é sempre um obstáculo!

Identifiquei-me deveras com o teu encontro, quando se conversa sobre tudo, menos sobre o que realmente interessa!!... rsrs...

A vida é feita de belas recordações e esta, (ao som de Roupa Nova então!!), deve ser mesmo inesquecível!

Um beijo que ficou no ar... e no coração...

Bom feriado! Boa semana!!

Cris França disse...

ah! essas canções que nos traduzem:
Trem Azul (Roupa Nova)

Você é pessoa que nem eu
Que sente amor
Mas não sabe muito bem
Como vai dizer...(e quem sabe o que dizer nessas horas?)

Quantas vezes na vida um amor que não vivemos, ou que não pudemos ter, alimentou de sonhos e de magia a nossa existência?...eles não se desgastam com o tempo, nunca puderam nos ferir, nem magoar, nem se perderam, como os amores reais...são apenas boas lembranças que um dia velhos e sentados na varanda nos farão olhar o horizonte numa tarde quente de primavera e sorrir baixinho só pela lembrança da cor olhos do ser amado...

Lindo Post!

Beijos meu querido Gilberto!