sexta-feira, 31 de julho de 2009

POR QUERER TANTO AMAR



Não quero mais o amor aos pedaços,
Servido aos bocados nesta mesa frugal do destino.
Não quero mais sonhar com o prometido,
Viver pelos cantos da vida suspirando
Êxtases que nunca vieram se entregar a mim.
Não quero mais me banhar solitário de luar.
Não quero mais aquecer meu corpo frêmito de desejos,
Com lençóis brancos em escuras madrugadas.

Quero....Quero o corpo que me foi destinado,
O corpo por mim ansiado,
O corpo que está escondido no desejo do destino.

Quero...Quero o espírito feliz e divertido,
O espírito para mim predestinado,
O espírito que fará de mim, novamente, um menino!

E, se assim, não o puder ser.
Se novamente, meus sonhos forem usurpados,
Se todas as minhas vontades forem sufocadas pelas contingências.
(Malditas contingências!)
Calarei-me então! Humilde e sereno.
Beijarei meus sonhos,
Abraçarei meus desejos,
Farei amor com as madrugadas que, fiéis,
Virão me visitar.
E, quando um dia, a morte vir beijar meus
Lábios róseos e virgens de amor,
E sorrindo, abrir seus longos braços.

Abraçarei e dançarei com ela,
Fazendo troça do passado,
Tratando com desdém o presente,
Rezando para estar no além,
O amor que essa vida negou-se a me dar....

....Esse amor completo, em corpo e alma!!!!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

DIVAGAÇÕES SOBRE AMORES VAGABUNDOS




A mulher terminou de pintar-se, uma maquiagem algo carregada para não dizer exagerada. Olhou-se no espelho e a face que viu pareceu-lhe não ser a sua, quer pelas cores expressivas, quer pela peruca com cabelos de outra cor, quer mesmo pela própria vontade de se arrancar daquele corpo. Tomou um gole de água, experimentou o doce toque suave do líquido fresco que escorregou devagar garganta abaixo, o alento momentâneo lhe deu prazer. Fechou a janela, impedindo a brisa e a noite de se mostrarem. Ficou com a luz artificial, no quarto artificial; ficou com a vida artificial, pensou consigo mesma e com sua lingerie cara.






Toc... Toc... Toc... a porta avisa-lhe que a vida continua. Respira fundo, fundo, muito fundo, como se todo o ar do quarto não fosse suficiente para lhe devolver o fôlego. Abre a porta vagabunda de madeira ainda mais vagabunda. Surge um homem vagabundo, com um sorriso para lá de cafajeste. Seu cheiro é de colônia barata, dessas que se compram em bancas de rodoviária. Seu cabelo vem carregado de uma pasta que poderia ser brilhantina - “Deus!” Ela pensa, “será que alguém ainda tem coragem de usar brilhantina?” Sua camisa entreaberta propositadamente sugere uma sensualidade masculina que lhe é impossível de ser conferida. Um tórax farto de pêlos pixains oferecem-se aos seus olhos, ela segura o riso disfarçando-o com um gesto sensual.






Os olhos dele perseguem sua mão, e ela conduz seus olhos e seus instintos de macho no cio para onde quer. Mais um tolo, mais um desprezível cretino, ela pensa.



Ele fala qualquer coisa, poderia ser uma gentileza banal qualquer. Não escuta, nada lhe importa.






Ele derruba várias notas sobre um móvel antigo. Suas roupas caem rapidamente, a pressa para homens deste naipe é a essência da perfeição. Ela também fica nua, toda sua beleza transparece. Os olhos dele brilham intensamente, sua respiração ofegante denuncia seu estado de excitação. Deitam-se, cama com lençóis de cetim, espelhos no teto, no chão um felpudo tapete. Artifícios para acariciar corpos, para enganar os olhos, mas, ela pensa, como enganar o coração?




No momento de prazer dele, ela grita, tão alto quanto pode. O corpo dele vibra intensamente, depois, retesa-se por alguns instantes, e cai por sobre o dela, definitivamente, descansando sua saciez. Ele se levanta, toma um banho rápido; depois, para se mostrar gentil e generoso, coloca mais duas notas enroladas num sorriso patife encima das outras. Vai-se embora como veio...




Ela abre a janela, a brisa entra, assim como a noite. Joga-se na cama depois de um banho muito, muito demorado. Ela apaga as luzes artificiais e se deixa banhar de lua, a natureza toca todo o seu belo corpo. Abre seu coração e faz amor agora, faz amor com uma lembrança...

segunda-feira, 27 de julho de 2009

VELHAS CASAS MORTAS

O bairro, no passado, fora um daqueles lugares familiares onde todos de uma forma ou de outra, conheciam todos. Tempos de compadres, de bons dias e boas tardes, de gente que se ajuntava para compartilhar café e amizade. Mas, esse tempo houvera ficado para trás, trancado num baú onde as reminiscências misturavam-se as memórias desbotadas. Agora, por todos os lados erguiam-se edifícios e condomínios fechados, com suas camêras, alarmes e cercas elétricas, guardando gente que viera de todos os lados. A paisagem mudará, de quase bucólica, aconchegante e horizontal, transformar-se-á num horizonte de aço e concreto erguido rendendo graças para as nuvens ocas, trocando o verde dos gramados e o colorido das casas pelas calçadas cinzentas e o balanço acadêmico e monocromático dos prédios.


O progresso é necessário... O progresso é necessário... Como um mantra isto fora dito para o “Seo” Zé, fruto da argumentação fanática da construtora que tentava de todas as formas comprar sua velha casa de madeira. Naquele espaço, disse sorrindo fácil o emissário da grande empresa, iremos levantar um edifício residencial. Bem intencionado, “Seo” Zé olhou para a esquina onde outrora fora a residência de seu amigo e compadre Milton, um dos primeiros que sucumbirá a esta tal tentação e venderá seu lar. Mudou-se para um lugar distante, desconhecido de tudo e de todos e lá morreu como um “zé ninguém”, sem amigos. Uma pessoa, pensou “Seo” Zé, será mais valiosa quanto mais amigos ela tiver – mais amigos, mais valor. No lugar da casa do Milton erguia-se majestoso um prédio altíssimo, na frente uma tabuleta, um painel, sabe-se lá, pensou o “Seo” Zé, que designação dão para aquilo com um nome estrangeiro bem escrito e que ninguém sabia dizer o que era. Lembrou-se de velhos amigos: Pedro, Arnaldo, João, Isidoro, sorriu somando a esta a lembrança das crianças chutando bola na rua. Adeus! Adeus para tudo isso... Somente asfalto e carros para todos os lados. Tanto luxo e tanta riqueza disfarçando a frieza e a falta de harmonia. Onde está a humanidade nestas coisas? A pergunta ficou sem resposta na consciência e no coração do velho homem...



“Seo” Zé agradeceu e recusou a proposta de compra, como sempre fizera e como sempre o faria, uma oferta recheada de muito dinheiro com cifras bem acima do valor de mercado do imóvel. Tentaram de todas as maneiras, construtora, filhos e netos persuadir o “Seo” Zé de vender sua antiga casa. Mostraram as benesses com belos sorrisos: lucro, dinheiro, tranqüilidade financeira, aposentadoria sossegada. Não adiantava, ele não vendia... Não vendia...



... E, quando sozinho, ele se deixava levar em suas reminiscências, nestes instantes, cada tábua, cada árvore, cada móvel, cada pedacinho de chão carregava uma história. Nesses momentos, “Seo” Zé sentia-se mais vivo, vigoroso, fazendo parte de algo maior, algo pelo que realmente valia a pena viver; nesses momentos, “Seo” Zé sentia-se conectado com as coisas e com aquele lugar que houvera crescido com ele, uma mistura mágica que todos os outros contaminados com o “vírus do progresso” nunca entenderiam. Nesses momentos, “Seo” Zé era o lugar, e o lugar vivia nele.



Mas, um dia, “Seo” Zé se foi, levado por um infarto do miocárdio. Mal o corpo foi enterrado e o negócio foi fechado entre a construtora e os descendentes, ávidos para dividirem o legado.

Meses depois, não havia mais sombra da passagem do “Seo” Zé. No lugar de sua casa, mais um edifício, transformando aquele pequeno oásis de lembranças num árido deserto de condomínios onde gentes e mais gentes moravam juntos e não se conheciam nunca.

Ainda sou daqueles que, como o “Seo” Zé, não se exultam com o desenvolvimento e o progresso de edifícios erguidos, sou daqueles que ainda choram por memórias e a fraternidade que resiste nas antigas casas de madeira mortas...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

POR VOCE


Agora eu sei que, por você, eu faria tudo... Eu faria tudo!
Por você eu suspiraria poemas,
Os escreveria em pétalas de rosa,
E os declamaria ao vento para você... Por você!
Por você, a morte em todas as madrugadas...
Por você, a gênese em cada alvorada.
Por você seria amigo e cúmplice,
Seria a segurança metódica e o desatino apaixonado.
Por você... Eu seria noite... Eu seria dia...
Se noite, alegria lhe trouxesse...
Se dia, alegria lhe trouxesse...
Não me importaria ser noite, ser dia...
Importaria sim, a mim, tua felicidade!
Por você seria sede... E seria água!
Por você seria fome... E seria carne!
Por você seria tesão, teu excitamento de fêmea,
E, seria, o brilho de seu olhar encantado de romance.
Por você, seria a estrofe mais bela de todas as poesias,
Seria os acordes de todas as canções de amor,
Seria o instante que separa a minha boca da tua
Ao buscá-la num beijo intenso...
Por você, seria a eternidade... A eternidade...
... E doce ela seria ao teu lado...
... Um momento... Por você, apenas um momento...
Por você, seria um pensamento... dèjá vou...
Por você, conheceria o amor... o amor...
... Somente, por você!

À MULHER QUE ESTÁ NA SACADA...



Canto para a mulher que está na sacada. E,
ri de mim a vida, debocha do meu desatino.
Intenciono, afinal, amar quem não posso amar. Quero que
seja minha aquela que foi-me proibida pelo destino.


É sobre isso que a vida me diz:
Sonhos! Sonhos! Tenhas somente os teus, infeliz!
Meta-se com as coisas do teu tamanho...
Insto-te para não desejar as estrelas
nunca chegarás a elas... Jamais... Oh! Tacanho




Homem eu seria se fosse covarde frente
aos desejos desta que me tem sido só maldade,
acredito em meu sonho e em minha felicidade
lutarei por eles com a minha verdade, afinal,
valerá um homem quanto valer a sua luta...


Oh! Então escuta-me vida com atenção resoluta,
redobrada. Não existe o impossível para o homem que
acredita em seus sonhos, e eu
desejo firmemente a mulher que está na sacada.
À ela meu coração... À ela esta canção...


Figura 2. Tela de Di Cavalcanti “ A Mulher à sacada”

segunda-feira, 20 de julho de 2009

POR QUEM ORAM AS MÃES?


O rapaz levantou-se e foi à cozinha, absorto da vida, absorto de si mesmo, queria saciar a sede. Simples assim, tudo é muito simples (e oco!) para os absortos. Andava em silêncio, e no escuro, estava acostumado com a casa e seus espaços, e seus sons, e suas manias.
Foi quando ao passar pelo quarto da mãe, percebeu uns cochichos vindos lá de dentro, do interior da escuridão do quarto... Aquietou-se ainda mais e atiçou a visão na penumbra para acostuma-la às trevas. Junto a cama, viu o vulto de joelhos, as mãos espalmadas juntas, a cabeça erguida para o alto em nítida reverência. Quis falar alguma coisa, mas segurou-se por um instante... Era daqueles momentos que o silêncio fala mais que as palavras.
Então, tudo ficou muito claro. Talvez pela capacidade humana física de se adaptar aos diferentes ambientes e situações de desconforto sensorial; talvez, porque vivenciava uma epifania. Esqueçamos os “talvezes”, desprezemos os porquês, tudo isso é o bagaço do supra sumo do que importa – o fato é que via a mãe de joelhos, e ela estava rezando, ele a via, ele a ouvia...

... E, meu Deus! Cuide para que meu filho tenha sabedoria, paz e saúde! Obrigado por me ajudar e cuidar dele, meu Pai do céu. Amém!

O rapaz ficou ali, parado, uma lágrima, duas lágrimas, dez lágrimas rolando seu sentimento por sua face. Viu a mãe se levantar, erguer o cobertor, deixar-se cair suavemente para baixo dele, e adormecer no sono dos justos.
Ele, por sua vez, tomou sua água em silêncio e retornou para seu quarto. Lá chegando, genuflexionou, juntou as mãos desacostumadas às orações tão cerimoniosas e rezou como poucas vezes houvera rezado nessa vida. Não pediu para si, não pediu riquezas e nem que Deus o ajudasse no turbilhão de problemas que o fustigava, isso tudo pareceu muito pequeno nesse momento. Pediu sim, pela mãe, por sua felicidade e para que tudo de bom e feliz fosse derramado sobre ela sem medidas. Estava tão concentrado que não notou o vulto em pé ao lado da porta, nem mesmo ouviu quando ele se afastou para o quarto contíguo. Se sua atenção à reza houvesse sido algo menor, haveria de ter reparado a mãe que, preocupada consigo, virá vê-lo como estava e o flagrará em seu momento de adoração:

... E, meu Pai Celestial, cuida de minha mãe, dê-lhe sabedoria, paz, saúde e felicidade, sim! Amém!!
A mãe voltou para seu quarto e deitou-se na sua cama, em seu rosto via-se cravejado dezenas de lágrimas, e ela dormiu assim, entre orações e o choro de alegria.
Ela não percebeu, mas na porta de seu quarto, um lindo querubim segurava um grande livro e uma pena celestial, e sorrindo escrevia mais um nome de mãe no grande Livro da Vida...

quinta-feira, 16 de julho de 2009

FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM

... E, ao final, fica a pergunta que pulsa feito um coração no centro do sentimento:


- Há uma coisa melhor que colo de mãe?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A ILHA E O OCEANO


Eu poderia tentar de diversas formas, descrever os sentimentos que habitam em mim,
Eu poderia tentar de diversas formas, descrever as vozes que emanam de meu interior,
Contudo, não perderei tempo com tentativas vãs de traduzir sentimentos que só eu posso entender,
Porque o que é meu, é somente meu, certamente não lhe interessará minhas lágrimas e meus sorrisos.
Porque se fossemos realmente importantes um para o outro, nossa história não teria sido escrita com pincéis de sofrimento.
Resignado choro minha dor,
Sorrio furtivamente da dor, as alegrias de outrora e volto meus olhos para o futuro,
Volto meu espírito para as possibilidades do amanhã, já que o hoje se perdeu numa teia de desprezo e desamor.
Eu acredito em mim e no futuro. Sei que lá, no futuro, está a felicidade que pensei ter encontrado em voce.
Vou peregrinando até ele, vou até este imenso desconhecido buscar toda a estima que perdi aqui nesta ilha,
Esta ilha chamada EU!!!
Uma ilha rodeada de Voce.... Voce.... Voce....por todos os lados!!!!

sábado, 11 de julho de 2009

O GUARDADOR DE SONHOS


Guardei meus sonhos todos, num belo pacote, num canto de meu coração. Deixei-os todos lá, pegando poeira neste armário de sentimentos. Lá ficaram meus amigos todos, trancados! Há muito tempo, meus amigos tem sido os maiores de meus sonhos. Lá ficou a vontade de andar de carro de boi, brincar de queimada num campo relvado, ficar de mãos dadas com a mulher que amo olhando o crepúsculo. Guardei todos os meus sonhos com a mulher que amo! Guardei meu sonho de uma gargalhada longa, sonora, descompromissada, daquelas que chamam a atenção de todos à sua volta. Guardei as emoções que vivi com o Palmeiras campeão, aquela frustração pelo gol mais feito da vida que foi perdido por mim na pelada do final de semana.

Guardei todas as orações que deveria ter feito e que, por qualquer motivo não as fiz. Guardei alguns abraços em muitos desconhecidos, guardei um milhão de beijos apaixonados, que raiva de mim mesmo, eu guardei um milhão de beijos apaixonados... devia ter beijado mais!

Guardei todas as viagens que não fiz e tive vontade de fazer, as línguas todas que não aprendi, os livros que não consegui ler e até o livro que não publiquei! Guardei a mais bela poesia que escrevi e que ninguém leu, guardei também todas as poesias de todos os grandes poetas do mundo que não consegui decorar – minha memória é tão horrível! Guardei os sorrisos de minha mãe e de meu pai, guardei os bate-papos com minha irmã. Guardei os cadeados de todas as prisões do mundo, guardei os canhões, todos eles, destas muitas guerras espalhadas pela Terra; guardei meu entusiasmo com a vida e com as pessoas! Tenho andando bastante desiludido ultimamente...


Porque eu fui um sonhador nesta vida, o maior de todos, e meus sonhos me fizeram uma pessoa melhor, me fizeram mais feliz... Guardei isso também, a possibilidade de ser feliz! Guardei tudo no meu coração... Não haverá o amanhã!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

TUA POESIA...


Deverias sempre assinar seus poemas.
Não por questões de estética.
Não por questões de evidência... Sua evidência!
Porque os poemas não entendem dessas coisas.


Deverias assiná-los para nós.
Para que soubéssemos que a poesia,
Ainda habita em tí.
E que a inspiração insiste em visitar-te!


Deverias assiná-los por caridade.
Poemas sem assinatura são filhos sem pai.
Ainda que a beleza resista a orfandade,
É triste vê-los lindos e sem paternidade!


Particularmente, não preciso que assines seus poemas!
Reconheço sua face em cada verso de tua poesia.
Assine para todos os outros, que não te conhecem, como eu!
Para que te alcancem por meio de cada verso teu!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

YOU ARE NOT ALONE!




Fiquei parado olhando o crepúsculo
Ao meu lado ninguém... ninguém...
No Mp3 rolava You are not alone
No coração uma saudade avassaladora...
Do amor...
De amar....
Fechei os olhos
Abri os braços
E deixei-me levar pela magia
Da música,
Do ocaso...
Montado num garanhão
Chamado acaso,
Entrei por uma fresta da memória,
E ela me trouxe voce... Voce....
Caminhei,
O horizonte me chamava...
Estendia seus longos braços para mim,
Convidando-me para um abraço.
Deixei-me levar nesse carinho,
Sozinho de mim mesmo,
Sozinho de ti,
Para qualquer lugar...
A canção me sugeria poesia,
A canção me sugeria seu rosto,
Você em mim... Em mim...
Michael faz isso comigo,
Você faz isso comigo,
Sugere-me poesia...
A noite chegou, então,
Empurrando o pôr-do-sol para o depois...
You are not alone tocou novamente...
Em meus ouvidos, em meu coração...
Lembrei de você....

... E com você, nunca estou sozinho!

NATUREZA & POESIA


Não ouço mais o cantar dos pássaros,
Perdeu-se na escuridão o crepúsculo,
Meu jardim morreu destruído por meu ócio,
Disse adeus ao romance, à poesia!
Houve um momento na vida em que me perdi,
Me perdi e perdi a capacidade de criar.
Neste instante, triste momento,
Perdi a vocação para enxergar a vida ao meu redor.
Hoje ao ver a natureza, as coisas que me cercam,
Uma lástima, uma lágrima brota em mim.
Os pássaros ainda cantam...
O crepúsculo ainda brilha...
O jardim está florido...

Entretanto, a poesia não renasceu em mim...

terça-feira, 7 de julho de 2009

POR UM COPO D’ÁGUA GELADA...



O rapaz encostou a mão nas grades; o corpo, todo ele, escorado na parede de concreto, fria parede de concreto. Olhou à sua frente, mais paredes; ao seu lado, mais grades; estava parado no grande corredor de cadeia, a longa estrada que encaminha todos os sonhos ao cárcere.
Olhei para os seus olhos, ele estava abatido; reclamou de dores aqui e ali. Percebi que o físico não doía tanto assim, seu abatimento, seu maior martírio era n’alma, a cadeia destrói os espíritos antes de arrebentar com os corpos.
Enquanto aguardava a enfermeira, ficou ali, conforme lhe foi ordenado, nesta espera casual, nesta fresta da grande expectativa pela liberdade. Estas pequenas lacunas no cotidiano entre grades são muito valorizadas na cadeia, elas dão importância ao seu protagonista, qualquer coisa, por mais tola que pareça, que quebre a rotina enclausurada, é festejada.
Com algum cuidado, passou o olhar pelo ambiente: a um canto qualquer, as velhas e puídas cadeiras, e ainda tão úteis; sobre uma carteira escolar aposentada forçosamente, alguns papéis para anotações e uma caneta; os agentes todos espalhados, atentos, absortos nos movimentos da cadeia, esquecidos de suas próprias vidas; recostado à parede, a garrafa plástica com água gelada. De tudo o que viu, notei, seus olhos pousaram excitadamente sobre a água gelada. Fixou-se nela em um flerte estranho. Conversou comigo, banalidades. Algumas informações lógicas, algumas efemérides gastas, todas recepcionadas com a alegria alvissareira de novidade, vive-se tempos onde o mundo exterior e seus espectros tecnológicos não alcançam este lugar perdido. A cadeia não faz parte mesmo deste mundo, existe em uma outra dimensão.
Depois destes preâmbulos verbais, instrumentos que prepararam o caminho à grande investida, ele pediu-me um copo d'água gelada. Pareceu comum, mas não o foi. O pedido saiu com tons de apelo, uma súplica justificada pela longa estiagem de sorver um gole d’água gelada. O atendi e ele pegou o pequeno copo descartável como se tomasse em suas mãos o cálice sagrado, o Graal. Bebeu o primeiro gole, com idolatria; o segundo, foi com os olhos fechados como se assim sentisse mais intensamente a temperatura da água, como se dessa forma a sensação prolongar-se-ia indefinidamente. Até um simples copo d’água gelada pode servir de catalisador para grandes emoções na cadeia, que mundo miserável este que nos furta a rotina da simplicidade, que nos cerceia destas pequenas felicidades que no mundo comum, não valorizamos.
Ao tomar a água agradeceu, não por protocolos ou obrigação, agradeceu com sentimento de gratidão sincera, vi isso em seu olhar!
Aprendemos muita coisa na cadeia e, a maioria destas coisas, é descartável, todavia, naquele dia, este interno e um simples copo d’água gelada renovaram-me uma antiga lição que aprendi com Cecília Meirelles: a felicidade vive mesmo nas pequenas coisas....

segunda-feira, 6 de julho de 2009

18º SONETO DE SHAKEASPEARE


UM DIA DE VERÃO



Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na eterna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

domingo, 5 de julho de 2009

ADEUS, DOSTOEVSKY!


Eu amei Fyodor!
Sua literatura me cativou, me prendeu, me encantou!
Tudo começou com Crime e Castigo,
Consolidou-se com Memórias da casa dos mortos.
Seu texto me levava mais além,
Era para mim transcendental.
Eu amei Fyodor... Eu amei Fyodor!
Mas uma amiga um dia alertou-me.
Apontou-me seu dedão indicador bem no meu rosto
E disse-me com rosto de quem tudo sabe:
Tome cuidado com Fyodor... Fyodor te deixa triste!”
Fiquei encasquetado com essa afirmação!
Respeito minha amiga, ela é inteligente,
Ela é observadora e extremamente perspicaz.
Se ela falou, deve ser mesmo verdade.
Não duvido das coisas que ela diz,
Ela tem grande influência sobre mim...
... Ainda que Fyodor também o tenha.
Cheguei em casa e olhei para as prateleiras,
No peito aquela suspeita instigadora.
Peguei Crime e Castigo com cara de poucos amigos,
Dei um beijo na capa e o coloquei atrás de todos os outros.
Pus atrás de Ulisses, de Joyce.
Além de Contos de Voltaire.
Ficou detrás de Eneida, de Virgilio; e de,
Histórias Extraordinárias, do Poe.
Fiquei com raiva de Fyodor, como pôde fazer isso comigo.
Eu fui um de seus maiores fãs e ele me deixando triste....
Lembrei de todos os meus textos escritos depois
De ter lido Fyodor e, realmente, a prova estava lá:
Lambendo as feridas abertas pelos abutres...
Estava lá, eu escrevi isso.
Quem escreve isso?
Somente quem realmente está triste...
Não quero ser triste,
Não quero amar o sofrimento.
Quero dar adeus à melancolia.
E, se para tanto, o preço for sacrificar Fyodor,
Está feito...
Mandei-o para Sibéria novamente...
Minha Sibéria.... No fundo de minha biblioteca.
Avisei minha amiga:
Parei com Dostoievsky! Adeus Fyodor!
Ela me sorriu e disse-me:
Que estás lendo agora?
Eu fazendo cara de sabichão respondi:
Lispector, A paixão segundo G.H.
Ela fez uma expressão de poucos amigos e mandou:
Tome cuidado com Lispector, é profundo demais....
Lispector,
sentenciou, te deixa triste!”
Cazzo!
Eu respeito minha amiga... Respeito...
Clarice foi fazer companhia a Fyodor,
No fundo de minha biblioteca,
Exilados ambos meus amores de meu interesse!
Minha amiga foi embora...
E eu me senti tão feliz por minha decisão...
Olhei para a minha biblioteca e vi meus novos amores
Saltitando na frente de meus olhos:
Dois gibis do Tex, O caçador de pipas, A cabana
E mais alguns desses livros
Que estão entre os “Best Sellers” atuais.
Eu me senti tão feliz por minha decisão...
Tanto que, nem percebi, quando duas lágrimas escaparam
De meus olhos e molharam a capa de Irmãos Karamazov
Enquanto este ia para seu desterro....

sábado, 4 de julho de 2009

A PRINCESA, O PEQUENO PRÍNCIPE E A GATINHA


Cheguei um dia do trabalho e escutei o miado.

- Miau! Miau!

- O que é isso?

Perguntei rapidinho tirando a minha cara de bravo de dentro da mochila do serviço.

Minha princesa, olhou-me com uma carinha de anjo e disse-me:

- É a Mel, pai... É a Mel....

- Mel, quem é Mel, meu amor?

De repente, não menos que de repente, The Litlle Prince surge do nada trazendo enrolado em seu corpinho uma gatinha meio siamesa, meio qualquer coisa.

- Pai a gente ganhou ela... Não é linda?

Disse o pequeno príncipe Thy, também em sua face brilhava o rosto de um anjo.

Pensei com todos os meus botões, olhando para aqueles olhinhos súplices: “Covardia! Como se diz não aos anjos...”

- Mas, voces já se esqueceram do Jack?

Pausa para explicações:

Jack (que nome horrível para um cachorro!) foi um cão marca e modelo COFAP que apareceu por aqui e que foi seqüestrado... isso mesmo, SEQUESTRADO. A vizinha viu quando o sujeito atracou-se com ele em nossa calçada e o arrastou para uma vida sem eira nem beira. Desconfio que o rapto possua motivação sexual. Tive que usar todas as minhas artimanhas psicológicas para conter a fúria e o desespero de meus pequenos. Jack, jamais foi encontrado!

Retornando...

- Não, pai, não esquecemos, mas com a Mel será diferente. A gente vai segurar ela...
- Meu lindo, como é que se segura um gato. Só se amarrar uma âncora no pé dela... Já já ela está grande e estes muros não a seguram...

- Ah! Deixa pai... Deixa....

- Vai... Vai... Vai...

Houve carnaval entre os pequenos!


Dias depois, verifiquei que a gatinha ficava o tempo todo trancada na dispensa lá fora de casa.
Tirei-a por uns instantes e a felina saiu meio que sem entender o que estava acontecendo. Andava numa tranca nervosa. As crianças, deixavam-na lá o tempo todo, receadas que estavam que ela fugisse ou que acontecesse com ela o mesmo destino que o de Jack.

- Não pai, deixa ela lá, se não ela vai embora...

- Meu filho, vai deixar a gatinha trancada o tempo todo, isso não é vida, meu amor...

- Mas pai, ela vai embora...

- Meu filho, se ela tiver que ir embora, ela irá de qualquer jeito. Daqui a pouco ela estará grande e então, nada a segurará. Ela somente irá ficar se quiser ficar e, para tanto, você tem de deixá-la solta, para que ela aprenda a gostar da gente. Se ela gostar da gente, ela não irá embora...

O pequeno príncipe pensou, pensou, e, então, pegou a gatinha de minhas mãos e soltou-a no terreiro. Ela havia ganhado o Alvará de Soltura...

A situação hoje!!!

Desabafo!
A gata tomou conta de nossas vidas!
Ela está em todas as partes, ocupa todos os espaços, quer dormir comigo, com as crianças, nosso banheiro virou o seu banheiro, só come um tipo de ração e ando preocupado com vacinas. Toda vez que eu vou sair tem um ritual de pega a gata, pega a gata, pega a gata...

Estou louco para devolver a gatinha ao regime fechado....

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O SAXOFONISTA


O som do saxofone inunda todo o ambiente.
Um som tristonho, que sugere dores, que sugere pensamentos que remetem a outras dores. Se a música é triste, o coração é triste.
Mas há uma beleza qualquer na amargura da música.
O triste também tem sua beleza, se você o olhar pelo lado certo, os olhos com alguma boa vontade, os ouvidos sempre prontos para a poesia. O melancólico também tem sua poesia...
Existem alguns homens sentados pelo lugar, aqui e ali, está frio e eles aquecem seus corpos sob o sol da manhã. Seus olhares estão perdidos, desconcentrados para a realidade, insuflados que estão pela beleza da música que alcança todo o ambiente onde eles estão, todos eles, viajando, cada qual em suas memórias, em suas tristezas, mergulhados no sofrimento de suas existências.
Alguém se levanta e se espreguiça.
Outro espirra.
Um terceiro fuma o quarto cigarro que morrerá dando vida para um quinto.
Um jovem dá um chute numa bola velha e ela se evade de um lance de pouca habilidade.
Um senhor de idade toma uma caneca de café com leite ainda fumegante, come com satisfação um pãozinho dormido.
Todos os ouvidos estão atentos no saxofone.
A música termina e logo se inicia outra, um hino de louvor, triste como a primeira canção.
O saxofonista está com seus olhos fechados, a sensibilidade apurada o leva para outros mundos.
Ele gostaria de ter poder para mudar as coisas, gostaria que o mundo fosse diferente, que sua música tivesse a magia de transformar as realidades de toda essa gente que o escuta. Ele está cansado de orar e não ser ouvido, então toca o sax, é uma forma que encontrou para rezar diferente. Ele pede oportunidades, horizontes, portas abertas, portas abertas... Ele está cansado dos dias iguais, das pessoas iguais, da brutalidade desses dias tão iguais, tão iguais, tão iguais... Ele ama o diferente, pensa. Queria comer diferente, queria beber diferente, queria amar diferente, queria tudo diferente para si mesmo, sobretudo o destino.
Este não é lugar para a diferença, descobriu um dia consigo mesmo. A música o fez distinto, e pela música tornou esse lugar melhor, então ele coloca todo o seu sentimento em sua canção, como sofre tanto, sua música sofre junto; como há beleza ainda em seu coração, sua tristeza carrega um brilho resplandecente que empresta alguma decência para ela.
Enche os pulmões de ar, novamente e novamente. Sopra com a força dos desesperados. Uma nova música floresce para o novo dia que nasce, ela ganha o ar, toma conta de tudo e de todos, escapa pelas grades de aço, salta o muro gigantesco e avança rumo para o horizonte onde está o sol. O Saxofonista continua preso, mas sua música está livre e segue em direção aonde o sol alvorece para todos os homens livres... E os presos!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

PELO TEU SIM!

Se você dissesse sim, meu amor!
Se você dissesse sim!
Eu a amaria com todas as minhas forças,
À serviria por cada minuto dos meus dias,
Seria o homem mais feliz do mundo,
E o mais poderoso,
Pois teria a força de um amor no coração.
Todas as estrelas como sorrisos.
Todo o mundo numa só palavra.
Tudo se você dissesse sim...
Se você dissesse sim!



escrita em 05/10/1994

quarta-feira, 1 de julho de 2009

PARA AS NOITES FRIAS DE AMOR

Nas noites ao se deitar
Para fazer o amor!
E o amor estiver mais frio
Que a própria noite,
Não pense nesse amor.
Pense naquele que lhe fez mulher!
Naquele que lhe inspirou,
Que você desejou,
E tanto quis amar.
Então, quando o desejo chegar,
Sorria para a sua vida,
Àquela para a qual você se entregou.
(E se deixou levar...)
E enquanto a realidade lhe penetrar,
Tempere-a com seus sonhos,
Seus desejos mais ocultos.
E ao gemer ou gritar,
Não fale em nomes
Ou qualquer outra coisa.
Esse instante não precisa disso...
Faça tudo em silêncio.
Seu gozo será seu gozo.
E a sua vida, satisfeita,
Sorrira-lhe feliz....

... Iludida!
... Enganada!
... Mas, feliz!




escrita em 12/04/1999